Antes de escrever História

>> terça-feira, 30 de março de 2010

Há dias perguntaram-me como se poderia consultar certo arquivo particular e consultar documentos que interessavam a um trabalho de mestrado. Realizei uma vez mais a que ponto eu fora privilegiada por ter podido consultar livremente o arquivo onde tinha as fontes de que necessitava para o trabalho que pretendia realizar. Não q eu com isso se esgotasse a pesquisa documental, mas tinha o principal. Para o que faltava teria as facilidades que me permitiam a bolsa de estúdio da Gulbenkian que me fora concedida. Como não admirar profundamente e respeitar aqueles que se abalançam a trabalhos de grande fôlego sem gozarem das facilidades que eu então tive. Não sei como o fazem. Sinto por eles a frustração de não poder ler o livro necessário, de lhes ser difícil ou impossível consultar as fontes.
O trabalho preliminar para um livro histórico – e é disso que se trata - é apaixonante. Não sei como exprimir a satisfação que nos dá aquela gradual abordagem ao tema que nos ocupa.
Procurar as obras que pensamos necessários é a parte mais fácil desse trabalho preliminar. De um primeiro livro passa-se para outro e deste para outro, é uma cadeia.
Os autores destes livros basearam-se em documentos, tiraram delas as suas conclusões. Ansiamos por consultar esses documentos. E outros. Para tirarmos as nossas próprias conclusões. Porque todo o historiador, do grande ao mais modesto, escreve o seu livro para mostrar “como na verdade era”, e não duvida que o conseguirá melhor que qualquer outro.
As fontes. Dificilmente se encontraria expressão mais adequada para designar os documentos nos quais se baseia o livro de história, e a sua pesquisa é o momento mais apaixonante da sua feitura.
Bibliografia lida e fontes consultadas, é o momento de começar a obra. E então, como diz uma figura de ‘Alice no país das maravilhas’ a outra: “ é só começar no princípio e acabar quando chegar ao fim”.
Apetece-me escrever sobre esses fundamentos da escrita de história que são a consulta da bibliografia e o estudo das fontes. Fica para outra vez.

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Porquê tão tarde?

>> terça-feira, 23 de março de 2010

Há pouco publiquei um romance histórico que tem como assunto principal a condenação e morte - em 1483 – do duque de Bragança. A uma das figuras fictícias do livro faço corresponder com um amigo em Flandres. O homem conta e comentam suas cartas o que se está passando em Lisboa, e, como ambos são grandes leitores, ele fala ao amigo na esperança de brevemente haver também em Portugal a nova arte de imprimi. O assunto não afecta em nada o tema principal, inclui-o unicamente para dar “o ar do tempo”. Só agora, passados alguns meses sobre a conclusão do livro, é que realizei a que ponto era insólito o facto de em 1483 não haver impressores em Portugal. É verdade que se trata de um romance histórico não de um livro de história, mas a coisa é suficientemente curiosa, e mesmo no romance devia ter sido notada como tal.
O interesse que a arte da impressão de imediato suscitou, fez com que em muito poucos anos houvesse impressores nas principais cidades da Europa.. É muito notado que em Inglaterra a arte só tivesse dado entrada em 1476. Em Veneza, Aldo Manucio imprimia pouco depois os clássicos gregos no original.
A livraria do Museu Britânico em Londres, que possui a maior colecção de incunábulos do mundo, tem 28.000 títulos de incunábulos no seu catálogo. Pois em Portugal só em 1495 há um grande impressor em Lisboa, Quarenta e nove anos depois da invenção da nova arte.
E o espantoso é que, isso não seja frisado ou notado. Nem mesmo um bibliófilo como D.Manuel II se lembra do facto. Nem uma palavra a esse respeito quando fala do seu “Vita Christi”. Ora o livro ter sido publicado em Portugal, e ser uma obra magnífica da arte de impressão, é sem dúvida muito interessante. Mas saber porque é que só nesse ano se imprimiu em Portugal é muito mais interessante.

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ANOTAR.

