Um coloquio

>> segunda-feira, 26 de outubro de 2009





Depois da publicação do meu primeiro livro sobre os Painéis, o Museu de Arte Antiga realizou dois colóquios sobre Nuno Gonçalves. O primeira, o mais importante, com o título de "Nuno Gonçalves. Novos Documentos. Novas Perspectivas", foi de 2 a 4 de Dezembro de 1993. O tema do segundo dia do colóquio (ao primeiro não pude assistir) era sobre as fotografias obtidas através do exame refletográfico feito aos Painéis, e o título estava correcto, porque se tratava sem dúvida de uma nova e interessantíssima documentação. Achei emocionante poder viver, através desses documentos, a preparação do pintor para a feitura da sua grande obra. Esse aspecto do colóquio satisfez-me plenamente.
A segunda parte do colóquio, e seu ultimo dia, era intitulada de "Nuno Gonçalves. Novas Perspectivas", e constava de sete comunicações-Trés delas não tinham nada a ver com o problema vicentino. Uma delas, de Jpaquim Caetano era sobre o estatuto social do pintor no século XV, as duas outras de Ignace Vandervivere e da Drª Dalila Rodrigues eram comunicações de profissionais sobre os respectivos temas. No caso das restantes comunicações saltava à vista, que se tratava na realidade de um colóquio ‘vicentista’. As conferências seriam sobre: "Painéis da Capela-mor da Sé", "Problemática do Altar de S. Vicente" e "Políptico da Veneração de S. Vicente".
Era óbvio que se tratatva de anular a revelação por mim feita de que os santos protectores da cidade eram SS Crispim e Crispiniano, irmãos e gémeos. O facto não fora por mim inventado, eu revelara somente documentos existentes e mostrara acreditar neles. Os documentos não se podiam declarar errados. No colóquio optou-se por ignorá-los e aos dois santos. Por silenciar documentos autênticos e santos autênticos, procurando de todas as maneiras reforçar a convicção que os santos dos Painéis eram S. Vicente. Analisei este caso num segundo livro*, aqui só posso dar uma ideia do que foi o colóquio.
Eu tinha a certeza que, directa ou indirectamente, seria visada. Era até normal que o fosse, que se citassem afirmações minhas para lhes opor a versão do orador. Não sucedeu, o meu livro e a minha pessoa, tal como os santos gémeos, não existiam. Para o que desse e viesse, eu parti para aquela sessão devidamente preparada. Tomei um calmante, ouvi as recomendações filiais de não falar, ou, como se diria no português oficial de hoje, “no sentido” de não abrir a boca. Para maior segurança ia acompanhada de uma sobrinha, com instruções de me amordaçar, caso necessário. E tudo funcionou na perfeição, até pouco antes do fim da sessão, quando esqueci filha, sobrinha, e um bom par de anos de boa educação e me levantei, declarando no meio do silêncio, que não aguentava continuar a ouvir um colóquio sem nível e indigno daquele museu.
Não o devia ter feito, fiz mal, recebi sem protestos repreensões e criticas. Mas querem saber uma coisa? Não me arrependi então, e ainda hoje não me arrependo. Não terá sido bonito, mas a verdade era essa: aquilo que ali se ouvira não tinha nível e era indigno de um primeiro museu.
O Museu de Arte Antiga é o primeiro museu do pais. Quando o primeiro museu de um pais organiza uma série de conferências sobre uma das suas peças, o publico espera, e tem todo o direito de esperar, que aquilo que irá ouvir será de qualidade, até de grande qualidade, e, sobretudo, de grande seriedade. E isso, muito simplesmente, não foi o caso.
A primeira comunicação foi do Dr. Carlos Alberto Ferreira de Almeida, que nos foi apresentado como especialista em iconografia religiosa, e o tema era “Problemas iconográficos dos Painéis de Nuno Gonçalves”. O Dr Ferreira de Almeida declarou de imediato não ter duvidas que os dois santos eram São Vicente, e lamentou que houvesse gente teimosa, que pretendesse negá-lo. Quanto a ele, não havia duvida nenhuma. Nos Painéis havia muitos atributos, que eram atribuíveis a São Vicente, mas o santo nem precisava deles, porque vinha do céu atendendo a um voto, pelo que “não tinha que carregar com os seus atributos”.
Eu sabia que nenhum perito, por mais eminente que fosse, provaria que aqueles santos de cabeça tapada e cabelo comprido eram São Vicentes, mas não esperava ouvir da parte de um perito um argumento daquela ordem. Nem que esse especialista declarasse, que o objecto que o santo tem debaixo do braço era um “barrete litúrgico”, e que, depois do intervalo, ele subisse ao palco para dizer, que tinha estado a pensar, e que o barrete afinal não era um barrete. Não explicando o que fazia do raciocínio que fizera a partir da coisa preta ser um barrete. O que importava era ligar a São Vicente tudo que se podia ligar, ou se julgava a ele poder ligar. E assim ainda ouvimos, entre outras coisas, que o homem de barbas negras, que está no canto superior do painel dito ‘dos monges’ era o cruzado alemão Henrique de Bona, porque esse cruzado estava enterrado em São Vicente de Fora, que era da ordem a que pertencera São Vicente. Ainda se ouviria falar de várias maneiras dessa figura, que. em minha experiência, provou ser a figura mais fácil de identificar entre as figuras secundárias.
