tag:blogger.com,1999:blog-63767815070095212932024-03-14T00:19:05.810+00:00libri.librorumTheresa M. Schedel de Castello BrancoTheresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.comBlogger180125tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-11663640189204538872022-06-08T11:09:00.000+01:002022-06-08T11:09:10.085+01:00Um Livro Novo<p><span style="font-family: times; font-size: medium;"> <span style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Nos Painéis de S. Vicente de Fora há duas figuras que
não têm nada a ver com o tema da pintura. Que obviamente ali foram colocados
porque têm importância própria. As duas figuras são o cavaleiro de longas
barbas e capacete, e o homem de preto com o livro na mão. Não pode haver dúvida
que está ali, não por ele, mas pelo livro que ele apresenta. Porque este livro
é um livro impresso. É a primeira representação dessa grande novidade, um livro
que não era escrito à mão. Em Portugal esse facto foi sempre ignorado. Passaram
100 anos sobre a descoberta daquelas tábuas no mosteiro de S. Vicente de Fora.
Milhares de leitores, de amadores de livros raros, de bibliotecários se
debruçaram sobre a figura do homem com um livro, e não houve um que se questionasse
sobre aquele livro. Não há cego como o que não quer ver. Não viram o livro, o
que interessava era explicar a presença ali de um </span><span style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">homem
com nítidas feições hebraicas. Pessoalmente nunca duvidei, que o que interessa
não é o Homem, é o livro. No meu último livro sobre a questão dos Painéis
dediquei um artigo ao homem com o livro que transcrevo aqui.</span></span></p><p><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></span></span></p><p><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><b>O Homem com o Livro</b><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><b><br /></b></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><b></b></span></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhGgwjTft8p3tLGukzEE_q1Nfdjd__sAQCPG7-WZSUm7ydtd1Moo6WoCBcBHDQWVQxw9RVmdX3bi4VoS0kUHreHHH4P-Ix8dpVwZn_f7JUAodeqRX9NIU52G4YttAnN7QmB0v1zf2WoXuYwjY4h41gZnOSA5oT7_tdzkRCySaOEpWuPxNq6_dHXgCAt_w" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="610" data-original-width="243" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhGgwjTft8p3tLGukzEE_q1Nfdjd__sAQCPG7-WZSUm7ydtd1Moo6WoCBcBHDQWVQxw9RVmdX3bi4VoS0kUHreHHH4P-Ix8dpVwZn_f7JUAodeqRX9NIU52G4YttAnN7QmB0v1zf2WoXuYwjY4h41gZnOSA5oT7_tdzkRCySaOEpWuPxNq6_dHXgCAt_w" width="96" /></a></b></span></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><v:shapetype coordsize="21600,21600" filled="f" id="_x0000_t75" o:preferrelative="t" o:spt="75" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" stroked="f"><span style="font-family: times; font-size: medium;">
<v:stroke joinstyle="miter">
<v:formulas>
<v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0">
<v:f eqn="sum @0 1 0">
<v:f eqn="sum 0 0 @1">
<v:f eqn="prod @2 1 2">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @0 0 1">
<v:f eqn="prod @6 1 2">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="sum @8 21600 0">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @10 21600 0">
</v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:formulas>
<v:path gradientshapeok="t" o:connecttype="rect" o:extrusionok="f">
<o:lock aspectratio="t" v:ext="edit">
</o:lock></v:path></v:stroke></span></v:shapetype><v:shape alt="Homem de preto.jpg" id="Imagem_x0020_57" o:spid="_x0000_s1031" style="height: 291.15pt; left: 0; margin-left: -14.5pt; margin-top: 68.75pt; mso-position-horizontal-relative: text; mso-position-horizontal: absolute; mso-position-vertical-relative: text; mso-position-vertical: absolute; mso-wrap-distance-bottom: 0; mso-wrap-distance-left: 9pt; mso-wrap-distance-right: 9pt; mso-wrap-distance-top: 0; mso-wrap-style: square; position: absolute; text-align: left; visibility: visible; width: 114.95pt; z-index: -3;" type="#_x0000_t75" wrapcoords="-282 0 -282 21478 21703 21478 21703 0 -282 0">
<v:imagedata o:title="Homem de preto" src="file:///C:\Users\UTILIZ~1\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image001.jpg"><span style="font-family: times; font-size: medium;">
<w:wrap type="tight">
</w:wrap></span></v:imagedata></v:shape><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Todos
conhecemos a Mona Lisa, essa figura de mulher sorridente, que Leonardo da Vinci
imortalizou. A senhora tem, debaixo das mãos um pequeno livro. Esse livrinho é
tido por ser a primeira representação em pintura de um livro impresso. Não é! A
Mona Lisa foi pintada entre 1503 e 1506, e, quarenta anos antes, nos anos 60 do
séc. XV, na pintura que conhecemos como Painéis de São Vicente de Fora aparece
um homem vestido de preto, que apresenta um livro. É essa a primeiríssima vez,
que um livro impresso é representado em pintura.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span style="line-height: 115%;">Há três livros nos Painéis. Aquele que um dos Santos
apresenta a D. Afonso V, no qual se lê ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">livro
dos Evangelhos’</i>. Há em seguida, no mesmo espaço, mas no painel do duque de
Bragança, o livro que o outro Santo apresenta a D. Fernando, filho primogénito
do 2.º Duque de Bragança, e presumível mandatário da pintura. O terceiro livro
é aquele que é mostrado por um homem vestido de preto, que figura no painel da
gente da Câmara. Não se vê razão para ali estar. O livro não tem nada a ver com
o tema da pintura. O homem, de nítidas feições hebraicas, dificilmente se
explica em obra, que não seria de altar, mas que era devota. O livro está ali,
porque era uma coisa tão rara, tão nova, que o seu feliz proprietário não
resistiu à tentação de a mostrar na grande pintura, na qual - debaixo da sua
orientação e por sua ordem - se estava então trabalhando. O homem de preto foi
decerto ali encaixado quando D. Fernando adquiriu a obra. O livro era essa
raridade, um livro em papel. No afastar e dobrar das folhas há a preocupação de
mostrar que estas têm a particularidade de </span><span style="line-height: 115%;">se dobrarem daquela
forma. </span><span style="line-height: 115%;">E
livro em papel, e daquela dimensão, só podia ser um livro impresso. Um exemplar
do primeiro livro, que não era escrito à mão, mas impresso com letras móveis. A
pintura não podia transmitir, que se tratava de um livro impresso com letras
móveis, mas o facto de ser em papel era outra grande novidade. Outro livro da
pintura, no qual se lê a frase “O Pai é maior que eu” é obviamente um livro
escrito à mão em pergaminho. A rigidez das páginas contrastando visivelmente
com a flexibilidade das páginas do outro livro. A generosidade do proprietário
ao mandar reproduzir o seu livro na sua pintura iria permitir, que outros
pudessem ver como era um daqueles novos livros. Que livro era? Quanto a isso,
não pode haver dúvida. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gutenberg</i>
imprimio como primeira obra, a Bíblia. Imprimio alguns poucos exemplares em
pergaminho e os restantes em papel. Uns e outros em duas colunas, e em letra
gótica. O livro dos Painéis é um exemplar da Bíblia de Gutenberg em papel. Alguns
exemplares foram impressos em ergaminho, mas a maioria foi-o em papel.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span style="line-height: 115%;"><br /></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><v:shape alt="templates/image.php?bandnummer=bsb00004647&pimage=00013" href="http://daten.digitale-sammlungen.de/~db/0000/bsb00004647/images/" id="Imagem_x0020_1" o:button="t" o:spid="_x0000_s1030" style="height: 315.5pt; left: 0; margin-left: 1.35pt; margin-top: 0; mso-position-horizontal-relative: text; mso-position-horizontal: absolute; mso-position-vertical-relative: text; mso-position-vertical: absolute; mso-wrap-distance-bottom: 0; mso-wrap-distance-left: 9pt; mso-wrap-distance-right: 9pt; mso-wrap-distance-top: 0; mso-wrap-style: square; position: absolute; text-align: left; visibility: visible; width: 224.85pt; z-index: -5;" target=""_blank"" type="#_x0000_t75" wrapcoords="-144 0 -144 21463 21614 21463 21614 0 -144 0">
<v:fill o:detectmouseclick="t"><span style="font-family: times; font-size: medium;">
<v:imagedata o:title="image" src="file:///C:\Users\UTILIZ~1\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image002.jpg">
<w:wrap type="tight">
</w:wrap></v:imagedata></span></v:fill></v:shape><v:shape alt="templates/image.php?bandnummer=bsb00004647&pimage=00013" href="http://daten.digitale-sammlungen.de/~db/0000/bsb00004647/images/" id="Imagem_x0020_1" o:button="t" o:spid="_x0000_s1030" style="height: 315.5pt; left: 0; margin-left: 1.35pt; margin-top: 0; mso-position-horizontal-relative: text; mso-position-horizontal: absolute; mso-position-vertical-relative: text; mso-position-vertical: absolute; mso-wrap-distance-bottom: 0; mso-wrap-distance-left: 9pt; mso-wrap-distance-right: 9pt; mso-wrap-distance-top: 0; mso-wrap-style: square; position: absolute; text-align: left; visibility: visible; width: 224.85pt; z-index: -5;" target=""_blank"" type="#_x0000_t75" wrapcoords="-144 0 -144 21463 21614 21463 21614 0 -144 0"><br /></v:shape><v:shape alt="templates/image.php?bandnummer=bsb00004647&pimage=00013" href="http://daten.digitale-sammlungen.de/~db/0000/bsb00004647/images/" id="Imagem_x0020_1" o:button="t" o:spid="_x0000_s1030" style="height: 315.5pt; left: 0; margin-left: 1.35pt; margin-top: 0; mso-position-horizontal-relative: text; mso-position-horizontal: absolute; mso-position-vertical-relative: text; mso-position-vertical: absolute; mso-wrap-distance-bottom: 0; mso-wrap-distance-left: 9pt; mso-wrap-distance-right: 9pt; mso-wrap-distance-top: 0; mso-wrap-style: square; position: absolute; text-align: left; visibility: visible; width: 224.85pt; z-index: -5;" target=""_blank"" type="#_x0000_t75" wrapcoords="-144 0 -144 21463 21614 21463 21614 0 -144 0"><br /></v:shape><v:shape alt="templates/image.php?bandnummer=bsb00004647&pimage=00013" href="http://daten.digitale-sammlungen.de/~db/0000/bsb00004647/images/" id="Imagem_x0020_1" o:button="t" o:spid="_x0000_s1030" style="height: 315.5pt; left: 0; margin-left: 1.35pt; margin-top: 0; mso-position-horizontal-relative: text; mso-position-horizontal: absolute; mso-position-vertical-relative: text; mso-position-vertical: absolute; mso-wrap-distance-bottom: 0; mso-wrap-distance-left: 9pt; mso-wrap-distance-right: 9pt; mso-wrap-distance-top: 0; mso-wrap-style: square; position: absolute; text-align: left; visibility: visible; width: 224.85pt; z-index: -5;" target=""_blank"" type="#_x0000_t75" wrapcoords="-144 0 -144 21463 21614 21463 21614 0 -144 0"><br /></v:shape><v:shape alt="templates/image.php?bandnummer=bsb00004647&pimage=00013" href="http://daten.digitale-sammlungen.de/~db/0000/bsb00004647/images/" id="Imagem_x0020_1" o:button="t" o:spid="_x0000_s1030" style="height: 315.5pt; left: 0; margin-left: 1.35pt; margin-top: 0; mso-position-horizontal-relative: text; mso-position-horizontal: absolute; mso-position-vertical-relative: text; mso-position-vertical: absolute; mso-wrap-distance-bottom: 0; mso-wrap-distance-left: 9pt; mso-wrap-distance-right: 9pt; mso-wrap-distance-top: 0; mso-wrap-style: square; position: absolute; text-align: left; visibility: visible; width: 224.85pt; z-index: -5;" target=""_blank"" type="#_x0000_t75" wrapcoords="-144 0 -144 21463 21614 21463 21614 0 -144 0"></v:shape></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhHiHUGNPCmLgM4RwzoWIEjzYphxgZWIsDxDJAiv1tIXuCwbcKnY3nG-sWscL2dHSKPdI2zg4sfUVdDWAHG_KL4nm3C8nll-qNm5BilWnuoyFdWRKA1R_WIS93-KsMgOgk1EpRaaHWcJ-8nC_gtMNMCe4x35LunEqhuNXnQdUHXzmhmLT_sLxIzYuMYWA" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="661" data-original-width="472" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhHiHUGNPCmLgM4RwzoWIEjzYphxgZWIsDxDJAiv1tIXuCwbcKnY3nG-sWscL2dHSKPdI2zg4sfUVdDWAHG_KL4nm3C8nll-qNm5BilWnuoyFdWRKA1R_WIS93-KsMgOgk1EpRaaHWcJ-8nC_gtMNMCe4x35LunEqhuNXnQdUHXzmhmLT_sLxIzYuMYWA" width="171" /></a></div><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span style="line-height: 115%;"><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="line-height: 115%; text-align: left;">Os
primeiros exemplares da Bíblia, anunciados como ‘primeira grande obra da nova
Arte’, apareceram entre 1454 ou 1455, e já</span><b style="text-align: left;"><span style="line-height: 115%;">
</span></b><span style="line-height: 115%; text-align: left;">em
1454, Enea Silvio Piccolomini, enviado do Papa, à Reunião dos Estados do
Império (Reichstag) em Frankfurt, escrevia para Roma, que vira umas primeiras
folhas da Bíblia que se estava imprimindo segundo a nova arte. A arte da
impressão propagou-se rapidamente. Em 1500 já havia no espaço europeu, em cerca
de cem localidades perto de mil oficinas de impressão, mas Portugal só teria o
primeiro impressor depois, ou pouco antes, da morte de D. João II.</span><b style="text-align: left;"><span style="line-height: 115%;"> </span></b><span style="line-height: 115%; text-align: left;">Como o homem tem
nítidas feições hebraicas, quase todos os prévios investigadores, opinavam que
se tratava de um judeu, e que, evidentemente, era - só podia ser - o rabi-mor da
cidade. Por que razão ali estaria um rabi, e porque folheava um livro ninguém
tentou explicar. Não creio, que se requeiram grandes explicações. O mais
provável é que o homem de negro fosse o agente judeu que D. Fernando
encarregara de lhe conseguir um exemplar da obra. Talvez um membro de uma das
casascomerciais que existiam em Portugal, e que tinham contactos em toda a
Europa. D. Fernando queria mostrar o livro, não olhouaos traços fisionómicos do
homem que o apresentava</span></p></span></span><p></p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: times; font-size: medium;"> </span></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: times; font-size: medium;"><br /></span></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: times; font-size: medium;"><br /></span></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Cap.15
O cavaleiro com o capacete. Os retratos de Ruy Siqueira<o:p></o:p></span></span></b></p><p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><br /></span></span></b></p><p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><br /></span></span></b></p>
<p class="MsoNormal"><v:shape alt="o cavaleiro do capacete.JPG" id="Imagem_x0020_29" o:spid="_x0000_s1029" style="height: 258.45pt; margin-left: 2.95pt; margin-top: 13.45pt; mso-position-horizontal-relative: text; mso-position-horizontal: absolute; mso-position-vertical-relative: text; mso-position-vertical: absolute; mso-wrap-distance-bottom: 0; mso-wrap-distance-left: 9pt; mso-wrap-distance-right: 9pt; mso-wrap-distance-top: 0; mso-wrap-style: square; position: absolute; visibility: visible; width: 194.1pt; z-index: -2;" type="#_x0000_t75" wrapcoords="-167 0 -167 21437 21533 21437 21533 0 -167 0">
<v:imagedata o:title="o cavaleiro do capacete" src="file:///C:\Users\UTILIZ~1\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image003.jpg"><span style="font-family: times; font-size: medium;">
<w:wrap type="tight">
</w:wrap></span></v:imagedata></v:shape><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></b></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span style="line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 115%;">U</span></b><span style="line-height: 115%;">ma outra figura que está fora do
contexto, é, como se disse, o cavaleiro de longo cabelo comprido e capacete. O
homem de longo cabelo e o seu capacete têm intrigado até senhores que não se
ocupavam com os Painéis, e o que particularmente os intrigava era o capacete do
cavaleiro.</span></span><v:shape alt="tocador de busina.JPG" id="Imagem_x0020_36" o:spid="_x0000_s1028" style="height: 223pt; margin-left: 70.7pt; margin-top: 203.1pt; mso-position-horizontal-relative: text; mso-position-horizontal: absolute; mso-position-vertical-relative: text; mso-position-vertical: absolute; mso-wrap-distance-bottom: 0; mso-wrap-distance-left: 9pt; mso-wrap-distance-right: 9pt; mso-wrap-distance-top: 0; mso-wrap-style: square; position: absolute; visibility: visible; width: 167.15pt; z-index: -1;" type="#_x0000_t75" wrapcoords="-194 0 -194 21503 21516 21503 21516 0 -194 0">
<v:imagedata o:title="tocador de busina" src="file:///C:\Users\UTILIZ~1\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image004.jpg"><span style="font-family: times; font-size: medium;">
<w:wrap type="tight">
</w:wrap></span></v:imagedata></v:shape><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span style="line-height: 115%;"> Um cobre-cabeça que
tem muito pouco de capacete. O capacete destinava-se a proteger a cabeça do
guerreiro dos golpes das armas do seu adversário, e nem com a maior boa- vontade
se pode dizer, que o elegante capacete do cavaleiro dos Painéis lhe podia
proteger a cabeça. A conclusão lógica é, que aquilo não é um capacete. Nem
cristão, nem mourisco como se chegou a dizer. No entanto, parecia muito
possível, que aquele cobre-cabeça fosse na verdade de inspiração mourisca ou
africana. Sabe-se como as cruzadas influenciaram a moda europeia, e não seria
de estranhar, que o barrete do cavaleiro fosse na verdade de inspiração
mourisca, ou mesmo, dado os Descobrimentos africanos, de origem africana. E, de
facto, é aí, na arte do Benim, que parece estar a solução do cobre-cabeça do
cavaleiro dos Painéis.</span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No Catálogo II, para a Exposição
Europeia de Arte, Ciência e Cultura, Maria Helena Mendes Pinto fez uma
apreciação das armas e da indumentária dos Portugueses, reproduzidas em
artefactos da Serra Leoa e de Benim, mas não tratou particularmente daquilo que
nos interessa, dos cobre-cabeças. Ora, numa figura de tocador de buzina de
Benim, conservada em Londres, no British Museum, vê-se um exemplar do chapéu do
tipo do barrete rígido, com motivos de bandas horizontais, muito parecido com o
que é usado pelo nosso cavaleiro.<span style="mso-no-proof: yes;"> <o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Um saleiro
de marfim, também do mesmo museu, é cercado na sua base por figuras esculpidas
de cavaleiros portugueses, usando cobre-cabeças do tipo daqueles usados pelos
mercadores indígenas.</span></span><v:shape alt="saleiro em marfim decorado.JPG" id="Imagem_x0020_35" o:spid="_x0000_s1027" style="height: 257.45pt; margin-left: 1.4pt; margin-top: .1pt; mso-position-horizontal-relative: text; mso-position-horizontal: absolute; mso-position-vertical-relative: text; mso-position-vertical: absolute; mso-wrap-distance-bottom: 0; mso-wrap-distance-left: 9pt; mso-wrap-distance-right: 9pt; mso-wrap-distance-top: 0; mso-wrap-style: square; position: absolute; visibility: visible; width: 192.95pt; z-index: -4;" type="#_x0000_t75" wrapcoords="-168 0 -168 21520 21662 21520 21662 0 -168 0">
<v:imagedata o:title="saleiro em marfim decorado" src="file:///C:\Users\UTILIZ~1\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image005.jpg"><span style="font-family: times; font-size: medium;">
<w:wrap type="tight">
</w:wrap></span></v:imagedata></v:shape><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"> Estes artefactos de
Benim mostram claramente que, em Africa, os portugueses usaram o cobre-cabeça
regional, o mais indicado para o clima da terra. Não havia razão para o ser em
Portugal. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><v:shape alt="lpaca de latão.JPG" id="Imagem_x0020_45" o:spid="_x0000_s1026" style="height: 268.3pt; left: 0; margin-left: 241.7pt; margin-top: 50.85pt; mso-position-horizontal-relative: text; mso-position-horizontal: absolute; mso-position-vertical-relative: text; mso-position-vertical: absolute; mso-wrap-distance-bottom: 0; mso-wrap-distance-left: 9pt; mso-wrap-distance-right: 9pt; mso-wrap-distance-top: 0; mso-wrap-style: square; position: absolute; text-align: left; visibility: visible; width: 169.95pt; z-index: -6;" type="#_x0000_t75" wrapcoords="-191 0 -191 21495 21543 21495 21543 0 -191 0">
<v:imagedata o:title="lpaca de latão" src="file:///C:\Users\UTILIZ~1\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image006.jpg"><span style="font-family: times; font-size: medium;">
<w:wrap type="tight">
</w:wrap></span></v:imagedata></v:shape><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Duas outras obras de
arte da costa do Benim, duas placas de latão fundido, retratam cavaleiros
portugueses. Ambos têm bigode e cabelo comprido, demonstrando que os cavaleiros
portugueses, talvez não todos, mas a maioria deles, usavam, em África, cabelo
comprido e bigode. E em uma dessas placas temos sem dúvida o retrato do homem
de longo cabelo que é representado nos Painéis. Aquele cavaleiro não está ali
por acaso, nem por vontade própria, está ali por vontade do mandatário da obra,
e por uma razão forte.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: times;">Os dados nacionais sobre a ida de Ruy Siqueira aquelas
paragens são vagas. Em uma publicação lê-se ‘É-lhe
atribuído do Cabo de Santa Catarina (mo extremo oriental de costa de Guiné)……..
não existe certeza relativamente ao ano em que o navegador efectuou a viagem,
mas é provável que tena sido em 1474 ou 1475..’ Em outro lado lê-se que
Ruy Siqueira ‘alcançou a costa da
actual <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Nig%C3%A9ria" title="Nigéria">Nigéria</a> em <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/1472" title="1472">1472</a>, batizando a lagoa na
região de <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Lagos_(Nig%C3%A9ria)" title="Lagos (Nigéria)">Lagos (Nigéria)</a> com o nome <span style="mso-bidi-font-style: italic;">Lago de Curamo</span>, e a cidade com o nome pela qual ainda hoje é
chamada, <span style="mso-bidi-font-style: italic;">Lagos</span>,
possivelmente em homenagem à cidade algarvia de <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Lagos_(Portugal)" title="Lagos (Portugal)">Lagos</a></span><span style="font-family: times;">’.</span></span><span style="color: #202122; font-size: 16pt;"><o:p></o:p></span></p>Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-36006717185772531122022-05-24T11:02:00.000+01:002022-05-24T11:02:06.353+01:00O PORTUGUÊS LE POUCO<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"> <span style="color: #333333; text-align: justify;">Recentemente apareceu nos jornais o
alerta: os portugueses liam pouco. Havia estatísticas que o provavam. Não tive
que ir longe para fazer a minha própria estatística. Fiz a estatística
familiar. A minha filha é filha única mas tem 37 primos direitos. Formam um
grupo de 38 pessoas. Homens e mulheres instruídos, alguns formados, bem situados.
