Nr. 52. De livros de cozinha. O ‘ISALITA’.

>> segunda-feira, 31 de agosto de 2009



A minha filha ofereceu-me o “Não se come mal em Portugal” de Miguel Esteves Cardoso. Agradeci, disse que tomava aquilo como uma espécie de presente de anos, já que completava um ano de bloguista, e perguntei:
--Ele fala de livros de cozinha?
Que não, que escrevia sobre bons pratos e bons restaurantes.
Sosseguei. Porque falar de livros de cozinha pretendia eu fazer, e se MEC com a sua mestria tivesse escrito sobre eles, o que me restaria para dizer?
Miguel Esteves Cardoso tece um hino à cozinha portuguesa, e àqueles que a melhor fazem. À base da magnífica matéria prima que em Portugal a natureza generosamente lhes oferece. A couve é um explendor, magníficos os nabos e as beterrabas. “E a rama, senhores, a rama”! A fruta é incomparável, o peixe não tem igual, o salmonete, o “português....daqueles que andam pelas rochas”, salta praticamente das águas – portuguesas – do Oceano para o nosso prato, o marisco espera ansioso que o vão pescar no alto mar, ou buscar às rochas e areias das costas - portuguesas – para ser transformado em arroz de Berbigão e camarão ao natural. Em Vila do Rei, o senhor Victor oferece aos seus comensais um divino bacalhau assado, no Calhariz de Benfica o senhor Pedro faz o mesmo, a estrada da Mealhada é uma espécie de rue de la Paix de leitão á Bairrada, ou antes nas palavras de MEC, “o Las Vegas de absoluta eficácia gastronómica” .
Eu leio, saboreio em espírito, concordo que não se deve pôr noz moscada em puré de batata (mas dá graça em recheio de croquetes) e que açúcar no tomate não calha, mas quanto aos restaurantes mencionados e amorosamente descritos não me posso pronunciar. Os que conheço e conheci contam-se pelos dedos das mãos, confesso que nunca entrei no Gambrinus, e se recentemente tive o prazer de almoçar no Ritz, devo-o ao facto de um sobrinho precisar de uma informação, e achar que um almoço no Ritz me faria mais comunicativa.
Resumindo, de restaurantes não sei nada. Sou do pre-25 de Abril, de um tempo em que se comia “em casa”. Se nessa altura me perguntassem como se comia na casa de uma tal, ou em qual casa dos meus conhecimentos se comia melhor ou pior, eu tinha resposta pronta. Comia-se “em casa”, o marido vinha almoçar “a casa”, convidava-se a almoçar, ou - de preferência - a jantar, “para casa”. Ou com antecedência, convite de mais ou menos “cerimónia”, ou, espontaneamente, um desafio de momento. Telefonema da minha prima Maria Teresa:
--Ouve lá! Que tal vires cá almoçar amanhã, sei que há lulas recheadas.
A pergunta vinha de uma casa em Paço d’Arcos, que em breve será, segundo consta, um hotel ‘de charme’. Naquele tempo não era hotel, era casa particular, e não sei se tinha ‘charme’, o que sei é que se comia lá muito bem. Desde lulas recheadas como nenhumas, às pequenas sandes de pão de forma (sem casca) e fiambre, que eram dignas da alta cozinha. Associavam-se determinados pratos e doces a determinadas casas. À quinta das Nogueiras, os melhores bolos de noz, à casa da tia (verdadeira) Helena, o bolo alemão, à casa da Ritinha os bolos de coco da Maximiana, a cozinheira que não sabia ler nem escrever, mas multiplicava e dividia de cabeça números de vários algarismos. Quando se saía de Lisboa, havia em Coimbra, em casa da tia Eugénia, onde os gatos tinham nomes de lentes, o melhor arroz de substância e uns cassetes inesquecíveis da mão da Rosa.