A segunda comunicação deste ciclo devia tratar da capela mor da Sé, onde fora visto o retábulo de São Vicente. Havia que provar que o dito retábulo era aquele que conheciamos como “Os Painéis”. Ingrata missão, de que se encarregaram o Dr. Rafael Moreira e Pedro Cid. Este último não entrou no problema, coube-lhe mostrar como teria sido, e em que local se situava a capela mor da Sé. O Dr. Rafael Moreira é que se encarregou da parte mais complexa do caso, ou seja, como conjugar o testemunho de D. Rodrigo da Cunha e o texto do documento conhecido por “documenro Motta Alves”.
No seu livro “História Exlesiástica da Igeja de Lisboa”, publicado em 1643, D. Rodrigo, futuro Arcebispo de Lisboa, descrevera em detalhe o retábulo de S. Vicente e não descrevera nada que se parecesse com os Paineis. Segundo a sua descrição o retábulo constava de quadros mostrando os milagres de S. Vicente e nem o mais ardente ‘vicentista’ conseguia ver nos Paineis alguma coisa que se parecesse com um milagre, fosse de que santo fosse.
Sudedera no entanto que aparecera um documento no qual se lia que, a dada altura, os dois painéis centrais do políptico de S. Vicente de Fora tnham sido vistos na capela mor. O documento em questão, descoberto no Brasil na biblioteca nacional do Rio de Janeiro por Artur Motta Alves, não mentia. Em dada altura alguém, cujo nome se ignora, descrevera em carta a um amigo as igrejas de Lisboa e, a propósito da Sé, dizia-lhe, que vira lá um dia umas tábuas com uns homens vestidos de modo estranho. Pela descrição, eram sem duvida os cavaleiros das tábuas centrais dos Painéis. O autor da carta lembrava-se de ter visto as tábuas, mas por pouco tempo, ao escrever a carta elas já não estavam onde os vira. Que fora “junto do tumulo de S. Vicente”.
Dagoberto Markl, o primeiro a aproveitar o documento, concluíu que as ditas tábuas tinham feito parte do retábulo de São Vicente, que por alguma razão, provavelmente por uma obra, tinham sido retiradas do retábulo e depois repostos nele. O que não explicava evidentemente que, anos depois, D. Rodrigo da Cunha não as tivesse visto nesse retábulo e descrito.
São problemas desta natureza que apaixonam o investigador, e no que me diz respeito, foi com verdadeiro entusiasmoque o abordei. E com isso iria complicar ainda mais a tarefa do dr. Rafael Moreira. Eu estudara a fundo todos os documentos que tocavam aquele assunto, e não eram poucos, e dera deles uma leitura lógica, e, assim me convenci, muito elucidativa. Acompanhara o texto com um importantºissimo elemento novo. o “Selo grande” da cidade de Lisboa, do século XIV, que mostrava justamente o interior da capela.
O problema não fora afinal tão difícil de resolver como eu pensara. D. Rodrigo da Cunha explicara perfeitamente, não só como era o retábulo, mas onde este se encontrava. O retábulo fazia parte de um conjunto de elementos dedicados a São Vicente. Conjunto esse que se situava na capela mor, no lado da epístola, num espaço onde havia um largo degrau. O retábulo desse santo, não era, como Dagoberto Markl supunha, retábulo do altar mor. Os altares mor de todas as Sés do reino eram, como escrevera D. Rodrigo da Cunha, dedicados à “Virgem,senhora nossa e sua gloruisa ascenção”.
Havia portanto na capela mor, num degrau desta, um altar de São Vicente encimado de um retábulo com os seus milagres. Mas nesse espaço havia outro monumento vicentino, era um ‘túmulo’ de S. Vicente. Nesses túmulos simulava-se a presença dos restos mortais do santo da devoção de uma igreja ou capela.
No Selo Grande da cidade, que eu revelei, vê-se este tumulo, um sarcófago de pedra sobre estreitas colunas. E foi junto a esse túmulo que o anónimo autor da carta viu as duas tábuas dos painéis. Porque razão ai estavam provavelmente nunca se virá a saber.
Tudo isto, e em muito maior detalhe, eu expusera no capítulo dedicado a esse problema. O Dr, Radael Moreira ignorou o meu livro, mas era difícil ignorar as suas conclusões. E não ignorou o selo. Este foi apresentado, se bem que sem se mencionar quem primeiro o trouxera para aquele problema. O que, em comunicações que se pretendiam histórico.ciêntificas, se costuma fazer.