Entre essas 38 pessoas há 6 leitores, ou seja, seis pessoas que compram livros
e lêem. São dois os leitores do lado do meu marido e os restantes do meu lado. A
única coisa que distingue os leitores dos não-leitores é que uns gostam de ler
e os outros não. A leitura é uma questão de gosto. </span><span style="text-align: justify;">Como gostar de vinho ou não gostar. A minha mãe era
grande entendida em gastronomia e não percebia que não se bebesse vinho à
comida. O nosso pai não bebia, os meus dois irmãos não bebiam, eu não bebia.
Ainda oiço a minha mãe olhar para quatro copos de água e murmurar desolada “não
percebo, por mais que queira, não há nada a fazer, não percebo.” Ela não bebia
por razão de saúde, nós podíamos acompanhar determinado prato com determinado
vinho, e não bebíamos. A nossa mãe não percebia. Tal como nós, leitores, não percebemos
os não-leitores. A minha mãe teria gostado de poder dissertar sobre vinhos. Não
o fazia. Sabia que não nos interessava. Os jornais não falam de livros. As
revistas não falam de livros. Porque não há quem leia sobre livros.</span></span></p>Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-26437047340688044472022-05-17T11:16:00.000+01:002022-05-17T11:16:14.258+01:00ENSAIO. O que é? Porquê escrevê-lo?<p style="text-align: left;"><span style="text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Acabo de escrever um
texto sobre os Painéis de S. Vicente de Fora e as Tapeçarias da Guerra de
Arzila, que hoje estão em Pastrana, Espanha. Inicialmente, dei ao texto o nome
de Ensaio, parecendo-me ser a definição mais adequada ao texto que eu tinha em
mente. Desisti do propósito, receando dar uma ideia errada da obra. Preferi
especificar. Dei-lhe este título:</span></span></p><p style="text-align: left;"><span style="text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><br /></span></span></p><p style="text-align: left;"><span style="text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><br /></span></span></p>
<p class="Default" style="text-align: left;"><span style="font-family: times; font-size: large;">OS PAINEIS DE S.VICENTE DE
FORA</span></p><p class="Default" style="text-align: left;"><span style="font-family: times; font-size: large;"><br /></span></p>
<p class="Default" style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">E AS TAPEÇARIAS DE
PASTRANA<o:p></o:p></span></span></p><p class="Default" style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><br /></span></span></p>
<p class="Default" style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Fruto e Espírito do Humanismo</span></span></p><p class="Default" style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="Default" style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><br /></span></span></p>
<p class="Default" style="text-align: left;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span style="font-weight: normal;">Mas sempre convencida
que Ensaio seria o mais indicado. Acabado o livro fui ao Google ver o que me
diriam sobre ‘Ensaio’. Dei com o texto da Profª </span><span style="font-weight: normal;">Daniela
Diana, </span><span style="font-weight: normal;">que
me deu um enorme prazer, pela sua forma de expor o que é e como escrever um
Ensaio. Constatei que coincidimos na ideia do que é um Ensaio, admitindo até a
apresentação de ilustrações, o que eu fiz sem hesitação neste livro, mas que talvez
não fizesse em outro. O Ensaio estava praticamente concluído quando, ao rever um
dos Artigos, constatei a falta de tábuas. Tive de incluir, e comentar este
caso, e prejudiquei com isso a publicação do texto. Em Portugal não há Crítica
de Arte, eu revelo um caso que afecta a reputação do MNAA, eu não sou figura
publicamente conhecida, duas Editoras rejeitaram o livro sem explicação.
Publiquei o livro como livro de autor, e tenciono publicar no meu Blogue.</span></span></p><p class="Default" style="text-align: left;"><br /></p><p class="Default" style="text-align: left;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span style="font-weight: normal;"><br /></span></span></p><p class="Default" style="text-align: left;"><span style="background-color: white; font-family: times; font-size: large;">O ENSAIO</span></p><p class="Default" style="text-align: left;"><span style="background-color: white; font-family: times; font-size: large;"><br /></span></p>
<p style="background: white; text-align: left;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Daniela Diana<o:p></o:p></span></p><p style="background: white; text-align: left;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><br /></span></p>
<p style="background: white; text-align: left;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span class="author-article--tinfojob-title"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Professora
licenciada em Letras</span></span></span></p><p style="background: white; text-align: left;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span class="author-article--tinfojob-title"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;"><br /></span></span></span></p><p style="background: white; text-align: left;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span class="author-article--tinfojob-title"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;"><br /></span></span></span></p>
<p style="background: white; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: left; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">O <strong><span style="border: none windowtext 1.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-weight: bold; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">ensaio </span></strong>é um <strong><span style="border: none windowtext 1.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-weight: bold; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">texto opinativo </span></strong>em que se expõe ideias, críticas,
reflexões e impressões pessoais, realizando uma avaliação sobre determinado
tema.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin: 0cm 0cm 7pt; text-align: left; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">O ensaio problematiza
algumas questões sobre determinado assunto, focadas pela opinião do autor e
geralmente, apresentam conclusões originais.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin: 0cm 0cm 7pt; text-align: left; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Diferente dos textos
narrativos e descritivos, o ensaio pressupõe interpretação e análise mais
profunda sobre um tema.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin: 0cm 0cm 7pt; text-align: left; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Sendo assim, o ensaio é
um gênero discursivo argumentativo e expositivo que implica o ato de <em>ensaiar</em>.</span><span style="color: #404040; font-size: 18pt;"><o:p></o:p></span></p>Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-15381681549467477252022-05-03T12:09:00.002+01:002022-06-08T12:06:11.446+01:00LER, ESCREVER E OUVIR LER<p><span style="font-family: arial; font-size: x-small;"> </span></p><p style="background: white; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Faz agora 12 anos, que o oftalmologista
me disse, que a minha visão passara de 75% para 5%. Tomei imediatamente a
decisão de vender os meus livros, de nunca mais escrever. Não cumpri. Não vendi
livros. Gosto de os ver e a minha filha é tão leitora como eu. A ciência
moderna forneceu-me um computador com um programa para pessoas com problemas como o
meu. No meu Viktor Reader oiço áudio-livros. Julguei que nunca mais escrevia.
Enganei-me. Revi e completei o meu livro sobre o Mosteiro de Lorvão, publiquei
um volume de cartas do séc. XIX, que já tinha copiado à mão. Comecei, e está
quase acabado, um romancezinho. E, por fim, iniciei há dois anos um livro
focando os problemas dos Painéis de São Vicente de Fora e as Tapeçarias de
Pastrana. É tempo de recomeçar o meu Blogue. Vai ser um pouco mais pessoal do
que o anterior. Os últimos livros que escrevi e o livro que estou a rever,
levantaram questões, que vou gostar de partilhar com os meus potenciais leitores.
Publicarei às Quartas-feiras, se possível.</span><span style="font-size: 22pt;"><o:p></o:p></span></span></p>Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-33848959508945587862016-09-07T12:15:00.001+01:002016-09-07T12:17:27.674+01:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - LIVRO EM PDF<a href="https://drive.google.com/file/d/0ByVGdPiu_SShdWZEVG9RcEh1SlE/view?usp=sharing" target="_blank">VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL</a><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-5MeS9XnDm_o/V8_3OgnVtlI/AAAAAAAAAbA/p_4RORk2M28DBeUjgk1kp0mqX-MafxU2wCLcB/s1600/CAPA.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="208" src="https://4.bp.blogspot.com/-5MeS9XnDm_o/V8_3OgnVtlI/AAAAAAAAAbA/p_4RORk2M28DBeUjgk1kp0mqX-MafxU2wCLcB/s320/CAPA.png" width="320" /></a></div>
<br />Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-24368193606762776582016-06-29T12:04:00.000+01:002016-06-29T12:04:13.642+01:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº XIX INTRODUÇÃO DA DOÇARIA CONVENTUAL MANJAR BRANCO E DOCE D' OVOS , NOTAS FINAIS E BIBLIOGRAFIA<div class="MsoNormal">
A doçaria conventual - aquilo que ainda hoje faz lembrados
os mosteiros femininos portugueses - foi arte que só começou no século XVI. Só
então, com a importação da cana d’açúcar da Índia e do Mediterrâneo e
implantação da produção de açúcar em Portugal, na Ilha de São Tomé e depois no
Brasil, o açúcar se tornou um género acessível. Que os reis até davam em esmola
aos mosteiros seus protegidos. Em 1509, D. Manuel dá dez arrobas de açúcar ao
Convento de Jesus de Aveiro; em 1517 dão-se 8 arrobas de açúcar de esmola à
Santa Clara de Lisboa, e 5 arrobas de açúcar branco a Santa Clara de Beja. Nos
anos do reinado de D. Manuel esmolas dessas vão ainda para a Madre de Deus em
Lisboa, para os conventos de Santa Clara em Lisboa, Portalegre, Beja e outros.
Também as especiarias eram dádiva frequente dos soberanos aos mosteiros: 4.000
reis em especiaria ao convento de Celas, em 1512, especiarias em porção não
especificada a Santa Clara de Portalegre e ao mosteiro de Jesus de Aveiro em
1518; 4000 reis de ‘droga’ ao mosteiro de Santa Clara de Coimbra em 1519. E as
religiosas de todos os mosteiros de Portugal lançaram-se e na produção de uma
arte nova, a arte da doçaria ou pastelaria, alcançando, nesse campo glória
imorredoira. E merecida. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A coisa deve ter evoluído gradualmente, as monjas tiveram de
pensar como melhor aproveitar o doce açúcar que lhes caía em casa e que até ali
praticamente desconheciam. Tinham talvez usado um pouco dele em alguma mesinha
para as suas doentes, nunca na cozinha. Descobriram, provavelmente por acaso, a
cozedura do açúcar em ponto. Deram nomes aos graus de ponto ‘de cabelo, de
pingo.’ Lembraram-se de juntar açúcar aos ovos postos abundância pelas galinhas
que pululavam em todos os mosteiros. Cozida ou em caldo, a galinha era remédio
para todos os males. Os visitadores faziam os seus reparos: que o galinhaço até
entrava pelo coro, que as galinhas sujavam o claustro e originavam brigas entre
as suas donas. Sem efeito. As galinhas continuaram a picotar nos claustros e
pátios dos mosteiros. Enquanto não se lhes torcia o pescoço, se coziam ou
guisavam, as galinhas punham ovos. Ovos e açúcar ligavam bem, monjas e freiras
criaram, com arte e imaginação, inúmeros doces diferentes com os mesmos dois
ingredientes. Juntaram-lhes por vezes especiarias, amêndoas. Lembraram-se de
usar a obreia das hóstias para base de queijinhos d’ovos, de broas d’ovos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Nos mosteiros havia a matéria-prima, a mão-de-obra, e o
tempo para aquele fabrico. E a criatividade. Entre tantas mulheres, haveria
sempre uma com talento para inventar e inovar. E para dar nomes adequados
àquelas criações: A produção de doçaria por parte das religiosas
desenvolveu-se, mas não era apreciada por todos as autoridades religiosas. Nas
actas dos visitadores encontram-se - a partir do século XVI - constantes
protestos contra os exageros da produção de doçaria, e da venda de doces para
fora, ‘porque o fazerem-se as religiosas tratantes, e da casa de Deus
mercancia, resulta em desserviço do mesmo senhor’. Depois de uma visita ao
mosteiro de Santa Clara da Guarda, os visitadores ordenavam que nenhuma
religiosa fizesse ‘trato em mercancia de doces para fora’, e que a madre
abadessa acabasse de vez com o abuso. O que não aconteceu. Uma vez começada, a
coisa iria tomar proporções de exagero, as monjas esquecendo as rezas na
azáfama de bater ovos e vigiar o ponto de açúcar. Em Arouca faziam-se, em
meados do século XVII, dezoito espécies diferentes de pastéis e doces. E, por
todo o Portugal, as abadessas gratificavam em dias de festa os magistrados que
trabalhavam para o seu convento, e os padres que lhes diziam as missas, com
‘prateleiras’ de doçaria variada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Em Lorvão havia no século XVII uma ‘sala dos doces’,
presume-se que aí se preparavam doces, mas ignorava-se até há pouco que doces
eram esses. Livros conventuais de receita de doces são raros, se os houve,
desapareceram. As receitas transmitiram-se por tradição oral. Um livro,
recentemente publicado, da autoria do Dr. Nelson Correa Borges, intitulado
‘Doces conventuais de Lorvão’ , contém receitas de doces, conservadas nas
famílias da terra, atribuídos - e decerto com razão - às monjas do mosteiro de
Lorvão. As monjas tinham criadas, mulheres da terra que as ajudavam na
convecção dos doces, que muito naturalmente levaram as receitas para suas
casas, ou as ensinavam a outras mulheres. As receitas iam-se transmitindo, a
sua origem conventual muitas vezes esquecida. Em Lorvão faziam-se entre outros
os ‘Papos d’anjo, o Bolo de Bispo, o Bolo de Santa Teresa, os Bolos das
Infantas, Queijinhos do céu, Capelas de ovos, Fatias do céu’. Tudo doces à base
de ovos e açúcar, em Lorvão como nos outros mosteiros e convento de Portugal
com nomes adequados à sua proveniência: papos d’anjo, pingos de tocha,
queijinhos do céu, tocinho do céu<o:p></o:p></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-RpYDTvQB_rM/V3OqGZ0sqPI/AAAAAAAAAag/H4pOEy5Nv3gI8_OnRgz_Szkyajl29UPVwCLcB/s1600/bolos.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="137" src="https://4.bp.blogspot.com/-RpYDTvQB_rM/V3OqGZ0sqPI/AAAAAAAAAag/H4pOEy5Nv3gI8_OnRgz_Szkyajl29UPVwCLcB/s320/bolos.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div align="center" class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 9pt;">Pingo de tocha de Arouca<o:p></o:p></span></div>
</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal">
Um doce conventual que não tem a nada a ver com os doces
d’ovos é aquela curiosa confecção doce, à base de peito de galinha., conhecida
por ‘Manjar Branco’. Aquela papa branca, que, em Lorvão, era apresentada em
toscos discos de barro, é coisa muito mais antiga que os doces d’ovos, e não,
como estes, especificamente português. Um doce com os mesmos ingredientes era
designado em França por ‘blanc manger’, e era uma confecção usada em toda a Europa
medieval. Uma pesquisa Google menciona a existência da receita em um caderno de
ensegnements, de ensino culinário, de fins do blanmangerséculo XIII, inícios de
XIV. O mesmo caderno ensina ainda como confeccionar o ‘blanc-brouet’, também de
peito de galinha, mas com uma diferença, não levava leite.</div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-8UUlm59i2BQ/V3Oq2BjL-7I/AAAAAAAAAao/_4Ia2dsn9YYr19vw1N2SuxTCx0dYjLV_wCLcB/s1600/bolo1.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="126" src="https://3.bp.blogspot.com/-8UUlm59i2BQ/V3Oq2BjL-7I/AAAAAAAAAao/_4Ia2dsn9YYr19vw1N2SuxTCx0dYjLV_wCLcB/s320/bolo1.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div align="center" class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 9pt;">Manjar branco</span><i><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"> ‘ </span></i><i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 9pt;">Blancmange’<o:p></o:p></span></i></div>
</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Sabe-se que a receita do manjar branco veio do mosteiro de
Celas para o de Lorvão, ignorando-se contudo como e quando chegou a Portugal.
Talvez tivesse sido trazida por um dos visitadores de Cister, que periodicamente
vinham a Portugal, ou por um qualquer outro viajante de passagem. As monjas de
Lorvão tiveram a ideia de servir o seu branco manjar numas rodelas de barro. O
que faz do seu ‘manjar banco’ uma especialidade laurbanense.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Havia outras confecções doces nos diferentes mosteiros. No
livro de Mordomia de Lorvão de 1659 lê-se que no dia de Santo António havia
‘milhares’ para a merenda desse dia. Compraram-se - em Junho desse ano 145 pães
e 150 queijos, assim como leite para ‘milhares’. ‘Eram papas de milho que, em
Lorvão, quando feitas para a comunidade, levavam 3 arráteis de açúcar e mais de
200 quartilhos de leite. Em 1660, lemos que se tinham comprado para a
enfermaria e para a merenda que se dava no dia de Sº António, além das
habituais cerejas, 150 queijos, 165 pães, 145 pastéis. E ainda leite para
‘arroz doce’, que se dava ao convento no dia de Sº António, e o dos ‘milhares’
da merenda do mesmo dia. Acrescentara-se portanto pastéis e arroz doce à ementa
do ano anterior. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O ‘arroz doce’ que também deve ter entrado nos mosteiros com
os Descobrimentos, designava-se de entrada por ‘arroz de leite’. Numa receita
quinhentista de Lorvão lê-se que se gastavam ali para o ‘arroz de leite para o
Santíssimo Sacramento’- ou seja, para a refeição desse dia – ‘27 arráteis de
arroz, 26 de açúcar, 213 quartilhos de leite’. Em receita mais recente o ‘arroz
doce’ já é enfeitado com canela. Fazia-se com ‘28 arráteis de arroz, 12 de
açúcar, o almude de leite, 1/2 quartilho de água de flor, e 1 onça de canela”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
~~FIM~~<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>NOTAS finais e
BIBLIOGRAFIA <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
Cheguei ao fim desta minha primeira experiência de
publicação on-line - creio que é assim que se diz. O livro teve à volta de
cinquenta leitores para cada capítulo. O que parece pouco, mas em Portugal não
é mau para um livro deste tipo e sobre este tema. Gostaria de pensar que tenha
ajudado algum estudante proporcionando-lhe informações úteis que não
encontraria facilmente de outra forma. O texto vai agora ser publicado em Pdf.
Farei ainda uma revisão, e agradeço desde já aos leitores que indiquem erros ou
falhas que tenham notado, e que eu possa corrigir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Umas palavras sobre a Bibliografia que em seguida indico.
Cito unicamente os livros que de alguma forma são pertinentes ao assunto do
livro. Consultei obviamente outros, o tema faz parte da história medieval, e
não se estuda lendo unicamente textos sobre um determinado aspecto dessa época.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Para alguns do livros indicados há uma explicação, que pode
não ocorrer ao leitor. A ‘Crónica Nurembergensis’ de Hartman Schedel é citada
porque foi lá que procurei, e encontrei, uma imagem contemporânea do Porto
medieval. A ‘Crónica’ é considerada útil pelas imagens das cidades alemãs que
reproduz. Quando procurei uma vista da cidade do Porto para o capítulo XVI
consultei a ‘Crónica’, e dei com uma gravura que me pareceu ter a marca de
alguém que esteve na cidade, ou a quem esta foi descrita. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O livro ‘Religioese Frauenbewegungen im Mittelalter’, ou
seja sobre os movimentos religiosos femininos na Idade Média, que me foi
indicado na Livraria Histórica Ultramarina pelo Dr. Berkmeier foi essencial
para a compreensão do que se passava no século XIII em matéria de religião
quando os monges foram expulsos de Lorvão e substituídos nesse grande mosteiro
por monjas de Cister.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Os livros ‘As freiras de Lorvão e ‘o mosteiro de Lorvão’ de
T. Lino d’Assunção deram o impulso a este livro. Quando iniciei este trabalho
esses livros eram considerados fonte da história do mosteiro de Lorvão, e
praticamente os únicos livros que tratavam dos mosteiros femininos. Pensei que
as muitas mulheres que, por vocação ou obrigação, viveram as suas vidas nos
mosteiros de Portugal, e muitas vezes aí se realizaram como administradoras,
mestras de letras e canto, e em muitos outros ofícios, mereciam ser recordadas
de outra forma do que com a superficial ligeireza que Lino d’Assunção
considerou adequada ao tema.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>BIBLIOGRAFIA<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>FONTES MANUSCRITAS <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
BIBLIOTECA NACIONAL DE LISBOA (BNL) Col. Pombalina <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Visitações de D. Jorge de Ataíde. Bº de Viseu, <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
CHAGAS, Frei Hilário <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Memória e Fundação dos Mosteiros das Religiosas da Ordem de
São Bernardo neste Reyno de Portugal Códice Alcobaça 92 <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
TORRE DO TOMBO (TT)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
GAVETAS da Torre do Tombo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
CARTAS MISSIVAS <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
EITURA NOVA. Lº 3, 6, 9, 11, 12 da Extremadura Lº 2 de Além
Douro Lº 7 de Odianna<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
ARQUIVOS MONÁSTICOS<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mosteiro de Santa Maria de Arouca<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Vols. 2, 4, 5, 7, 107, 135, 150, 161<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mosteiro de Santa Maria de Coz <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mosteiro de Jesus de Aveiro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mosteiro de Jesus de Setúbal<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mosteiro de Santa Maria de Almoster, <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mosteiro de Santa Maria de Celas, Maços IV a Maço IX<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mosteiro de Santa Maria de Lorvão, <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
COLECÇÃO ESPECIAL, Lº 40, Maços 2 a 9. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Lº 313 Privilégio e Prazos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Lº 359<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Livro das Preladas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Colecção de maços de Doc. Avulsos <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mosteiro da Madre de Deus dm Lisboa<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Fundação do mosteiro da Madre de Deus Livro Mss <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mosteiro de Odivelas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mosteiro de Chelas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Convento de Santa Clara da Guarda<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Vol. 3 Livro de Visitações <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Convento de Santa Clara do Porto<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
FONTES IMPRESSAS, <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
INVENTÁRIO dos códices iluminados até 1500. Secretaria do
Estado da Cultura,1994<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
LIVROS IMPRESSOS<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
ANDRADE, José Maria d’ <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Memórias do mosteiro de Cellas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Coimbra, Imprensa Académica, 1892<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
ASSUNÇÃO, T.Lino d’ , As Monjas de Lorvão<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Os mosteiros de Lorvão e Santa Clara e o templo da Sé Velha<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Coimbra, Tipografia do Seminário, 1893<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
BACKHOUSE, Janet<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">The
Illuminated Manuscript<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Phaydon,
Oxford. </span>1979<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
BORGES DE FIGUEIREDO, A. C. O Mosteiro de Odivelas, Livraria
Ferreira 1889<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
BRANCO, Manuel Bernardes <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
História das Ordens Monásticas em Portugal 3 vols. Lisboa,
Livraria Editora de Cardoso & Irmão MDCCCXXXVIII<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
BRONSEVAL, Frère Claude <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Peregrinatio Hispanica 1531-1533, 2 vol. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Paris, Presses Universitaires de France 1970 <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">BUEHLER,
Johannes <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Klosterleben
im deutschen Mittelater<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
Insel Verkag, Leipzig, 1923<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
CASADO, Concha. CEA, António <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
El Monasterio de Santa Maria de Gradefes<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Leon, editones Lancia<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
COCHERIL, P. Maur <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Les Abbesses de Lorvão au xv. siècle<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Louvain, 1960<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
COCHERIL, P. Maur <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Recherches sur l’ordre de Citeaux au Portugal. Livraria
Bertrand, 1960<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Études sur le monachisme en Espagne et au Portugal.