Nas cozinhas reinavam cozinheiras das quais se conhecia o nome e as especialidades, a quem se mandavam os parabéns pela excelência do prato servido e que, tal como o Miguel faz aos seus amigos cozinheiros de restaurante, se iam cumprimentar quando se era ‘da casa’. Na cozinha da minha mãe, e por ela ensinada desde o ovo estrelado ao peru de Natal, obrava a Carolina, bem conhecida e muito cobiçada. Havia cozinheiras natas, que tinham aprendido com as suas mães e avós, e havia as que sabiam o “trevial”, ou seja, praticamente nada. Eram ensinadas pelas ‘donas da casa’, e tanto cozinheiras como donas da casa deviam os seus conhecimentos a um único livro: o ‘ISALITA’.
O Isalita é uma das glórias da Editora Sá da Costa. Que, em 1925, teve a coragem, ou a visão, de publicar um livro de cozinha de duas jovens senhoras da “sociedade”, que não tinham outra recomendação senão a de saberem de cozinha. Uma chamava-se Isabel (Reis?), a outra Ângela, ou Angelita Telles da Sylva, o que deu ‘Isalita’, e à Sá da Costa muito bom proveito. O meu exemplar data de 1977 e é a 25ª edição. A ultima, a 27ª edição, é de 1995.
As duas autoras juntaram no seu livro receitas de pratos clássicos portugueses e franceses, algumas receitas da sua própria criação, e muitas que tinham coleccionado entre os seus conhecimentos. Havia a ‘sopa da avó’, o ‘bacalhau à prima Isabel’, os ‘bifes da prima Henriqueta’, o ‘coelho tia Virgínia’ e o ‘bolo de nozes da tia Virgínia’, as ‘perdizes à Laurita’, os ‘palitos da tia Amélia’, os ‘bolos da Mademoiselle’. A ‘Blaettertorte’, receita de alguma Fraeulein alemã, entrou na doçaria portuguesa pelo Isalita.
As receitas eram simples, claras, não tinham fantasias, haviam sido experimentadas, e a não ser que a cozinheira se enganasse desastrosamente, a coisa saía bem. Em muitas casas havia um ou mais pratos do Isalita, que ali tinham sido apropriados como coisa própria. Em casa da minha mãe eram os bifes da prima Henriqueta, os palitos da tia Amélia para aproveitar claras, a massa tenra para os pasteis desse nome, e, delícia das delícias, o arroz do Japão, do qual não encontrei a receita em nenhum outro livro. E não comi em nenhuma outra casa.
Quando uma menina casava levava evidentemente um Isalita consigo.
--Ó Antonieta, se fizéssemos para primeiro prato uns ovos escalfados em cima de torradas com molho de tomate, dizia a recém casada. --O senhor gosta.
Era muito importante, que o senhor gostasse.
A Antonieta achava muito bem, mas não sabia como fazer ovos escalfados, a patroa também não, consultavam o Isalita.
Os gastos da casa tinham de ser controlados, nada de despesismos, havia que aproveitar os restos. O Isalita tinha um capítulo sobre como aproveitar restos.
O jovem casal dava o seu primeiro jantar. A mãe recomendava à filha que não se metesse em cavalarias altas, que visse no Isalita o prato tal, que era bom e saía sempre bem. E lembrava que quanto a porções o Isalita também dava indicações.
Algumas das leitoras casavam com lavrador, tinham de saber como se matava o porco “Deve-se chamar para matar o porco um homem especializado nesse trabalho”, recomendavam as autoras. E mais recomendações sobre o que o dito especialista devia ou não devia fazer. Só depois seguiam as correspondentes receitas.
O Isalita não era um livro, era um utensílio de cozinha, que vivia na gaveta da mesa de cozinha a meias com colheres de pau, saca-rolhas, ralador etc e que se colocava em cima da mesa quando se preparava a iguaria. Virava-se a página com a mão que acabava de untar a forma, as claras salpicavam as folhas. De quando em quando substituía-se.
--O Isalita está um nojo, temos de comprar outro.
Ia-se à Sá da Costa comprar um novo Isalita.
Tenho vários livros de cozinha, e adoro folhear alguns deles, mas quanto a usar... o Isalita.
Obrigada Sá da Costa, por não ter hesitado a publicar - a par com os seus belos Clássicos - o modesto, grande, Isalita.
Miguel Esteves Cardoso diz que em Portugal não se come mal. Ele fala de restaurantes, eu só me lembro de casas, mas sou da mesma opinião, em Portugal não se come mal.