O Dr. Rafael Moreira explicou então o que se passara com os painéis na Sé. Esqueceu o que escrvera aquele que vira a coisa – que as tábuas estavam junto do túmulo - e decidiu a coisa à sua maneira, Em sua opinião, elas estavam era por baixo do retábolo, e assim se explicava que D. Rodrigo da Cunha não os tivesse mencionado. O que também explicava, segundo ele, que nos Painéis não se vissem os milagres de São Vicente. Estes, sim, estavam representados no retábulo, enquanto nos Painéis, que estavam aos pés deste, estava o “agradecimento pelos milagres que se esperavam de S.Vicente”.
A quarta conferencia foi do Dr. Fernando António Baptista Pereira e devia tratar de uma “Nova contribuição para o problema do altar de São Vicente”. Mas antes de entrar no assunto, o conferencista declarou severamente, que era preciso “traçar uma clara linha divisória entre os esforços sérios de critica histórica da pintura e a quantidade de produtos literários que periodicamente surgiam com louváveis esforços, mas não se lhes reconhecendo consistência.
Como nos últimos tempos não houvera outro esforço dessa natureza que não fosse o meu, era claramente eu a visada. E ainda não tinha ouvido nada.
Quanto a D. Rodrigo da Cunha e seu testemunho, era evidente que ele se enganara ao dizer que o retábulo mostrava passos da vida e milagres de São Vicente. O que D. Rodrigo com certeza quisera dizer, era que estavam no retábulo quadros com o agradecimento pelos milagres do santo. D. Rodrigo da Cunha não se esquecera de mencionar o políptico, ele enganara-se na sua descrição.
Parece-me que foi depois de proferir estas considerações, que o Dr. Fernando Baptista Pereira se dirigiu à audiência com uma exortação que julgo inédita. Sugeriu-nos ele, que entrassemos com ele em um ‘gentlemen’s agreement’, de que, de ali em diante, não se aceitariam mais identificações iconográficas, porque nesse campo nada de novo se podia cientificamente concluir. Ele próprio não se coibindo de logo a seguir as fazer.
O conferencista seguinte foi d Dagoberto Markl, que nos foi apresentado pelo Dr. Fernando Baptista como o maior especialista dos problemas dos Painéis, e que entre eles era apelidado de “iconoclasta”
Dagoberto Markl abriu consequentemente a sua comunicação com estas palavras: “Eu sou o iconoclasta”. Tal como o seu antecessor, exprimiu a sua indignação com a “pertinácia” daqueles amadores, ignorantes de história, que persistiam em negar a tese de José de Figueiredo.
A visada era de novo eu, e logo ali me devia ter levantado e saído. Fiquei e assim tive ocasião de ficar a saber que Dagoberto Markl, que até ali arrumara todas as tábuas dos Painéis no retábolo de São Vicente, agora, não sendo possível ignorar de todo o que dissera o documento Motta Amaral e o esquecido D. Rodrigo, que agora, ele opinava, que as tábuas dos Painéis estavam por baixo do retábulo, na sua parte inferior. D. Rodrigo da Cunha esquecera-se de falar nelas. E Dagoberto Markl, por sua vez, esquecera que as duas tábuas centrais dos Painéis, e só elas, tinham sido vistas junto do túmulo d São Vicente. Provavelmente encostadas a este. Mas o túmulo fora documentado por uma ‘ignorante de história’, o melhor era esquecê-lo.
Houve ainda a comunicação do Dr. Alberto Seabra de Carvalho, que pretendeu demonstras que o madeiro que se vê junto do homem de barbas no painel dos monges era a tábua com pregos sobre a qual São Vicente fora forçado a andar. Não havia duvida, achava ele. E mais disse, mas parece-me que já se disse o bastante e de mais sobre este colóquio.
Na altura cada um dos assistentes terá feito o seu juízo sobre o que ali se disse, e como se disse,. Por minha parte, o que me incomodou foi ouvir homens que se consideravam histórica e cientificamente formados, proferindo afirmações que não motivavan, e que não resistiriam a um exame sério. Convictos da autenticidade da sua tese, acham decerto que tudo vale para a defender. O que na verdade lhes é mais fácil do que seria a outros, porque estão munidos de uma poderosa arma: a sua ignorância e ingenuidade em matéria religiosa. A igreja católica tem ‘história’, e nessa história cabem as suas regras e os seus costumes. E estes não se podem ignorar quando se estuda um problema que tenha aspectos que toque, à Igreja. Não é preciso ser católico e crente para tratar de temas ligados à Igreja, mas é preciso conhecer ‘cientificamente’ os seus preceitos.
Eu não esperara “novas perspectivas” sobre Nuno Gonçalves, mas não esperava o que nos foi dado ouvir. Ainda hoje, quando releio o que foi dito naquele colóquio, e que felizmente fixei textualmente, ainda hoje me pergunto como foi possível que ali se dissesse o que se disse.
