VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº X GRANDE PROPRIETÁRIA

>> quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

As abadessas dos grandes mosteiros tinham, como se disse, casa própria. Casa grande com cozinha própria, quarto de dormir da abadessa e da sua acompanhante, e quarto ou quartos de trabalho visto ser aqui que se centrava a administração do mosteiro. Não existia ali a separação de homens e mulheres que se mantinha no corpo principal do mosteiro. A abadessa tinha de falar com o seu procurador, tinha de receber homens que vinham tratar de assuntos ligados à administração. Em 1298, passando Lorvão por uma crise financeira, a abadessa Dona Maria Joanis empresta uma vasta soma de dinheiro seu ao mosteiro. O documento é assinado na casa da abadessa. ‘in dicto monasterium coram camara abatiss pelo alfaiate João Gomes, pelo carpinteiro do mesmo nome e por dois monges do mosteiro de Tarouca, que ali se encontravam de passagem. As abadessas tinham visitas próprias, membros da sua família, que ali estivessem de passagem, albergavam-se naturalmente na casa de abadessa, e prolongavam por vezes exageradamente a sua estadia. Monjas que não cabiam nos dormitórios dormiam em casa de dona abadessa. Com isto, queixava-se o visitador de Claraval em 153, ‘a camara da abadessa é dormitório, e não, como devia ser, ‘lugar de negócios.’ Porque era para esse efeito que a abadessa tinha casa própria, para tratar dos negócios da administração do seu mosteiro, para administrar os seus bens. Uma das primeiras tarefas da abadessa recém-eleita era decerto de se inteirar dos bens materiais de que dispunha para a manutenção do seu mosteiro e das suas monjas. Muitas delas mandaram fazer apanhados de bens existentes, pediam treslados de contratos de arrendamentos, mandavam copiar cartas de doação. O primeiro desses apanhados foi feito logo após a tomada de posse da primeira abadessa. É um rol muito explícito destinado à abadessa, de tudo aquilo que o mosteiro recebia em géneros e serviços na região de Coimbra. Havia cavalariças, havia arrendamentos urbanos a dinheiro. Havia contribuições em espécie de cerca de quinhentos casais. Em fogaças de uns, em galinhas ou ovos de outros; em alqueires de vinho, em oitavas, ou sextas partes de pão ou de vinho; em oitavas ou sextas partes de linho. E tudo diferente de caseiro para caseiro. Havia as vinhas que pertenciam a outros, que não aos caseiros, havia foros, havia as ‘eyradigas’, que alguns dos foreiros tinham de pagar além do seu foro, havia foro de trigo ou de milho debulhado na eira, de vinho saído do lagar. E ainda havia terras por desbravar. Em rol redigido um pouco mais tarde, lê-se que Lorvão recebia foros e rendas em trigo, cevada, vinho, galináceos, ovos e outros géneros de 523 casais, que havia rendas, em geral pagas em dinheiro, de casas que o mosteiro tinha em Lorvão e em Coimbra. Havia ainda os produtos das quintas e das granjas amanhadas por homens do mosteiro. Havia rendimentos dos moinhos d'água e dos lagares, das marinhas de sal e dos pesqueiros no Mondego. E havia lucros de várias outras fontes: de serviços que rendeiros e foreiros, assim como os habitantes de algumas vilas que pertenciam a Lorvão, eram obrigados a prestar ao mosteiro. Havia emolumentos da justiça, tais como as coimas ou multas que o mosteiro recebia nas vilas onde as abadessas tinham jurisdição própria. E que deviam ser importantes porque, como dizia quem sabia, ‘justicia magna emolumenta est’. Havia proventos ocasionas, como, por exemplo, as ‘lutuosas’, um imposto sucessório de triste memória, que a família do falecido tinha de pagar ao senhor da terra, ou, no caso de Lorvão, de igrejas, pela morte do seu sacerdote. Seria bom poder pensar que as abadessas de Lorvão não se aproveitavam desse benesse, mas a verdade é que ele era tido em conta. Menciona-se a lutuosa como uma das obrigações de determinada pessoa, e, um caso concreto, ficou documentado. Em 1415, tendo morrido Miguel Bartolomeu, prior da igreja de Cassia, o procurador de Lorvão recebeu de seus testamenteiros: uma tassa de um marco de prata, ‘que o dito mosteiro havia de haver de lutuosas da dita igreja de Cassia, donde o finado fora Prior.’ A tassa fora escolhida ‘porquanto esta era a milhor cousa que fora achada’ do dito Prior à hora da sua morte’17 Outros proveitos do mosteiro eram as ofertas, que, por uso e costume, eram devidas ao mosteiro em determinadas ocasiões. Assim os juízes das vilas nas quais Lorvão tinha jurisdição tinham, ‘por costume’, levar, após a sua eleição, um presente à abadessa. Em 1314, quando se discutia entre D.Afonso IV e a abadessa de Lorvão a quem pertencia a jurisdição da vila da Esgueira, a abadessa alegou que ela e o seu convento estavam em posse da jurisdição da dita vila, e que proviam ali o juiz da seguinte maneira: ‘que os homens bons da dita vila moradores se ajuntavam em cada hum ano por hum dia certo, e que elegiam entre eles o juiz’. Os juízes eleitos apresentavam-se em seguida em Lorvão, e a abadessa passava-lhes ‘carta de confirmação’. Era uso e costume, que o juiz, quando ia buscar a sua carta d confirmação, levasse à abadessa ‘uma boa marrã e mais dois capões de receber”.18 Lorvão tinha ainda receitas em portagens, em moinhos, em serviços que lhe eram devidos, e gozavam de privilégio que a rainha D. Teresa lhe havia obtido do Papa Honório III, e que lhe poupavam encargos incalculáveis, prejudicando diretamente o bispo de Coimbra, que perdia direitos valiosíssimos. Esse senhor não poderia obrigar as pessoas que dependiam do mosteiro a responder ‘sobre suas rendas e bens nos sínodos e ajuntamentos públicos ou juízes seculares’. Os achincalhados prelados também não poderiam ir ao mosteiro celebrar ordens, ou tratar de dívidas, ou fazer lá, por qualquer outra razão, ajuntamento público. Já isso cortava, e de que maneira, nos rendimentos das sedes episcopais. E havia mais. Não era permitindo aos bispos receberem remuneração por serviços que prestassem ao mosteiro de Lorvão: ‘nem por consagração de igreja, nem por bênção de altar ou de vaso sagrado, nem pela celebração de qualquer sacramento’, antes ‘todas essas coisas faça graciosamente o bispo diocesano’. Convenha-se que era duro. Por fim, para arredondar as coisas, o Papa ainda confirmava ao mosteiro todas as liberdades e isenções que ele próprio, ou algum dos seus antecessores alguma vez tivessem concedido à Ordem de Cister à qual o mosteiro pertencia. Tudo indica que as abadessas de Lorvão com uma ou outra excepção aproveitaram dos privilégios concedidos e administraram bem as suas propriedades, más administradores alternando com as boas. Os monges seus antecessores tinham cultivado eles próprios as suas terras, as monjas não podiam fazer o mesmo, iriam gradualmente aforando as terras incultas herdadas dos monges, ou que algumas delas traziam em dote. Fizeram-se aforamentos de casais isolados e de grupos de casais. Registavam-se obrigações e deveres em contratos. Um dos primeiros forais documentados é de 1260. Os foros eram contratos pelos quais, a troco de uma certa contribuição anual, os bens aforados passavam para sempre a pertencer ao contraente. Era para o foreiro um primeiro passo para a propriedade. Quando lhe era aforado casais, esses ‘caseiros’ e ‘cabaneiros’ passavam a pagar muito menos do que tinham pago até ali pelo cultivo do seu torrão. Quando antes tinham de dar ao mosteiro um quarto do seu produto em trigo ou em linho, davam agora um oitavo pelo mesmo terreno. O mosteiro não perdia, porque camponeses proprietários da terra, com liberdade de plantar e semear, produziam mais do que o faziam como dependentes. Arroteavam mais terras, cultivavam-nas melhor e com produtos mais variedades. O foro que pagavam ao mosteiro aumentaria em proporção do seu esforço.