Observação à margem
Miguel Esteves Cardoso menciona a dada altura a mania que agora grassa, de “reinterpretar” pratos tradicionais. Eu acrescento a propósito, que a minha mãe teve um dia a infeliz ideia de acrescentar uma colherzinha de vinho do Porto à mousse de chocolate. Perante a indignação geral, desculpou-se. “foi para melhorar”. Daí em diante um bom prato, era seguido do coro: ----não melhore, mãe.

O que dizem outros
Blogue ‘O Galo de Barcelos ao Poder’. Comentário sobre o Isalita:
antonio disse...
“Ah e esqueces-te daquela coisa de nome Isalita (acho que são 3 gajas do movimento nacional feminino , ou algo que o valha...) .
Se ninguém tiver deitado fora a coisa, há-de estar lá pelo Estoril, amarelecida, presa por cuspo e cordéis...
Mas as receitas (a preto e branco, linguagem pesada and no photos at all, salazarento até dizer chega...) não são de todo incompreensíveis, bem pelo contrário, as gajinhas são muito exactas nas proporções e etc. Seguindo aquilo até parece que sabemos cozinhar alguma coisa.”...
:)

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De livros esquecidos, mal lembrados ou ignorado

>> segunda-feira, 24 de agosto de 2009



Parece-me que o título que escolhi para esta série de posts está errado, ou antes, pouco claro. Sou um pouco Maria Recta Pronúncia e o título, tal como está, e que escolhi com convicção, agora incomoda-me. Acho que lhe devia ter acrescentado, “e que não o merecem ser”, ou “e que em minha opinião não o merecem ser”, ou “que “espantosamente o estão”. Porque não faltam livros que foram de grande sucesso, e até considerados clássicos, que estão esquecidos e que não espanta que o estejam. E depois, quem sou eu, para dizer que o livro ‘tal’ está esquecido, quem sabe se não há uma enormidade de leitores, que se lembram muito bem do que eu considero esquecido?
A reflexão nasceu quando pensei pôr nesta lista o “Tempo e o Vento” de Erico Veríssimo. Parecia-me que a apaixonante história dos Cambará – sobretudo no seu primeiro volume - estava muito esquecida. Mas depois pensei, provavelmente não está, sei lá se está. Lá por a mim me parecer que não se fala de tão grande livro como se devia falar, é provavelmente por ignorância minha. Provavelmente o livro até é muito lembrado.
Escolhi então para terminar esta série de posts, um livrinho, que, esse sim, estou razoavelmente certa que é, ou mal lembrado, ou mesmo desconhecido. Trata-se de uma tradução. Mas tradução tão perfeita, que parece o original. Falo dos SONETOS PORTUGUESES de Elizabeth Barrett Browning traduzidos por Manuel Corrêa de Barros. A primeira edição foi do autor e continha unicamente a versão portuguesa dos poemas; uma posterior edição da Relógio de Água contêm os poemas originais e as suas traduções.
Sobre os problemas que enfrentou, escreve Manuel Corrêa de Barros na sua introdução:
“………Tudo isto me impediu de ser literal na tradução - o que alias, nunca se consegue em absoluto quando tradução em verso - . Mas procurei reproduzir fielmente o sentido do original, respeitando as suas subtilezas, e, para melhor cingir a forma ao sentido, esforcei-me por manter o tom, a cadência, a feição própria de cada soneto, mesmo, onde isso me pareceu indispensável, à custa de uma maior liberdade na aplicação das regras do soneto português. Procurei também, conservar as particularidades do original, quanto à pontuação, emprego de maiúsculas etc”
Creio que basta o exemplo de dois poemas (o primeiro e o quadragésimo terceiro de quarenta e quatro) para mostrar como Manuel Corrêa de Barros conseguiu magistralmente a sua difícil tarefa.