*Painéis de S. Vicente de Fora. Adivinhação ou Investgação?
Livraria Bizantina

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A grande precipitaçao

>> segunda-feira, 19 de outubro de 2009





Na introdução a um livro sobre erros cometidos em diversos ramos da ciência*, o autor escreve que grande parte desses erros tinham sido originados pela ânsia de “esclarecimento e reconhecimento” dos respectivos investigadores ou cientistas. Ânsia que os levara a afastar demasiado depressa as duvidas e a pôr de parte qualquer ideia de um possível engano.
Alguns desses enganos tinham sido desastrosos, escreve o autor, outros, menos nefastos, prejudicariam contudo a investigação, levando-a por caminhos errados, que acabariam fatalmente em becos sem saída. Com muito esforço desperdiçado e muito tempo perdido.
Parece-me que se pode dizer o mesmo mesmo no caso dos Painéis encontradas um dia nas arrecadações do mosteiro de São Vicente de Fora. Na ânsia de “esclarecimento e reconhecimento”, de serem eles os primeiros a desvendar o enigma daqueles homens reunidos em torno de dois santos, os investigadores precipitaram-se a proclamar conclusões e teses.
Não se pode levar a mal que o tenham feito, nem nos espantar que se tenham enganado, o que talvez se possa criticar é o facto de, mesmo depois de algumas das teses terem provado erradas, e reconhecido como tais, de, mesmo assim, se tivessem mantido e defendido.
As três teses em questão são - como já se disse - que o homem de chapéu preto é o Infante D. Henrique; que os santos são São Vicente em duplicado, e que o pintor é Nuno Gonçalves.
A tese do retrato ser o Infante, foi a primeira em linha, mas creio ser mais esclarecedor quanto aos métodos de investigação que se praticaram, começar com as duas ultimas teses. Elas estão aliás intimamente ligadas, uma condicionando a outra. Foi a tese de os santos serem São Vicente – a tese dita “vicentina” - que levou à tese “Nuno Gonçalves”. Uma depende da outra.
Uma das coisas que desde o inicio intrigou os investigadores foram as figuras, nimbadas que são o centro devoto daquelas tábuas. Não se conhecia santo que se figurasse daquela forma. Consultou-se então alguma das grandes enciclopédias católicas? Pesquisou-se talvez o arquivo da câmara, já que se via nos Painéis um homem a segurar uma relíquia que se podia ligar ã câmara e, eventualmente, aos dois santos? Nada disso. Adivinhou-se.
Surgiram as mais surpreendentes propostas. De se tratar de Santo Eduardo, rei de Inglaterra, sugeriu Joaquim de Vasconcelos, de São Vicente, afirmava José de Figueiredo, de Santa Catarina, propunha Alfredo Leal, de D. Isabel, mulher de D. Afonso V, como rainha fada, lembrou Armando Lassancy, do cardeal D. Jaime, filho do infante D. Pedro, propôs Belard da Fonseca, enquanto José Saraiva apostava no infante D. Fernando, o “Infante Santo”, e de Conceição Silva ver nas duas figuras limbadas um “Arauto do Espírito Santo”.
Até que as opiniões se concentraram em São Vicente. O pronunciamento originou em José de Figueiredo, então director do Museu Nacional de Arte Antiga, e levou à tese, dita “vicentina”, ou seja que os santos eram São Vicente. Não havia, dizia José de Figueiredo, outros santos na história de Portugal que pudessem reunir em torno de si figuras de primeiro plano e de populares. O que se explicava, dizia ele, por São Vicente ter sido obreiro da conquista da cidade de Lisboa aos mouros. Este santo era tão venerado que tinha altar próprio na Sé de Lisboa.
Para que houvesse na Sé um altar de São Vicente, era porque este santo gosava da especial devoção da cidade. Os santos que se viam no políptico eram claramente santos que reuniam em torno deles toda a cidade. O políptico era pois com certeza aquele que estivera na Sé, no altar de São Vicente.
O pintor que pintara os quadros que ornavam esse altar fora um homem chamado Nuno Gonçalves. Homem de grande qualidade, de quem Francisco de Holanda no seu “Da Pintura Antiga” (publicado em Lisboa em 1548) escrevera que pintara à maneira dos grandes pintores italianos.
O poliptico encontrado em São Vicente de Fora era forçosamente aquele que estivera na Sé, e era portanto da autoria de Nuno Gonçalves.
Nada disto foi linear. Houve opiniões pró e contra. Havia sempre aquelas vozes discordantes, lembrando que São Vicente não se figurava daquela maneira, houve quem fizesse notar, que Francisco da Holanda escrevera expressamente que Nuno Gonçalves pintara os quadros do altar de São Vicente à moda italiana, e que as tábuas de São Vicente de Fora não eram decerto à maneira da nova escola italiana. . Nada a fazer. A tese “vicentina”, e a consequente tese “Nuno Gonçalves” impuseram-se, mantiveram-se e, por experiência própria, constatei que são acerrimamente defendidas.