a décima
Como os foros eram pagos consoante o produto, o foreiro não ficava na miséria se fogo ou tempestade lhe arruinassem as colheitas. Perigo a que se sujeitavam os arrendatários, os quais mesmo com estragos causados por ‘guerra, água e pestilença’ tinham de pagar sua renda.1 Os foreiros podiam vender ou arrendar a sua terra, na condição de o fazerem a alguém que pagasse o mesmo foro, e que não fosse pessoa poderosa. Que não fosse ‘clérigo, nem cavaleiro, nem outro poderoso, nem lhes devedes criar filhos, nem vós chamardes a ouros senhorio senão a nós e seres a nós vassalos bons e obediantes lavradores’ estipula a abadessa dona Urraca Raimundo quando em 1332 a afora os casais de Vilela. A sua sucessora é dona Teresa Mendes, filha de D.João Rodriges de Briteiros e de D.Maria Annes. Foi ela quem introduziria em Lorvão selo do convento, e, a avaliar pelo número dos seus contratos de aforamento e emprazamento, e no cuidado da redação destes. Mandou construir casas grandes, ‘palácios’, nas vilas de Esgueira e do Botão. Esgueira fornecia o peixe, Botão o trigo e outros produtos agrícolas. Convinha ter locais onde os procuradores do mosteiro pudessem pousar. No Botão havia locais reservados ao armazenamento dos cereais. Botão era um sítio ameno, a casa ali construída viria a ser casa de campo das suas abadessas. Por razões que ignoramos, a abadessa dona Mécia Vasques da Cunha, instala-se aí por largo tempo. A 12 de Janeiro de 1416 assina-se uma escritura em Botão ‘a par dos paços da muito reverenda e religiosa dona Mecia Vasques da Cunha’. Onze anos mais tarde, em 1427, há vários contratos firmados em Botão ‘ante os paços de dona Abadessa. Que ‘não seja clérigo, nem cavaleiro, escudeiro, nem dona’, estipula ela ao aforar em 1431 umas terras no termo de Treixedo, e ainda é mais explícita quando, nesse mesmo ano, afora a herdade da Cimalha no couto de Treixedo. Aí estipula, que só se poderia vender ou arrendar a quem não fosse ‘nem clérigo, nem cavaleiro, nem escudeiro, nem dona, nem homem nem mulher de religião, nem mouro, nem judeu, nem outra pessoa poderosa’. Os respectivos documentos especificavam tanto os deveres e os pagamentos que o arrendatário tinha de dar ao mosteiro, como aquilo a que o mosteiro, por seu turno, se obrigava. No caso de uma almoinha que dona Constança Soares - gabada como boa e cuidadosa administradora - arrendou em 1300 por oito anos, ela comprometia-se pelo mosteiro a abrir uma vez por ano a regueira que ali corria e a limpar o poço que ali havia. Todos os contratos eram feitos em nome da abadessa, mas é evidente que não eram exclusivamente ideia sua. Se ela era competente e conscienciosa e tinha algumas noções de agricultura, discutiria os pros e contras de qualquer contrato com o seu procurador. Era este que tinha os conhecimentos para estipular as condições de um contrato depois de ter discutido os prós e contras com a abadessa, era erl quem substituis a abadessa quando se tratava de negócio longe do mosteiro. O procurador era o homem de negócios do mosteiro, era o ‘homem’ da abadessa. Em 1340, ‘Estevão Pires, homem da religiosa e honesta dona Tareja, abadessa do mosteiro de Lorvão’, empraza um olival a Pêro Domingues e sua mulher nas seguintes condições: ‘devedes descavar (sic) e cavar e estancar assim como são escavados e cavados e estancados os bons olivais de Coimbra, e ao tempo em que deve ser.’ Nos primeiros sete anos marido e mulher dariam anualmente dar um alqueire de bom azeite ‘recebedoiro’ ao mosteiro. Passados estes sete anos, dariam por ano a metade de todo o fruto, tal como se fazia nos outros olivais que o mosteiro tinha emparasado no termo de Coimbra. É notável o cuidado que estas abadessas- inspiradas ou não pelos seus procuradores - davam à qualidade dos plantios. A mesma abadessa Dona Tareja manda fazer uma vinha. Pêro Domingues da Rebordosa faria essa vinha no paço que o mosteiro tinha na Rebordosa, nos limites que tinham sido demarcados por Lourenço Pires, procurador do mosteiro. A vinha devia ser protegida em todo redor, e devia ser feito um caminho para se poder ir de lá a Vila Cova. Na vinha devia ser feito tudo ‘que se devia a bom vinho’. Dentro de quatro anos, quando aquela vinha desse vinho, o contraente devia arrancar a vinha velha, que ali estava, e ‘metê-la em pão’. E a ‘chanta (sic) da dita vinha deve ser galega, e castelar’ Pêro Domingues daria ao mosteiro anualmente a terça do vinho. E esta posta junto do moteiro,‘à nossa porta’. Quando os contratos desta ordem eram em duas vidas, de marido e mulher, ou de pai e filho, estipulava-se em geral que o primeiro contraente, aquele que plantava o olival ou a vinha, pagaria menos que o segundo, já que este, se as coisas corressem bem, já usufruiria de um bom retorno do investimento do seu marido ou do seu pai. As coisas nem sempre corriam bem. A agricultura é coisa incerta, havia que contar com os acidentes do tempo. Os rendeiros não pagavam ou não pagavam a tempo, o ano fora de fome, por demasiada chuva ou falta dela, o ano fora de doença. O mosteiro tinha grandes encargos, se as colheitas eram más e os géneros faltavam, estes tinham de ser comprados. A abadessa tentava remediar e aventurava-se em negociações ruinosas, ou empréstimos que saíam caro. No abadessado de dona Maria Afonso, que durou de 1237 a 1258, houve dois anos em que o mosteiro teve de comprar praticamente todo o seu alimento. Em um apanhado feito de sua mão, uma abadessa anotou que em um desses anos gastara em farinha para pão, em vinho e em cevada a soma de 1500 morabitinos. Podemos avaliar o que representavam os 1500 morabitinos, sabendo que as duas casas construídas, uma em Botão, outra na vila da Esgueira, custaram respectivamente 37 e 25 morabitinos. Pelos séculos fora os anos bons alternavam com os anos maus. Houve abadessas boas administradoras, houve-as perdulárias ou incompetentes. Houve que enfrentar novas atitudes da parte de caseiros e de foreiros. Os tempos da propriedade absoluta não podiam durar para sempre. Na segunda e terceira geração, o foreiro esquecera a quem devera a terra que amanhava, e revoltava-se contra as exigências do primitivo senhor dela. As povoações cresciam, pretendiam direitos para si, e que esses direitos fossem devidamente anotados e estabelecidos por meio de contrato. As abadessas cediam. Foram dando forais às suas povoações. Entre 1514 e 1515, a abadessa dona Catarina d’Eça iria mandar copiar e iluminar os forais que Lorvão concedera. São os forais de Abiul, do Botão, da Esgueira, de Rio de Asnos, de Serpins, de Sabugosa, e do Couto de Teixeira.