I
I thought once how Theocritus had sung
Of the sweet years, the deer and wished for years
Who each one in a gracious hand appears
To have a gift for mortals old or young.

And as I mused it in his antique tongue,
I saw in gradual vision through my tears,
The sweet, sad years, the melancholy years,
Those of my own life, who by turns had flung

A shadow across me. Straightway I was ware,
So weeping, how a mystich shape did move
Behind me, and drew me backward by the hair

And a voice said in mastery while I strove:
“Guess now who holds thee?” “Death” I said. But there
The silver answer rang:” Not Death, but Love”.

e a tradução

I
O Amor

Pensei um dia, nos anos ditosos
Que o poeta Teocrito cantava, cada
Um dos quais, à vez, acrescentava,
Á vida humana dons mais generosos,

E, na sua língua antiga, aos dolorosos
Anos da minha vida os comparava.
Doces, mas tristes anos que me lembrava
Com lágrimas nos olhos saudosos.

Chorando assim, senti que se movia
Por trás de mim. alguém que me prendia
Os cabelos, e em tom dominador

Perguntava:”Adivinha quem eu sou?”
“A morte”, respondi. E a voz tornou
Num riso claro: “A morte, não. o Amor!”


XLIII
How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the Ends of Being and ideal Grace

I love thee to the level of every day’s
Most quiet need, by sun and candlelight,
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee purely, as men turn from Praise

I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood’s faith
I love the with a love I seemed to lose

With my lost Saints. --I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life!—and, if God choose,
I shall but love thee better after death.

e a tradução
XLIII
Como gosto de ti

Como gosto de ti? Deixa contar
Os modos. Com a altura, a extensão
E a largueza da alma, quando vão
seus desejos o Bem a procurar.

Amo-te simplesmente, como o ar
Que respiras. Ao sol, na escuridão,
Com a audácia de um livre coração;
Co´o o pudor que a lisonja faz calar.

Amo-te co´o desejo, com a ânsia
Que na dor tive, com a fé da infância;
Com esse amor que sempre cri perder

Perdendo os meus. Amo-te sempre: andando,
Chorando, rindo, lendo, respirando,
E hei-de amar-te melhor quando morrer.

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De livros esquecidos, mal lembrados ou ignorados.

>> segunda-feira, 17 de agosto de 2009


ON THE BEACH é um romane post. apocalíptico do fim do mundo do auutor anglo-australiano Nevil Shute Foi publicado em 1957.
A história passa-se naquilo que era então o próximmo futuro (1963) depois de um conflito que devastara o hemisfério septentorial aproximadamente um ano depois de uma 3ª guerra mundial, que poluira a atmosfera com depositos nucleares. Correntes aereas estão gradualmente levando o ‘fallout’ em direcção aos países do hemisfério Sul.
Na Australia são detectados misteriosos e incompreensiveis sinais de Morse oriundos dos Estados Unidos. Na esperança de que ali exista alguma vida, o Scorpion, um submarino nuclear americano, sob o comendo de um comandante australiano, navegará para o Norte para averiguar o que se passa e se possível contactar o sobrevivente que está a enviar os sinais.
Entretanto o governo australiano toma as necessaries medidas, fornecendo aos habitantes pirulas letais com que possam. querendo, encurtar as vidas, evitando o sofrimento dos efeitos da radiação. O misterioso sinal detectado prova ser uma garrafa de Coca Cola encostada a uma janela, cuja portada bate ocasionalmente contra uma tecla telegráfica………..
Na Australia os habitants fazem o possível por prosseguir a vida normal antes de sucumbirem a radiation poisoning.
( estraído de Wikipedia)
A acção da história situa.se em Melbourne.

