Cartas do Século XIX

>> segunda-feira, 3 de março de 2014

São cartas do século XIX de uma mãe e suas filhas que se escrevem na ausência. Ser do século XIX pode não ser importante, mas é, porque foi no século XIN que se tornou corrente a troca de cartas entre particulares. Não é que as pessoas não se escrevessem, mas o transporte era moroso e havia uma agravante: era o destinatário quem pagava o porte. Só assim havia garantia que a carta fosse entregue. Isto mudou no século XIX com a máquina a vapor, construíram-se linhas de caminho-de-ferro, os comboios ligaram a cidades da Europa, houve mais espaço para mercadoria, portanto também para correio. Os governos descobriram uma fonte de receita, tomou conta do transporte de correio, era a ele que o autor da carta pagava. Em 1843 há o primeiro selo postal português. Cada um podia escrever sem pensar que estava a sobrecarregar um outro, podia escrever coisas importantes e baboseiras. Era ele quem pagava. Nascera a comunicação social. A coisa teve durante bastante tempo ar de novidade, e ainda nos anos cinquenta do século XIX o conde da Ponte recomendava às filhas que guardassem as cartas, que um dia haveriam de gostar de as reler. Elas obedeceram, e é assim que se explica que, à sua morte com 86 anos, Theresa Saldanha da Gama, a filha mais velha dos condes da Ponte, deixasse um baú com centena de cartas. O facto de serem antigas, não faz as cartas automaticamente interessantes ou divertidas. Quando, anos de pois da morte de Teresa Saldanha da Gama, me prontifiquei a catalogar aquela correspondência verifiquei isso mesmo, havia cartas com algum valor histórica, outras, interessantes, mas sem valor individual, e a maioria valendo unicamente naquele contexto. Notei, no entanto, e penso que qualquer outro que mexesse naquilo, o notaria, que havia umas cartas que sobressaíam naquele conjunto, pelo conteúdo e pela forma, eram aquelas que Theresa recebera de sua mãe, a condessa da Ponte, e de suas irmãs. A essas cartas decidi copiar, sabendo que, uma vez entradas no arquivo, ao qual estavam destinadas, elas desaparecem dos olhos do mundo. Tinha uma vaga ideia de publicação, partilhada por um dos meus tios. Foi sempre uma coisa vaga, e nada que passasse do meio estritamente familiar. Entretanto fui copiando outras cartas da mesma proveniência, e o volume delas é hoje grande. Este volume contém parte daquelas cartas que foram escritas entre 1834 e 1886.

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