Foral sec. XII

Estão uniformemente encadernados em tábuas cobertas de coiro, e todos seguem o mesmo modelo na exposição do texto: A fl. 1, têm uma tarja ornada de flores, a letra inicial da carta de foral iluminada a oiro e cores, com o escudo real ao centro. Os Forais foram concedidos entre o século XII e o século XVI. Era determinante para assegurar as condições de fixação e prosperidade da comunidade, assim como no aumento da sua área cultivada, pela concessão de maiores liberdades e privilégios aos seus habitantes.

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VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº IX COLHER OS FRUTOS

>> quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Bispos e visitadores fulminavam constantemente contra as excessivas saídas das religiosas, por muito úteis que fossem, e, em 1299, o papa Bonifácio VIII, farto de tantos passeios, emitiu uma bula rigorosíssima, a bula ‘Periculoso’, na qual Sua Santidade apontava, como o título indica, os perigos que as monjas incorriam com as suas frequentes quebras de clausura. Proibia-lhes dali por diante praticamente todas as saídas fora dos mosteiros. A coisa não agradou. No seu livro ‘Medieval English Nunneries’, sobre os mosteiros medievais ingleses, Eileen Power relata o caso das monjas de um mosteiro da diocese de Lincoln, que se recusaram a aceitar a referida Bula. Pretendendo o Bispo depositá-la no mosteiro, as monjas perseguiram-no até à porta, gritando que nunca cumpririam semelhante Bula, e acabando por lançar o documento à cabeça do infeliz prelado. E por toda a parte as monjas continuaram saindo fora do seu mosteiro, encontrando para isso as mais variadas ‘ocasiões de manifesta necessidade’. Em Lorvão algumas das oficiais do mosteiro, como a prioresa e a celeireira, tinham frequentemente justificadas razões para sair do mosteiro. Apesar do mosteiro ter procurador para lhe tratar de negócios no mundo, havia sempre casos que não dispensavam, achavam aquelas senhoras, a presença de uma oficial do mosteiro. Em 1427, a então prioresa, dona Catarina Aires Coelho, vai à Vacariça em substituição de dona Abadessa, protestar contra a construção de uma ermida em terreno que era do mosteiro. O procurador delas já protestara, mas sem resultado. Pelo que a dita prioresa, dona Catarina foi em pessoa tratar do caso. A ermida estava a ser construída por ordem do bispo de Coimbra, disseram os homens que ali estavam trabalhando. O Bispo requeria para si as esmolas e ofertas que ali levavam os romeiros. A prioresa declarou que só permitiria aquela construção, se as benfeitorias revertessem a favor do mosteiro. E logo mandou retirar de lá alguns ‘vendeiros’, que já se tinham instalado no terreno. A celeireira, tendo a seu cargo o armazenamento e a distribuição de tudo quanto era preciso para a padaria e para a cozinha da comunidade, não podia ficar em casa quando a entrega dos géneros demorava. Ia em pessoa a Botão, à quinta que o mosteiro ali tinha, para ver o que se passava com o trigo, lá armazenado que não chegava a tempo a Lorvão. E os legumes e frutas que não vinham a tempo ou em quantidade. A Ordem de Cister, que recomendava aos seus monges os trabalhos no campo, não previra mosteiros femininos, e que as suas monjas viessem a fazer o mesmo que os monges. Não sucederia em todos os mosteiros, mas em Lorvão - com ou sem aprovação da Ordem - as monjas ocupavam-se em trabalhos agrícolas. Não lavravam, semeavam ou plantavam, mas colhiam frutos, e recebiam rendas em frutos do campo. Os mais completos testemunhos encontram-se nas actas notariais tocando a casos de litígio. As partes litigiosas levavam consigo o seu tabelião, que registava no próprio local o que via e ouvia., não omitindo o mais pequeno pormenor. Notavam a assistência deste e daquele, e o que cada um dissera, e a quem acusara. Se uma monja estava presente, isso era devidamente anotado. Um desses documentos, datado de 1321, trata da disputa entre o mosteiro de Lorvão e Lourenço Pais de Molnes sobre a posse de uma almuinha no local da Varzea, junto de Coimbra. Pelo mosteiro testemunharam uns homens que possuíam terra junto dessa almuinha Estes homens declararam ao tabelião, que havia já um ano que eles viam a dita almuinha ser lavrada com os bois da senhora abadessa de Lorvão, que gente dela tinha lá semeado linho canave (sic), e que depois tinham visto ali ‘Tareija Vasques de Azevedo e outras donas, monjas do dito monasterio, e frey Martim Leal’ lavando linho: ‘Qoe lhes viram ende lavar linho para o dito monasterio’.8 Outro documento notarial, esse de 1348, dá conta da presença de duas monjas num local chamado Ouriães. Lorvão achava-se com direito a certo trigo proveniente de um casal que o mosteiro ali tinha. O facto era contestado pelo então Prior do Hospital, e Lorvão resolvera agir. Consequentemente, no dia 19 de Julho de 1348, duas monjas suas apresentaram-se em Ouriães acompanhadas de tabelião. Nesse dia, anota este, jazia trigo debulhado na eira com a palha tirada. Dona Maria Fernandes e Branca Martins, monjas professas do mosteiro de Lorvão, estavam na eira, e declaravam estar na dita eira para fazerem limpar o trigo, que era ração do casal que era do mosteiro. E que o caseiro, Gonçalo Domingos, lavrava e ‘trazia da mão da abadessa e convento do dito mosteiro’. Elas ali estavam, diziam as monjas, para levar o dito trigo do dito casal ‘como seu’. As Donas declaravam ainda, que havia dias que estavam na dita eira, ‘que já tinham partido o trigo em freixes com o dito caseiro, e que, em nome do convento e da sua abadessa, tinham tomado trigo do casal, comido dele, e o vendido. Prova de posse, portanto.