Livraria Bertrand, Lisbonne. 1966<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
--Notes sur l’architecture et le décor dams les Abbayes
cisterciennes du Portugal<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Paris, Fundação Calouste Gulbenkian 1972 <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
CONSTITUIÇÕES das Religiosas da Ordem dos Eremitas de São
Agostinho….<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Coimbra, no Real Collegio das Artes da Companhia de Jesus,
anno 1734<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
CORREIA BORGES, Nelson<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mosteiro de Lorvão <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
EPARTUR Edições Portuguesas de Arte e Turismo Ltd. Coimbra 1982<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
-- Doçaria conventual de Lorvão<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Penacova, Município <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">COULTON,
G.G. Medieval Village, manor and monastery<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">New York,
Evanstonand London<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Harper’s
&Row publisher<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">--Five
Centuries of Religiom. Vol.V. The last days of Medieval Monasticism<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Cambridge
University Press 1950<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">-COUSIN,
Patrice<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Précis
d’Histoire Monastique<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
Bloud&Gay<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
CRÓNICA da Fundação do Mosteiro de Jesus de Aveiro, e
Memorial da Infanta Santa Joana filha de Dom Afonso V, Leitura e revisão de
António Gomes da Costa Madahil Aveiro, 1939<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">FAIRBANK,
Alfred<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">History of
Handwriting<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Origins and
development<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Fabaer
& Faber Ltd, London, WCi<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">GRIEP, Hans
Joachim<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Deschichte
des Essems<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Wissenschaftliche
Buchgesellschaft<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Darmstadt<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">DU HAMEL,
Christopher de<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US"> Scribes and Iluminators<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Edward
Arnold. London<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">LABARGE,
Margaret Wade<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Women in
Medieval Life<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Hamish
Hamilton, London<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
MATTOSOS, José Portugal Medieval. Notas Interpretações<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Imprensa Nacional Casa da Moedas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
-----O Ideal de Pobreza e as Ordens Monásticas em Portugal
durante os séculos XI-XIII<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Lisboa, 1973<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
---Documentos beneditinos da Tore do Tombo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Lisboa /1970<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
NOBILIÁRIO de D Pedro conde de Barcelos, hijo del rey D.
Dinis de Portugal<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
……En Roma. Por Estevan Paolino MDCXL<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">POWER,
Eileen<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Medieval
Women<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Cambridge
University Press<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Cambridge.
New York. Port-Chester.Melborne.Sidney<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
--Medieval English Nunneries<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
REGRA DOGLORIOSO PATRIACHA S. BENTO, tirada de latim em
linguagem Portuguesa por indústria do reuerendilsimo P. Fr. Thomas do Socorro
Geral nesta congregação de Portugal, segunda ves impressa com todas as licenças
necessárias. Impressa em Coimbra em casa de Nicolao carvalho impressor da
Universidade no Anno de 1632. A custa da Congregação de S. Bento<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
SCHEDEL, Hartman Cronica Nuerembergensiss<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Fac-simile<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">SITWELL,
Sacheverell<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Monks Nuns
and Monasteries<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Weidenfeld
and Nicolso<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">20, New
Bond Street,London. WI<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Áudio
livros<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">WHITEFIELD,
Peter History of European Art, Naxos AudioBooks, 2012<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
DICIONÁRIOS<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
-CAPELLI, Ulrico Aoepli<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Abreviaturi Latini ed italiane<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Milano<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
LOPEZ E DE TORO, José<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Abreviaturas Hispanicas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Madrid, 1957<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
OlIVEIRA MARQUES, A.H.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Guia do Estudante da História Medieval Portuguesa<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Eduções Cosmos, Lisboa<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
VITERBO, frei Joaquim de Santa Rosa de<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Elucidário das palavras, termos, e frases anticuadas da
língia portugues<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Em casa do Editor A.J.Fernabdes Lopes rua Áurea 132-34
Lisboa <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
MLCCCLXV<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-40759568077901240382016-06-08T11:21:00.001+01:002016-06-08T11:21:49.995+01:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº XVIII LIVROS ILUMINADOS E OUTROS<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-hOA0qVtVJmQ/V1fv50N7-RI/AAAAAAAAAaE/f-YYwZFWuCU5nKtF4Rhm9XUpbq_JYleZACLcB/s1600/1.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="192" src="https://3.bp.blogspot.com/-hOA0qVtVJmQ/V1fv50N7-RI/AAAAAAAAAaE/f-YYwZFWuCU5nKtF4Rhm9XUpbq_JYleZACLcB/s200/1.png" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><b>O</b>s mosteiros de mulheres na sua maioria não marcaram pelo seu
nível intelectual. Eileen Power, falando dos mosteiros ingleses, escreve, que
das monjas inglesas não ficou obra escrita, que nem mesmo alguma pequena
crónica das coisas do seu mosteiro saiu de suas mãos. A autora contrasta esta
pobreza literária dos mosteiros ingleses com a produção de obras saídas dos
mosteiros femininos da Alemanha. No século IX, a abadia de Geldersheim na
Saxónia era famosa pela sua literacia. No século XII, a abadessa Herrad, do
mosteiro de Hohenberg compoz e iluminou uma enciclopédia. E nesse século, duas
místicas, Hildegard de Bingen e Elisabeth de Schoenau escreveram sobre as suas
visões. No século XIII, o convento de Helfta na Saxónia, era famoso pela sua
vida cultural. AS suas monjas iluminavam e colecionavam livros, escreviam e
aprendiam latim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">As monjas portuguesas, sem se poderem gabar do nível cultural das
monjas alemãs, foram - literariamente - um pouco mais produtivas que as
inglesas. Há que mencionar para a época de que nos ocupamos, e um pouco depois,
o livro de uma freira do convento de Jesus em Aveiro, e outro de uma religiosa do
mosteiro da Madre Deus de Xabregas. Primeiro em data, e em valor, é a ‘Crónica
da Fundação do mosteiro de Jesus de Aveiro’, ao qual está apenso o ‘Memorial da
Infanta Santa Joana’. A autora teria sido uma religiosa chamada Margarida
Pinheiro. O livro é obra histórica de valor, uma verdadeira crónica com dados
documentados. Contém considerações sobre a fundação do mosteiro e seus
primeiros tempos, e dá um importantíssimo relato da entrada da infanta Dona
Joana no mosteiro, e com a análise da sua pessoa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">O livro intitulado ‘Notícia da Fundação do convento da Madre de
Deus de Lisboa de Religiosas descalças da primeira regra de Nossa Madre Santa
Clara’. Data de 1639,e trata, segundo informa a autora, ‘de algumas coisas que
ainda se puderam descobrir das vidas e mortes de muitas madres Santas que houve
nelas’. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Sobre os objectivos do seu livro escreve a autora: ‘Sempre depois
que entrei para esta casa, tenho ouvido queixas às que vivemos nela, de não
haver alguma memória da sua fundação e das religiosas santas que daqui foram
para o céu. Porque, ainda que no arquivo haja papeis que de tudo dão notícia,
não é em forma que possamos ler quando queremos’. E no que tocava as
religiosas, escreve ela, havia no arquivo muito pouco em comparação do que
sabiam as religiosas mais velhas, com quem ela conversara. E mesmo elas diziam,
‘que não era nada o que me contavam pelo muito que lhes esquecia do que tinham
ouvido a outras mais antigas que conheceram. De modo que se houvera feito caso
de tudo o que se pudera escrever, se fizera um grande livro, e de muita
edificação. ’Receando que se viesse a esquecer o que devia ser tão vivo, a
autora metera mãos á obra. Não se achava com engenho para um livro na forma
usual, diz ela, pelo que decidira escrever o livro em forma de diálogos entre
algumas freiras. Era costume naquela casa, continua, festejar o Natal com
aquilo que elas designavam por fogueiras de Natal. Eram reuniões que se faziam
na casa onde estava o presépio, e em que se falava de coisas antigas, de
freiras de cuja santidade se conservara a tradição, e de muita outra coisa que
se dera no convento. A autora decide pois idear para o seu livro conversas
realizadas em algumas dessas fogueiras. Os diálogos seriam entre uma madre
abadessa, uma madre vigária e várias religiosas de nomes fictícios, tais como
Fibronia, Maurícia, Malvina, Marcela, Sabina, Eufrazia, e outros do mesmo
género. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Para o leitor de hoje, o livro é ilegível, mas a autora tinha veia
de escritora, e a sua obra interessa à história monástica, e, evidentemente, à histórico
daquele mosteiro. Em uma das ‘fogueiras’ fala-se da fundação do mosteiro pela
rainha D.Leonor, e ficamos a saber muita coisa sobre obras que subsequentemente
ali foram feitas, em particular por D. João III. Segundo uma das intervenientes,
o rei deliciava-se com a perfeição religiosa que reinava na Madre Deus,
encontrava ali o seu ideal de convento. Encantava-se, dizia outra interveniente,
com os rigores que ali se observavam. Julgando agradar a Deus, as religiosas da
Madre de Deus sujeitavam-se de vontade própria a terríveis mortificações, e
viviam num constante regime de fome, que, ou as levava muito cedo deste mundo,
ou as fazia morrer muito velhas As mortificações que aquelas mulheres se impunham
a si próprias, os sacrifícios que desafiavam a razão, que a outros repugnariam,
a D. João III agradavam. Se não tivessem outro valor, estes diálogos teriam
sempre interesse pelo que revelam de certos aspectos da pessoa de D.João III.
No mesmo diálogo fala-se de obras que se tinham feito no mosteiro, e que, por
ordem do rei, se tinham aberto, umas janelas no ‘pináculo’. Era uma sala
redonda sobre a capela-mor, de onde se gozava de uma larga vista. Algumas
religiosas não gostaram da ideia, ajoelharam diante do rei, e - ‘extremos
notáveis’, como observa a autora - pediram a Sua Alteza que tapasse as ditas
janelas. D. João, encantado, ‘para lhes dar gosto’ - de se sacrificarem ainda
mais - fez-lhes a vontade. Com o resultado, que, a partir daquela data a única
coisa que se avistava do pináculo, era a horta da casa. O que se podia
dispensar, observou Ludovina, uma das fictícias dialogantes, já que à horta
viam elas quando lá iam. Ludovina achava que aquelas santas podiam ao menos ter
deixado no pináculo uma fresta colocada a altura de poderem ver por ela. Só
lhes tinham deixado uma fresta ‘muy altíssima’, à qual só chegavam pondo-se se
em bicos dos pés. Nem todas as religiosas apreciavam as constantes visitas do
rei, diz-se no diálogo. Certa vez uma anciã até empurrara Sua Alteza pela porta
fora, aos gritos de “Rei fora, Rei fora”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">O mosteiro gabava-se de ser um dos mais nobres conventos do reino.
Estava-se em tempo dos Filipes, e três das intervenientes - Metildes, Malvina,
e Macária - lamentavam que já não houvesse em Lisboa nem Rei nem Paço, porque,
quando ainda os havia, sucedia muitas vezes que damas do Paço ali tomassem o
hábito. O que, segundo Metildes fora coisa de muita edificação e uma grande e
poderosa ajuda para se sustentar o costume que havia naquele mosteiro de só se
receber nele pessoas de muita qualidade e nobreza. Malvina concordava, era isso
que sustentava a perfeição daquela casa, ‘porque a nobreza é mais briosa, e a
conservação dela necessita de que o brio acompanhe o espírito. Porque quando
este não é muito, ‘a honra procura arremedá-lo.’ Macária era da mesma opinião.
E, quanto a ela, a autoridade delas era sustentada pelo que se dizia e sabia
delas da porta afora. Aquilo de elas não falarem, nem as verem, nem querem ser
vistas ‘nem com parentes mais chegados’ contribuía, achavam elas, para a sua
boa fama. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Lorvão também se podia gabar da qualidade e nobreza das suas
religiosas, mas não consta que estas pugnassem por serem conhecidas pelos seus
sacrifícios e rigores. A <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Ordem de Cister não favorecia mortificações, queria oração e
trabalho. No arquivo de Lorvão encontram-se dois manuscritos de memórias de
algum interesse, se bem que muito diferentes. Datam os dois do século XVII. São
eles: o ‘’Livro das Preladas’, uma pequena obra sobre os acontecimentos mais ou
menos curiosos sucedidos nos diversos abadessados desde a fundação de Lorvão
como mosteiro cisterciense de mulheres. A autora serviu-se com certeza da
documentação do arquivo, mas é pouco provável que conseguisse ler os documentos
mais antigos. Tem o mérito de ter respeitado e transmitido a tradição oral,
sempre de atender em história monástica. O seu interesse, como diz o título do
livro, estava na vida das Preladas de Lorvão, e é uma valiosa fonte nesse
campo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Bem diferente é o ‘Livro de apontamentos de soror Joana de Jesus’.
São as memórias dessa religiosa desde o dia em que, muito nova, saiu de casa de
seus pais, e entrou para o mosteiro de Lorvão. Memórias que não escondem experiências
místicas de natureza erótica. Que a autora provavelmente bão avaliava como
tais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Não é por estas obrinhas que Lorvão é hoje conhecido. Quando no
sec. XIX se deu a extinção das Ordens religiosas, e os seus bens foram
confiscados, revelaram-se ao público laico tesouros artísticos desconhecidos, e
em particular, livros iluminados, quatro deles datando do século XII, que foi
por toda a Europa o grande século do manuscrito iluminado. Era nos mosteiros que
se centrava a vida cultural, foi nos mosteiros que se produziram os grandes
livros iluminados. Esperava-se de um grande mosteiro que fosse rico em livros
litúrgicos, e os próprios monges encarregavam-se da feitura desses livros. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Os monges negros de Lorvão seguiram decerto esse preceito. É
provável que, ao serem forçados a abandonar o seu mosteiro, os monges tenham
levado consigo alguns dos seus livros litúrgicos, deixando para trás aqueles
que não se destinavam aos ofícios divinos. Ficaram em particular duas obras de
excepcional qualidade. São eles o ‘Livro da Apocalipse’ e o ‘Livro das Aves’, ou
‘</span><span style="color: #252525; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">dos Passarinhos’. É uma cópia da obra<span class="apple-converted-space"> </span><i>De Avibus</i>, da autoria de Hugues
de Fouilloy frade da Ordem de Santo Agostinho entre 1132 e 1172.</span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"> Data também desse século a ‘Exposição de Santo Agostinho sobre salmos’.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-gez0V4j9tBY/V1fxNqhGxfI/AAAAAAAAAaQ/jp6eSgd6jRMOgQfpuG8PF4lq3iV0QO6qwCLcB/s1600/2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://2.bp.blogspot.com/-gez0V4j9tBY/V1fxNqhGxfI/AAAAAAAAAaQ/jp6eSgd6jRMOgQfpuG8PF4lq3iV0QO6qwCLcB/s400/2.png" width="301" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Quando em 1211 as monjas da Ordem de Cister substituíram em Lorvão
os frades negros, a rainha D.Teresa, sua protectora, teve forçosamente de
preencher alguma lacuna em livros litúrgicos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">São do século XIII, quando começou a haver copistas e iluminadores
trabalhando fora dos mosteiros, os livros necessários para os ofícios
religiosos que se encontraram em Lorvão. São também do século XIII, e talvez
doados ao mosteiro pela Rainha, ou por algum devoto, os códices ‘régios’ - assim
nomeados pela sua riqueza, - que o mosteiro possuía. São eles: um ‘Livro da
Sagrada Escritura’, com inúmeras iluminuras de cenas sagradas e profanas; um
‘Testamento Velho’, com cenas bíblicas iluminadas a cores e oiro vivíssimo, e
com muitas das suas páginas cuidadosamente protegidas por pedaços de seda.
Ainda do século XIII são um Antifonário, e um Saltério, e dos séculos XIII ou
XIV um livro de ‘Responsos do Canto-chão’, um ‘Evangelário’, e um livro da
‘Definição da Ordem de Cister’. Este datado de 1308. Datando do século XV há um
missal, o conhecido por ‘Missal antigo de Lorvão’, mais um livro de ‘Responsos
de Canto-chão’. Este último, datado da era de 1451, ano de 1412, portanto. Foi
mandado executar por uma monja, e por ela oferecido ao mosteiro. Como se lê a
fl. 5v do livro. ‘A muito honrada e virtuosa empobrecida em virtudes Inês
Lourença Machada mandou fazer este livro aa (sic) honra de Deus e de seus
santos, para serviço do mosteiro de Santa Maria de Lorvão. Feito na era do
nascimento de mil quatrocentos e cinquenta e um anos’. ‘E por este livro deu
dois nicos (sic) e meio de prata’. No século XVI houve de novo uma dádiva do
mesmo género. Trata-se dos ‘Capítulos e Colecta que não tem o Breviário’,
escritos ‘no ano do N.de J.C. de 1503 por frei Tomé, capelão do mosteiro de
Lorvão’. A doadora é lembrada: ‘a muito virtuosa Margarida coelho, monja deste
mosteiro mandou fazer este livro’, lê-se. Havia ainda do século XVI um ‘Processionário’
de 1504, livro de canto-chão para ser cantado em procissão segundo o rito
cisterciense, um ‘Livro dos Hinos de Lorvão’, também de canto chão. Ainda do
sec XVI são: um ‘Psaltério e Breviário’, uma ‘Regra do Glorioso Padre São
Bento’, e um ‘Ritual Monástico’, este datado de 1547. Contem o cerimonial e
ofício da recepção das noviças. Todas estas obras são ricas em iniciais
fantásticas, em bordaduras de arabescos, e, no caso do ‘Ritual’ ornado de cenas
figurando gente comum, homens e mulheres, trabalhando. Lorvão entrava com este
livro nos tempos modernos. No primeiro milénio a arte cristã abandonara a
figura humana, o homem era o veículo de uma alma, vivia para se livrar dos seus
pecados e a sua alma alcançar o céu e a vida eterna. Ora, começando em Itália
nos primeiros anos do século XV, com Beunelesqui, Donatello e Massaggio dera-se
uma viragem na arquitetura, e na pintura. Descobrem-se de novo as artes da
Grécia e da Roma antiga, grega, reconhecia-se que o homem era uma figura única,
e que merecia ser reconhecida como tal. O artista pode finalmente pintar outra
coisa que figuras de santos e santas, delicia-se em mostrar homens e mulheres
em todos os momentos da vida. Os próprios livros de culto, e, em particular, os
livros de Horas enchem-se de figuras seculares, de homens e mulheres nos seus
lazeres e nas suas ocupações. Prefeito exemplo disso é o citado ‘Ritual de
Lorvão’. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">As monjas de Lorvão não se distinguiram por grandes obras
literárias da sua mão, mas forram suficientemente cultas para saber apreciar os
grandes livros que tinham à sua guarda, de cuidar da sua conservação - a
humidade que permeava o mosteiro devia exigir contínua atenção - e de contribuíre-las
mesmas para o seu enriquecimento do seu mosteiro com dádivas pessoais. <o:p></o:p></span></div>
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-80901892064819791152016-05-25T11:49:00.002+01:002016-05-25T11:52:33.808+01:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº XVII O CASO DE D. FILIPA D'EÇA - PARTE 4 - O CASO DE D. FILIPA EM ROMA<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 115%; margin-left: 70.75pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">Parece coisa tão ínfima para um rei, e no entanto assim foi. D. João
III teve em Roma quatro homens de grande nível ocupados em demonstrar que num
solitário mosteiro em Portugal uma mulher que fora eleita sua abadessa, não o
devia ser. Mas as diligências pouco adiantavam. Baltasar de Faria, que desde
1543 era ‘enviado’ de Portugal em Roma, o homem quem obtivera do Papa Paulo III
a Bula que estabelecera em Portugal o Santo Ofício da Inquisição, fora agora encarregado
do caso de D.Filipa. Estava encontrando inesperadas dificuldades. A 25 de Março
de 1546, oito anos depois do fatídico dia da eleição de dona Filipa, e depois
ca recente confirmação dessa eleição pelo Papa, o Rei recebe carta de Faria
narrando detalhadamente aquilo que e passava naquilo que designa por ‘caso de
Lorvão’. </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> </span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><br /></span>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-OTUolr85jIU/V0WCC3ZGCXI/AAAAAAAAAZs/KP9F4SvaJMwlS31Eb2UsA8SvFR4N_UHgACLcB/s1600/D%2Bjoao%2Bii.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-OTUolr85jIU/V0WCC3ZGCXI/AAAAAAAAAZs/KP9F4SvaJMwlS31Eb2UsA8SvFR4N_UHgACLcB/s1600/D%2Bjoao%2Bii.png" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">D. João III</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 115%; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">O Papa consentira que o caso fosse reexaminado, escreve
Faria. Dera ordens ao seu Núncio em Lisboa para que se informasse pessoalmente
do caso. Que ouvisse testemunhas, e que o referisse para Roma para que se
resolvesse finalmente o Negócio. Havia três anos, que ele andava naquilo,
escreve Faria, todos os dias insistindo com o Papa, até que este concedera
agora este re-exame. Muito contrariado, porém, ‘com grandíssima dificuldade’.