“There’s radio transmission still coming from Seattle. It doesn’t make any sense just now and the kind of jumble of dots and dashes. Sometimes a fortnight goes by and then it comes again. It could be somebody is alive up there and doesn’t know how to handle the set. There’s a lot of funny things up in the Northern Hemisphere that someone ought to go and see.”
“Could anybody be alive up there?”
“I wouldn’t think so.....

****************

............ “Is it true that Cairns is out, Wright?”
“I think so. Cairns and Darwin.
“And they can’t do anything about it?
“Not a thing. It’s just too big a matter for mankind to tackle. We’ve just have to take it.”
“I won’t take it”, she said vehemently. “It’s not fair. Nobody in the Southern Hemisphere ever dropped a bomb..... It’s beastly unfair”.
“It’s that alright, he said, but that’s what it is”
There was a pause and then she said angrily “It’s not that I’m afraid of dying, Dwight. We’ve all got to do that sometime. It’s all the things I’m going to have to miss.....* She turned to him in the starlight
“I’m never going to get outside Australia. All my life I’ve wanted to see de rue de Rivoli. I suppose it’s the romantic notion...”

**************
“Has anybody been into the radioactive zone, Dwight?”
“The Swordfish –that’s our sistership – she made a cruise up to the North Atlantic............”
“How far did she get?”
“She got all over, I believe”, he said. “She did the eastern States from Florida to Maine and went right into New York harbor, right up the Hudson till she tangled with the wreck of the George Washington Bridge, She went to New London and to Halifax and to St. John, and then she crossed the Atlantic and went up the English Channel and into the London River, but she couldn’t get far up there. Then she took a look at Brest and Lisbon....”

*****************
“You’ve got some stuff for it, haven’t you?”
“Not to cure it, I’m afraid”.
“I don’t mean that. To end it.”
“We can’t release that yet, Commander. About a week before it reaches any district details will be given on the wireless. After that we may distribute it to those who ask for it.” He paused. “There must be terrible complications over the religious side,” he said, “I suppose it’s a matter for the individual”.

****************

Minha tradução

--Há uma transmissão de rádio que ainda vem de Seattle. Não faz sentido aquilo agora, nem aquela espécie de mistura de pontos e traços. Ás vezes passam-se duas semanas sem um sinal. Depois recomeça. Pode ser que haja por lá alguém vivo, e que não sabe como usar o aparelho. Há uma quantidade de coisas estranhas no hemisfério Norte, que se deviam ir ver.
--Pode alguém estar vivo?
--Não me parece...

*************
–É verdade que Cairns não responde, Dwight?
--Parece que sim. Cairns e Darwin.
--E não se pode fazer nada?
--Nada. É matéria demasiado grande para nós. Temos que a aceitar.
--Eu não o vou aceitar, disse ela, impetuosamente. –Não é justo. Ninguém no hemisfério Sul alguma vez deitou uma bomba.........É horrivelmente injusto.
--É-o sem duvida--, disse ele, --mas é assim que é.
Uma pausa.
--Não é que eu tenha medo de morrer, Dwight, disse ela numa furia. –Um dia todos nós teremos que nos ir. São todas aquelas coisas que eu vou perder.............
Virou-se para ele ao luar
--Nunca irei sair da Austrália. Toda a minha vida ambicionei ver um dia a rue de Rivoli. Suponho que é a noção romântica..

**************
--Já alguém esteve na zona radioactiva, Dwight?......
--O ‘Swordfish’ –o nosso navio irmão – cruzou no Atlântico......
--Até onde chegou?
--Creio que a toda a parte, disse ele. --Fez os Estados de leste, da Florida até ao Maine, foi mesmo até ao porto de Nova York, e o Hudson acima até à ruína da ponte George Washington. Foi a Nova Londres, a Halifax, a St. John. Depois atravessou o Atlântico, subiu o Canal da Mancha, entrou no Tamisa. Mas não pode seguir muito acima. Deitou um olhar a Brest a Lisboa........”