Ora, relata diligentemente o tabelião, ‘estando elas assim na dita eira e casal’, chegou Pero Lourenço, que se dizia escrivão, tabelião e procurador do Prior do Hospital. Vinha acompanhado de nove homens com armas, ‘convém a saber: lanças e arcos e espadas e cutelos’ Um deles trazia uma besta e a sua espada’. O dito Lourenço declarou que estava ali como procurador do Prior do Hospital, para tomar o casal e a eira que era do Prior, que vinha ‘filhar o dito pão do dito casal e ração dele para o dito prior, que dizia que era seu’. E ‘logo o dito Pero Lourenço, e os outros que com ele andavam, filharam forcas e uma pá e começaram a limpar o dito trigo que jazia na dita eira’. Ora, escreve o tabelião de Lorvão, as duas donas ‘estavam ‘na dita eira em cima no dito trigo’ Uma delas, Branca Martins, tinha uma forca na mão, ‘assomando no dito trigo com ela’, dizendo ao dito Pero Lourenço e aos seus homens, ‘que não fizessem força nem mal’, acusando-os de virem armados ‘fasendo assuada sobre elas’. Pero Lourenço ripostou que eles não vinham para lhes fazer mal, nem desonra, que estavam ali porque aquilo era herdade do Prior, e que tinham ordem para ‘partir pão e levar a ração dele para o dito Prior, e que os ditos homens eram do dito Prior e comiam seu pão e sua carne’. Dito isto, Pero Lourenço avançara resoluto sobre a monja que segurava a forca. ‘E logo o dito Pero Lourenço travou da forca que a dita Branca Martins tinha na mão, de guisa que, entre ele, e os outros que com ele andavam, ‘lha tiraram da mão’. Puxando cada um para seu lado, Branca Martins caiu em terra: ‘tirando eles por ela para uma parte, e a dita dona para outra, de guisa que a dita dona agoelhou em terra’.Pero Lourenço e os outros homens do Prior começaram logo a varrer o trigo, e a pô-lo em montes. AS monjas não se davam por vencidas, trepando de novo para cima do trigo. Pero Lourenço também voltou à luta: ‘travava da mão da dita Branca Martins, tirando-a de cima do dito trigo’, declarando que não permitiria que as Donas levassem dali trigo ou qualquer outra coisa. E foi carregando o trigo que conseguia varrer. Depois do dito Pero Lourenço ter posto o trigo que conseguira varrer em cima das suas bestas e de o ter levado, as sobreditas dona Maria Fernandes e Branca Martins ficaram na dita eira, sentadas em cima do trigo, declarando ‘como ficavam em posse do dito casal, e do dito trigo, que era ração dele’. Depois fizeram-no limpar e medir, e mandaram-no a um tal Lourenço Soares a quem o tinham vendido. Branca Martins foi em seguida a um lugar ali perto, onde havia nogueiras e figueiras e um castanheiro, que as monjas diziam serem também pertença do casal que era do mosteiro. Gonçalo Domingues, caseiro, confirmou que assim era. E então escreve o tabelião, Branca Martins, pegou em nozes, figos e folhas de parreira, ‘filhou das nozes das ditas nogueiras, e figos lampos em uma figueira corval (sic), e ramos de castanheiro, e argaço de uma parreira que estava em uma figueira’, e declarou que filhava aquelas coisas porque eram do dito casal, e por isso do mosteiro, que as usava e possuía pacificamente. Por fim as ditas dona Maria Fernandes e Branca Martins ainda foram à casa onde morava o caseiro, disseram-lhe que ele bem sabia que ele há muito tempo - ‘grã tempo havia’ - tinha casa e casal da mão da abadessa e convento do mosteiro de Lorvão, a quem pagava foro e ração. Agora sobreviera homem da parte do Prior do Hospital para lhes tirar o casal, mas elas sabiam que estavam no seu direito e ali mesmo ‘revestiam na dita posse do dito casal o dito Gonçalo Domingues’. Este confessou ser verdade, que o casal era de Lorvão; que há muito tinha sido encartado a ele e a seu pai pela abadessa e convento de Lorvão, e que eles ‘de sua mão ficavam e queriam ficar revestidos’. O tabelião anotou-o, e o documento foi testemunhado por homens de Penacova, da Reboleira e de outros sítios, que ali se encontravam. Dona Maria Fernandes, a quem o tabelião tem o cuidado de nomear sempre em primeiro lugar, e que, mesmo sentada em cima do trigo não largara o Dom, e a aguerrida Branca Martins puderam regressar ao seu mosteiro, conscientes de missão cumprida. Estes e outros documentos dão a entender a forte ligação das monjas de Lorvão à faina agrícola. Longe da cidade e dos mexericos citadinos, que penetravam mesmo através das fortes portas dos mosteiros, o interesse das monjas de Lorvão centrava forçosamente no cultivo da terra. Ao tomarem conta do mosteiro as primeiras monjas tinham encontrado um modo de vida de proprietário rural, que muito naturalmente adoptariam. Muitas delas eram filhas de proprietários de terras, conheciam os altos e baixos do ano agrícola. A alternância das sementeiras e das colheitas, a influência dos elementos sobre a produção do trigo, do vinho, do azeite, coisas vitais para o mosteiro, para as suas próprias pessoas contribuíram talvez para dar às monjas de Lorvão uma arma contra a ‘accidie’, que a monotonia da vida monástica podia provocar, e comprovadamente frequentemente provocou.

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VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPºVIII PÃO PEIXE VINHO

>> quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016


No capítulo em que São Bento na sua Regra tratava ‘da quantidade das iguarias e qualidade do comer’, o autor especificava o que, em seu entender, devia ser o comer de cada dia. Podia haver a cada refeição - ‘a todas as mesas’ - duas iguarias, ‘pelas infirmidades e fraquezas de muitos, para que o que não poder comer de uma, coma da outra’. Destas duas iguarias, o religioso ou a religiosa escolheria uma, à qual poderia juntar fruta ou um legume, havendo-os. Quanto a carne, não era permitida. Frangos, patos, pombos não eram tidos como carne, e eram tidas como salutares em caso de doença e fraqueza, e eram permitidos e até aconselhados nesses casos. Normalmente, porém, as bases da refeição eram peixe e pão, água e vinho. Dava-se em geral por refeição uma ’peixota’, uma pescada, na opinião da maioria dos autores. Uma pescada média, decerto, ou, talvez outro peixe de médio tamanho quando não havia a obrigatória pescada. Alimento principal era o pão. O pão de trigo, que se foi generalizando com um maior plantio de trigo, com bom fermento designava-se por ‘pão de convento’. Havia o ‘pão raçoeiro’, de trigo e centeio. Havia pães pequenos e grandes de todas as qualidades. Havia os ‘michos’, havia pães redondos, pequenos ou grandes., feitos de trigo e milho, e por fim as broas, só de milho. A distribuição dos pães cabia à tulheira e não era tarefa fácil. As ‘soldadas’ eram em parte pagas em pão, os pães não eram os mesmos para as monjas e os apaniguados, nem os mesmos para todos os apaniguados. A partir da Páscoa e até à festa do Espírito Santo, na Primavera portanto, a ‘comida’ - a principal refeição - era à sexta hora, ao meio dia de hoje, portanto. E assim se continuaria pelo verão fora, tendo em consideração o calor dessa estação. Nos dias de jejum, a ‘comida’ era à Noa, ou seja às três da tarde. Era também a essa hora que, a partir dos primeiros dias de Setembro e até ao princípio da Quaresma, se tomava a principal refeição. Na Quaresma, até à Páscoa, a ‘comida’ era a vésperas, ou seja à tarde, recomendando São Bento que se comesse ainda com luz do dia para poupar a iluminação artificial, para que os ‘que comerem não tenham necessidade de candeia’
">As religiosas tinham pois por dia uma única refeição forte. Podiam comer fora de horas algum bocado do pão que lhes era distribuído, mas só se sentavam à mesa uma vez por dia, para a refeição forte, ‘a comida’. Gradualmente passou a ser usual e permitido haver uma segunda refeição sentada no fim do dia, distinguindo-se a partir daí entre ‘comida’ e ‘ceia’.
De mosteiro para mosteiro, e de Ordem para Ordem, as expressões usadas para as refeições e horas delas podiam variar. Na tradução para português da Regrade São Bento feita por Frei Tomás do Socorro, lê-se: ‘a hora da ceia ou da comida’, dando a ambas as designações o mesmo significado. Nas constituições das freiras de São Domingos, traduzidas no século XV, lê-se, que a sacristã tocaria a campainha ‘antes do jantar ou da ceia à hora convinhal’, e que logo se davam ‘as coisas necessárias para refeição das irmãs’. À pequena porção de comida que se dava em tempo do jejum, designava-se por ‘colação’: ‘No tempo do jejum, à hora conveniente, faça a sacristã sinal para a colação’.
Em certos dias havia uma melhoria no volume das refeições com ‘pitanças’ legadas por devotos do mosteiro. Eram legados com condições devidamente refustadas. Designavam-se por ‘pitança’. Em 1241 a abadessa de Lorvão e seu convento comprometem-se a comprar uma propriedade no valor de 200 aureos, ‘áureos vetens’, que lhes deixara a rainha D. Branca para que, com os rendimentos dessa propriedade, tanto elas como as suas sucessoras, pudessem ter ‘pitança’ de pão e vinho e peixe fresco no dia de seu aniversário, ‘bono pane et vino et piscibus recentibus’.Houve muitas dessas pitanças, e sempre mais do mesmo: mais pão e mais peixe.

A Regra partia do princípio que q comida dos monges - e portanto as monjas, que haviam adoptado a mesma Regra - deviam comer à mesma mesa a sua refeição. Nos mosteiros femininos o costume não tardou a mudar. A Regra autorizava, como se leu, duas iguarias em todas as mesas, para que aqueles que não podiam comer certa iguaria, pudessem escolher outra. Com esta consideração ia ser dada uma das primeiras machadadas na tão apregoada vida em comum. Em alguns mosteiros seria criada uma divisão separada – uma ‘misericórdia’- na qual comiam as monjas, que por razões de saúde tinham comida mais substancial ou mais delicada. A partir daqui nasceu a ideia da divisão das religiosas em pequenos grupos, comendo separadas mesmo sem razões de saúde, e que cozinhavam para si as suas próprias refeições.
 
A opção da comida separada, em vez da refeição em comum, não se explicava só pelo muito humano desejo de mais privacidade, porque a ser essa a razão, as monjas teriam conseguido o relaxamento da vida em comum também no dormitório. Onde isso mais tarde também se viria a dar, mas nunca como na comida. As aristocráticas filhas de família que professavam em Lorvão estavam mais que habituadas a dormir com uma ou mais mulher no mesmo quarto. Em suas casas não se fazia outra coisa, privacidade era coisa que não havia nas casas, grandes ou pequenos. Dormir em comum não era sacrifício. Duro era ter de comer comida cozinhada para muitas bocas, fatalmente menos cuidada do que os cozinhados feitos para duas, três, ou mesmo quatro pessoas. E, mais difícil que tudo, era o ter de aturar os hábitos de comer menos cuidados de uma ou outra companheira. E assim, pouco a pouco, foi-se instalando entre as monjas o hábito de cozinhar e comer separadamente. Foi hábito que por toda a Europa os visitadores e reformadores se esforçaram por erradicar, mas com pouco êxito. E por vezes causando revolta declarada, como a das monjas do mosteiro de Wenningen perto de Hannover na Alemanha, onde, em 1455, as monjas se revoltaram por as quererem a obrigar a comer em comum. Algumas entregaram, relutantemente os pratos, copos e facas e os utensílios de cozinha próprios, mas outras ‘deixaram cair os pratos para os partir’.5

Em Lorvão a coisa foi menos belicosa. Em 1534, respondendo aos reparos do visitador, que não se habituava àquela flagrante quebra da Regra, as monjas alegariam que não podiam comer em comum, porque o mosteiro não tinha pessoal suficiente para o efeito. O visitador, cansado de bater sem efeito na mesma tecla, desistiu de impor o impossível, e descarregou’ a consciência, e a de ‘dona abba e monjas e religiosas’ permitindo o novo hábito. Causando um trabalho insano à celeireira e às suas oficiais. É que as monjas recebiam não só quantidades definidas em pão, peixe e condimentos para os seus cozinhados, como essas quantidades diferiam conforme as datas em que eram dadas.

Acerca das mesas às quais se sentavam os pequenos grupos de monjas, há uma curiosa recomendação por parte de um visitador. Exigia ele que as mesas fossem redondas. Com o que se eliminavam as cabeceiras, o que evitava as questões de precedência, a discussão de quem tinha mais direito à cabeceira e à presidência da mesa, e quem ficava à sua direita e esquerda. Na linguagem monástica nasceu também uma nova e mais elegante expressão para designar o local das refeições. O refeitório passou a ser designado por ‘sala de jantar’ Em 1536 as monjas de Lorvão assinam um documento em a ‘sala de jantarem’.

 Os cozinhados individuais permitiam a inspiração, criavam-se variantes com os mesmos elementos, e tentavam-se novas combinações. Deve ser o resultado de uma dessas experiências o caldo qual se conservou a receita, que as monjas de Lorvão tomavam na Sexta-Feira-Santa. Fazia-se com 4 alqueires de tremoços, alqueire e meio de grão e alqueire e meio de ameixas. Ou seja, aproximadamente, 2 kg de tremoços 750 g de grão e 750g de ameixas.

Houve que esperar pelas Descobertas para conseguir combinações mais atrativas, mas antes disso já se tinha conseguido variar a monotonia de pão, peixe e conduto, fugindo à Regra dentro da Regra. Havia dias de consoada em que a comida era especial,
Já só existem livros de contas do século XVII, os mais antigos sendo gradualmente destruídos, mas os usos pouco mudavam nos mosteiros, e o que se usava a em matéria de consoada no século XVII não diferia decero do que se dava nas mesmas ocasiões nos anos anteriores. Os dias de Jejum - que não eram poucos do ano religioso - eram compensados com uma consoada, uma ligeira refeição à noite. No austero mosteiro da Madre Deus em Lisboa, as religiosas gabavam-se de consoar com ‘dois bocados de pão e umas folhas de hortelã’6 . Em Lorvão era-se menos frugal. Nos meses de Junho e Julho compravam-se grandes quantidades de cerejas para as consoados dos dias de Santo António e São João. O “Livro da Mordomia” de Lorvão do ano de 1659 diz que para as consoadas das vésperas de Stº António, S. Joâo Baptista, e da Visitação, e merenda de Stª António’, se tinham comprado nesse ano 735 arráteis de cerejas.