El-rei conhecia a natureza do Papa, já sabia que ele era ‘humbrioso’(sic). </span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;"><br /></span>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-xfeuC8cYW7Y/V0WCjVWS68I/AAAAAAAAAZw/EAp8zag3Kd8a2s7vs9rn99t4mUVd1C2IwCLcB/s1600/papa.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-xfeuC8cYW7Y/V0WCjVWS68I/AAAAAAAAAZw/EAp8zag3Kd8a2s7vs9rn99t4mUVd1C2IwCLcB/s320/papa.png" width="275" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9.0pt;">Papa Paolo III E os sobrinhos <br />Ottavao e Alessssandro Farnese<b> </b></span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">(</span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9.0pt;">Tiziano)</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%; text-indent: 0cm;">O Papa era influenciado pelos que trabalhavam a favor de
dona Filipa, escrevia Faria, e que lhe diziam que el-rei favorecia ‘don’Ana por
alguns respeitos’. Ele provara que isso não era verdade, e conseguira que a
nova solução se mantivesse em segredo até partir a carta para o Núncio. ‘Os de
dona Filipa’ continuavam contudo a insistir junto do Papa, ‘todos os dias dão gritos
ao Papa’. Era necessário que em Portugal se conseguissem prova convincentes
‘com a qual espero que Sua Santidade se quietará e dará fim a esta lide, que há
sido a mais renhida de quantas há na Rota’. O cardeal Santa Frol trabalhara
muito bem naquele assunto, acrescentava Faria, seria bom que o rei lho
agradecesse.</span><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6376781507009521293#_ftn1" name="_ftnref1" style="line-height: 115%; text-indent: 0cm;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">6</span></span></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">Dois
anos depois tudo estava na mesma. Eram precisos mais esforços da parte de
Lisboa, escrevia Faria a 15 de Junho de 1548. Seria bom que o el-Rei ou a
Rainha escrevessem aos cardeais Farnese e Santa Frol, dando-lhes conta que dona
Filipa não queria a concórdia na forma que Sua Santidade ordenara.<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6376781507009521293#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%; mso-ansi-font-size: 12.0pt;">7</span></span></a> Um mês depois, nova paragem no negócio. O Papa
insistia em que tinha de se fazer justiça, e justiça era, na opinião da Rota,
julgar a favor de dona Filipa.<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6376781507009521293#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%; mso-ansi-font-size: 12.0pt;">8</span></span></a> ‘Poucos
dias há que avizei Vossa Alteza como tendo Sua Santidade dado comissão para que
se procedesse na causa de Lorvão a instância da parte adversa’, escreve
Baltasar de Faria a 8 de Julho de 1548. Ele acudira logo, fazendo revocar o que
a parte adversa adiantara. Mas Sua Santidade, ‘ou movido por más informações,
ou por lhe parecer que nisso mostrava seu valor, ou por qualquer outro
respeito’, ordenara que o juiz da causa procedesse, dizendo que, ao agir assim,
obedecia aos desejos de D. João III. Ironia, que arrasava Faria: ‘De modo que
debaixo deste nome se quis justificar, e não bastou fazer-se nisso tudo aquilo
que se pode imaginar para o desviar deste propósito, porque não ficou nada por
fazer de minha parte, metendo nisso cardeais servidores de Vossa Alteza,
acreminando-lhes (sic) o caso como era necessário, e tudo o mais que me pareceu
a propósito’.
O embaixador de
Portugal, D.João de Meneses, também trabalhava no ‘negócio’, tanto junto do
Papa, como junto dos cardeais Farnese e Santa Frol, ‘mas nenhuma coisa
aproveitou, o Papa escusando-se sempre que justiça havia de haver seu lugar’. O
embaixador explicava-se sobre o decorrer da causa, e o que ele fizera para adiantar.
Já escrevera a Sua Alteza sobre o que se passava no negócio de Lorvão, agora
podia informar que, tendo o Papa regressado de <i>Frescata</i>, ele lhe pedira audiência, e se queixara da pouca atenção
que se haviam dado aos desejos e às razões de el-rei D. João III. Não era
possível que Sua Santidade não soubesse ‘o que, entre turcos e mouros, era tão
notório’, que eram o zelo e o cuidado do rei de Portugal na reformação dos
mosteiros do Reino. Fizera-o em todos os mosteiros, e o mesmo queria fazer em
Lorvão. Ora, se Sua Santidade acreditava que assim era, porque é que admitia ouvir
naquela causa a dois ‘fugidos da Inquisição?’. A isso, e ao mais que ele
dissera ao Papa, a resposta de Sua Santidade fora, ‘que não podia deixar de
mandar à Rota que fizesse o que fosse justiça’. Ao que ele retorquira, que era
isso mesmo que o seu Rei queria. Se ele não o quisesse por justiça, não estaria
há tantos anos tratando daquela causa em Roma. Ele lembrara também ao Papa os
escândalos que se poderiam seguir, se dona Filipa fosse abadessa Ao que o Papa
respondera, que a Rota vira todos os pontos de uma parte e da outra, e julgara
o caso da forma que lhe parecia ser justiça. O mais que podia fazer, era fechar
os olhos, se D. João ‘como senhor e Rei da terra, que vê claramente os
escândalos e inconvenientes dessa mulher ser abadessa’ não o consentisse, e
fizesse o que lhe parecesse mais ‘serviço de Deus’. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">O embaixador contestara, replicando ‘mil coisas’, até que Sua
Santidade, ‘desejando achar uma tábua a que se acolhesse’, lhe dissera que,
possivelmente, não estava bem informado, mas que o que lhe parecia era que
aquilo não devia tocar muito ao rei, a não ser por querer favorecer a dona Ana
Coutinho. ‘Isto, indigna-se o embaixador, quando Baltazar de Faria gastara os
bofes com gritos e lamentos, e dito e feito naquele caso tudo quanto podia. Era
de perder a cabeça. E não havia ‘causa mais publica na Rota nem nela coisa mais
referida’.<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6376781507009521293#_ftn4" name="_ftnref4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%; mso-ansi-font-size: 12.0pt;">9</span></span></a> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">Finalmente Baltazar de Faria julga ver luz no horizonte. A 4 de
Setembro de 1549 o enviado informa D. João III, que o caso de Lorvão se
resolvera. Só até certo ponto, era verdade. ‘Depois de muito trabalho, e
fadiga, que seria para nunca acabar haver-se de dar contas’, o negócio de
Lorvão resolvera-se da seguinte maneira: Decidira-se, que o caso era afinal um
caso de direito à posse dos bens do mosteiro, e, como a esses, dona Filipa de
facto não tinha direito, dona Ana podia ficar no mosteiro. Era um compromisso,
e muito duvidoso. ‘Ainda não havia a certeza da solução ser aceite por parte de
dona Filipa’. E ela já agira. ‘Da parte de dona Filipa, como disto tiveram
notícia, vendo desbaratado seu desenho, fizeram grandes clamores a Sua
Santidade e todavia o vão informando com advogados consistoriais, ajudando-se
de todo o favôr que podem’. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">O caso de facto ainda se arrastaria, e não foi nunca resolvido
declaradamente a favor de D. João III. Não pode haver duvida que D.Filipa teve
poderosos apoios em Roma, mas quem foram? Não encontrei resposta. Baltasar
Faria fala em ‘os de dona Filipa,’ o
embaixador do rei dizia que ela tinha o apoio de ‘fugidos da Inquisição.’ O que
é possível, considerando que era preciso dinheiro para ganhar apoios influentes
em Roma, e a própria D. Filipa não o tinha de certeza. E não podia ter os
conhecimentos necessários para a partir do mosteiro de Celas contactar gente
influente em Roma. Consta que ela teve um conselheiro activo no abade Pedro de
São Paulo de Almavisa, pequeno mosteiro de monges cistercienses perto de
Coimbra. E talvez esteja nessa ajuda do abade de Almaviza a D. Filipa a
explicação para que D. João III tivesse pedido a Júlio III, sucessor de Paulo
III, que </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">os bens
de S. Paulo de Almaziva fossem transferidos para o instituição de ensino em Coimbra.</span><span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">O novo
Papa acedeu e no ano de 1555, o mosteiro de onde o abade Pedro aconselhara D. Filipa
d’Eça, era anexado ao Colégio do Espírito Santo em Coimbra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;"> Quanto ao fundo da questão
do rei contra D. Filipa d’Eça, tem decerto explicação na falsa ideia que D. João
III fazia da vida monástica. Em uma das suas cartas dirigidas ao Papa o
embaixador de Portugal escreve, que não era possível, que Sua Santidade não
soubesse, ‘o que, entre turcos e mouros, era tão notório’, que eram ‘o zelo e o
cuidado’ do rei de Portugal na reformação dos mosteiros do Reino. Fizera-o em
todos os mosteiros, e o mesmo queria fazer em Lorvão. Ora, se Sua Santidade
acreditava que assim era, porque é que admitia ouvir naquela causa a dois
‘fugidos da Inquisição?’.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">É
que Paulo III, educado no Humanismo, era menos inquisidor que D. João III. Ele
teria compreendido que o rei favorecesse Dona Ana Coutinho por consideração
pessoal - mesmo amorosa - mas não via razão para afastar D. Filipa pelo facto
de ela, como as suas duas antecessoras, não favorecerem excessivos rigores no
seu mosteiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">Dona
Filipa não veio a ocupar o lugar de abadessa em Lorvão, mas as coisas
apaziguaram com o abadessado de dona Catarina de Albuquerque, que governaria
até à sua morte. Foi a última abadessa perpétua em Lorvão. No ‘Livro das
Preladas’ lê-se que, no ano de 1605, tendo morrido a abadessa dona Catharina de
Albuquerque, e o Dom abade de Alcobaça, ‘estando presente no dito mosteiro à
grade da igreja dele, para efeito de eleger nova prelada’, ele perguntara à
madre prioresa e convento, se ‘eram contentes’ de elegerem prelada trienal, ou
se queriam que esta fosse perpétua como até então tinha sido. Prioresa e
convento tinham respondido, ‘de voto comum e sem discrepância alguma’, que
queriam que as preladas, que dali em diante se elegessem, fossem trienais, e
que dessa forma se começasse logo naquela eleição. E declararam mais, que
renunciavam a ‘qualquer direito e accão, se algumas tinham, na eleição das
abadessas perpétuas, por entenderem em suas consciências ser assim mais serviço
de Deus e proveito espiritual e temporal do mosteiro.’ E assim sucedeu. Uma
nova era começou no mosteiro de Santa Maria de Lorvão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Nota: Na próxima semana não haverá publicação, retomaremos daqui 15 dias</div>
<div>
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1">
<div style="border: solid windowtext 1.0pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-element: para-border-div; padding: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt;">
<div class="MsoFootnoteText" style="border-bottom: .5pt solid windowtext; border: none; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-between: .5pt solid windowtext; mso-border-bottom-alt: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt; mso-padding-between: 1.0pt; mso-padding-bottom-alt: 1.0pt; padding-bottom: 1.0pt; padding: 0cm;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6376781507009521293#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">6</span></span></a> <span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9.0pt;">T.T. </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9.0pt;">G</span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 9pt;">25 de Março de 1546, oito
anos depois do fatídico dia da eleição de dona Filipa, o Rei recebe carta de </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9.0pt;">avetas da Torre
do Tombo II, 5.45<o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
<div id="ftn2">
<div style="border: solid windowtext 1.0pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-element: para-border-div; padding: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt;">
<div class="MsoBodyText" style="border-bottom: .5pt solid windowtext; border: none; line-height: 18.0pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-between: .5pt solid windowtext; mso-border-bottom-alt: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt; mso-padding-between: 1.0pt; mso-padding-bottom-alt: 1.0pt; padding-bottom: 1.0pt; padding: 0cm;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6376781507009521293#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "new york" , "serif"; font-size: 9.0pt;">7</span></span></a><span style="font-size: 9.0pt;"> T.T. </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9.0pt;">Gavetas da Torre do Tombo II,5-60)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="border-bottom: .5pt solid windowtext; border: none; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-between: .5pt solid windowtext; mso-border-bottom-alt: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt; mso-padding-between: 1.0pt; mso-padding-bottom-alt: 1.0pt; mso-padding-top-alt: 1.0pt; padding-bottom: 1.0pt; padding-top: 1.0pt; padding: 0cm;">
<br /></div>
</div>
</div>
<div id="ftn3">
<div style="border: solid windowtext 1.0pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-element: para-border-div; padding: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt;">
<div class="MsoFootnoteText" style="border-bottom: .5pt solid windowtext; border: none; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-between: .5pt solid windowtext; mso-border-bottom-alt: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt; mso-padding-between: 1.0pt; mso-padding-bottom-alt: 1.0pt; padding-bottom: 1.0pt; padding: 0cm;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6376781507009521293#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">8</span></span></a> <span style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">T.T.</span> <span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9.0pt;">Gavetas da Torre do Tombo II,5-30</span></div>
</div>
</div>
<div id="ftn4">
<div style="border: solid windowtext 1.0pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-element: para-border-div; padding: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt;">
<div class="MsoFootnoteText" style="border: none; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-between: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt; mso-padding-between: 1.0pt; padding: 0cm;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6376781507009521293#_ftnref4" name="_ftn4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9.0pt;">9</span></span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9.0pt;">
T.T. Gavetas da Torre do Tombo II,5-50<o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
</div>
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-37028080771947014982016-05-18T11:40:00.000+01:002016-05-18T11:40:21.272+01:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº XVII O CASO DE D. FILIPA D'EÇA - PARTE 3 - REVOLTAS<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">Aquela empresa podia ser dada por concluída, mas no mosteiro
reinava um clima de revolta. A abadessa imposta pelo rei não conseguira
conquistar a obediência das monjas, acabando por se retirar de novo para
Arouca. -lhe uma sua sobrinha, dona Ana Coutinho, também monja de Arouca.<b> <o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Era de novo uma escolha de D. João III ou do Cardeal-Infante, que,
ambos eram regularmente informados do que se passava em Lorvão Em Dezembro de
1542 há de novo revolta contra a abadessa. Uma das mais insubordinadas era uma
monja chamada Leonor Telles. A abadessa queria despachá-la para outro mosteiro,
D. Leonor resistia, declarava que não saía de Lorvão.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><br /></span>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-xzZnWzpF37A/VzxF7QU2lTI/AAAAAAAAAZU/iTfoiU8qlXcyhQ00BEVe99rk6_cP8ualwCLcB/s1600/mosteiro%2Bde%2Barouca.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="230" src="https://3.bp.blogspot.com/-xzZnWzpF37A/VzxF7QU2lTI/AAAAAAAAAZU/iTfoiU8qlXcyhQ00BEVe99rk6_cP8ualwCLcB/s320/mosteiro%2Bde%2Barouca.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Mosteiro de Arouca</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Avisado, o rei tomou o caso a sério. Escreveu para Coimbra ao Juiz
de fora Bartolomeu Fernandes. Que este, caso a dita dona Leonor se negasse a
sair do dito mosteiro a bem, e a abadessa o requeresse, fosse a Lorvão e
tratasse pessoalmente da ‘modança da dita dona Leanor’. O juiz devia agir com
muita diligência e com toda temperança, de maneira que a coisa se fizesse ‘com
menos escândalo e alvoroço’ possível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">O juiz obedeceu, foi a
Lorvão, é recebido por dona Ana Coutinho, e combina com esta a forma e o dia da
transferência da insubmissa dona Leonor. A coisa resolveu-se aparentemente a
bem, quando juiz, no dia combinado, se apresentou no mosteiro para tratar da transferência,
foi-lhe dito que dona Leonor, perante a ameaça de ser levada dali à força, se
não saísse às boas, se decidira a partir, e já se fora. Juiz e Abadessa
congratulavam-se com o feliz desfecho do incidente, quando, estando o juiz ainda
falando com dona Ana no parlatório, apareceu uma religiosa, dizendo ao Juiz,
que as freiras ‘das partes de dona Filipa d’Eça’ lhe queriam falar. E logo ali
viera ‘uma soma de mulheres freiras’, escreve o tabelião que acompanhara o
Juiz. Eram umas vinte ou trinta, segundo ele, as quais, todas juntas, ‘se
vieram onde a dita dona Ana Coutinho abadessa estava, e todas juntamente
alevantaram grande grita (sic), e fizeram grande alvoroço, todas contra a dita
abadessa. Gritavam, batiam as palmas, e diziam que lhe levantavam a obediência,
e não haviam de ir ao coro, nem obedecer a seus mandados. O juiz dizia-lhes que
se calassem, falando muito alto, porque estavam na casa da grade, e separados
por duas grades. Uma de ferro, outra de pau’, especifica o notário. O Juiz
dizia às religiosas, da parte de el-rei, que se calassem, e que não fizessem
mal á abadessa, sua prelada. Dona Leonor Telles já saíra dali por mandado de
Sua Alteza.’ ‘Elas não se calavam.
Continuavam a falar ‘muitas indignidades, e rijo, contra a abadessa’. A ele,
tabelião, e aos outros oficiais que ali presentes, queria parecer, que as monjas
se teriam ‘enviado’ a abadessa e a teriam maltratado, se não fosse o juiz as
ameaçar com ‘grandes vozes’ que procederia contra elas, caso não se calassem e
se recolhessem. O que finalmente tinham feito. Recolhendo-se ‘indignadas e com
muita fúria’.<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6376781507009521293#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%; mso-ansi-font-size: 12.0pt;">3</span></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Fora
do mosteiro, as coisas não tinham estado paradas. Tanto dona Filipa d’Eça - a
‘Eleita’ - como dona Ana Coutinho - a ‘Intrusa’ - tinham apresentado os seus
casos em Roma. E quem diz Dona Ana Coutinho, diz D. João
III. Não é fácil entender, quem dos dois contendores, D. João III ou D. Filipa,
agiu primeiro. Se o rei levara a causa a Roma para justificar a sua acção,
expulsando do mosteiro uma abadessa canonicamente eleita, ou se agira em Roma
por saber que D. Filipa levara lá o seu caso, e estava a ser muito bem até As
forças não eram iguais. O rei tinha em Roma o seu embaixador, e aquilo que
então se chamava um ‘enviado’, o homem conhecedor das minúcias da corte papal,
e activo nos negócios diplomáticos. Dois conceituados cardeais, Farnese e Santa
Frol, trabalhavam por Portugal, ou melhor, eram gratificados para trabalhar por
Portugal. De parte de dona Filipa, refugiada no mosteiro de Celas em Coimbra,
pouco era se esperar. Não se apresentavam, e menos, se defendiam causas em Roma
sem meios financeiros, e sem apoios superiores. Ora, mesmo eu dispusesse deles,
D. Filipa não podia agir sem ser aconselhada por quem estivesse dentro dos tramites
daquelas questões. Consta que D. Filipa teve esse conselheiro na pessoa do
abade do pequeno mosteiro de frades cistercienses em São Paulo de Salavisa,
pero de Coimbra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">Fosse como fosse, o facto é que, em Dezembro de 1543, cinco anos
após ser eleita abadessa de Lorvão e de lá ter sido expulsa a eleição de D. Filipa
d’Eça era superiormente reconhecida, e confirmada por sentença papal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 115%;">D. João é notificado, e escreve de imediato a D. Filipa. A missiva
do Rei é datada de Almeirim, ‘primeiro dia do mês de Dezembro de 1543, e diz:<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6376781507009521293#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%; mso-ansi-font-size: 12.0pt;">4</span></span></a>. <o:p></o:p></span></div>
<h4 style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-weight: normal; line-height: 115%;">‘Eu são informado que vós tendes havido da Rota executarias
com vossas três sentenças sobre a posse e finitos da abadia de Lorvão, pelo que
vos encomendamos muito que, vindo-vos as ditas executórias, não useis delas sem
me primeiro as enviardes mostrar para eu as ver e prover nisso como for
justiça.’ E não queria que ela continuasse a viver em Celas, comunicando com
Lorvão ‘dando vexação’ às monjas do mosteiro. Esperava que ela tivesse esse seu
desejo em conta, e se afastasse dali para mais de 15 léguas. Ele receberia disso
prazer e serviço e o agradeceria muito.
Dona Filipa respondeu, que recebera entretanto
as sentenças dadas na Rota papal a seu favor. Era de crer, escrevia ela, que em
Roma não julgariam a seu favor, sendo ela tão desfavorecido no reino como era,
se a razão não estivesse de seu lado, ‘se me não sobejava na justiça pano para
mangas’. Agora, que recebera as sentenças, podia falar sem receio, declarava,
que não tencionava ceder no que era seu direito reconhecido pelas sentenças
papais. Assinava: “De Vossa Alteza, abadessa de Lorvão dona filipa D’Eça ”A notícia da sentença favorável a dona Filipa
soubera-se naturalmente em Lorvão, e as suas adeptas rejubilaram. Esperavam ver
a sentença cumprida, e a abadessa por elas eleita, de novo no seu cargo. Como
nada sucedesse, escreveram ao rei. A carta é de 3 de Fevereiro de 1544.
Estranhavam, dizem aquelas religiosas, que, tendo elas escrito tantas vezes e
com tanta verdade, a Sua Alteza, nunca tivessem tido resposta, e que Sua Alteza
as deixasse à mercê das maldades de dona Ana. As anciãs, e a maior parte do
convento e religiosas do convento, que tinham elegido a Filipa d’Eça por
abadessa do seu mosteiro, informavam Sua Alteza, que viera um breve do Santo
Padre, ordenando o secreto das rendas do dito mosteiro, para que dona Ana
Coutinho não lhes pudesse tocar. E que o Juiz encarregado do dito sequestro,
lhes dissera dele o necessário. Isso não sucedera. Não era a primeira vez que
escreviam a Sua Alteza, contando como eram vexadas e desonradas. Agora pediam
que el-rei, por pessoa insuspeita, mandasse tirar inquirição daquilo que dona
Ana Coutinho lhes fazia. ‘Não era mulher para pessoa sofrer’. Se elas se
queixavam, era porque as coisas eram mais do que se podia dizer. Elas eram
mulheres fracas e enfermas, e não sabiam por quanto tempo poderiam resistir aos
males e injustiças de que eram alvo. Havia doze ou treze monjas no cárcere ‘Deus
haja misericórdia de nossas almas’.</span></h4>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-GPRyOH9fZ-c/VzxGXBLaXTI/AAAAAAAAAZY/R5iguVTU5nMzQDZKOLDWnm9555nxFNWLgCLcB/s1600/carce.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-GPRyOH9fZ-c/VzxGXBLaXTI/AAAAAAAAAZY/R5iguVTU5nMzQDZKOLDWnm9555nxFNWLgCLcB/s1600/carce.png" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: 'New York', serif; font-size: 9pt;">Cárcere Monástico</span></td></tr>
</tbody></table>
<h4 style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-weight: normal; line-height: 115%;">Pediam de novo a Sua Alteza, que
interviesse, para que não houvesse naquela casa ‘tantas exorbitâncias (sic),
pois é Rei Cristianíssimo de que esperamos Justiça’. Esperavam que Sua Alteza não
fizesse com aquela carta o que fizera com as outras, que elas lhe tinham
escrito. Que lhes desse ouvidos, e não acreditasse falsas informações delas.
"Oiça-nos, pois lhe pedimos justiça e mercê e por verdade nos assinamos aqui
todas”. Seguem-se
as assinaturas de quarenta e quatro religiosas.
D. João continuou a ignorar pedidos, ou não
recebeu as cartas que lhe eram dirigidas. As cartas escritas do mosteiro eram decerto
na sua maioria apreendidas. Pois apesar da vigilância que decerto existia, uma
carta dirigida pela mesma ocasião a dona Filipa lhe chegou às suas mãos, e foi
por ela enviada a D. João. A carta, dirigida ‘À muito ilustre e magnífica
Senhora, a senhora Dona Filipa d’Eça, abadessa de Lorvão minha senhora’ , é
assinada por dona Violante de Castro.
Dona Violante agradece a carta de dona Filipa, que lhe chegara às mãos. Fora
consolação ver letra de Sua Senhoria em tempo em que tinham tanta necessidade
dela, quando andavam todas ‘tão atribuladas e cheias de paixão’ com as coisas
que dona Ana Coutinho lhes fazia. Não se poderia sofrer aquilo por muito tempo,
‘porque de duas há-de ser uma: ou morrermos todas juntas, ou fazermos mil
desatinos como este que agora fez dona Ursula de Sotto Maior, filha de dom Nuno
e dona Isabel sua mulher, que se vira tão desesperada com má vida e muita
perseguição suas, e vitupérios e desprezos que lhe fez.’ Muitas vezes lhe ouviram
dizer, que, ou se havia de matar, ou fugir. Na última Quinta-feira de
Fevereiro, deram por falta dela. Não lhes parecia que pudesse ter fugido, por
ela ser muito nova, e não conhecer ali ninguém. Além de que era muito virtuosa.
