Apresentação de livros. O “Gatinho Miau Miau”.

>> segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Há agora uma nova forma de levar o livro ao leitor. Até aqui tínhamos a recensão e a crítica, escritas por jornalistas mais ou menos aptos para a tarefa. Agora temos a recomendação visual de obras de escrita pela mão do comentador político. No 2ª Canal da TVI houve recentemente um programa de entrevistas político-económicas presidido por Constança Cunha e Sá no qual havia três comentadores, e todos eles apresentavam no fim o seu livrinho. No 1º canal da mesma estação há aos Sábados alternadamente comentários de Pedro Santana Lopes e Manuel Maria Carrilho. O primeiro faz o favor de nos poupar as suas sugestões literárias, o segundo tem apresentado livros com interesse. Se eu pudesse ler compraria o ‘l’Europe dês Nations’ apresentado no passado Sábado.
A coisa começou com o professor Marcelo Rebelo de Sousa, e a moda pegou. Terminar um comentário político com um livro na mão dá uma certa elegância ao discurso.
Mas nada supera a apresentação de livros feita pelo Professor no seu programa. Passei por várias fases em relação a esse programa. Primeiro admirei. Via o Professor percorrendo as livrarias, escolhendo um por um os livros apresentados. Percebi que a coisa não se passava bem assim e admirei menos. Agora não admiro, mas aprecio. Gosto de ouvir o amigo Júlio pronunciar as palavras mágicas: “E os livros, Professor?” Sei que a apresentação me dará sempre qualquer coisa para espantar, irritar, ou rir. Sobretudo, confesso, para rir. Bem sei que a coisa é séria, mas não há nada a fazer, vejo sobretudo o lado cómico da questão. Vejo gordas Enciclopédias alternando com delgadas obras de poesia, vejo no Dia da Mãe os livros de mulheres, nos momentos de maior actividade futebolística vejo com curiosidade os livros que o tema suscita, fico a saber de livros ilustrados “ magnífico”, oiço o elogio respeitoso de obra de pensamento “A não perder”. Não tenho obedecido às recomendações e, há pouco, podia afirmar com toda a sinceridade, que não fixara um único nome de autor ou um único título de livro. Agora já não digo o mesmo. O Professor não descura os livros de criança e por ocasião do Natal dá a este género particular atenção. As crianças vêem televisão desde o berço, mas as autoras portuguesas de livros infantis têm tendência a esquecê-lo e a época natalícia inspira-lhes obras de títulos delico-doces. O Professor recita aquilo tudo com imensa seriedade. Não posso deixar de admirar essa sua verdadeira superioridade. Ouvi pois com admiração e prazer o Professor ler o título de um dos livros infantis deste ano: “O Gatinho Miau Miau” e esse título fixei.
PS. Considerando o que acabo de escrever sobre apresentação televisível de livros seria de esperar que não me viesse a servir de coisa tão imperfeita. Mas o mundo é cheio de contradições, e o livro de autor que espero publicar irá direitinho para o programa do Professor. Porque sempre pode suceder que alguém lhe fixe o título. Porque foi pelo Professor que ouvi apresentar um livro de autor, e ainda, e sobretudo, porque o programa me deu o prazer de ver e ouvir o nosso primeiro comentador político e grande professor de Direito apresentando, com cuidada dicção e imensa seriedade,“O Gatinho Miau Miau”.

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Poetas, artistas

>> segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Dois dias de ter ocorrido um crime que estava apaixonando a opinião pública portuguesa almoçava comigo uma sobrinha que é artista. Comentei o caso em questão.
– Não sei do que a tia está a falar. Há dois dias que não lia os jornais e não vira televisão.
Lembrei-me, e creio que a propósito, de um poema de Goethe sobre o poeta, o artista.
Um dia Júpiter, lá das suas alturas disse aos homens que lhes dava o mundo. Era deles, que o dividissem irmãmente entre si. E logo, novos e velhos, puseram mãos à obra. O lavrador lavrou a terra, o caçador foi à caça, o vinhateiro plantou a videira na encosta soalheira, o mercador encheu os seus depósitos, e o rei fechou as estradas e as pontes e declarou “ A décima é minha”. Por fim, quando tudo estava dividido, apareceu o poeta.
- O mundo está dado, disse Júpiter, tudo tem já o seu dono. Onde estavas tu?
- Eu estava, senhor, contigo.
-Pois bem, disse Júpiter, se queres viver nas minhas alturas, sempre que vieres encontrarás as portas abertas.
E desde esse dia – a observação é minha – poeta e outros artistas vivem lá nas nuvens.

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Livro de autor

>> segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A expressão tem algo de desprestigiante. Subentende-se que o autor não encontrou editor para o seu livro. O que em geral era o caso. O editor enganava-se por vezes e deixava escapar uma obra prima. Mas não se contam muitos casos desses. A edição de um livro era trabalhosa e cara. O autor entregava um manuscrito que tinha de ser emendado e recopiado mais de uma vez, o editor não era altruísta, escolhia o que lhe parecia ter qualidade. Ter qualidade e ser vendável.
As coisas mudaram. Agora o que vende não é a qualidade. É o nome do autor. E a edição do seu livro, bom ou mau, é pouco dispendiosa. O texto vem num disco, é só preciso escolher capa adequada e a coisa está feita. Se o livro vender bem, fazem-se mais cópias, se não vender, não se fazem. A grande maioria dos livros que todos os anos se editam em Portugal são livros que em outros tempos não seriam aceites por um editor. São” livros de autor” com a chancela de uma editora. Assim sendo, por que não editar o nosso livro sem passar por um editor? Preparo-me para o fazer. Vou publicar dessa forma a correspondência da minha bisavó e das suas quatro filhas, desde 1834 a 1910. Entrego o texto a uma firma que se encarrega desse tipo de edição, aviso os membros da família, que o livro ali está e como o podem adquirir. Pronto. Há anos a publicação de livro de autor seria de tal maneira dispendioso, que se tornaria impossível. Agora é possível e vou aproveitar.
Livros de cartas familiares são olhados com desconfiança pelos editores. Quando eu mostrei uma amostra do livro ao meu editor , disseram que tinha poucos nomes conhecidos. Ora o índice onomástico tem mais de 400 nomes: de políticos de todas as cores, de réus, rainhas e príncipes em abundância, de senhoras bem comportadas e mal comportadas, de homens de nomes históricos e menos históricos, não faltam com certeza nomes “conhecidos”. Foi uma desculpa para explicar a rejeição. Que do seu ponto de vista é compreensível. Em França, por exemplo, um livro como este teria muita aceitação, entre o público leitor português não tem, e uma editora edita para o seu público. Vou por isso publicar um “livro de autora”.

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