****************

--Vocês têm alguma coisa para isso, não têm?
-- Não para curar, infelizmente.
--Não era isso que eu queria dizer. Para acabar.
--Por enquanto não o podemos fornecer, Comandante, Uma semana antes de um distrito ser atingido, dar-se-ão instruções pela rádio. Depois distribuíremos aquilo a quem o pedir.
Fez uma pausa.
--Deve haver terríveis complicações do lado religioso--, disse. --Suponho que será sempre uma decisão indivídual.

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De livros esquecidos, mal lembrados ou ignorados.

>> segunda-feira, 10 de agosto de 2009



‘Cirrito de la Cruz’
Alejandro Pérez Lugín (Madrid, 22 de fevereiro de 1870 - La Coruña, 5 de Setembro de 1926)
“Foi sobretudo conhecido pelos seus artigos de jornal sobre o mundo taurino e pelo seu romance ‘Currito de la Cruz’ (1921) que também reflecte os seus conhecimentos sobre o mundo da tauromaquia e foi muito popular nos anos que se seguiram à sua publicação. A história foi levada à cena por quatro vezes ........Outro dos seus romances mais conhecidos é ‘La casa de la Troya, em que recria a vida universitária da Universidade de Santiago de Compostela,” (Wikipedia)

Consta que Peres Lugin apostou com seus amigos sevilhanos que ele, apesar de galego, saberia escrever sobre Sevilha tão bem ou melhor que um sevilhano. Currito de la Cruz é a história de um rapazinho sevilhano, que entra na arena como espontâneo, enfrentando e toureando um Miura, e que, apesar da sua aparência insignificante, irá subir aos mais altos píncaros da profissão, com altos e baixos e a rivalidade e ódio pessoal entre ele, “El Chavalillo”, e Paco Romero, ‘Romerita’.
O ano passado a alguém que o pediu numa livraria de La Coruña responderam que nunca tinham ouvido falar em tal. Está esquecido.

“Produjose entonces ese fenómeno de espejismo que acompaña a los grandes momentos del toreo: se movió la plaza. Se la vio moverse. El vaivén de los nerviosos espectadores dió la sensación de que la plaza se bamboleava. Nadie podia estarse quieto o callado. Todos aplaudian y alborotaban. Las mujeres con mas entusiasmo que los hombres.
-Ole, tu mare, salao – le gritaban, con los ojos llamejantes.
Cayeron a la arena, cerca y llejos del muchacho, los sombreros de paya y cordobeses y los abanicos de las grandes faenas.
.................
“Todo Sevilla se llenó del héroe. Le llovieron las amistades.No podia ir a ninguna parte sin que le acompañara una corte aduladora de amigos íntimos de la vispera, que se lo disputabam,…….
.......................
“Tiene la plaza de Sevilla una nota suya, única, que borra todo lo demás: la alegria de su ambiente que proviene daquella luz, del ‘aire’ aquel formado por los colores que la llenan:: el rojo sangrento de la barrera, el oro del ‘arbero’ que tapiza el redondel, la blancura agrisada de sua paredes; y el sol que ali alumbra de otra forma que en el resto del mundo; pero Currito no vio más color, más luz, ni más alegria que aquella mujercita, que de pie en el delantero de un palco junto a su padre .......... lo miraba todo con infantil curiosidad.