Viriam a saber, que a desesperação dela fora tão grande, que lhe fez parecer
que poderia fugir, e ir ter a casa de sua mãe. Procurara fugir por um telhado,
mas, estando nele, enfraquecera de tal maneira, que descera de novo, e se fora esconder
no sótão da casa de lavor. E ali ficara quatro dias e quatro noites, sem comer
e sem beber, ‘com desejo e determinação de se deixar morrer assim desesperada
antes que se tornar ao poder desta mulher’. Ao quinto dia do seu
desaparecimento foi sentida de uma religiosa, que a fez sair do buraco onde
estava. Parecendo já mais coisa do outro mundo do que daquele, escreve dona
Violante. “Nós, quando a vimos, não se podemos dizer o prazer que tivemos e as
muitas lágrimas que com ela chorámos’
A Intrusa - dona Ana Coutinho - não a quisera
ver, e no dia seguinte ‘se foi a Cabido e a mandou levar lá, e, depois de a
vituperar e desonrar, e assim a todo o convento,’ mandara-lhe tirar o hábito e
véu preto, e fizera- lhe vestir uma mantilha de burel, que a cobria até aos
pés, e pô-la no grau mais abaixo de todos. E ordenara que às Sextas- feiras
jejuasse pão e água, e que sempre comesse em terra, e ‘fosse em cruz toda
(sic). E, de cada vez que acabassem as horas, se deitasse à porta da igreja
estirada’. Todas se tinham indignado, e todo o convento se levantara, e se
pusera de joelhos, pedindo-lhe ‘que se houvesse com ela piedosamente, e não lhe
quisesse dar azo outra vez a tentar.
Pediram-lho todas, e com tantas lágrimas, ‘que não houvera coração, por
duro que fora, que se não demovera’ Pois a Intrusa, não cedera, ficara antes
mais furiosa. Até Violante d’Azevedo, que era tão partidária dela como todas
sabiam, ela empurrara com tanta força, que quase a ditara ao chão. Quando ela
fazia isto a uma mulher tão velha, e que sempre fora coxa, ‘julgue Vossa
Senhoria o que fará a outras’. Por fim,
a abadessa castigara a todas tirando-lhes um dos pães até à Páscoa. Mas o que
elas mais sentiam, escrevia a autora da carta, era que ninguém acreditaria no
mal delas, porque elas mesmas, que o padeciam, não o conseguiam dizer, porque
as coisas eram tantas e tão grandes, ‘que por umas (se) esquecem as outras, e
fica em nossa memória o que elas causam. Que são muitas enfermidades
desvairadas e tanta magreza, que todas parecemos tísicas’. Se Deus não se
lembrasse delas, e lhes trouxesse dona Filipa de volta, e as livrasse de dona
Ana, ela tinha a certeza que muitas delas morreriam. ‘Se nos Vossa Senhoria de
alguma maneira poder acorrer, faça-o, por amor de Nosso Senhor ao menos. Pois,
já (que) os corpos estão destruídos, não percamos as almas, que é impossível
poderem-se salvar em tal poder. As queixas soam a verdade, e nem todas as cartas que foram
dirigidas ao Rei foram confiscadas. Ele não podia ignorar por completo o que se
passava. Seria difícil perceber com, sabendo-o, não lhes deu remédio, se não
houvesse claros indícios - já apontados -, de que D. João tinha uma concepção inquisitorial
da religião, e estava perfeitamente de acordo com os rigores impostos às monjas
pela abadessa por ele nomeada. <o:p></o:p></span></h4>
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div>
<!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1">
<div style="border: solid windowtext 1.0pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-element: para-border-div; padding: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt;">
<div class="MsoFootnoteText" style="border-bottom: .5pt solid windowtext; border: none; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-between: .5pt solid windowtext; mso-border-bottom-alt: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt; mso-padding-between: 1.0pt; mso-padding-bottom-alt: 1.0pt; padding-bottom: 1.0pt; padding: 0cm;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6376781507009521293#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">3</span></span></a> <span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9.0pt;">T.T. Corpo Cronológico Mº 73 Nº27<o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
<div id="ftn2">
<div style="border: solid windowtext 1.0pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-element: para-border-div; padding: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt;">
<div class="MsoFootnoteText" style="border-bottom: .5pt solid windowtext; border: none; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-between: .5pt solid windowtext; mso-border-bottom-alt: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt; mso-padding-between: 1.0pt; mso-padding-bottom-alt: 1.0pt; padding-bottom: 1.0pt; padding: 0cm;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6376781507009521293#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">4</span></span></a> <span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">T.T.
Corpo Cronológico Maço 74 nr. 28</span><span style="font-family: "times new roman" , "serif";"><o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
<div id="ftn3">
<div style="border: solid windowtext 1.0pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-element: para-border-div; padding: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt;">
<div class="MsoFootnoteText" style="border: none; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-between: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt; mso-padding-between: 1.0pt; padding: 0cm;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6376781507009521293#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">5</span></span></a> <span style="font-family: "times new roman" , "serif";">T.T: Gavetas. Maço XV-1-31</span></div>
</div>
</div>
</div>
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-16013957985903265402016-05-12T11:11:00.000+01:002016-05-12T11:11:04.773+01:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº XVII O CASO DE D. FILIPA D'EÇA - PARTE 2 - A EXPLUSÃO<b>C</b>olocado perante a eleição de D. Filipa, que dois bacharéis não tinham sabido impedir, o rei nomeia novo magistrado para tratar do caso. Magistrados de Coimbra tinham demasiadas ligações com o grande mosteiro. Era mais que certo, que lhes faltava ânimo e entusiasmo para expulsar uma dona Filipa d’Eça, que fora eleita abadessa. D. João encarregou desta vez a missão ao doutor Gaspar Vaz, um juiz que tinha a grande qualidade de não ser de Coimbra. Saberia correr com dona Filipa e colocar outra abadessa em seu lugar. Estava já escolhida. Tratava-se de dona Melícia de Melo, monja de Arouca. Dona Mélicia encontrava-se há tempos instalada em Botão, na quinta que o mosteiro ali tinha, esperando pelo momento em que houvesse finalmente um juiz capaz de a instalar à cabeça do mosteiro. O rei declarava estar apoiado nessa medida pelo Cardeal Infante, que era este quem indicara dona Melícia de Melo - abadessa de Arouca. - para o abadessado de Lorvão. O Cardeal dera as suas ordens ‘pelas quais deveis vós – o Dr. Gaspar Vaz - tomar posse do dito mosteiro de Lorvão.’ A prioresa e as monjas do mosteiro deviam obedecer às ordens do Cardeal Infante, e receber como sua, a abadessa por ele, Cardeal, indicara. Sua Eminência ordenava mais, que dona Filipa, que estava no dito mosteiro de Lorvão, e dizia ter sido eleita nele, saísse de lá. Devia largar a posse. que dizia ter dele, e entregá-la ‘livre e expeditamente’. O Cardeal, juntamente com Dom Augusto, bispo d’Angra, fizera já processo à dita dona Filipa. O doutor Gaspar Vaz tinha plena autoridade para executar aquela missão: ‘vos designo e certifico como tendo a vara (sic) de magistrado’. Logo que o doutor Gaspar Vaz recebesse aquela carta, iria a Lorvão, levando consigo as forças que lhe parecessem necessárias para se fazer obedecer. Uma vez chegado ao mosteiro, diria à dita dona Filipa, que saísse de lá, e obedecesse em tudo às ordens do senhor Cardeal e dos seus delegados, ‘notificando- lhe a ela, da minha parte, que a isso tenho por serviço de Deus e meu. E que cumpra em tudo a dita ordem que vos confio’. Caso dona Filipa não obedecesse, o juiz podia usar de força. ‘Podeis tirá-la fora do dito mosteiro e sítio de Lorvão pela força e contra sua vontade’, escrevia ainda o rei. Notificaria disso a prioresa e as religiosas, ordenando-lhes, que obedecessem às ordens do Cardeal. E dizendo-lhes da parte dele, Rei, que lhe abrissem as portas do dito mosteiro, visto ele ter mandato para ‘expulsar a dita Dona Filipa e pôr na posse a dita Dona Milícia de Melo’. Prevendo o caso de dona Filipa não obedecer, e das monjas estarem de seu lado, D. João dava claras instruções sobre como proceder. O juiz, com os homens que para isso levava, abriria as portas do mosteiro com os fortes, ‘se bem que honestos, modos, que pudesse, e extrairia dele à dita Dona Filipa’.
Se a prioresa e as monjas quisessem vir onde o juiz estivesse para saber o que se passava, o doutor juiz podia permiti-lo. Em seguida diria à porteira para lhe abrir as portas, e, se ela não o fizesse, mandaria abri-las pela força. E entraria no dito mosteiro: ‘com a advertência que, quando entrardes, não fáceis desonestidade, nem nada que não seja devido’. Mandaria pôr portas novas em todo o mosteiro, ficando com as chaves de tudo, advertindo as oficiais, que não tirassem nada do que havia na casa. Uma vez isto feito, o juiz enviaria ao lugar do Botão buscar a dona Melícia, e a instalaria na posse do mosteiro, entregando-lhe as chaves deste. Ordenaria às habitantes dele, aos seus rendeiros, enfiteutes e colonos ‘e todas as outras pessoas a quem interesse’, que obedecessem e reconhecessem a abadessa dona Melícia, e lhe entregassem as rendas do dito mosteiro
Obedecendo a estas instruções, o doutor Gaspar Vaz, que, na altura de receber a carta do rei, se encontrava em Coimbra, partiu para Lorvão. Chegou no ‘oitavo dia do mês de Abril, véspera da Páscoa da ressurreição’ do ano de 1538’.
O notário que anotou os acontecimentos, enumera um por um os doutores e executores que se deslocaram a Lorvão.
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-QU_Zq_RejGA/VzRVa346DRI/AAAAAAAAAY8/snQ6oFWt7_4sAdD2nsODOUBCncrSUlaeQCLcB/s1600/magistrados.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-QU_Zq_RejGA/VzRVa346DRI/AAAAAAAAAY8/snQ6oFWt7_4sAdD2nsODOUBCncrSUlaeQCLcB/s320/magistrados.png" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Magistrados e Mensageiro</td></tr>
</tbody></table>
Além de Gaspar Vaz nomeia a Bartolomeu Fernandes, esse, sim, juiz da cidade de Coimbra, acompanhado de seus Prectoribus, sive barresteris, com escrivãos das chancelarias. Presentes ainda: Pedro Tagarra, executor e bacharel do dito juiz; Jorge Dias, Pedro Dias, Gonçalo de Lamego, Jorge Vaz e Henrique Brandeiro, todos tabeliães e habitantes da cidade de Coimbra; Benedito Fernandes e Sebastião Vaz, mensageiros; Hilário e João Fernandes, e outros homens e soldados dos bacharéis. Cristovão Fernandes e Deus dado Peres, ferreiros. E muita outra gente, a pé, a cavalo, e esta armada de flechas e escopos e pês ‘ou o quer que seja’. <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-mNFeW26tz3U/VzRWT723K5I/AAAAAAAAAZE/rgzF9ji0VtQJAirXFMwHTcJlDbiNgjdrACLcB/s1600/soldados.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="108" src="https://3.bp.blogspot.com/-mNFeW26tz3U/VzRWT723K5I/AAAAAAAAAZE/rgzF9ji0VtQJAirXFMwHTcJlDbiNgjdrACLcB/s400/soldados.png" width="400" /></a></div>
E ainda António de Sá, executor, João Cerveira, notário, João Fernandes, escrivão de notário, e Afonso Fernandes, seu mensageiro: ‘E com esses magistrados vinham os ditos ferreiros, com serras e escopos e outras ferramentas para com eles abrirem e demolirem as portas do dito mosteiro, como com efeito fizeram, semeando pavor e criando terror’, comenta o autor do relato.
Aproximando-se das portas, os homens procuraram abri-las com traves de ferro. Então apareceram à porta do mosteiro o doutor Francisco Mendes, e o procurador do mosteiro, os quais, declararam, que vinham da parte de dona Filipa d’Eça e do seu convento saber ao que vinham. O doutor Gaspar Vaz disse das ordens que trazia, e que pretendia entregá-las. Então, anota o notário, ‘perante mim, notário público e testemunhas abaixo indicadas, compareceram em pessoa dona Filipa d’Eça, abadessa eleita do dito mosteiro, e a mim me disse, que era verdade que, como o dito mosteiro vacasse por morte de Margarida d’Eça, última abadessa, as religiosas do mosteiro fizeram a sua eleição, na qual fora ela própria eleita por abadessa pelas anciãs e pela maior parte daquele mosteiro no dia 11 de Fevereiro ano de 1538’. Desde esse tempo estivera sempre em pacífica posse, estando à frente do dito mosteiro com a obediência das supraditas religiosas. Quanto à carta que el-rei lhes enviava, Dona Filipa e as religiosas declararam que não iriam ao locutório recebê-la. Os notários anotaram-no devidamente: ‘e disso fizeram acta o doutor Francisco Mendes e o licenciado João Vaz’. No entanto, passado algum tempo, aquelas senhoras reconsideraram. Dona Filipa e algumas monjas vieram às janelas, e disseram que se tinham aconselhado com seus procuradores, e ouvido o magistrado enviado por el-rei, e que, tendo-as o dito magistrado feito ir ali sob pena de exílio, elas, ‘setenta e cinco mulheres mais ou menos’, aceitavam ouvir a carta de el-rei, e responder-lhe.
O doutor Gaspar Vaz veio então com ‘seus oficiais de justiça e a supradita gente’, e dissera, que vinha da parte de el-Rei, o qual mandava que a dita dona Filipa saísse espontaneamente do mosteiro para outro local, E que ele a expulsasse caso ela não obedecesse. Exibira a carta, e as monjas leram-na.
O doutor Francisco Mendes, respondeu pelo convento que a dita ‘Dona Filipa, eleita, e a maior parte das suas religiosas e convento’ queriam saber, se o juiz ‘lhes dava licença para que movessem justiça da dita Dona Eleita, se bem que o debate fosse com o Rei Nosso senhor, e tivessem visto as ditas ordens’. O juiz dissera que lhes dava licença. Da parte da dita dona Filipa fora então levantada a questão do braço secular. Que o bacharel Sebastião Lopes já quisera usar dele, diziam, e viam que Sua Alteza pretendia fazê-lo de novo. Elas queriam apresentar por escrito a sua oposição a esse acto. O juiz retorquiu, que ele era simples executor, que ‘não era defensor, salvo de actos para que tenha sido designado pelo Rei. Que, contudo, lhes dava uma hora para que a dita Eleita e o convento consultassem o que queriam fazer’.
Ao fim da hora, o procurador do mosteiro dava conta do resultado da consulta. A dita Eleita, e o seu convento, não admitiam apelação a nenhuma justiça eclesiástica ou secular. Elas tinham o apoio ‘do Santíssimo Senhor nosso Papa Paulo 3º’ para que não se partissem as portas do seu mosteiro, nem se intrometessem nele, pondo a mão sobre dona Filipa, visto ela ser abadessa e sagrada, e que também o mosteiro era consagrado’. Caso procedessem da dita forma contra elas, ofenderiam o próprio Santo Padre, sob cuja protecção e defesa elas já tinham posto as suas pessoas, e o seu mosteiro com seus rendimentos. Já tinham também falado a cardeais e ministros do Papa para que se opusessem ao parecer do bispo de Angra e aos enviados do rei.
Perante esta resposta, o juiz não esperou mais, deu ordem aos serralheiros para arrombarem as portas. O que eles fizeram ‘com machados, escopos, serras e outras ferramentas’, escreve o notário. Os homens irromperam então por ali dentro.com o juiz Gonçalo Vaz à frente. O notário não perdia pitada. Competia-lhe anotar, anotava. Anotou que a dita Eleita e as religiosas clamavam pelo auxílio de Deus e do Papa, que gritavam que ‘todos eram testemunhos, que as espoliavam, e com oposição delas entravam em seu santo mosteiro, cujas portas partiram, querendo, contra justiça, tirar de lá a que canonicamente fizeram abadessa, elegendo-a em justa forma, segundo seus privilégios’.
Aquelas religiosas tinham-se refugiado no coro, onde se encontravam já outras monjas ‘recitando as suas loas, pois que era a vigília de Páscoa da Ressurreição’. Seriam umas setenta e cinco religiosas, as que em seguida ali se fecharam e fortificaram ‘com ferros fortes e outras muitas ferramentas’, e colocando ainda uma trave na porta do coro. Pondo os braços nessa trave, conseguiram durante algum tempo impedir a entrada dos homens do juiz, até ao momento em que um deles, o soldado bacharel Benedito Fernandes, feriu uma das religiosas com um corte no braço. As companheiras acudiram-lhe, permitindo assim que juízes e oficiais penetrassem no coro ‘pela força das armas’,
‘Dona Filipa eleita’ estava sentada numa cadeira, relata o notário, e, em sua roda, ‘como seu sustentáculo’, estavam as outras religiosas com a cruz alçada, cantando em uma só e alta voz: ‘in exit Israel de Egitii et super flumen Babilonis etc’
As religiosas continuavam lutando com o juiz e os seus oficiais para defender a abadessa, ‘chegando-lhes às mãos, até que eles chegaram à cadeira onde estava a dita dona Filipa Eleita’. Juiz, e bacharel, e escrivães, prenderam-lhe então as mãos e corpo, e, ‘horrivelmente rasgaram-lhe as vestes em parte, e trouxeram-na para o coro inferior, e, sem parar até ao coro da Igreja’. Ali colocaram-na ‘numa qualquer cadeira de madeira, digo, arrastaram-na a ela, - emenda o notário conscienciosamente - anunciando que discordavam, de que ela fosse abadessa benedita e sagrada’.
Ao que dona Filipa retorquira, que era abadessa sagrada, sim, e que todos que ali estavam eram testemunhas, de como, por força e violência, a espoliavam da sua posse. Ela tinha instrumentos do Santo Padre e seus auditores, de como era abadessa benta e consagrada do mosteiro de que era expelida. E mais, era filha de D. Pedro d’Eça, bisneto de D. João, filho d’el rei D. Pedro, e já por isso, ao desonrarem a qualidade da sua pessoa, incorriam - como já lhe fora dito pela Cúria Romana - em pena de dez mil ducados por violência de direitos, e todas as outras multas, que eram aplicadas pela própria Câmara Secreta.
As outras religiosas continuavam a defender-se, ‘e de tal forma, escreve o notário, ‘que algumas pessoas puseram mãos desonestas em dona Filipa, e a arrastaram até ao scriptorium do dito mosteiro, onde a puseram’.
E então, como o juiz o tivesse autorizado, todas as religiosas, ‘umas sessenta ou setenta’, entre as quais a Prioresa e outras anciãs, aproximaram-se da cadeira de dona Filipa. E todas, ‘de que qualidade fossem’, aproximaram-se, e lhe beijaram as mãos, e a honraram, dizendo que ela era, e seria sempre a sua prelada e abadessa, que, para isso, elas a tinham elegido e dado obediência. E que as eleições por elas feitas, elas as consideravam válidas e ratificadas, e protestavam, que não obedeceriam a dona Melícia, nem por força, nem por nenhuma outra forma. Apoiavam declaradamente a Dona Eleita, sua prelada, e protestavam que por isso não incorriam em excomunhão nem em desobediência’. E para que Sua Santidade pudesse fazer justiça, restituindo-lhes a abadessa que tinham elegido segundo os seus estatutos, pediam aos notários e tabeliães ali presentes, que lhes dessem instrumentos do que tinham testemunhado. ‘E de todos os lados’, anota o notário, ‘se ouvia que elas eram filhas de Claraval, da Ordem de Cister, e portanto súbditas imediatas de Sua Santidade o Papa. El-rei e o Cardeal podiam dispor dos seus corpos e vidas, mas queriam arrancar-lhe as suas almas, e elas não reconheciam juramento a não ser ao Papa, aos superiores e abade de Claraval e cardiais. E muito mais disseram, escreve o notário, até que dona Filipa fora levada para fora’. Foia ‘lançada através das portas fora’, e transportada a um hospício que ali havia, pertencente a certas mulheres etíopes, que tinham sido servas do mosteiro.