Ao revelar o documento da câmara, que provava a existência de santos gémeos da devoção da cidade, eu tocara - de forma perfeitamente inocente, diga-se - na tese vicentina e gonçalvista. A revelação fora acolhida em silêncio, e não fizera grandes estragos. Quem é que ligava ao artigo de uma quase desconhecida? A coisa só incomodou quando publiquei um livro sobre o caso dos Painéis.
Nesse livro eu analisava, um por um, todos os problemas dos Painéis, abordando também, como era natural, e não podia deixar de ser, o problema do eventual pintor. Não apresentava tese, escrevi simplesmente as conclusões às quais chegara, analisando o caso com lógica, e não deixando de ter em conta as opiniões que haviam sido formuladas por outros.
Mas não escondera a existência de São Crispim e São Crispiniano, e com essa revelação, ruíam, para quem quisesse refletir, as teses vicentina e gonçalvista.
Não era a primeira vez que uma investigação posterior, demonstrava que houvera erro na tese precedente. Mas não foi assim que a coisa foi entendida. O museu de Arte Antiga decidiu ir em defesa de Nuno Gonçalves. Organizou uma conferencia, ou colóquio, e deu ao evento o título de “Nuno Gonçalves. Novos Documentos”.
Nunca cheguei a perceber, se a ideia nasceu da própria direcção do museu, e foi ela que tratou da organização do colóquio, ou se a coisa foi sugerida à direcção por um grupo de partidários das teses vicentina e gonçalvista e aceite pela direcção. Fosse como fosse, o colóquio realizou-se e raras vezes se terá assistido a mais triste demonstração de amadorismo em investigação.
Descreverei proximamente esse colóquio, porque julgo importante que se reflicta sobre que bases ainda hoje assenta a investigação oficial do caso dos Painéis.
Por hoje uma ultima reflexão. Ums reflexão sobre se importa verdadeiramente
o facto do pintor dos Painéis ser ou não ser Nuno Gonçalves. Se vem algum mal ao mundo de se manter uma identificação possivelmente errada? O homem é internacionalmente reconhecido, é o maior pintor português, para quê tocar nele? Que interessa isso para o caso dos Painéis? Deixem lá ficar o homem.
Descansem. Não se tocará em Nuno Gonçalves, ele continuará - em companhia dos dois São Vicentes – a ser ensinado em escolas e faculdades.
Àqueles, que têm a incómoda paixão da verdade em matéria de história, a quem a investigação lógica e os seus resultados interessam mais de que uma batota artificialmente mantida, a esses, o engano defendido incomoda evidentemente.
Até porque este engano, como todos os enganos desta sorte, têm as suas consequências. Uma delas afecta a apreciação visual dos Painéis.
Havia na época vários tipos de pintores, (não contando os miniaturistas, que não interessam para o nosso caso). Eram considerados oficiais mecânicos e trabalhavam ou para os reis, os nobres, o alto clero, ou para as cidades. Os primeiros pintavam os retratos dos seus patrões e aquilo que a estes interessava: imagens para as suas capelas, as suas igrejas, os mosteiros de que eram patronos ou devotos. Os pintores das câmaras, esses, ocupavam-se sobretudo em obra decorativa. Pintavam bandeiras, estandartes, flâmulas, e eram encarregados de “enfeitar” a cidade quando a cidade fstejava, ou comemorava, algum grande acontecimento: a entrada de um embaixador, um casamento real. Os pintores deviam ‘ilustrar’ visivelmente o acontecimento. Quando do casamento da infanta D. Leonor com o imperador da Alemanha, o embaixador que já citámos, escreve que se viam pela cidade várias composições artísticas, aluscasamento real. Ele vira entre outras, em determinado largo, a representação da eleição dos imperadores alemães pelos sete “príncipes eleitores”. Tratava-se evidentemente de obra executada pelo pintor da cidade.
Em 1470, quando se presume terem sido pintados os Painéis, havia dois pintores a trabalhar em Lisboa, um era o pintor do rei, chamava-se Nuno Gonçalves, outro, era o pintor da câmara, chamava-se João Enne. O pintor do rei pintara recentemente os quadros do altar de São Vicente na Sé e estava pintando outros para a capela do Paço de Sintra. Pinturas à moda italiana, como se sabe. Decerto muito diferentes do género de pintura que produziria o pintor da cidade, habituado a quadros decorativos de grandes dimensões. É um dos aspectos da questão dos Painéis que nunca foi tido em consideração, devido à fixação em Nuno Gonçalves.
Outra consequência dessa fixação é o que se dá com as tapeçarias de Arzila, ou de Pastrana, como também são conhecidas, segundo a pequena cidade espanhola onde hoje se encontram.