>> terça-feira, 16 de março de 2010

Quando um dia, no muito longínquo passado, nas margens do rio Tigris, ou talvez do Eufrates, alguém pegou num pedaço de barro húmido e riscou nele três riscos verticais e os cruzou com risco horizontal, ele estava a “anotar”. A sua memória já não seria já o que fora, e precisava de recordar que já fora pago de três ovelhas que vendera. Ou talvez que comprara. Anotou-o. Pôs o pedaço de barro ao sol, e adormeceu tranquilo à sombra da palmeira.
O tempo passou, as coisas evoluíram, já não anotamos em bocados de barro. Agora anotamos em elegantes livros de notas, que nos oferecem, ou, mais vulgarmente, nas costas de sobrescritos ou outros pedaços de papel. Eu sou uma grande anotadora. Sucede que nem sempre consigo decifrar o que anotei. No caso que me ocupa isso não sucede. Não tenho dúvida que “ 3 Jli.G.!!!” quer
dizer que emprestei três livros ao meu irmão G, e que preciso de lhe lembrar esse facto.
Livro emprestado não volta a casa sem ser lembrado. Até aí tudo bem. Só que as coisas mudaram depois da nota. Agora vou pedir a devolução de livros que não vou poder ler. Para quê então querê-los de volta? Não se trata de obras de valor, e, a avaliar pelo tempo que G as conservou, o meu irmão deve gostar delas. E eu não as vou ler. Pois é. Não as vou ler, mas elas vão estar nas minhas estantes, e ao pegar nelas vou saber o que lá está escrito. Agora é assim que leio. E o que dizer daqueles espaços nas estantes que clamam por serem preenchidos? Não há que hesitar. Com as devidas atenções para não o ofender – “ eu já devia saber que ele não precisava de ser lembrado” - mansamente, mas teimosamente, vou obedecer à nota: :”3 li.G !!!!” . Se o anotei foi porque a coisa era para ser lembrada.
E os livros não só se lêem, pegamos neles, folheamos, alguma palavra conseguiremos ler, e as capas. Que bonitas capas, e as lembranças, “é verdade a este comprei ali, a este em Paris e julguei comprar uma pechincha quando afinal lhe faltavam páginas. Já o devia ter despachado. Mas para onde? Enganando outro? Não é o meu género. Furiosa, contemplo-o. A “Guerra e a Paz” de Tolstoi numa edição linda, e tão barata. Só que lhe faltam páginas. Não o vou ler. Mas vou-me lembrar. E de resto: há a obra em audi- livro. Já anotei.

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Vamos a ver

>> terça-feira, 9 de março de 2010

Vamos a ver se consigo retomar a escrita do meu blogue. Já tenho o necessário instrumento: um computador com um programa para o meu caso de pouca visão de perto.
Passar para Windows, que tem esse programa, não é fácil para quem estava habituada ao Mac. Até por vezes desesperante. Pergunta: porquê então insistir? O meu blogue não é tão importante, que se dê pela falta dele. Assim é. Mas a verdade é que eu preciso de escrever. No meu particular caso, a escrita é uma das formas que descobri para compensar a leitura de livros. A esses só os que têm uma letra bem preta sobre papel bem branco é que, com ajuda de lupa, consigo ler .Mas as letras que vou formando ou que vou imprimindo, essas estão à medida da minha visão. Ao escrever, leio. E ai está! Vou publicar textos no meu blogue para ler.
Encontrei ainda outras formas de leitura. A memória. Sempre gostei de reler um livro que tinha apreciado. Agora estou a colher o fruto dessas releituras. Pego num livro, ou chamo-o à memória, e, como por encanto, lembro-me de frases, de passagens, que me trazem o livro de volta.
A audição. Sabia que existiam livros lidos, audi-books em inglês, mas nunca me interessaram. Fiz mal. Ouvir ler é um prazer e não falta escolha. Em duas.
Em português a escolha não é grande. Em alemão e inglês há de tudo. Desde os clássicos antigos aos modernos, desde a boa ficção recente, livros de humor, de poesia. Ensaios, história, filosofia, a escolha não acaba.
Em resumo: não leio da mesma forma, mas leio, e então porque não continuar com o blogue? É o que vou fazer. Porém não como de costume
às segundas mas antes às terças-feiras, dia em que tenho uma ajuda ainda muito necessária.
Até à próxima terça feira.

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Sobre este blogue

Libri.librorum pretende ser um blogue de leitura e de escrita, de leitores e escritores. Um blogue de temas literários, não de crítica literaria. De uma leitora e escritora

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