O Juiz entregou então as chaves do mosteiro a dona Melícia de Melo, nomeou outras oficiais para as diversas oficinas, e, como se tinham partido as portas, mandou homens ‘com lanças e partasanas’ ficar de guarda em frente delas.Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-80319736082263261072016-05-04T11:33:00.002+01:002016-05-04T11:33:47.746+01:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº XVII O CASO DE D. FILIPA D'EÇA - PARTE 1 - A ELEIÇÃO
<br />
<div class="MsoBodyText2" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;"><strong>N</strong></span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; font-weight: normal; line-height: 115%;">o ano de 1538 as
monjas de Lorvão elegeram por sua abadessa a D.Filipa d’Eça, prima da falecida
D. Margarida d’Eça. D. João III tentara impedir essa eleição, e, como não o
conseguisse, agiria pela força, e acabou por levar o caso contra a abadessa
eleita a Roma. Os enviados do Rei procuraram convencer a Rota papal, que a
razão pela qual D. João III agia contra a eleição de D. Filipa d’Eça obedecia
ao seu bem conhecido e provado empenho na reforma dos mosteiros do Reino. Dando
a entender, que Lorvão carecia de reforma, e que D. Filipa d’Eça não era mulher
indicada para estar à cabeça de um mosteiro necessitado de reforma. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText2" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; font-weight: normal; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ora o
facto era, que não havia em Lorvão falta de moralidade e de religiosidade. Na
insuspeita opinião do Abade de Claraval, Lorvão era, em 1533, um dos poucos
mosteiros portugueses que não carecia de reforma. O Abade criticara na sua
visita o excessivo nepotismo da então abadessa - os principais lugares eram
ocupados por parentes suas - e a exagerada hospitalidade que o mosteiro
concedia, mas não encontrara outros motivos de crítica em matéria de religião e
moral. O visitador de Orem que visitara o mosteiro três anos depois, foi da
mesma opinião. Não havia portanto necessidade de reforma Como então explicar o
procedimento de D. João? Os Eças eram aparentados à casa real, pela sua
descendência de D. Pedro e D. Inêz de Castro, Senhoras da família ocupavam cargos
principais em alguns mosteiros do Reino, e em nenhum o seu domínio era tão preponderante
como no de Lorvão, havendo quase cem anos, que abadessas daquela grande
linhagem, governavam, para não dizer, reinavam, em Lorvão. É evidente que o Rei
tinha uma particular animosidade contra aquelas longínquas parentas, que aquele
feudo de Eças em Lorvão irritava D. João III, mas a leitura dos documentos
mostra, que o antagonismo era também de ordem religiosa. As Eças eram mulheres
que não comungavam das fanáticas ideias de rigor religioso que D. João
advogava. A religiosidade que os visitadores de Cister tinham gabado em Lorvão
não convencia D. João. Ao pretender impor a Lorvão uma abadessa da sua escolha,
fá-lo muito claramente também para que ali se praticasse a religião como ele a
entendia. Uma razão de ordem material também existia. D. Catarina de Eça, a
primeira abadessa desse nome mandara fazer um grande número de objectos
religiosos de grande qualidade e valor, e já o rei D. Manuel se interessara por
esse tesouro, mandando avaliá-lo. O mesmo, como se verá, fará seu filho.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText2" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; font-weight: normal; line-height: 115%;">Em 1538 o rei era informado, que a abadessa
dona Margarida d’Eça estava gravemente doente. Age imediatamente Escreve para
Coimbra, ao bacharel Domingos Garcia dando-lhe rigorosas instruções em previsão
da previsível morte da abadessa. Que o bacharel estivesse atento às notícias
vindas de Lorvão, e que, logo que dona abadessa morresse, fosse ao mosteiro, e
tomasse conta deste. Devia impedir, e por todos os meios, que as monjas
elegessem nova abadessa. Ele, Rei, escrevia nesse sentido à Prioresa – em cujas
mãos estaria o mosteiro após a morte da abadessa - em carta que juntamente
enviava ao bacharel. Que este entregaria à dita senhora logo após a morte de
dona Margarida. Eis a carta a Domingos Garcia, da qual se conserva o
rascunho:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText2" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; font-weight: normal; line-height: 115%;">‘Bacharel Domingos Garcia, eu, el Rey vos envio muito saudar. Nós
houvemos agora grã recado como está abadessa de Lorvão em mui má disposição, e
em perigo de sua vida. Pelo qual havemos por Nosso serviço vos avisar que
tenhais grande avisamento de saber como ela está, e, em tal caso que, dispondo
Nosso Senhor dela, possais logo, na mesma hora, ser disso notificado. E, como o
fordes, logo, com grande diligência, vos hy ao dito mosteiro, e tomai por nossa
parte a posse da abadia dele, e de todas as rendas do dito mosteiro’. E isso,
escrevia o rei ainda, tanto no lugar de Lorvão, como em todos os outros lugares
da comarca de Coimbra onde o dito mosteiro tivesse rendas. O bacharel faria o
inventário de todos esses bens, assim como de toda a prata, e de todos os
ornamentos existentes. E de tudo que houvesse no celeiro, e de tudo que
existisse da abadessa dona Catarina d’Eça. Tratava-se de objetos dos quais o
bacharel já em tempos fizera inventário por mandado de el-rei D. Manuel: ‘de
que vós fizeste inventario pelo mandado d’el-Rey, nosso senhor e padre, que
santa gloria haja’. Depois de ter feito o dito inventário de pratas e
ornamentos de culto, o bacharel poria tudo - excetuando aquilo que fosse
preciso para os ofícios religiosos - em mão de pessoa segura. A qual de nada
disporia sem especial mandado. Do que houvesse na casa em pão e vinho e outros
mantimentos, o bacharel forneceria à vigária e outras oficiais da casa o que
fosse necessário para a manutência (sic) das monjas e servidores da casa.
Enviaria ao rei cópia de todos os inventários. Poderia suceder, ‘que as freiras
do mosteiro se queiram intrometer de eleger abadessa’. O bacharel entregaria à
Prioresa a carta que juntamente recebia, pela qual ele, Rei, proibia essa eleição:
‘pela qual lhes defendemos, que não se intrometam de fazer eleição da
abadessa’. Ele próprio trataria disso: ‘nós queremos intender acerca de quem
seja provida a dita abadia, e que nela sirva a Nosso Senhor assim como seja
mais servido, e que as coisas da religião melhor façam’. <a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%; mso-ansi-font-size: 12.0pt;">1</span></span></a>Era, como
atrás já se disse, à prioresa - ou vigária, como também se designava – que
cabia o governo depois da morte da abadessa. E ela que era responsável pela
eleição de uma nova prelada. D. João escreve-lhe a seguinte carta: <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">“Vigaria, sub-prioresa, freiras e convento do mosteiro de Lorvão,
nós el-Rei vos enviamos muito saudar. Nós houvemos agora recado como a abadessa
desse mosteiro estava muito doente, e de tal modo que sua vida está muito
perigosa’. A notícia entristecera-o, ‘pela bondade e virtudes’ dessa senhora.
Dispondo Deus chamá-la a si, ele, Rei, trataria de a <table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-7SM1L7Hh_F0/VynPstRnT1I/AAAAAAAAAYs/MLrAN4gaNugmppGnf2VH5pqpgVDnMFcNwCLcB/s1600/Dom-Joao-III-O-Piedoso.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-7SM1L7Hh_F0/VynPstRnT1I/AAAAAAAAAYs/MLrAN4gaNugmppGnf2VH5pqpgVDnMFcNwCLcB/s1600/Dom-Joao-III-O-Piedoso.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">D. João III</td></tr>
</tbody></table>
substituir, de forma, a
que, a dita abadia ‘seja provida de pessoa que a Nosso Senhor inteiramente
sirva, e com quem nossa Religião receba muito louvor e todas vós outras sejais
consoladas’. Por tudo isso, proibia-lhes que fizessem eleição de nova abadessa:
‘vos encomendamos muito, e mandamos, que, por seu falecimento, vós não vos
entremetais de fazer eleição de abadessa, e estejais regidas e governadas pelas
oficiais da casa, assim como sempre se costumou fazer, até ser eleita
abadessa’. Da qual, lê-se em seguida, ele, Rei, esperava em Nosso Senhor, seria
tal ‘de que se sigam os bens que desejamos’. O bacharel Domingos Garcia, Juiz
de Fora de Coimbra, dir-lhes-ia o mais que ele ordenava. </span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">2</span></span></a><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText2" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; font-weight: normal; line-height: 115%;">As coisas não correram exatamente como o rei
previra e ordenara. O decorrer dos acontecimentos indica, que no mosteiro as
monjas não foram apanhadas de surpresa e que se tinham preparado para uma eventual
intervenção real. Houvera uma primeira alerta nesse sentido, quando, numa
medida sem precedentes, el-rei D. Manuel mandara inventariar os bens de D. Catarina
d’Eça depois da sua morte. Houvera provavelmente outras medidas, e talvez
rumores que lhes chegavam de fora as tenham alertado. Contactos não faltavam a
mulheres tão altamente aparentadas. É também muito provável, que o bacharel
escolhido pelo rei não se tenha empenhado a fundo na execução das ordens de Sua
Alteza. A corte estava longe, as ligações da gente de Coimbra a Lorvão eram
muito fortes. O facto é, que nunca mais se fala em Domingos Garcia. E que o seu
sucessor, um tal Sebastião Lopes, também seria substituído. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText2" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; font-weight: normal; line-height: 115%;">Tudo indica que as monjas de facto não se
deixaram surpreender. Para não terem de obedecer a alguma ordem desagradável da
parte do rei, elas fecharam as portas do mosteiro logo após a morte de D. Margarida,
evitando assim a recepção de cartas ou outras missivas. Não as lendo, ou
ouvindo, não eram obrigadas a seguir o que porventura nelas lhes fosse
ordenado. Em seguida procederam à eleição de nova abadessa. A 11 de Fevereiro
de 1538, dona Filipa d’Eça, era eleita abadessa do mosteiro de Santa Maria de
Lorvão. Havia de novo uma Eça à cabeça do mosteiro.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText2" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; font-weight: normal; line-height: 115%;">Dona Filipa, que não era monja de Lorvão,
encontrava-se de visita no mosteiro. talvez lá estivesse para acompanhar a abadessa
sua prima, nos seus últimos momentos. O mais provável, é que ela ali se
encontrava deliberadamente, em previsão do que poderia suceder. E mesmo muito provável,
que a eleição de dona Filipa obedecesse a um bem pensado plano da abadessa dona
Margarida. Há documentos que - indiretamente, é verdade – apontam nesse
sentido. Datado de 15 dias do mês de Abril de 1534,- quatro anos antes da sua
morte - ‘por mandado da senhora dona Margarida d’Eça, em a pousada da dita senhora,
em presença de ela dita senhora e de seu convento’, a abadessa requerera a frei
Thomas, monge da ordem de Cister, e notário apostólico, que lhes fizesse um
treslado de certa Bula papal, e que esse treslado fizesse fé como se fosse o próprio
original. Tratava-se da Bula pela qual o papa Honório III tomara o mosteiro, as
suas monjas, e os seus bens sobre a sua protecção. Não se vê para que outro fim
se desejaria naquela ocasião o treslado daquela antiquíssima Bula, a não ser
para que a dita Bula pudesse ser usada em defesa de antigos direitos,
apresentando-a em Roma. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText2" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; font-weight: normal; line-height: 115%;">A eleição de uma abadessa que não era monja do próprio
mosteiro, como era o caso de Dona Filipa, tinha uma vantagem. Era previsível
que o rei demitiria uma abadessa eleita contra a sua vontade. Se a escolha
recaísse em uma monja do mosteiro, ela seria igualmente demitida, mas não necessariamente
expulsa. O contrário dava-se com uma nova abadessa que não fosse do mosteiro.
Essa, sim, seria decerto expulsa. E, de fora do mosteiro, Filipa d’Eça, - de
Bula papal na mão – saberia agir junto das entidades religiosas e civis. E Frei
Tomás, o notário apostólico, que D. Catarina d’Eça conseguira para Lorvão, era
monge de Cister, e não deixaria de recordar às monjas, de Lorvão que elas eram
filhas de Claraval, e que só deviam obediência a Roma A ter sido pensado e
preconcebido, e o que se segui-o aponta nesse sentido, o plano foi brilhante. </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText2" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; font-weight: normal; line-height: 115%;">Nota: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">este
capítulo tem quatro partes. Na próxima semana será publicada a 2ª parte: A
Expulsão<o:p></o:p></i></span></div>
<br />
<div style="mso-element: footnote-list;">
<!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div style="border: 1pt solid windowtext; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-element: para-border-div; padding: 1pt;">
<div class="MsoFootnoteText" style="border-color: currentColor currentColor windowtext; border-style: none none solid; border-width: medium medium 0.5pt; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-between: .5pt solid windowtext; mso-border-bottom-alt: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt; mso-padding-between: 1.0pt; mso-padding-bottom-alt: 1.0pt; padding: 0cm 0cm 1pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">1</span></span></a> <span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt;">T.T.
Cartas Missivas. Maço 2. 196</span></div>
</div>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<div style="border: 1pt solid windowtext; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-element: para-border-div; padding: 1pt;">
<div class="MsoBodyText" style="border-color: currentColor currentColor windowtext; border-style: none none solid; border-width: medium medium 0.5pt; line-height: 18pt; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-between: .5pt solid windowtext; mso-border-bottom-alt: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt; mso-padding-between: 1.0pt; mso-padding-bottom-alt: 1.0pt; padding: 0cm 0cm 1pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: Times;">2</span></span></span></a><span style="font-family: Times;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt;">T.T.
Cartas Missivas Mº1 Nr. 38</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="border: currentColor; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-between: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt; mso-padding-between: 1.0pt; mso-padding-top-alt: 1.0pt; padding: 1pt 0cm 0cm;">
<o:p> </o:p></div>
</div>
</div>
</div>
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-69781640930014325762016-04-26T11:59:00.001+01:002016-05-04T11:26:21.489+01:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº XVI VISITA DO ABADE DE CLARAVAL <br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;">E</span></b><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">ntre 1531-33, o superior da Ordem de Cister, dom <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Edmé de Seaulieu</i>, abade de Claraval,
realizou uma visita às casas cistercienses de Espanha e Portugal. O secretário
do abade, fr<i style="mso-bidi-font-style: normal;">ei Claude Bonseval </i>anotava
diariamente os acidentes da viagem, os caminhos percorridos, as hospedarias
onde se instalavam, e, sobretudo, a situação dos mosteiros que visitavam. O
texto desse seu diário de viagem foi recentemente traduzido do latim para
francês, e publicado sob o título de ‘Peregrinatio Hispanico’. Neste nosso caso,
o livro é de grande interesse pelo que nele se lê sobre a situação religiosa e
moral em alguns mosteiros femininos portugueses.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A</span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> preocupação
de reforma monástica, que, a partir de meados do séc. XV e princípios de XVI,
se deu um pouco por toda a Europa, tinha razões de ser. Reinava a
irreligiosidade e imoralidade em muitos mosteiros, preocupando tanto as
autoridades religiosas como civis. Em Portugal, tanto D. Manuel, e, depois
dele, D. João III desejaram, e apoiaram os esforços de reforma de alguns dos
mosteiros. No caso de D. Manuel, não houve mais que o natural interesse pelo
assunto, mas o filho dedicou-se-lhe pessoal e activamente com bispos por ele
escolhidos. Certo que ele e os bispos portugueses resolveriam os problemas, a
vinda a Portugal de um francês, superior da poderosa ordem de Cister, com
pretensões de autonomia em relação aos mosteiros portugueses da sua Ordem, irritou
D. João III, e haveria, como se verá, acesas disputas até que o superior de
Cister recebesse a autorização real para efectuar a visitação. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Dom
Edmé</span></i><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> chegou a Portugal em
princípios de Junho de 1532, tendo previamente visitado os mosteiros de
Espanha. O seu séquito compunha-se do dito secretário, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Claude de Bronseval</i>, de um padre, de homens para tratar dos cavalos
ou mulas, e, como era sabido que na maior parte das <table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-wzsnxbeKm9o/Vx9Fxksq6qI/AAAAAAAAAXo/3au-i6x0St41QDSJF0qGfGbEJMLOtutGgCLcB/s1600/portoidademedia.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-wzsnxbeKm9o/Vx9Fxksq6qI/AAAAAAAAAXo/3au-i6x0St41QDSJF0qGfGbEJMLOtutGgCLcB/s320/portoidademedia.png" width="305" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Porto idade média</td></tr>
</tbody></table>
hospedarias de Espanha e
Portugal não se podia contar com comida, os visitadores traziam consigo um cozinheiro,
um ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">marmiton</i>’, para lhes preparar a
comida. Entraram em Portugal pelo Norte, vindos da Galiza, e fizeram a primeira
primeira paragem em terra portuguesa em Caminha. O único sítio em Portugal onde
a Abade e o seu séquito ficaram bem albergados, escreveria depois o secretário.
Decentemente deitados e copiosamente alimentados, escreve frei Claude, com bom
peixe, e os seus cavalos bem instalados numa excelente cavalariça. Dali em
diante as coisas seriam bem diferentes, uma instalação pior que a outra. Em
Viana do Castelo uma hospedaria pequena e nojenta, ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">dégoutante</i>’. O Porto deixou-lhes má impressão, mal servidos de
comida e de camas: ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">lamentablement
traités, logés et couchés</i>’. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A população da cidade era rude, pouco polida,‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">très rustre et très dure, dépourvue d’urbanité.</i>’ Escreve frei
Claude. Tinham ido à Sé, onde não puderam entrar, sendo corridos a pau por um
rustre barbudo que<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>os correu como a
cães,<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> ‘ nous fit sortir comme un chien
avec un baton</i>”.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Do Porto a Lisboa encontraram maus caminhos, piores alojamentos e
comida. Chegados à Azambuja, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dom Edmé</i>
mandou o secretário a Lisboa para lhes preparar instalação. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Frei Claude</i> não poupa a capital do
reino. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Materialmente, escreve ele, Lisboa era sem dúvida uma cidade<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-N1ALxrohOC4/Vx9GZCaFZuI/AAAAAAAAAXw/8dPDdhX8zWcalz0kK3BaaIHYvVVZM9a8ACLcB/s1600/lisboa.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="217" src="https://4.bp.blogspot.com/-N1ALxrohOC4/Vx9GZCaFZuI/AAAAAAAAAXw/8dPDdhX8zWcalz0kK3BaaIHYvVVZM9a8ACLcB/s320/lisboa.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Lisboa</td></tr>
</tbody></table>
florescente. Mas quanto ao resto: “recetáculo de Judeus, ama de quantidade de
Indianos, jaula de filhos d’Agar, depósito de mercadoria, fornalha de
usurários, estábulo de luxúria, caos de avareza, montanha de orgulho, e porto
seguro para franceses fugidos da justiça”. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A custo conseguia-se uma instalação razoável, e pouco depois da
chegada de Dom Edmé, veio-lhes recado da abadessa de Odivelas. A abadessa fora
informada da chegada do Abade, e mandava-lhes um grande saco de alimentos. Que
fora recebido e usado com acções de graça e alegria, segundo frei Claude: <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Dom Edmé visitara o Rei, a Rainha, o Cardeal-infante D. Henrique e
os outros príncipes, e começara as diligências para a Visitação com um discurso
pronunciado perante o rei. Falara das dificuldades que durante anos tinham
impedido a visita dos abades de Claraval aos mosteiros da sua Ordem em
Portugal, e dissera-se esperançoso de obter agora, da boa vontade de Sua
Majestade, o consentimento para realizar a visita<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">D. João ouvira pacientemente o discurso, dissera no fim, por
intermédio de mestre Francisco de Melo, seu intérprete, que iria ler as cartas
que o Abade trazia e pensar no assunto. Seguiram-se avanços e recuos, promessas
dadas e retiradas da parte do Rei, ameaças de partida da parte do Abade, e, por
fim, a desejada autorização de visitação fora concedida.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">No dia 5 de Agosto, com a autorização, se bem que ainda
provisória, do Rei, o Abade e o seu séquito põem-se a caminho de Odivelas,
primeiro mosteiro a visitar.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>‘Deixámos Lisboa,
libertados daquela prisão e daquela fornalha’, escreve <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Frei Claude.</i> O caminho para Odivelas era largo, fácil de percorrer,
agradável, entre campos de oliveiras e de vinhas. À porta do mosteiro foram
recebidos pela abadessa, acompanhada de setenta monjas e de catorze irmãs
conversas,’ todas em boa ordem, com a cruz e a água benta’. Dona Abadessa
aproximara-se do Abade, abrira os braços - ‘que a idade tornava pesados’ - e,
de lágrimas nos olhos, dissera em voz alta: ‘Bendito seja aquele que vem em
nome do Senhor’. Abraçou Monsenhor e dera-lhe a cruz<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-l0du4ybvB-8/Vx9IQfvz7sI/AAAAAAAAAYA/nAxpMH1Wvm45QGJ1uU59_TCDnRLMFhNRwCLcB/s1600/loures.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-l0du4ybvB-8/Vx9IQfvz7sI/AAAAAAAAAYA/nAxpMH1Wvm45QGJ1uU59_TCDnRLMFhNRwCLcB/s320/loures.png" width="213" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Cozinha de Odivelas</td></tr>
</tbody></table>
a beijar. A visitação
procederia de princípio ao fim em perfeita ordem. Frei Claude só tem que gabar.
Tinham passado do claustro ao coro inferior. Logo que aí terminarem os
cânticos, Monsenhor dera a bênção solene, e passaram à Sala do Capítulo, onde
foi lida a acta de visitação. A monja que a leu fizera-o na perfeição:
‘Impossível ler, acentuar e exprimir-se melhor. Monsenhor fizera uma admirável
alocução às monjas, e, acompanhado da abadessa, da prioresa e da sacristã,
examinara os objectos de culto e as instalações da Ordem.’ <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Os visitadores ainda assistiram nesse dia à missa, celebrada com
grande solenidade, e bom canto. ‘Fiquei feliz por ouvir, neste rabo do mundo,
um conjunto tão perfeito’, comenta frei Claude. Nos dias seguintes, Monsenhor
continuara a visita e, no dia 8, fez ler em Capítulo a Acta da visitação. A
abadessa e as religiosas receberam-na como se viesse do Céu”. No dia 9, o Abade
e seu séquito regressaram a Lisboa, de onde lhes viera recado que el-rei D.
João decidira alargar a visitação a mosteiros que não eram de Cister. Devendo
essa visita começar pelo mosteiro de Almoster. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Almoster era uma prioridade. Em 1522, pouco depois da sua ascensão
ao trono, D. João III, que já ideava a reforma dos mosteiros, encarregara o
bispo de Tripoli, D. Francisco da Fonseca, de fazer a visitação a esse mosteiro,
e o Bispo ficara horrorizado com o que vira: administração desastrosa, total
falta de disciplina. De moral, o melhor da falta dela, era melhor não falar. As
religiosas tinham sido convidadas a responder a nove questões essenciais: sobre
a forma como se rezavam os ofícios, sobre a regularidade das comunhões e
confissões, sobre o cumprimento do silêncio nos claustros, sobre os
dormitórios, sobre a castidade e honestidade que reinava entre elas, sobre a
forma como a porteira cumpria o seu ofício, e, finalmente, sobre a autoridade
da abadessa: se a prelada era firme, e se fazia obedecer. As respostas tinham
sido muito pouco edificantes. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Quanto à regular reza dos ofícios, as religiosas tinham sido
unânimes em dizer que naquele ano não os tinham cantado como deviam. Umas
diziam que não o tinham podido fazer por o ano ter sido estéril, e elas terem
sido obrigadas a trabalhar de suas mãos para se alimentarem, não tendo portanto
tido tempo para cantar os ofícios. Outras diziam que não os tinham cantado
devido ao barulho causado pelas obras que então se faziam no mosteiro.