Se aceitamos que foi Nuno Gonçalves quem pintou os Painéis de São Vicente de Fora, isso obriga-nos a esquecer as tapeçarias de Arzila.
Por uma muito simples razão. Aquelas extraordinárias tapeçarias foram sem duvida alguma tecidas segundo desenho e pintura do homem que pintou os Painéis nossos conhecidos. Ora, ainda é minimamente aceitável, que um pintor, gabado por pintar segundo a escola italiana, tenha pintado os Painéis. Mas o que ninguém em seu pleno e perfeito juízo poderá aceitar é que as tapeçarias de Arzila sejam obra de pintor da escola italiana. Se Nuno Gonçalves pintava à moda italiana, não desenhou, pintou e ideou as telas para as tapeçarias de Arzila. E não pode ter pintado os Painéis, porque esses são indubitavelmente do autor das tapeçarias.
E assim. uma obra d’arte originada em Portugal, tratando de tema português, obra tão grande, ou maior, que os Painéis, é praticamente ignorada. Não vá alguém questionar o que não se deve questionar.

*Heinrich Zinkl Der grosae Irrtum

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O homem de encarnado

>> segunda-feira, 12 de outubro de 2009




“Et omnes erant uno coloro escarlato rubeo ornamentatissimi vestiti” escrevia Nikolas Lankmann von Falkenstein.
Eu ia caindo da cadeira quando li a frase.
Falkenstein, o embaixador de Frederico III de Habsburgo, imperador da Alemanha, que em 1453 veio a Portugal buscar a infanta D. Leonor, irmã de D. Afonso V, noiva e futura mulher do Imperador, descreveu no seu diário as festas que houve então em Lisboa em honra do acontecimento. Uma dessas festas foi organizada pela câmara da cidade. A Câmara apareceu em grande e luzido cortejo, e todos os seus homens - assim escreve o embaixador - vestiam uniformemente de uma cor só, de “escarlato rubeo”. De vermelho, portanto. E só de vermelho.
Naquela altura eu não estava particularmente interessada no problema dos Painéis de São Vicente de Fora, mas sabia o bastante sobre o caso para considerar aquela informação de enorme importância. Ela interessaria decerto os peritos que se ocupavam do assunto, e tinha portanto de ser publicada.
É que, com a descrição do embaixador, se podia finalmente identificar, de forma “documental”, a figura de encarnado que se via nos Painéis com aquilo que se pensava poder ser -- e decerto era – a relíquia de Sto António, que a Câmara de Lisboa tinha à sua guarda.
Escrevi portanto um artigo dando conta desse achado. Que aliás já podia ter sido feito, dado o diário do embaixador estar publicado (em latim) na História Genealógica da Casa Real de António Caetano de Sousa, e ter sido traduzido para português e publicado por Luciano Cordeiro.
O meu artigo apareceu no Diário de Notícias em 1983 na sua boa secção cultural, dirigida então por António Valdemar.
A identificação não foi contestada nem na altura, nem mais tarde, nem o podia ser. Mas foi recebida em silêncio. Note-se, que se tratava da identificação indiscutível de uma figura de primeiro plano dos Painéis. Que era a única identificação documentada que até ali se fizera. Foi tacitamente aceite, porque não podia deixar de o ser, mas em silêncio.
Este blogue foi criado para falar de temas literários, e nunca pensei incluir nesses temas o caso dito “dos Painéis”. Só que encontrei recentemente aquilo que penso ser a resposta a mais um dos problemas do caso, e lembrei-me de escrever aqui sobre essa descoberta.
Para logo pensar que, uma divulgação dessa natureza, isolada do seu contexto, não interessaria os leitores. Como a poderiam eles avaliar, aceitar ou rejeitar, se não conhecessem as minhas relações anteriores com o caso? Se não soubessem das pesquisas que realizara, e da sua forma? Das descobertas que gradualmente fora fazendo, das conclusões que delas tirara e do livro que a partir delas escrevera? Para já não falar da reacção que houvera a esse livro?
Acrescia que o caso dos Painéis, tão cheio de problemas de interpretação, sobretudo de ordem histórica, tem hoje, adicionalmente, um problema de ética, de honestidade intelectual. A saber até que ponto, em matéria da história de uma obra de arte, se pode defender a mentira para preservar a revelação de erros cometidos.
Creio que aqueles que habitualmente lêem os meus posts, são pessoas que saberão apreciar a questão nas suas diferentes vertentes. E é nessa convicção que me decidi a incluir no libri. librorum a questão “dos Painéis”.
Após ter publicado o artigo sobre o homem de encarnado, pensei ficar-me por ali. Mas como sou curiosa, achei que devia valer a pena dar uma vista de olhos no arquivo da Câmara de Lisboa. Se um homem da Câmara figurava em lugar de destaque nos Painéis, era possível que, entre a documentação da Câmara, se viesse a encontrar qualquer coisa relacionada com aquela obra. Era um passo lógico. Numa pesquisa documental histórica é assim que se procede.