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VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº VII HORAS OFICINAS E OFICIAIS

>> quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016


O mosteiro era casa de oração, centrada na igreja e nas devoções. E era a casa de habitação de uma comunidade, um ‘convento’, de mulheres unidas na oração e no trabalho. Que tinham de ser alimentadas e vestidas, tratadas quando doentes e cuidadas na velhice. O seu dia estava dividido em períodos de seis ‘Horas’ de oração, de forma a realizar em perfeita harmonia o ideal monástico de oração e trabalho. Eram a hora de véspera ao fim da tarde, antes das monjas se deitarem. O que podia ser às oito no inverno, e às nove no verão. No coro agradecia-se ao Senhor o fim do dia e do trabalhos. Às 24 horas, era a hora de ‘Prima’ a primeira hora de um novo dia. No coro cantava-se ‘Saudadte Domibe in caelis’ saudando a aurora de um novo dia. Às 6 da manhã, ‘Hora  Sexta’ era a hora de levantar, de cantar ‘ Laudes,’ hino de louvor ao início de um novo dia de trabalho. A Hora Média podia ser celebrada às 9h00, chamada de ‘Terça’, às 12h00 ‘Sexta’ ou às 15h00 ‘Noa’ ou ‘Nona’.

O governo da casa era de relativa simplicidade quando o mosteiro era pequeno como a Regra recomendara. Uma comunidade reunida debaixo do mesmo tecto para fazer oração, alimentando-se de pão, vinho, peixe, fruta e hortaliça, dormindo no mesmo dormitório, e tomando as suas refeições em torno da mesma mesa, não exigia uma organização complicada. Tudo se modificava quando o número de religiosas era grande, por vezes exageradamente grande. Havia que fazer ajustes, arranjos, a casa já nada tinha a ver com a simplicidade original do monsaterio.

No entanto, grande ou pequeno, a divisão dos trabalhos domésticos era o mesmo. Dividia-se em ‘oficinas’ geridas por ‘oficinas’ escolhidas para o respectivo cargo No mosteiro pequeno as oficinas eram poucas, no mosteiro grande eram muitas. Em 1536, havia no mosteiro de Lorvão dezassete cargos e funções distintas dentro do mosteiro. Mas havia mais.

              A abadessa, ocupada com a administração, delegava o governo da casa na prioresa. Em grandes mosteiros podia haver uma sub-prioresa. Era o caso de Lorvão. No sector espiritual, a primeira oficial era a ‘cantor’, ou cantor-mor. Em Lorvão, ela tinha duas ou mais auxiliares. A cantor entoava e dirigia o coro, ensinava música e canto às noviças, e preparava a parte musical das procissões e dos ofícios solenes. Tinha outra incumbência. Talvez por se partir do princípio, que uma cantor tinha forçosamente boa dicção, era ela quem fazia a leitura da acta de recomendações que o Visitador deixara à comunidade após a sua visita e exame. A cantor-mor era naturalmente responsável pelos livros destinados aos ofícios divinos: livros de coro e de canto, que eram guardados na própria igreja, junto do altar, ou no coro. Livros levavam muito tempo a copiar custavam muito dinheiro em peles e tintas, em pagamento aos escribas e copistas, quando o livro não era produzido no ‘scriptórium’ do próprio mosteiro. Havia que ter os maiores cuidados com essas obras. Em Lorvão as monjas tinham herdado obras valiosas dos seus antecessores, e era a cantor a responsável pela sua conservação. Limpava-os, cosia ou mandava coser alguma folha solta, vigiava que não saíssem dos seus locais e que para lá voltassem depois de usados. Se os preciosos livros manuscritos do mosteiro de Lorvão sobreviveram às vicissitudes dos anos, se resistiram à humidade que sempre permeou aquelas paredes, isso deve-se com certeza aos cuidados constantes de gerações de´ cantores’.

A autora do ‘Livro das Preladas’, escreve que o ‘Livro dos Passarinhos’ - o célebre ‘Livro das Aves’ - estava na ‘Livraria do Canto Chão entregue às cantores’ .

Outra oficial ligada ao serviço divino era a sacristã. Ocupava-se da igreja, dos vasos sagrados, das vestes litúrgicas, das toalhas do altar e de tudo o resto que, de longe ou de perto, se ligava à igreja do mosteiro. Era ela a sineira

Era ela quem tocava o sino, ela a responsável pela limpeza da igreja. Era também ela quem se encarregava da iluminação, não só da igreja, como de toda a casa monástica. Comprava a cera para as velas, fabricava-as, ou mandava fabricá-las, e distribuía-as às outras oficinas. A oficina que se veio a designar por ‘sacristia’ foi criada nos primeiros anos do sec.XIV. Até lá os vasos e vestes sagrados tinham sido guardados em arcas e armários nas capelas onde eram usados.1 A sacristã era em geral coadjuvada por uma ou mais monjas, e teve muito cedo ajudantas pagas para fazer a limpeza da igreja. No mosteiro de Arouca encontramo-las entre os servidores do mosteiro já em meados do século XV.

À sacristã de Lorvão cabia uma curiosa tarefa: o fabrico d’água dos danados’. Era uma água - decerto com fama de curativa - confeccionada fervendo nela a caveira de um abade de santa memória.

No sector temporal a primeira oficial era a ‘bolseira’. Seguiam-na, em ordem de importância, a ‘celeireira’, a ‘tulheira’, a ‘despenseira’, a ‘refeitoreira’, a ‘enfermeira’, a ‘boticária’ e a ‘porteira’. Em Lorvão, onde tudo era em grande, havia duas bolseiras, auxiliadas por uma escrivã; havia duas celeireiras, a principal e a sub-celeireira, ambas por sua vez auxiliadas por uma escrivã. Havia mais que uma enfermeira, mais que uma porteira e, como já se disse, mais que uma sacristã e cantor.


Todos os anos as oficiais juravam sobre os Evangelhos, que cumpririam o seu cargo ‘com toda fidelidade e diligência e caridade’. Por essa ocasião, aquelas oficiais que estavam à cabeça de oficinas onde se lidasse com dinheiro, davam conta das respectivas receitas e despesas. As contas eram apresentadas à abadessa e às anciãs, as monjas mais velhas do convento. Que não hesitavam em destituir uma oficial, e nomear outra em seu lugar, caso julgassem a oficina mal regida.

Quando da visitação de 1536, os visitantes não encontraram em Lorvão nada a dizer no que tocava ao lado espiritual do mosteiro ‘nas coisas sptriais (sic) e ofícios divinos se cumprem mui bem’, mas no campo administrativo da casa encontraram fortes razões de crítica. O que nos valeu uma acta com reparos explícitos sobre as obrigações e da maioria das oficinas e suas oficiais.