Questionadas sobre as comunhões e confissões, e se o faziam regularmente, a
resposta da maioria fora que não se confessavam nem comungavam regularmente. À
pergunta sobre o silêncio nos claustros, se este se guardava, as respostas
tinham sido explícitas: ‘que não se guarda em nenhum lugar’ , ‘que não se
guarda mais que na rua’. E nos dormitórios? Cumpriam-se as regras? Dormia cada
uma em seu leito e todas no dormitório? Respostas: ‘que quanto era ao dormir no
dormitório, que dona Guiomar de Albuquerque e dona Isabel da Cunha dormiam
ambas fora do dormitório em uma cama’, e o mesmo fazia Antónia Freire com
Filipa da Cunha sua irmã. Uma das inquiridas acrescentou que dona Guiomar era
muito soberba e fazia desunião entre as monjas. A opinião era partilhada:
‘muito odiosa’, diziam umas, ‘odiosa porque desonra as monjas deste mosteiro e
poucas há com que já não pelejou’. Ela e dona Isabel da Cunha faziam
feitiçarias, afirmavam outras. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Curiosamente, essa dona Guiomar quem ao ser questionada, mais
pugna pela reformação do mosteiro. Respondera ao questionário, que a abadessa
era ‘espiritual e boa’, mas demasiado velha. Precisava duma assistente, duma
‘regedor’, que a ajudasse a corrigir a casa. E o que tinham as donas a dizer a
castidade e honestidade das religiosas? Nomearam-se algumas religiosas de
notória má fama. Uma delas, de nome Brites Pinto, emprenhara de Gaspar Dias,
Prior de Arrifana, e tivera seu filho no mosteiro. Sobre a forma como a
porteira cumpria o seu ofício, as respostas também tinham sido pouco
abonatórias: que não cuidava da sua porta como devia, ‘deixa receber e dar
qualquer coisa e fia a porta a uma moça’. As únicas que se tinham pronunciado a
seu favor eram aquelas a quem as suas companheiras justamente acusavam de se
servir da porteira para receber e mandar cartas, e até para receberem os seus
namorados.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Quanto à autoridade da abadessa, questionadas se ela era firme e
se fazia obedecer: ‘É velha e faz tudo quanto pode para fazer bem’, diziam
umas, ‘mas precisaria de uma ‘regedor’ que a ajudasse ‘por sua doença e velhice
e frouxidão’, ‘que lhe parecia que era necessária outra regedor por sua
fraqueza e já não dar pelas coisas da ordem’, diziam outras. E uma sua
sobrinha, dona Ana da Cunha, respondera que, quanto a ela, lhe parecia que sua
tia era ‘fraca e remissa em seu ofício’. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">O bispo de Tripoli, o visitador de então, ralhara, castigara,
introduzira algumas reformas, mas, a avaliar pelo que o Abade de Claraval, dez
anos depois, lá iria encontrar, o resultado fora nulo. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">D. João, tão adverso à presença do abade de Claraval, não devia
ter mudado de ideias a esse respeito, mas parecia conciliado com a presença de
Edmé, esperando provavelmente, que este, com a sua reconhecida autoridade e, o
que era vital, com a sua independência em relação aos familiares das monjas e
abadessa do mosteiro, conseguisse aquilo que um visitador português não
conseguira: pôr ordem naquela casa. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Munido de carta do rei para a abadessa, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dom Edmé</i> partiu para Almoster. Saiu de Lisboa com os seus homens a
13 de Agosto, tinham passado por Loures, São Julião do Tojal, Alverca.
Almoçaram em Vila Franca de Xira. Em tão boa hospedaria, anotou sarcasticamente
o secretário, que não havia lume para cozinhar, e que tiveram de almoçar de
figos, peras e uvas. De ali, seguiram caminho, passaram pela Castanheira, e foram
dormir a Azambuja. Deitados no chão, elucida <i style="mso-bidi-font-style: normal;">frei Claude</i>.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">No dia seguinte, o secretário acompanhado do monge de Alcobaça,
que agora fazia parte da comitiva, tinham ido à frente para anunciar no
mosteiro a próxima chegada de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dom Edmé</i>.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Frei
Claude</span></i><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> descreve o trajecto. Ele e
o seu acompanhante partiram de madrugada, pela fresca, atravessaram terras
férteis, mas incultas, e chegaram a um pequeno vale, que conduzia ao mosteiro.
Deixaram os cavalos na aldeia contígua, e seguiram a pé, anunciar à Abadessa a
vinda do Abade Claraval. A senhora ficara perturbada: ‘e todo Jerusalém com
ela’, escreve <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Frei Claude</i>,
parafraseando uma frase bíblica. Era compressível. Uma visitação do severo e
poderoso Abade de Claraval não apetecia A abadessa, dona Catarina de Meneses, era
irmã do conde de Linhares e tia do marquês de Vila Real. Tinha tal orgulho na
sua parentela, que desprezava todas as outras abadessas, escreve <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Frei Claude</i>. Quanto a visitações, não
precisava delas, dizia a senhora. Pessoa como ela, não lhe devia estar sujeita
a visitação. Foram precisas duas insistentes visitas do secretário para que a
abadessa se dignasse receber <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dom Edmé</i>
para um primeiro encontro, prelúdio de uma luta que duraria quase um mês. Nem
as cartas do rei, que o Abade lhe mostrou, conseguiam convencer dona Catarina.
Receava fazer coisa contrária aos direitos de Sua Alteza e do Cardeal Infante,
dizia ela. Ao que o Abade retorquira que, antes de el-rei, do cardeal, e de ele
e ela estarem no mundo, já aquele mosteiro era casa de São Bernardo, e filha de
Claraval. E que assim seria quando todos eles estivessem apodrecendo sob a de
terra. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">As abadessas eram obrigadas a cuidar do sustento dos visitadores,
e, em geral, elas esmeravam-se na quantidade e qualidade das iguarias que
forneciam àqueles hóspedes. A abadessa de Almoster parecia apostada em fazer o
contrário. Esperando provavelmente afastar pela fome a incómoda visita. A única
coisa que viera do mosteiro para a primeira refeição do Abade e sua comitiva,
fota constituída por pão, dois ovos, pêras e uvas. Quando o criado do Abade
fora ao mosteiro reclamar, trouxera um pouco de vinho, e tão mau, que ninguém o
bebera. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A dada altura chegou reforço na pessoa de um padre que o Cardeal
Infante enviara para ajudar Dom Edmé. O padre foi ao mosteiro, e, em nome do
Cardeal, ameaçou as monjas de usar de força, caso elas não obedecessem a
Monsenhor. Não convenceu. A abadessa opunha-se a tudo que o Abade propunha, e
as religiosas, seguras do apoio da sua prelada, mangavam do visitador. Uma das
monjas declarou que tinha um rescrito apostólico, e que tencionava servir-se
dele para não seguir o que o Visitador lhes quisesse impor. Quando o Abade
conseguiu finalmente penetrar no mosteiro, uma das monjas fingiu-se louca,
conta <i style="mso-bidi-font-style: normal;">frei Cluade</i>. Só se curara do
ataque de loucura quando o Abade lhe mandou dar a disciplina. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Dom
Edmé</span></i><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> conclui-o que a única forma
de resolver aquilo era tirando dali algumas das monjas, transferindo-as para
outros mosteiros, e deu ordem nesse sentido. A partida das exiladas foi
tumultuosa. Uma das monjas que tinha uma amiga entre elas, berrava como se lhe
arrancassem o coração, quando a viu de partida. Depois ensaiou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">bêlements</i> de carneiro, e por fim,
resolveu relinchar como um burro. Só se calara quando Monsenhor ameaçara de a
mandar para Arouca, escreve <i style="mso-bidi-font-style: normal;">frei Claude. </i>Arouca,
como se verá adiante, tinha uma abadessa muito severa, o que devia ser sabido
no mundo monástico. Isto feito <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dom Edmé</i>
decidiu ir a Lisboa para falar directamente com o rei, e, a 31 de Agosto, dava
conta a D. João do que se<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-Bjtr9mckPW0/Vx9JBXSiweI/AAAAAAAAAYM/atpIuuuEUUIGvjUkXQS9J8xNktb6cqIsACLcB/s1600/convento.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-Bjtr9mckPW0/Vx9JBXSiweI/AAAAAAAAAYM/atpIuuuEUUIGvjUkXQS9J8xNktb6cqIsACLcB/s1600/convento.png" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Convento de Almoster</td></tr>
</tbody></table>
passara em Almoster.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>Em sua opinião<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>as coisas
só entrariam na ordem se saísse de lá a abadessa. “Senhora tão apta a governar
um mosteiro como um monge a governar um império”, dizia o Abade. O rei
concordava, mas havia que ter em conta a poderosa família da senhora. O marquês
de Vila Real e o conde de Linhares, queriam evitar o escândalo da saída da tia
e irmã por ordem superior. Soube-se, que um padre no qual o Abade confiara,
atiçava em segredo os nobres parentes de dona abadessa contra <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dom Edmé</i>. Reuniões sucediam a reuniões.
Até que, a 24 de Setembro, se chegou a um acordo. Enviar-se-ia um emissário a
Almoster, com a missão de ‘docemente’, convencer Dona Catarina a deixar o
mosteiro. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">O rei, que tão relutantemente concedera o direito de visitação ao
Superior de Cister, conciliado com aquele visitador, que se conseguira impor
até às insubordinadas de Almoster, encarregou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dom Edmé</i> de nova tarefa, visitação do mosteiro de São Bento de
Castris, junto de Évora, outro caso de notória imoralidade e de indisciplina. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dom Edmé </i>não tinha sobre esse mosteiro a
autoridade que tinha sobre os mosteiros da sua Ordem, mas aceitou o encargo. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Um primeiro exame do que se passava nesse mosteiro já fora feito
por tal doutor Mangano, a quem D. João nomeara para o efeito. O inquiridor descobrira
tantas personagens da Corte gravemente implicadas no que lá se passava, que não
quisera entregar o resultado da sua tarefa sem ter apagado o nome dos
implicados: ‘para que as suas numerosas e graves faltas não fossem conhecidas’,
escreve <i style="mso-bidi-font-style: normal;">frei Claude</i>. Precaução
inútil, acrescenta ele. Os mesmos nomes e as mesmas acções, iriam ficar
registadas na inquirição que se seguira. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Dom Edmé chegou a Évora a 13 de Outubro. Aí ficou - mal instalado
como sempre -, e, no dia seguinte, dirigiu-se ao dito mosteiro de São Bento de
Castris. O qual, ‘verdade ou não’, escreve o Secretário, era tido então pelo
mais mal-afamado de todo o país. </span><br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-V-medqcm82c/Vx9JhRtQnkI/AAAAAAAAAYQ/gqOW7ALnPNoyZxwUd1f6MxYjMjgIpzpXQCLcB/s1600/claustro.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-V-medqcm82c/Vx9JhRtQnkI/AAAAAAAAAYQ/gqOW7ALnPNoyZxwUd1f6MxYjMjgIpzpXQCLcB/s200/claustro.png" width="150" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">
</span><br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9pt; line-height: 115%;">Claustro de</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;"> </span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9pt; line-height: 115%;">São Bento de Cástris</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></b></div>
<span style="font-size: small;">
</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span> </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Dom Edmé fora recebido por abadessa e religiosas ‘aparentemente’, escreve
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Frei Claude</i>, ‘com grande humildade’
Até houvera lágrimas durante a alocução do Abade: ‘Não sei se de alegria, se de
dor’, comenta o mesmo. Monsenhor visitara a igreja, que encontrara em miserável
estado. Ócio dos enfermos era coisa que não existia, a sacristia estava
dividida em duas partes, uma era destinada às vestes sacerdotais, que estavam
acomodadas como ‘tripas secas no mercado’. A outra parte da sacristia servia de
dispensa. Guardavam-se lá alimentos de toda a sorte, tinha uma chaminé onde se
penduravam presuntos. Todo o resto, condizia. A inquirição à abadessa e
religiosas foi agitada. Estava o Abade procedendo à inquirição de uma das
monjas, quando ouviu um grande grito, foi ver do que se tratava, era a
abadessa, que fingia estar a morrer. Monsenhor ‘conhecendo bem a malícia
feminina, trovejara tão forte e tão alto, que dera a saúde á semi-moribunda, e
enxotara com o seu vozeirão as monjas que assistiam ao espetáculo. Que se
repetiu dias depois, com a abadessa fingindo-se novamente doente. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">As actas daquela visitação ficaram em Portugal, informa <i style="mso-bidi-font-style: normal;">frei Claude</i>, porque o que nelas se lia
era mau demais para que se pudesse levar para fora do reino. ‘Trinta e três
homens, quase todos cortesãos, estavam implicados’ .<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Ao visitar em seguida os mosteiros femininos de Arouca e de Lorvão
da sua Ordem, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dom Edmé</i> teve
finalmente alguma coisa a louvar.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A Lorvão chegou o abade a 8 de Dezembro vindo de Salzedas.
Atravessara a serra do Bussaco, avistando do alto o mosteiro de Lorvão:
‘situada entre duas assustadoras serras, local horrível e de absoluta solidão’,
escreve <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Frei Claude.</i> <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Por caminhos que só permitiam ir a pé, Monsenhor chegara em meia
hora de descida ao ‘muito piedoso mosteiro de Lorvão’ onde foi recebido em
procissão pela abadessa e as suas monjas, e onde a visita revelou um mosteiro
do qual não tivera que se queixar, que pudera mesmo louvar.
</span><br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"></span><br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">
Frei Claude não costumava poupar as
críticas, como se viu. Se fala de Lorvão como um muito piedoso mosteiro, era
porque de facto assim era. Ora seria justamente contra Lorvão, que D. João III,
no prosseguimento dos seus esforços de reforma, mais se empenharia. Foi um
muito curioso episódio, do qual se trata a seguir.</span><br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-C9x0LrOq6jg/Vx9Jw8abNEI/AAAAAAAAAYY/aq-tcIoc6fgljVIYF_I229hicH0G2QQLACLcB/s1600/1Penacova_Mosteiro_Lorvao.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://4.bp.blogspot.com/-C9x0LrOq6jg/Vx9Jw8abNEI/AAAAAAAAAYY/aq-tcIoc6fgljVIYF_I229hicH0G2QQLACLcB/s400/1Penacova_Mosteiro_Lorvao.JPG" width="400" /></a></div>
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span> </div>
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-3644370005756491202016-04-20T11:34:00.001+01:002016-04-20T11:34:50.300+01:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº XV A VISITAÇÃO<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">D</span></b><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">e tempo em tempo batia à porta do mosteiro uma cisita muito
especial: o ‘visitador’. Vinha conversar com a abadessa e as monjas,
examiná-las, averiguar como estavam as coisas lá dentro. Vinha fazer a
'visitação'. No fim da sua visita, o visitador redigia uma acta, composta a
partir dos apontamentos que seu secretário fizera durante a visitação. As actas
dos visitadores – as que existem, porque muitas foram destruídas - são uma importante
fonte de informações sobre a vida religiosa, moral e material dos mosteiros.
</span><br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"></span><br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-GkwHwGpCy84/VxdYvvBznaI/AAAAAAAAAXI/h_jett8gnyU2fPZa4aVSP6wwQ7jiKSyDACLcB/s1600/obispovisitador.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-GkwHwGpCy84/VxdYvvBznaI/AAAAAAAAAXI/h_jett8gnyU2fPZa4aVSP6wwQ7jiKSyDACLcB/s1600/obispovisitador.png" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O Bispo Visitador</td></tr>
</tbody></table>
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A forma de a fazer a visita obedecia a regras preestabelecidas. A abadessa do mosteiro
que iria ser visitado, recebia, com certa antecedência um aviso do visitador,
participando a visita e anunciando a data desta. Permitia desta forma que no
mosteiro se arrumasse a casa e que as religiosas se preparassem mentalmente
para as questões que lhes seriam postas, e aquelas que elas se propunham apresentar.
O visitador e o seu séquito eram recebidos à porta do
mosteiro pela abadessa e pelas principais oficiais. Dirigia-se depois para a
igreja onde fazia uma curta oração, e em seguida era conduzido cerimoniosamente
à sala de capítulo. Ou à outra dependência, que naquele mosteiro servisse para
as reuniões capitulares. </span><br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-7gfaKcoQlOw/VxdZ04tuzQI/AAAAAAAAAXU/-P8Ki265-gMtK3KOq1psLrvt90DVS134QCLcB/s1600/salacapit.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="230" src="https://4.bp.blogspot.com/-7gfaKcoQlOw/VxdZ04tuzQI/AAAAAAAAAXU/-P8Ki265-gMtK3KOq1psLrvt90DVS134QCLcB/s320/salacapit.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">
</span><span style="color: black; font-size: 8pt; line-height: 115%;">Sala do Capítulo </span><span style="color: black; font-family: "New York","serif"; font-size: 8pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">Lorvão</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">
O visitador fazia ali uma primeira exortação
– um ’capítulo’ - de admoestação e de exortação. Ou seja, dirigia-se às
religiosas reunidas em capítulo, lembrando-lhes a obrigação de aceitarem a
visita, e de colaborarem com os visitadores. </span><br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A cantor-mor devia então ler a
acta da visita anterior e a ‘forma visitations’, o documento no qual se expunha
a forma de fazer a visita. Uma vez terminada a leitura, o visitador lembrava às
religiosas a obrigação de obedecerem ao espírito da visita, denunciando os
males que porventura existissem no mosteiro e apontando todas as deficiências
por elas observadas. Normalmente seguia-se a inspecção dos locais, primeiro a
igreja e a sacristia, depois os dormitórios, e todas as outras dependências e
oficinas do mosteiroA esta primeira parte da visita,
toda ela dedicada a aspectos materiais, seguia-se a parte espiritual e moral da
visitação, com o interrogatório à abadessa, oficiais, e todas as outras monjas.
Havia sido preparado um local adequado onde se instalava o visitador com o
secretário que o acompanhava e lhe servia de escrivão. E que tinha jurado
guardar segredo de tudo que viesse a ouvir. Sentava-se à mesa preparada para o
efeito, abria o livro das actas, aparava a pena. </span><br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O escrutínio começava pela abadessa
seguida de todas oficiais e monjas. Instadas a falar, aquelas senhoras não se
coibiam. Falavam, queixavam-se, acusavam. O secretário escrevia, o visitador
ouvia. Quando um caso tinha de ser mais aprofundado, chamava-se de novo alguma
das monjas para ser interrogada sobre esse caso em particular. </span><br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">
Se as monjas tinham a razão de queixa da sua abadessa,
queixavam-se ao visitador quando este vinha à sua anual visita. Este senhor
daria o devido desconto a uma queixa, mas quando as queixas se multiplicavam,
tomava a coisa a sério, e fazia severas recomendações à abadessa. </span><br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O bispo de
Viseu, D. Jorge de Ataíde, fez severas reprimandas à abadessa do convento de
Santa Eufémia de Ferreira d’Ave, quando da sua vissitaçãi; ‘achamos por
visitação, que abadessa não toma conselho, e leva a mal quando lho dão. Mandamos-lhe
que se emende, aliás procedemos contra ela como desobediente e dissipadora do
mosteiro’
A partir do que ele ouvira e vira, e do
que apreendera da leitura e consulta dos livros da casa, o visitador tirava a
sua conclusão e ditava ao secretário a ‘Acta da Visitação’. Acta que no fim da
visita era lida à comunidade, chamada de novo, ‘por campa tangida’, para a sala
do capítulo. </span><br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Para que as recomendações feitas na Acta não fossem esquecidas,
esta devia ser periodicamente relida, função que cabia à cantor-mor. Se o
Visitador encontrara tudo em bom estado, despedia-se da comunidade com um ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Omne bene’ </i>e, sendo caso para isso,
tinha alguma palavras de louvor
O direito de
visitação ao mosteiro por parte da autoridade eclesiástica estava estipulada
nas constituições, e diferia de Ordem para Ordem, e até de mosteiro para
mosteiro. </span><br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O visitador podia ser o bispo da diocese, e podia ser um religioso
superior da Ordem à qual o mosteiro pertencia. Ou era, como se dava nos
mosteiros cistercienses, o abade da casa que se dizia ‘mãe’ do respectivo
mosteiro. A abadia de Alcobaça era filha da abadia de Claraval, e era mãe do
mosteiro de Odivelas. O abade de Alcobaça era visitado pelo abade de Claraval
e, por sua vez, visitava Odivelas. No caso de Lorvão, já se disse que a rainha
D.Teresa filiara o mosteiro directamente a Claraval. Lorvão era portanto
visitado directamente pelo Abade de Claraval, ou por alguém por este nomeado
para o efeito. Um documento, datado de 1273, resolvendo um diferendo entre os
mosteiros de Arouca e de Lorvão, atesta que nesse ano os dois mosteiros tinham
sido visitados pelo então abade de Claraval.<o:p></o:p></span></div>
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A autonomia dos mosteiros cistercienses em relação aos bispos das
suas dioceses não era por eles apreciada, e, por mais de uma vez, eles tentavam
impor a sua visita. Pelo menos aos mosteiros feminino da Ordem. No caso de
Lorvão não consta que o tenham conseguido.<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Além dos
cistercienses, havia outros mosteiros de mulheres dispensados da visita
episcopal. Dispensa que tinham obtido por privilégio papal, ou por outra forma,
e que sabiam defender. O mosteiro de Chelas defendeu-se por mais de uma vez da
visitação do seu convento pelos bispos de Lisboa, a quem não reconheciam esse
direito. Uma grande contenda deu-se no século XIV, entre 1350 e 59. O bispo de
Lisboa visitara, indevidamente, na opinião das Donas de Chelas, o seu mosteiro,
e as religiosas avisaram o Bispo, que se queixariam ao Papa se o caso se
repetisse: Escreveram nesse sentido ao bispo: ‘Receosas de ser agravadas no
futuro por vós, Reverendo em Cristo, pai e senhor, Lourenço, pela Graça de Deus
e da Sé apostólica, Bispo de Lisboa, como é evidente pela vossa intercessão,
que na véspera fizeste ao dito mosteiro; aquela visitação, e o modo da
visitação excedendo contra a Regra da dita Ordem e costumes do próprio
mosteiro’ etc. Nova querela dá-se em 1426. As donas de Chelas mandam um
emissário a Roma para levar à mais alta instância eclesiástica a sua queixa
contra D. Jorge, bispo de Lisboa, que pretendia que elas lhe pagassem
visitação, o que o bispo, segundo elas, não lhes podia exigir por elas estarem
isentas disso por privilégio antigo do Papa.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">No mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde, as monjas negaram-se
a receber a visita do Bispo de Ceuta, nomeado por D. João III para visitar e
reformar os mosteiros de religiosas em Portugal. Era uma visitação um pouco
diferente das outras. O bispo apresentou-se diante do mosteiro, acompanhado do
corregedor e de outras entidades, e a visita foi-lhe negada de maneira pouco
cortês. Como se fica a saber pela carta que o bispo dirigiu nesse mesmo dia ao
rei. Ele e os seus acompanhantes tinham-se aproximado da porta do mosteiro,
escreve o bispo. As freiras tinham vindo à janela, e ele, Bispo, tentara
fazer-lhes ver razão: ‘eu lhes disse muitas coisas mui mansamente. Que
quisessem ir à grade da igreja para ele lhes fazer algumas perguntas e que
então poderiam dizer o que lhes aprovasse’. As religiosas tinham respondido,
que já haviam dito e mandado dizer, que não abririam qualquer porta, nem da
igreja, nem do convento. Que ouvissem pelo menos as cartas apostólicas que ele
tinha na mão, insistira o Bispo, entregando as cartas ao corregedor para este
as ler. O homem começara a leitura, mas não se conseguira fazer ouvir, as
freiras berrando que não queriam ouvir as ditas cartas. </span><br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O Bispo dera-lhes então
três horas para lhe abrirem as portas e o receberem, caso contrário as
excomungaria. Mas não acreditava que a ameaça as fizesse ceder, escrevia ele ao
rei: ‘creia Vossa Alteza que elas não hão de abrir’. As portas estavam fechadas
‘com travessas de dentro e pregos grandes cujas pontas saem fora’, acrescentava
ele. Sua Alteza que lhe dissesse se queria que se quebrassem as portas ou não.</span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">1</span></span></a><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Estas
revoltas eram excepecionais, mas existiram, e existiram em particular em
mosteiros femininos. <span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Uma obra do século XVI, o relato da visita que o abade de Claraval
fez a Portugal em 1533, e do qual adiante se trata, narra vários casos de
Visitação mal recebida<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="mso-element: footnote-list;">
<!--[if !supportFootnotes]--><br />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div style="border: 1pt solid windowtext; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-element: para-border-div; padding: 1pt;">
<div class="MsoFootnoteText" style="border-color: currentColor currentColor windowtext; border-style: none none solid; border-width: medium medium 0.5pt; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-between: .5pt solid windowtext; mso-border-bottom-alt: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt; mso-padding-between: 1.0pt; mso-padding-bottom-alt: 1.0pt; padding: 0cm 0cm 1pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></a><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">4</span></span> <span style="font-family: "times new roman" , "serif"; position: relative; top: -3pt;">B.N. Visitação de D. Jorge d'Athaide. </span><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; position: relative; top: -3pt;">COL.POMBALINA</span><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 14pt; position: relative; top: -3pt;">, </span><span lang="EN-US" style="font-family: "times new roman" , "serif"; position: relative; top: -3pt;">741</span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<div style="border: 1pt solid windowtext; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-element: para-border-div; padding: 1pt;">
<div class="MsoFootnoteText" style="border-color: currentColor currentColor windowtext; border-style: none none solid; border-width: medium medium 0.5pt; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-between: .5pt solid windowtext; mso-border-bottom-alt: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt; mso-padding-between: 1.0pt; mso-padding-bottom-alt: 1.0pt; padding: 0cm 0cm 1pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span lang="EN-US" style="color: black; font-size: 9pt;">Peter
Whitfield<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></a><span lang="EN-US" style="color: black; font-size: 9pt;">History of European
Art<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="border: currentColor; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-border-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-between: .5pt solid windowtext; mso-padding-alt: 1.0pt 1.0pt 1.0pt 1.0pt; mso-padding-between: 1.0pt; mso-padding-top-alt: 1.0pt; padding: 1pt 0cm 0cm;">
<span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">1</span></span> <span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9pt;">T.T. Corpo Cronológico. Mº 10, Nr.135</span></div>
</div>
</div>
</div>
<br />Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-44112744774032961422016-04-13T11:45:00.002+01:002016-04-13T11:45:57.062+01:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº XIV O MUNDO NO MOSTEIRO<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt;"><span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 22pt;">S</span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: small;">ão Bento enaltecera a hospitalidade como uma grande virtude, e
recomendara-a muito particularmente aos religiosos: ‘todos os hóspedes que
sobrevierem sejam recebidos como Cristo’, dizia a Regra. O abade deveria
receber os hóspedes com o beijo da paz, rezaria com eles à sua chegada,
dar-lhes-ia água às mãos, e tanto ele, abade, como todo o convento, lhes
lavariam os pés. O abade poderia mesmo, caso fosse necessário, quebrar o seu
jejum ‘por amor aos hóspedes’. Recomendava-se particular cuidado e atenção com
os pobres e com aqueles que andavam em peregrinação. Os hóspedes ricos não
requeriam grandes atenções, dizia São Bento, eram suficientemente enaltecidos
por si, ‘com o espanto que causa o seu aparato’. A comida dos hóspedes devia
ser cozinhada em cozinha própria. caso esta não existisse, os hóspedes seriam
servidos da cozinha do abade. Isto para que os visitantes - os quais, como a Regra
observava - nunca faltavam num mosteiro - não inquietassem a comunidade caso
chegassem ‘fora de horas’. <o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: small;">As monjas seguiram, tanto quanto possível, os preceitos
recomendados aos monges. Para que se pudessem oferecer aos viandantes o bom
acolhimento que a Regra recomendava, foram nascendo junto dos mosteiros casas
separadas para albergar hóspedes. Eram os mais apetecidos locais de pernoitar.