Não descobri documentos que aludissem directamente aos Painéis, mas encontrei outros que, indirectamente, interessavam ao caso. Eram documentos que se referiam à obrigação que a Câmara tinha de organizar anualmente, no dia 25 de Outubro, uma procissão para comemorar a conquista de Lisboa aos mouros, e dar graças aos Santos que tinham presidido a essa vitória. A procissão ia da Sé ao mosteiro de São Vicente de Fora, e os santos em questão eram dois irmãos gémeos, que se chamavam São Crispim e São Crispiniano. Quando os senhores presidente e vereadores da Câmara pareciam estar em vias de esquecer aquela sua obrigação, os reis tinham o cuidado de lho lembrar. Que Suas Senhorias fizessem o favor de não esquecerem a obrigação de comemorar “tão grandes santos, e a quem a cidade tanto devia”.
Aqui estava outro facto que merecia ser participado, pensei eu, e escrevi o respectivo artigo. A revelação foi acolhida com a gargalhada que os nomes Crispim e Crispiniano provocaram a pelo menos um dos peritos. Como se santos com aqueles ridículos nomes pudessem ser tomados a sério.
Não previra uma recepção entusiástica daquela nova informação. mas pensava que ela interessaria. Afinal estavam ali documentos que diziam que houvera na história da cidade de Lisboa dois santos, que eram gémeos, que tinham sido mártires e diáconos, o que permitia que fossem representados com barrete na cabeça tal como aquelas duas figuras centrais e idênticas que se viam nos Painéis
A verdade é que eu vivera na ilusão que alguém devia querer provas documentais para aquele caso. Perdi essa ilusão. Percebi que nos cérebros dos senhores dos Painéis reinava a certeza que os dois santos eram São Vicente em duplicado. Mesmo quando vozes competentes apontavam que não havia memória de São Vicente ter sido representado com barrete na cabeça, visto ter sido tonsurado, e que a um santo tonsurado nunca se representava de cabeça tapada, mesmo assim, os ditos senhores mantinham soberanamente a sua convicção.
A falta de reacção não me incomodou, e ignorei a troça. Não tencionava continuar o estudo daquele caso, e menos entrar em discussões a seu respeito.
E mais uma vez decidi que por ali me ficaria. E assim o teria feito, se não fosse a minha filha me contar, ao chegar um dia a casa, que fora abordada na rua por uma senhora que lhe perguntara se ela não era minha filha, e tendo ela respondido afirmativamente, a desconhecida dissera-lhe: --Olha, então diz à tua mãe que continue com o caso dos Painéis, porque ela é que está no bom caminho.
Ri, mas o mal estava feito. Meti-me onde não era chamada. E, já que me metia, fiz a ‘metidela’ a fundo.
Já lera alguma coisa sobre a questão, decidi ler tudo. Desde os cinco volumes de Belard da Fonseca ao mais pequeno folheto. Mais tarde iria voltar a eles para argumentar e contra-argumentar, de momento li as teorias, li os factos históricos e artísticos mais ou menos pertinentes apresentados, admirei as imagens elucidativas que os diferentes autores apresentavam, e fiz obedientemente as comparações que me aconselhavam. Fui uma esponja.
Destaquei de tudo aquilo e dois únicos dados que me pareciam de interesse. Dois factos. Dagoberto Markl, lembrou, que no tumulo do Infante D. Henrique se via uma figura jacente, cujas feições não eram as do homem de chapéu preto dos Painéis, que se presumia representar o Infante. Dagoberto Markl não tirou dali as devidas consequências, mas tinha dado uma utilíssima contribuição para o caso.
O segundo facto pertinente era revelado por João Paulo Abreu Lima, a saber, que na época em questão, tinham trabalhado em Lisboa dois pintores, um, Nuno Gonçalves, português, outro, João Ennes, flamengo ou português de ascendência flamenga.
De resto pude concluir que havia três dados que eram considerados indisputáveis. Eram eles:
a) os dois santos eram São Vicente em duplicado
b) o homem de grande chapéu preto retratado nos Painéis era o infante D. Henrique
c) o autor da pintura fora o pintor português Nuno Gonçalves.

Nestas três verdades absolutas não se podia tocar. Assim sendo, de momento que eu me ia ocupar do caso, aquelas três ‘verdades’ tinham de ser examinadas e a sua consistência, conforme o caso, tida ou não. em consideração. Após a leitura dos livros, era este o passo que se impunha. Que eu me impus.
--Porque é que pensa conseguir desenvencilhar o que os outros não conseguiram? perguntou-me um dos meus irmãos, a quem falei na decisão que tomara.
–Porque eu não vou adivinhar, vou investigar, respondi.
