VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - RECONHECIMENTO E INTRODUÇÃO

>> quarta-feira, 25 de novembro de 2015




Reconhecimento
           
Em 1970, pouco depois da publicação do meu primeiro livro ‘Vida do Marquês de Sande’, fui contactada pelo Dr. Eduardo Bravão, diretor da Imprensa Nacional, com a sugestão que escrevesse um livro da minha escolha para a Imprensa Nacional. Prometi pensar, mas outros projetos se meteram pelo meio. Escrevi outros livros. Alguns anos depois o Dr. Ruben Andersen Leitão, sucessor de Eduardo Brasão na Imprensa Nacional, repetiu a sugestão que aquele fizera. Respondi que gostaria de escrever sobre os mosteiros medievais femininos em Portugal. Mas seria um projecto pessoal. Impossível prender-me a datas ou formas. E assim sucedeu. Mas o livro não teria existido sem a confiança de dois homens, que então só me conheciam através de um único livro. Eduardo e Ruben já não são deste mundo, já não lhes posso dizer o meu reconhecimento. Dedico o livro à sua memória.
            Sucede que o Professor Dr. Veríssimo Serrão estava presente quando da minha conversa com o Ruben. Ouviu-nos em silêncio, mas no fim, eu já estava à porta, disse-me: “Um conselho. Foque-se num só mosteiro.” Segui o conselho. Obrigada, Professor Veríssimo Serrão.

Introdução

Este livro é baseado em documentos originais e tem por fim mostrar como era, na Idade Média, a vida num mosteiro feminino. Sempre gostei de escrever uma introdução aos meus livros, mas neste caso a particular de ter sido escrito depois de terminar o livro. É que realizei então que havia neste caso muito a explicar. Tratando-se de livro histórico, seria normalmente lido por quem se interessa por história, e que tem alguns conhecimentos sobre dados da escrita histórica. Mas alguém que leia o livro pela simples curiosidade do que fosse a vida num grande mosteiro, que talvez lhe tenha vindo essa curiosidade por viver perto do que fora um deles, talvez em Arouca, em Odivelas, talvez em Lorvão, ali onde a memória de um mosteiro ainda se conserva. É para estes hipotéticos leitores que escrevo esta Introdução. 

Saber ‘história’ não é preciso. Pode ser uma médica, um extraordinário engenheiro, e de história não saber mais do que aquilo que aprendeu na escola. Espera-se deles, que saibam os factos básicos da história do seu país. E não lhes fica mal se souber que houve esta ou aquela guerra, este ou aquele grande homem. Aquilo que o ocupa, é o presente não o passado. Acontece porem, que outro homem, outra mulher, gente perfeitamente normal também, tenha a particularidade de se interessar pelo passado, de ter esse curioso gosto de querer saber ‘como as coisas na verdade eram’ em dada ocasião do passado. E que esses homens ou essas mulheres não só queiram saber os factos, mas o porquê e o como deles. Procuraram ler o que se escreveu sobre o  assunto que os interessa. Se não encontra resposta que os satisfaça em um livro procuram-na em outro, e se, para isso tiverem tempo, lazer e algumas bases, talvez procurem solução própria ao assunto que os interessa e intriga. Sucedeu-me a mim em várias ocasiões. Foi por querer saber como fora a sua vida de soldado e de diplomata da Restauração que escrevi a ‘Vida do Marquês de Sande’, foi por querer saber como tinham sido os primeiros anos dos Portugueses na Índia que escrevi ‘a Rota da Pimenta’. Em um e outro caso procurei elucidar-me com a leitura sobre aquilo que outros tinham apurado e escrito sobre os assuntos que me interessavam. Mas as bases dos dois livros foram as fontes contemporâneas, as cartas, os relatos pessoais, os contratos firmados entre partes, foram os documentos da vida daquela particular pessoa, no caso do Marquês de Sande, e daqueles particulares acontecimentos no livro sobre os portugueses na Índia. É que, para de alguma forma reconstituir o passado, e escrever sobre este, há que ir às fontes. 