A bolseira, como o nome indica, era a mulher dos dinheiros, aquela que tinha a bolsa deles. Recebia o dinheiro que entrava no mosteiro, e era ela quem o distribuía pelas outras oficinas para compras e pagamentos. À bolseira recomendava-se que exigisse sempre recibos, e desse por sua vez quitações. Devia anotar todos os dinheiros recebidos e distribuídos. Os visitadores recomendavam que todo o dinheiro recebido na bolsaria fosse depositado na ‘Arca do Depósito’ e que também se guardasse aí o Livro da Bolsaria, em que se deviam anotar as despesas e receitas. Para a dita arca devia haver duas chaves, ordenavam os visitadores. Pela mesma ocasião recomendavam que todos os pagamentos fossem devidamente anotados, que a escrivã das bolseiras desse sempre quitações, e que estas fossem assinadas por ambas as bolseiras, pela abadessa, pela oficial responsável pela entrega, e pela própria escrivã. E todos esses recibos deviam ser devidamente tresladados no Livro da Bolsaria. Era provavelmente uma ordem periodicamente repetida e constantemente desatendida ou mal executada, e os visitadores não deviam ter grandes esperanças de serem obedecidos na matéria.

              A bolseira arrecadava também o dinheiro que as monjas tivessem recebido por algum trabalho de suas mãos, em particular fio fiado por elas. Também cabia à bolseira o pagamento dos salários aos trabalhadores que eram pagos em dinheiro.

A verdadeira dona de casa era a celeireira. Era ela quem encomendava e comprava os géneros, que os mandava vir e recebia das propriedades do mosteiro, e ela que fazia a sua distribuição. Contratava, pagava, e, se necessário, despedia o pessoal que trabalhava para o mosteiro dentro de casa. Este era pago, segundo tabela estabelecida, em e dinheiro e em géneros: comida e fato. Quando um mosteiro tinha quinta própria, o que era o caso de Lorvão com a sua quinta do Botão, era a celeireira que superintendia o seu bom governo, que nomeava o feitor. Era responsável por que os produtos da quinta: ‘trigo e farinha e azeite e vinho e vinagre e legumes e todas as cousas que em Botão se recolhiam’ viessem a tempo. Devia também tomar nota de tudo o que se gastava na quinta ‘em pão, vinho, azeite, aves, linho, dinheiro e qualquer outra cousa’.

              As abadessas de Lorvão e algumas das religiosas passavam por vezes largos tempos em Botão. Visitantes de passagem também lá eram recebidos. Era a celeireira que provia que fossem bem tratados. Competia também às celeireiras zelar por que não faltasse farinha no mosteiro, tratando a tempo com os moleiros. Se a farinha faltava na tulha não era de quem tinha os moinhos da casa, que se murmurava, mas das celeireiras. Em 1536 os visitadores notaram que as religiosas tinham muitas vezes que esperar pela cozedura do pão: ‘por não ter farinha feita’. Não podia ser, escreve o visitador, as celeireiras que fizessem o possível para que isso não sucedesse. O mosteiro tinha boas arcas para guardar a farinha produzida pelos seus moinhos, e se estes não produzissem o necessário, as celeireiras que dessem ordem ao feitor de Botão para que este mandasse também trabalhar as azenhas que o mosteiro lá tinha

Cabia igualmente à celeireira cuidar dos géneros para velhas e doentes. O visitador de 1536 fora informado que muitas vezes faltava o necessário às religiosas velhas. Que eram elas que tinham de comprar as suas mezinhas e remédios, pagando-os com o seu dinheiro. Muitas, além de velhas, eram doentes, não podiam trabalhar, e não tinham parentes que lhes dessem dinheiro. Não era de admitir que passassem necessidade. Os visitadores deram estritas ordens às celeireiras para se ocuparem disso, para que houvesse ‘provisão e mantimentos de suas enfermidades, fraquezas e velhices’.

Por ocasião daquela visita havia muitas doentes no mosteiro, o que o visitador atribuía à situação pouco salubre do mosteiro, ‘má disposição da casa e terra e aposentos’, mas também ao facto de não se acudir a tempo às doentes ‘com medicinas e sangrias’. Era preciso, frisava o visitador, que a enfermeira tivesse mais cuidado, e que abadessa e celeireira fornecessem a tempo, e com abundância, tudo que as doentes necessitassem ‘em mezinhas, purgas ou sangrias ou mantimentos, ou serviços para as ditas enfermas’. Era de novo à celeireira que se recomendava o cuidado de aprovisionar regularmente a enfermaria, de ‘aves, carneiro, vinho, frângões, cabrito e todas as outras cousas necessárias para dita enfermaria. Para que tudo isto se fizesse convenientemente e a tempo, ordenava-se-lhe que se contratasse um homem, ‘um bom moço’, para chamar médico ou sangrador e levar e trazer ‘aves, cabritos, frangões e ovos’. Com todo este trabalho à sua conta, não é de espantar que a celeireira de Lorvão tivesse uma sub-celeireira e duas escrivãs para a ajudar.

Adiante se dirá de outra incumbência da celeireira e suas ajudantes e talvez a mais árdua: a distribuição das rações aos homens que trabalhavam para o mosteiro no exterior.

              Para serviços e recados fora do mosteiro, a celeireira tinha vários homens sob as suas ordens. Que todos, inclusive o padre que cuidava dos moinhos, juravam, quando eram contratados, ‘na mão da celeireira’, que cumpririam bem e fielmente as suas obrigações. Provando-se que algum desses homens não era ‘fiel do que tratava’, a celeireira devia despedi-lo. Devia ser ‘quitado dos ditos seus ofícios e cargos e corrigido de seus delitos e faltas’

As aristocráticas monjas de Lorvão deram - cremos que muito cedo - a palaciana designação de ‘Mordomia’ à oficina dirigida pela celeireira. Em Lorvão era portanto nos ‘Livros de Mordomia’ que se anotavam as aquisições e os pagamentos feitos pelas celeireiras. Em meados de Setecentos designam-se os mesmos livros como ‘Livro da Feitoria’.

Os mosteiros tinham usos e costumes próprios, que sucessivas gerações de celeireiras foram anotando: Não eram usos no sentido de ritos diferentes. Tratava-se do que era uso a casa fabricar, aquilo que, em determinado dia ou por determinada ocasião se distribuía, ou se oferecia - em espécie e em quantidade - a determinada pessoa ou entidade. As designações desses livros de apontamento diferem de mosteiro para mosteiro. Em Lorvão consultava-se o ‘Regulamento da Celeireira’.e o ‘Regulamento da Sala’, vezes designado por ‘Alcorão da Sala’ para saber como e a quem fazer determinada oferta ou fabricar determinado alimento. Em Arouca, mosteiro cisterciense como o de Lorvão, havia também, o ‘Alcorão da Tulha’

              Para anotar os pagamentos aos servidores da casa, a celeireira tinha o ‘Livro das Soldadas’. Não existem muitos. Sucedeu-lhes decerto o que sucedia aos livros de contas de outras donas de casa, eram destruídos no fim de um ou dois anos.

Quando o preceito da vida em comum, era tomado no verdadeiro sentido da palavra, as monjas comiam em comum, às mesmas horas à mesma mesa. Quando por volta de quatrocentos o preceito foi praticamente abandonado, e se introduziu o costume das monjas cozinharem ou mandarem cozinhar a sua própria comida, havia que lhes dar diariamente os necessários géneros. A tarefa cabia também à celeirieia.