Podia ter acrescentado que eu tinha o que nenhum dos outros tivera. Eu tinha um ponto de partida. Eu tinha o homem de encarnado.

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ou Escritor de história?

>> segunda-feira, 5 de outubro de 2009




Devido a um problema de vista, é provável que tenha muito em breve de fechar este blogue. Com muita pena, aliás. Enquanto não o faço. vou encurtar os artigos, o que de resto já me fora aconselhado. Como até agora não escrevi sobre temas de história lembrei-me de o fazer nos próximos spots, e tocar, ao de leve como o assunto requer, no delicado problema da interpretação dos Painéis de São Vicente de Fora.
Mas antes de mais acho que devo definir o que sou em relação à escrita de história.
Há em Portugal um extraordinário número de “historiadores”. Praticamente todos os jornais apresentam artigos assinados por articulistas que se definem por “(historiador)”. Mas quando se procuram pelas suas obras, elas não se encontram, ou, quando existem, não são em geral aquilo que eu considero obra de “historiador”.
Consultei uma sobrinha que está a tirar o curso de história e fiquei a saber que ela, quando terminar o seu curso, está formada em história, e é portanto “historiadora”.
Ora se a minha sobrinha será historiadora sem ter escrito uma obra de História, o que são então aqueles senhores meus conhecidos pelas grandes obras de historiografia que deixaram? O que eram então na Alemanha Mommson, Ranke, em França Taine, Michelet, Herculano, em Portugal? Lembrei-me que em alemão se designam a estes autores por “Geschichtsschreiber”, ou seja, por “escritor de história”. A coisa assim era mais clara.
Tendo o historiador, o formado em história, escrito uma ou mais obras sobre problemas de história, então, além de ser formado em história e a poder ensinar, era um “escritor de história”.
Historiadores formados em história são uma espécie recente. A ciência e o seu ensino datam de meados do século XIX. Até ali os documentos originais nem eram consultados. Quando se constatou que, sem a sua leitura, não havia compreensão de “história”, percebeu-se que havia que ler os documentos Ainda não havia cadeiras de paleografia, e os primeiros escritores de história tiveram de se ensinar a si próprios a paleografia e a correcta interpretação dos documentos originais. Foram autodidactas em matéria de história.
Voltando ao meu caso. Não sendo formada em história, não sou historiadora. Mas, tendo-me ensinado a mim própria, escrevi obras de história Talvez possa dizer que sou uma escritora de historia à moda do século XIX.
O escritor de história que se auto-ensina corre determinados riscos. Já não falando no despreso a que é otado pelos “historiadores”, o que é natural e de esperar. Os riscos importantes ocorrem na sua forma, por ventura pouco profissional, de encarar a escrita da história.
Não sei se nas faculdades ensinam o futuro historiador a evitar, por exemplo, o “antiquarismo”. O escritor não formado pode facilmente cair nele.
No seu livro “The Practice of History “ o professor G.R.Elton escreve que o antiquarismo se distingue pela devoção ao detalhe, pelo o amor a este. O antiquarista quer saber, mas não quer perceber. Pouco o preocupa o que está aprendendo com aquilo que acabou de saber”.
O antiquarismo tem por vezes a sua utilidade, escreve Elton, mas em geral prejudica a escrita da história. “É uma doença que afecta mesmo os historiadores formados e pode atacar com maior virulência ao não profissional.”
Eu ignorava que a expressão existia quando pela primeira vez escrevi história. Creio que consegui escapar à doença pela avassaladora quantidade de dados curiosos que se me foram revelando quando comecei a organizar o antigo arquivo da minha família materna. Eram curiosidades a mais para serem realçadas. Quando comecei a escrever historia tinha aprendido sem mestre a evitar o antiquarismo.
Daquela leitura de documentos e nos cinco anos que levei a escrever o meu primeiro livro, a biografia de um homem da Restauração, fui aprendendo muto mais. Foram cinco anos de aprendizagem. Aprendi a medir o relativo valor dos documentos para a obra em questão. A não me entusiasmar por um dado descoberto sem ter medido o seu verdadeiro alcance. Aprendi a medir as evidências antes de me precipitar em conclusões. Constatei a dificuldade da isenção na avaliação dos feitos e dos homens, e logo jurei a mim mesma que nunca me empenharia em escrita de história na qual a isenção não me fosse possível.
Daquela primeira obra passei a outra, esta sobre a vida nos mosteiros femininos portugueses na Idade Média (livro que ainda está por publicar) e que me levou à leitura de inúmeros outros documentos. Ia-me tornando um pouco especialista na matéria. E foi assim, fazendo a pedido, uma pesquisa documental, que esbarrei com um dado que me fez penetrar ali onde jurara nunca entrar, na zelosa e superiormente protegida questão de umas tábuas pintadas que um dia haviam sido encontradas nas arrecadações do mosteiro de São Vicente de Fora. O que se seguiu fica para depois. Se a vista o permitir.

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