Imaginemos que, daqui a mil anos, no ano 3015 alguém queira saber como eram as coisas no nosso tempo, há mil anos dele. Procurará testemunhos deste tempo. Pode haver poucos. Ponhamos o caso de uma destruição maciça, talvez o impacto de uma guerra nuclear ter provocado inimagináveis destruições. Mas se, entretanto não tiver havido um cataclismo, o pesquisador encontra nos nossos livros, nos nossos discos, testemunhos de como nós Homens e Mulheres de 2015 eramos. Os discos, os filmes, os livros serão os seus documentos. Ele terá talvez esquecido como se escrevia na nossa época, tentará reaprende-lo, e decerto conseguirá. E com o que ler nos documentos, reconstituirá o passado. Satisfaz a sua curiosidade. Se o resultado lhe parecer de interesse vai partilha-lo, vai dizer a outros como as coisas eram. No caso deste livro assim foi que procurei fazer. A minha história começa em 1221. Procurei saber como eram as coisas há mil anos, tinha curiosidade de saber como era a vida das monjas em um mosteiro medieval.

O monasterio, o cenóbio de dez a doze homens reunidos sob o mesmo teto em oração, penitência e trabalho foi ideado por homens para homens. Fazendo sua a ideia, algumas mulheres formaram por sua vez pequenos cenóbios. Que não tiveram história. A história dos mosteiros femininos começa quando a sociedade civil se serve dos mosteiros para seus fins, quando cenóbios de doze mulheres vocacionadas para uma vida de oração, se foram transformando em mosteiros, reunindo sob o mesmo teto mulheres com muita, pouca e nenhuma vocação para a vida em religião.

Os mosteiros femininos foram-se adaptando à nova realidade, uns com melhores, outros com piores resultados. Estudei com apaixonado interesse os arquivos de grandes e pequenos conventos e mosteiros. Escrevi um primeiro livro a partir desse estudo. Deixei-o por muitos anos na gaveta, como antigamente se dizia. Reescrevi agora esse primeiro texto. Na primeira versão, talvez por estar muito próxima daquilo que lera nos arquivos, não resistira a comentários próprios. Cortei-os agora. História não é como nós achamos que devia ser, e não se escreve sobre um tema histórico dizendo aos leitores o que nós pensamos, e o que eles devem pensar sobre aquilo que se passara séculos atrás. Dei pois uma nova forma à apresentação do texto, deixei falar os documentos por si. Espero que um ou outro leitor tenha gosto em os analisar para si. Que talvez diga para consigo, como eu tantas vezes disse: “Ah, então era assim que a coisa se passava, que a coisa era.”

(continua)

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VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL

>> terça-feira, 17 de novembro de 2015

Lorvão sob as Abadessas Perpétuas 1211 - 1538

Este livro será publicado em PDF neste blogue dentro de duas ou três semanas. Terá os seguintes capítulos:

Introdução
I - Expulsão dos monges negros de Lorvão        
II - As primeiras monjas em Lorvão
III - A Rainha, o Papa e o Bispo
IV - O Mosteiro
V - Instituição aristocrática
VI - As Abadessas
VII- Horas, Oficinas. Oficiais
VIII - Pão, Peixe, Vinho
IX - Colher os Frutos
X - Grande Proprietária
XI - Direitos e Privilégios
XII - A Gente de Fora
XIII - O Scriptorium
XIV - O Mundo no Mosteiro
XV - Livros iluminados e outros
XVI - Introdução da Doçaria
XVII - A Visitação
XVIII - O Abade de Claraval em Portugal
XIX - D.Filipa d’Eça, Abadessa Eleita, D,João III e o Papa
Bibliografia

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Sobre este blogue

Libri.librorum pretende ser um blogue de leitura e de escrita, de leitores e escritores. Um blogue de temas literários, não de crítica literaria. De uma leitora e escritora

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