Abaixo da celeireira, se bem que não dependentes dela, estavam a tulheira, a despenseira e a refeitoreira. A tulheira recebia as farinhas que a celeireira comprara, ou que viera dos foreiros e rendeiros. Arrecadava-a na ‘tulha’. A tolheria superintendia o fabrico do pão, e fazia a distribuição deste às monjas e àqueles que eram pagos em pão, os ‘apaniguados’

              Havia duas outras oficiais ligadas à alimentação: a despenseira e a refeitoreira. A primeira era responsável pela arrecadação dos outros géneros que não o pão, e pela sua distribuição às cozinhas. A refeitoreira ocupava-se do refeitório. Comprava, ou mandava tecer, as toalhas de mesa, punha as mesas, e estava incumbida de recolher os restos das refeições para serem aproveitados em outras comidas, ou dados aos servidores da casa e aos pobres. Cabia–lhe manter limpo o lavatório -  que nos grandes mosteiros se situava junto do refeitório - onde as monjas lavavam as mãos antes e depois das refeições.

                        Uma oficial pouco recordada é a ‘Vestiária’. A Regra dispunha que houvesse um monge, que mandasse tecer e coser as roupas e fabricar os sapatos dos religiosos. O mesmo se devia aplicar a mosteiros de religiosas, mas nestes instalou-se muito cedo um costume mais individualista, cada religiosa recebendo anualmente uma soma para se vestir.

Em Lorvão encontra-se muito cedo menção de servidoras vindas do exterior. forneiras, de criadas de tulha, e de auxiliares da sacristã. São já mencionadas em contrato da rainha D. Teresa, em que estipula que as ‘servidoras’ , entre as quais uma sua protegida, que iria viver na cerca de Lorvão, comessem o mesmo que as servidoras do convento. De início esse pessoal seria reduzido, mas com o decorrer dos tempos as monjas foram encontrando pretextos para a introdução de mais auxiliares. Em um rol das ‘soldadas e mimos’ que, no século XVI, se davam em Lorvão às ‘criadas da Ordem’ enumeram-se nada menos de cinquenta dessas serviçais. As sacristãs também requereram ajuda. Passou a haver uma moça para fazer hóstias, outra para lavar as ‘sanguinhas’ - os pequenos panos com que o sacerdote enxuga o cálice Para o refeitório havia uma criada, para a botica três criadas de ‘fora’. Havia uma criada que acendia as lâmpadas do mosteiro e três encarregadas de abrir as portas das cercas.

Na cozinha e forno trabalhavam forneiras, e havia criadas de tulha. Posteriormente, haveria uma conserveira encarregada de fazer os doces.

A cozinha da abadessa era separada. Havia nela duas criadas, e na hospedaria, uma. E não se contam aqui as criadas que serviam algumas monjas, que sentiram a necessidade de serem servidas pessoalmente. Às observações dos visitadores apresentavam argumentos desta ordem: que ‘sem ajuda de criadas não podiam cumprir as suas obrigações religiosas, como seja cantar e rezar em louvor do Senhor’. Implantara-se também gradualmente o hábito das criadas das monjas dormirem no próprio dormitório destas. O que os visitadores constantemente - se bem que sem resultado aparente - proibiam.

Assim como proibiam, com o mesmo resultado, os criados e os escudeiros, que dona abadessa passou a ter a seu serviço. A designação original de ‘homens’ da abadessa vai desaparecendo, generalizando-se, a partir do século XV, para aqueles que ocupavam a mesma posição, a designação de ‘criado de Dona Abadessa’. Em 1416, dona Mécia Vasques da Cunha afora um olival, estando presentes ao acto ‘Pero Nunes e Domingos Gonçalves e Gonçalo Nunes, criados da dita senhora’. Ao emprazamento, que se realizou em 1432 em Botão ‘diante das pousadas de dona abadessa’, assistiram como testemunhas ‘Vicente Annes de Aveiro, Gonçalo Martins e Gonçalo Domingues creligo (sic) e Gonçalo Coutinho, criados da dita senhora.’ Em 1500, uma procuração da abadessa dona Catarina d'Eça, é testemunhada por ‘Luís de Mendonça, criado da senhora abadessa e outros’  No século XVI surge a designação de ‘escudeiro’ da abadessa. Primitivamente, o escudeiro era o homem que servia um cavaleiro levando o seu escudo e tratando das suas armas, e viria a ser um criado nobre. Que acompanhava o senhor em serviço de guerra ou outro. O rol dos pagamentos de Arouca menciona pagamentos aos escudeiros que acompanhavam o abade visitador quando este vinha em visita ao mosteiro. Em resumo, os escudeiro estavam ao serviço de homens. Ora as abadessas de Lorvão não se achavam menos que estes senhores, passaram também elas a ter a seu serviço criados a quem designavam por escudeiros. Quando da composição feita em 1503 entre Dona Catarina d'Eça e os moradores da vila da Esgueira, uma das testemunhas é ‘Pero Vaz escudeiro da dita senhora’. E, em 1515, no acto de emprazamento de um olival, realizado no próprio mosteiro e na ‘câmara da muito magnífica e virtuosa senhora, a senhora dona Catarina D’eça’ uma das testemunhas foi ‘Alvaro de Morais escudeiro, criado da senhora abadessa e em casa da dita senhora morador’. Uma oficial sempre escolhida com especial cuidado era a porteira, a monja que estava na portaria, que aí recebia quem vinha em visita às religiosas. Alguns visitantes podiam entratra no interior do mosteiro. Eram excepções devidamente especificadas. Em outros casos ficava ao critério da porteira se o, ou a, visitante seria conduzido ao parlatório, onde poderiam conversar com a monja a quem vinham visitar. Estando esta sempre acompanhada de uma companheira, e a conversa realizando-se através de uma grade que dividia o quarto. A grade era particular aos mosteiros de homens, as primeiras monjas não a encontraram quando se instalaram em Lorvão. As cistercienses não tinham clausura, contactavam com gente de fora do mosteiro quando trabalhavam no campo, pelo que é difícil de perceber a necessidade de haver uma grade que as separava dos vistantes. ´E difícil apurar exactamente quando esta doi introduzida em Lorvão. Mas existiu. Sendo provavelmente utilizada com mais rigor a partir das severas medidas de reforma do século XVI. Em l533.2 um contrato notarial foi assinado ‘Na casa do palratório da grade de baixo, lugar acostumado onde semelhantes autos se soem fazer’. Outro contrato é assinado em l538.3 ‘em a varanda que está à portaria do dito mosteiro, ahi na grade do palrlatorio que ahi está, que é lugar acostumado para se fazerem tais autos.’ Quando em meados do século XVI se dá a revolta das monjas contra a imposição de uma abadessa alheia ao mosteiro, houve um incidente presenciado pelo Juiz chamado pela abadessa, o notário descreve, que estavam na casa da grade e separados por duas grades, uma de ferro, outra de pau.’




2 T.T. Lorvão Gavetas-3-6
3 T.T. Lorvão . Lº 40-229v

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