---------------
“Todo Madrid estaba pendiente de aquella corrida. Apenas abierto el despacho, se agotaran los billetes. Los revendedores foran solicitados con más aduladora reverencia que el ministro de la Gobernación en vísperas de ellectiones,.....
.............
“ Al comenciar la session del Congresso, pedió un deputado republicano “que se contasse el numero”........
...........
“Quando el deputado que pidió que se contasse el numero se dirigia presuroso a la salida, topou con el presidente que le trincó de un brazo.
--Venga usted acá, enrededor. Le levaré en mi automóvil para que no chegue usted tarde. Vá usted a ver qué baño le da el Chavalillo a esse trompo de Romerita.
............
“Envueltos en el sol que baña españolamente la radiosa calle de Alcalá. pasaban raudos, en torrientes impetuosos, coches, automobiles y tranvias llenos de alboroto y caras jubilosas.
................
“Dientro, el ruído y la nervosidad aun eran mayores. La explosión del entusiasmo taurino. Cada espectador se sentia posuído de la dicha de asistir a la interessada lucha. Y si en alguna parte se levantaba una pesimista voz de duba – “Y se non se arrimán?”-- era rechazado convencidamente
--No puede ser!
La entrada de las mujeres saludábase con palmas, piropos y miradas incendiárias, que ellas, en pié, un momento, en su localidad, déjandose ver “distraídas” recibian como una reina el homenaje de su pueblo.
.............
“Para el chavalillo todas las palmas. En vano las proezas de Romerita. Detrás de cada una ponia su arte Currito y, como conservaba el graderio, “lo borrava todo.
...................
“La gente estava loca com el Chavalillo. No habia em la plaza más que aquel torerillo, agigantado ante el toro, juntando alli dos casos tan opostos como la barbaria y las delicadezas estéticas del arte.
Impotentes para contrarrestar el sentir general, los romeristas se murdian mentalmente los puños y alguns materialemente.”
...............
“Y era el peor que el contagio desta locura se corria a todas las partes. Gentes que nunca iban a los toros se dejaban gañar de ella, y España era como un vasto manicómio tocada de la mania chavalista o romerista. Lo malo de los toros no es la corrida.
Verdad es que los toreros fomentaban este apasionamento, empeñados en una porfia bajo la qual vibrava el ódio, más poderoso que los motivos de competência professional.

........
“Un empresário tomó en arendamiento la plaza vecina de Madrid de Pueblo de Cañaveral para dar..........una corrida mano a mano...
..............
“Romerita ...exigiu del empresario que echasse toros de Varagua, que envuélven su nobeza en el aparato de su tamaño y su poder-----
........
“Sonaron los clarins y al ruído sucedió el silencio temeroso de la tragédia. Impetuosamente salto a la arena un magnífico exemplar de brillante pello negro....El perverso placer del perigro rompió el silencio con un murmúrio de admiración.........

................
“Y corto derecho despació....confiado en su valor y en su corazón se dejó Romerita caer sobre su enemigo.
--Ou...lé empezaran a gritar, jubilosos sus partidários. Pero no pudieron concluir. El grito de alegria acabo en alarido de horror. El toro cogió el torero por el pecho, lo subiu en alto con la cara tragicamente contraída por el dolor, se lo pasó al otro cuerno, le lanzó a los aires y quando Romerita cayo pesadamente en el solo, se fué sobre el---------El capote del chaval acudió amparador y se levo la fiera.
..............
“--Que hará ese allar con cinco toros de Verágua? – se le ocurrió decir a un romerista despachado y inprudente, y movido de esta curiosidad se quedaron dos que se disponian a salir.......
..............
“Envolvió la plaza un velo de tristeza. Aqui y allá se levantaron vozes pedindo la suspensión de la corrida. Todos votaron mentalmente con ellos. Pero quien renunciaba al espectáculo de ver al otro torero paseandose por las nubes en aquela ocasión?
.................
“Por los siglos de los siglos de la tauromaquia se hablaria de aquella hazaña de Currito de la Cruz.”

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De livros esquecidos, mal lembrados ou ignorados

>> segunda-feira, 3 de agosto de 2009




Em francês há as fábulas de La Fontaine, em alemão o ‘Muemmelmann’ de Hermann Loens, em inglês o ‘Dchungelbook’ de Kipling, em português o ‘O Romance da Raposa’ de Aquilino Ribeiro. Livros que têm os bichos por protagonistas e que nas suas respectivas línguas fazem parte da memória literária. Parece-me injusto esquecer ‘Impala’ de Henrique Galvão, a história da amizade entre Impala, a gazela ferida, que não pode acompanhar a manada, e Jamba, o elefante escorraçado da família por velho e rabujento.

“ ......mal relançou a vista pela baixa estacou surprendido, de olhos arregalados, o queixo descaído. Via e não acreditava!
Toda a ‘chana’ onde olhos de homem enxergavam, surgia revestida de estranho tapete: uma manada prodigiosa, compacta, tremenda, que parecia escorrer de lonjuras do horizontee cobria inteiramente a planície.
À distancia em que se encontrava dava a impressão de um corpo só, ou lago ondulado crispado por brisas leves. E era da cor rica de certa terra lavrada, acabada de revolver e logo refrescada pelos orvalhos.
Da superfície macia rompiam, como liras negras, milhares de cornos - apontados ao céu, firmes, graciosos e altivos.
O Sol golfava sobre o quadro maravilhoso caudais de luz - o Sol já despojado de bruma, magnificamente nu e verdadeiro, flutuando no sangue como vivo da alvorada. E os seus raios, ainda húmidos e orvalhados, chispavam no dorso dos bichos, rasgavam-se nas pontas das hastes, e deixavam, onde passavam, o esplendor matinal das linhas e da cor.
O próprio garrano parecia assombrado: narinas frementes, golfando vapores, orelhas inquietas, olhos espavoridos -- tremia e suava.
O homem boquejou por fim:
-As impalas!
E ainda lhe custava a crer! Já vira grandes manadas de impalas, de centenas de milhar talvez, umas vezes paradas, de cornadura erguida, como antenas à escuta, outras vezes no pasto, passeando tranquilamente a sua graça aérea - e ainda em corrida, galgando em saltos incríveis de airosidade impecável, os obstáculos e a distância. Mas não imaginara sequer que todas as manadas juntas, que vira durante largos anos, compusessem multidão tamanha!
A ‘chana’ pejada, léguas de impalas.
Apeou-se novamente e pôs-se a andar com o cavalo pela rédea, cuidando de ocultar-se, até à orla da mata. Depois desceu o suave declive, com a brisa da manhã a bater na face, por entre troncos e arbustos, sem despregar a vista da ‘chana’.
Era a ocupação total. Nem um palmo de terra se bispava. As próprias lagoas, que havia algures, tinham desaparecido sob a multidão dos corpos. A menos de trezentos metros dos primeiros bichos, parou. E teve outra vez a impressão de um corpo só - um bicho estranho com milhares de patas e milhares de cornos - e cada impala apenas uma célula indissociável do grande corpo. Os indivíduos não existiam, nada significavam. O único ser real e total que ocupava a ‘chana’, era a Manada!”

“Também o Jamba e o Impala andavam preocupados.
Não bebiam a seu contento há três dias!
A região tornava-se inóspita.
No entanto, todos esperavam ainda condoímento do céu, presos a sentimentos terrenhos e bairristas.
Mas certa manhã começaram a passar, em bandos e formações compactas, chusmas de patos e egretes – habitantes conhecidos das águas do lugar ou hóspedes assíduos das lagoas onde a seca chupara toda a linfa.
Depois seguiram pelicanos e marabus, jandas e garças -- um êxodo de asas abertas esfarrapando o azul.
Os alcoviteiros da floresta espalharam a nova: -vão-se todos embora. E para onde vão não falta água com certeza, que eles não são bichos que a possam largar.
E uma noite, depois de um dia seco e ardente – o céu nu como o deserto – saíram os primeiros emigrantes no rumo das aves ribeirinhas: uma vara de ‘facocheros’, duas famílias às quais os lameiros já não cediamfrescura nem conforto. Largaram pela ‘mulola’ fora, a um de fundo, o macho mais velho na frente.”

“.....Quebrou-se a resistência do Jamba, aos embates da sede. Tinha agora uma cor suja e encardida de terra esterroada há muito - e o próprio Impala mostrava-se baço de pelugem e trôpego no andar.
-Vamos, Os patos têm razão.....”

“Andaram, andaram..”

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