Grandes senhores com as suas convidadas, os próprios reis e príncipes lá se
albergavam. Clérigos em missões, oficiais de justiça, almocreves, batiam à
porta dos albergues dos mosteiros. <o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: small;">Estas hostelarias – ou hostais - eram em geral junto do mosteiro,
mas as monjas de Arouca mantinham, além deste, um albergue afastado. O
‘albergueiro’ amanhava uns casais do mosteiro, na condição de ‘dar de pão e de
leite aos que aí forem e camas e fogueiras’1 <o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"><span style="font-size: small;"> </span></span><span style="font-size: small;">As mais
frequentadas hospedarias monásticas eram naturalmente as dos mosteiros que se
situavam perto duma estrada concorrida, ou na encruzilhada de caminhos de
peregrinação. Nada disso se dava em Lorvão. Situado em local isolado, poucos
ali se albergariam. Era caminho de algum viajante que, vindo das terras da
Beira Alta, se dirigisse para a Guarda e talvez para fora do reino, podia optar
pela travessia da serra do Bussaco, e iria pernoitar em Lorvão. Mas não eram os
passantes quem mais se hospedava mosteiro, e sim aqueles que ali vinham tratar
dos seus negócios. Os que pretendiam comprar ou vender terras, discutir novos
arrendamentos, novas formas de pagamento. Eram assuntos que não se resolviam de
um dia para o outro, que podiam obrigar o visitante a pernoitar uma ou mais
noites. Em 1361, quando o Senhor de Carvalho fez uma importante troca de terras
com a abadessa de Lorvão, o acto foi testemunho por Dom Frei Lourenço, abade do
mosteiro de São Cristóvão de Lafões, por Joam Fernandes, cavaleiro da Ordem de
Santiago, por Afonso Vicente, prior da Marmeleiro, e por Domingos Aires, homem
do dito Álvaro Fernandes. Toda aquela gente permaneceu mais de um dia em
Lorvão, hospedando-se na hospedaria do mosteiro. Sucedia que homens da Igreja
se reunissem no recato de Lorvão para debate ou conferência. Em 1298
juntaram-se lá, e testemunharam um documento, os abades de Vila Maior, do
Bispado do Porto e o Abade do Canado (sic) do Arcebispado de Braga. Um contrato
de arrendamento redigido em latim germanizado aponta para a presença de um religioso
alemão, que por ali passou, ali se demorou, e fez o favor de ajudar no
escritório. Outros viajantes chegavam, tratavam dos seus negócios, partiam.
Eram hóspedes que não perturbavam o recato das monjas. Havia porém outro tipo
de hóspedes. <o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"><span style="font-size: small;"> </span></span></div>
<span style="font-size: small;"><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
Os fundadores de
mosteiros e seus descendentes tinham hospedagem assegurada na acta da fundação
do novo mosteiro, reservando, para si e sua família, o direito da visita ao seu
mosteiro. Em alguns casos até tinham o privilégio de pernoitar com toda a sua
comitiva. E toda ela era alimentada e mantida pelo tempo que lhe que lhe
conviesse. Perturbavam a tranquilidade das habitantes do seu pequeno mosteiro e
arruinavam-lhe as finanças. Os fundadores reais faziam o mesmo. Provavelmente
tinham sido eles os inspiradores. Quando D. Diniz fundou o mosteiro de
Odivelas, estipulou quem poderia entrar no mosteiro: ‘in claustrum’. Era
permitida a entrada a ele, rei, aos seus sucessores, acompanhados de pessoas
honestas e idóneas. E ainda ao bispo de Lisboa e ao abade de Alcobaça, com dois
acompanhantes cada. O rei nomeava ainda os homens - médico, sangrador,
carpinteiro etc - que no exercício das suas funções ou ofício podiam entrar na
parte claustral do mosteiro. Isto quanto a homens, porque à entrada de ‘boas
donas’ não se punha qualquer entrave. </div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-z-1LLAa5pA8/Vw4iTSFarbI/AAAAAAAAAWw/V5z4YVI7d_gEcDrvbnIKdLu0DbwzEtcYQCLcB/s1600/visita.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-z-1LLAa5pA8/Vw4iTSFarbI/AAAAAAAAAWw/V5z4YVI7d_gEcDrvbnIKdLu0DbwzEtcYQCLcB/s1600/visita.png" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 9pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">Servindo uma <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>importante visita</span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
A porta estava aberta a todas as grandes
senhoras, já que todas se consideravam ‘boas donas’, e portanto com o direito
de visitar o mosteiro, e mesmo de lá se instalar. <o:p></o:p></div>
</span><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
</div>
</span><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: small;">Tanto rainhas como particulares apreciavam a comodidade que
oferecia a vizinhança da casa monástica, e construíam casas perto do mosteiro para
ali passarem um tempo. A rainha D. Isabel construíra casas junto de Santa Clara
de Coimbra e legaria as casas ao mosteiro, com recomendação que, depois de sua
morte, pudesse lá ficar, com o consentimento da abadessa e do rei, alguma
pessoa da sua linhagem ‘mais chegada’ Também ali poderiam ficar, sempre que o
desejassem, ‘quando lhes cumprir’, os futuros reis, e seus herdeiros com suas
mulheres. Foi nessa casa, contígua ao mosteiro, que o infante D. Pedro
instalaria D. Inez de Castro, e aí que nasceriam os seus filhos. <o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-ntaPDCKEOj8/Vw4jFBZfnXI/AAAAAAAAAW4/mTnoOxyCirovQhLfuhWyBVq3bMpSHpGvgCLcB/s1600/justa.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-ntaPDCKEOj8/Vw4jFBZfnXI/AAAAAAAAAW4/mTnoOxyCirovQhLfuhWyBVq3bMpSHpGvgCLcB/s1600/justa.png" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Justa</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">D. Leonor de Aragão foi instalada na mesma casa antes de casar com
o futuro rei D. Duarte. As festas de casamento, com todas as cerimónias e
pompas próprias, realizaram-se na igreja do mosteiro. Depois da cerimónia
religiosa, a noiva jantou com as suas damas na sala do Capítulo. E todas assistiram
às justas que se realizaram diante do mosteiro.</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> <span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Lorvão não participou activamente nesses festejos, mas teve por
esta ocasião visita real. D. Duarte e o infante D. Henrique, foram até ao Botão
visitar Vasco Pais do Couto, que fora aio deles, e ali vivia. Pernoitaram na
casa que o mosteiro de Lorvão aí tinha. </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 9pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: small;">D. Joana, a segundo mulher de D. Afonso V, conhecida por
‘Excelente Senhora’, instalava-se igualmente - não de sua inteira vontade, é
verdade – nas casas junto convento de Santa Clara de Coimbra, e aí morreu.
Todas estas senhoras eram muito devotas, algumas, quase santas, mas, por mais
devotas que fossem, não lhes era lícito abdicar das prerrogativas do seu
estado. A sua posição exigia que fossem servidas por pessoal numeroso, e havia
que ter com elas cuidados e atenções próprias do seu grande estado. Tudo pouco compatível
com o recato monacal que as mesmas senhoras exigiam das monjas.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"><span style="font-size: small;"> </span></span><span style="font-size: small;">No caso de Lorvão
a sua localização não o fazia apetecido como local de festejos e também não agradava
como refúgio das grandes senhoras. E não sofria de imposições de hospitalidade
de fundadores, porque a rainha D. Teresa tivera o cuidado de não impor
condições desse tipo ao mosteiro que protegera. Mas não o livrou de visitas, e
algumas das suas abadessas foram notoriamente hospitaleiras.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: small;">Na acta da visitação de 1536, o visitador ocupa-se justamente da
exagerada hospitalidade da abadessa, proibindo a esta e às suas monjas, sob
pena de excomunhão, de receberem dali em diante a ‘nenhuma pessoa que seja, de
nenhuma condição, nem tempo, nem maior idade, nem menor que seja, nem por causa
nenhuma que parecer, para a receber.’ E, evidentemente, não as manteriam na
dita casa, ‘à custa do dito mosteiro’. Se alguma dessas pessoas, criança ou
velha, estivesse naquela ocasião dentro do mosteiro, ordenava-se que seus pais
e parentes lhes dessem lá meios de sustento, ou que os levassem para as suas
casas: ‘Mandamos que dentro de três meses sejam mandados para fora do mosteiro,
se as não mantiverem os ditos parentes’. <o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 22pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: small;">Havia outro tipo de hóspedes, que os visitadores também não
apreciavam, mas que em geral tinham de tolerar. Eram as senhoras que tinham na
cerca do mosteiro pequena casa ou cela, na qual, a troco de uma soma estabelecida
por contrato, podiam viver até à morte. Estes contratos nem sempre provavam tão
lucrativos como a abadessa e o convento esperavam. Se a casa era afastada,
construída em terrenos do mosteiro, o pagamento podia ser em géneros produzidos
na terra em que a casa se construíra. Se a terra era boa e bem amanhada, e a
pensionista fazia o favor de morrer cedo, o contrato podia ser proveitoso. Mas
as propriedades nem sempre eram tão rentáveis como as suas donas as tinham
pintado. Havia os anos maus, em que nem mesmo as melhores produziam. Outra forma
de contrato era o pagamento pela pensionista de uma soma avultada para o seu
sustento até à morte. Era contrato com o qual as abadessas pensavam estar
fazendo óptimo negócio, e que só o era, quando a pensionista vivia pouco tempo.
Quando ela persistia em viver muito para lá do tempo que se calculara, o
mosteiro tinha de alimentar mais uma boca, quando a soma recebida para o
sustento da pensionista já estava mais que esgotada. E quando a moeda já podia
ter baixadodo de valor. Apesar de tudo isso, apesar dos bispos e visitadores
constantemente fulminarem contra a prática, as abadessas, sempre necessitadas
de dinheiro, não sabiam resistir à tentação da venda de pensões por moeda
sonante.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"><span style="font-size: small;"> </span></span><span style="font-size: small;">As primeiras
hospedam desse tipo, as primeiras pensionistas, entraram aliás para Lorvão pela
mão da própria fundadora. Em 125O, pouco antes de sua morte, a rainha D. Teresa
firmou um acordo com a então abadessa, para que uma tal Maior Pedro, sua
protegida, sua ‘clientula’, pudesse viver em Lorvão até ao fim dos seus dias.
Dar-se-lhe-ia a casa que fora de Teresa Sanches - uma pensionista anterior,
portanto - e receberia de alimentação o mesmo que as monjas. As suas serventes,
por sua vez, teriam o mesmo que aquelas que serviam o mosteiro. Em troca, o
mosteiro receberia depois da morte da dita Maior Pedro, a herdade do Pereiro,
que a rainha doava para esse fim à sua protegida.</span></span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 22pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: small;">Não se tratava naqueles casos de personagens que requeressem
atenções especiais, mas a sua presença também não devia ser condutiva à paz
claustral, trazemdo para o mosteiro as notícias e os boatos do grande e pequeno
mundo. A ideia era humana, respondia a uma necessidade, e não espanta que viesse
a ser geralmente adoptada na maioria dos mosteiros femininos.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span></span> </div>
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-33468816048047249982016-04-06T12:37:00.001+01:002016-04-06T12:37:19.765+01:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº XIII DO SCRIPTORIUM<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-pTz1_ivHpOU/VwTxeqsGG5I/AAAAAAAAAWM/IowXe4y4GugaB-OTijsq-0sTibAikSJig/s1600/escriv%25C3%25A3o.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-pTz1_ivHpOU/VwTxeqsGG5I/AAAAAAAAAWM/IowXe4y4GugaB-OTijsq-0sTibAikSJig/s1600/escriv%25C3%25A3o.png" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 9pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-no-proof: yes;">O<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>escrivão </span></td></tr>
</tbody></table>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt;">E</span></b><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">m mosteiro grande, e grande proprietário como era o de Lorvão, uma
das mais importantes oficinas era o escritório. Era no escritório que se
centrava a administração da casa. Recebia-se a gente que vinha tratar de
negócios, discutiam-se e redigiam-se contratos, escreviam-se cartas. Eram
tarefas que exigiam conhecimentos, homens que estivessem à vontade em matéria
de escrita, conhecendo bem o latim, sabendo o formulário correto a usar em
cartas para soberano, bispos e leigos. Não podiam ser demasiado vagarosos, os
documentos eram muitos, e sempre escritos em duplicado, em certos cassos, em
triplicado, a cópia tão correcta como o próprio original. Não era trabalho para
leigo. Escribas competentes havia que os procurar entre os religiosos das
Ordens. Em Lorvão e em Arouca havia como se viu, entre a gente de fora, um
pequeno grupo de homens, monges e padres, que cantavam os ofícios divinos,
ministravam os sacramentos, e que eram, juntamente, os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">scribas</i> do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">scriptório</i>. Um
deles podia ser designado para secretariar a abadessa, e era de entre eles que
era escolhido o procurador do mosteiro.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-npDaZXVm06w/VwTxiwDnGCI/AAAAAAAAAWQ/xmSsiWD0hHQZ8EqStdYgvi13dO8jMa9_w/s1600/documentos%2Benrolados.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-npDaZXVm06w/VwTxiwDnGCI/AAAAAAAAAWQ/xmSsiWD0hHQZ8EqStdYgvi13dO8jMa9_w/s1600/documentos%2Benrolados.png" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 9pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-no-proof: yes;">Documentos ligados<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>enrolados</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Em 1361, quando se redige num contrato de escambo (sic) entre a
abadessa dona Mécia Vasques da Cunha e Álvaro Fernandes, senhor de Carvalho,
está presente ‘Estevão Domingues, escrivão da dita abadessa’. Em 1406, no
emprazamento de uma almuinha em Coimbra, a carta de contrato é assinada e selada
pela abadessa, tendo sido escrita pelo seu escrivão, ‘Estevão Lourenço: ‘Nosso
escrivão a fez’, lê-se. À cabeça do escritório estava o procurador. Era o braço
direito da abadessa, tratando diariamente com ela dos assuntos correntes. A
abadessa era senhora do mosteiro e uma proposta sua respeitosamente recebida,
mas era maduramente pensada pelo procurador, Um pouco razoável projecto de Dona
Abadessa podia ser imposto ao procurador contra sua vontade. Tudo indica porém que
Lorvão foi na generalidade bem administrado e gerido. Que teve procuradores, ou
feitores – a outra designação para o cargo – competentes<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-TadbbNKL6Vk/VwTztQk0lyI/AAAAAAAAAWY/Llu0B4HtMqwkjSdowauGJMsDwFScsnFPA/s1600/noescrit.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-TadbbNKL6Vk/VwTztQk0lyI/AAAAAAAAAWY/Llu0B4HtMqwkjSdowauGJMsDwFScsnFPA/s1600/noescrit.png" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">
</span><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt 35.4pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 9pt;">No <i style="mso-bidi-font-style: normal;">scriptorium</i><o:p></o:p></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span></td></tr>
</tbody></table>
</span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT; mso-no-proof: yes;"><o:p></o:p></span></div>
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Quando as monjas tomaram em Lorvão o lugar dos monges, o seu
procurador, instalou-se naturalmente no local onde funcionara a anterior
administração. Um documento do século XIV, permite visualizar com razoável
certeza o local onde se situava o escritório. Em 1398, Joham da Ponte, prior de
S. João de Loure, faz uma doação a Lorvão por meio de testamento, e esse
testamento fora feito, lê-se, ‘no mosteiro de Lorvão na torre dos procuradores’.
Ou seja, na torre onde trabalhavam os procuradores. <o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Nos primeiros mosteiros beneditinos existia um corpo distinto, uma
torre, que, quer ligada ao corpo principal do mosteiro, quer ligeiramente
afastada dele, servia aos monges de atalaia e de portaria. Ainda hoje se
reconhecem em Lorvão, os vestígios dessa torre. Era nesse corpo em forma de
torre que era o escritório. O visitante era recebido pelo monge porteiro, e
encaminhado por ele, caso ele viesse em matéria ligada à administração, para
uma sala de espera: o ‘parlatório de despacho’ O padre que em 1398 fez a doação
ao mosteiro fê-lo na sala de despacho, que era, especifica ele o local onde
esses ‘autos’ se faziam. Havia outro parlatório junto da portaria, esse
destinado a quem pretendesse tratar de negócio com alguma das monjas. Nesse
caso, o visitante era encaminhado para ‘a varanda que está na portaria do dito
mosteiro, aí na grade do parlatório que ali está, que é lugar costumado para se
fazerem tais autos’. Muitas monjas tinham bens próprios que administravam.
Discutiam os negócios à grade do palratório da varanda da torre. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A assinatura dos documentos pela abadessa e ratificação de seu
convento não se fazia sempre no mesmo locai. A grande maioria dos contratos era
assinada na casa da abadessa. Assinam-se porém igualmente em outros locais
devidamente apontados na escritura: ‘à porta da sala do capítulo’, junto do
altar de um santo etc <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Toda grande empresa tem de guardar e arquivar os documentos que
recebe e a cópias dos que enviou. Uma vez o documento assinado, uma cópia era
depositada no cartório ou arquivo. A arrumação nem sempre era perfeita. Foi por
mero acaso que, em 1421, se descobriu um pequeno livro de apontamentos do
século XIII, contendo os nomes dos rendeiros do mosteiro na região de Coimbra
após a saída dos monges, mencionando muitos bens e rendas de que se havia
perdido o direito. É um dos primeiros tombos de propriedades do mosteiro, ou,
pelo menos, um dos primeiros de que há notícia. Pedro Anes, então procurador,
considerou o achado de tal importância, que mandou registar o achado por um
notário. Fica-se assim a saber, que o livro fora achado no mosteiro de Lorvão,
pelo seu procurador, a 6 de Fevereiro da era de 1459 - ano de 1421. E que o
dito livro, junto com outros documentos, fora achado ‘em casa onde são as arcas
das escrituras, em uma arca velha, onde jaziam escrituras antigas.’ Havia
outras escrituras ‘em sacos velhos traçados e em cofres de coiro’. O tabelião
Estevão Anes testemunhou que, em presença dele, tabalião geeral por el rei Entre
Douro e Mondego, e das testemunhas adiante nomeadas, o dito Pero Anes achara
‘este livro em a dita arca antiga.’<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>É provável que
fosse a partir dessa descoberta que se procedeu a uma primeira organização sistemática
do arquivo do mosteiro. Várias outras houve no decorrer dos anos.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O arquivo de
Lorvão difere da maioria dos cartórios de outras casas de religiosas na sua
organização e no tipo de documentos que nele se conservavam. Em Lorvão não se
guardava todo e qualquer pergaminho ou papel escrito. Arquivava-se o que
pudesse servir, ou vir a servir no futuro, à administração do mosteiro. E só
isso. É visível que se procedia periodicamente à eliminação daquilo que não
interessava esse fim. Se a evidência não o demonstrasse, tínhamos a confirmá-lo
a carta de uma abadessa quinhentista, que requere autorização para mandar
copiar documentos, dando-lhes o valor de originais, porque, diz ela, os
escrivães destruíam anualmente as escrituras que tinham mais de um ano. E assim
– só para dar um exemplo - em cartório de mosteiro tão grande e antigo como era
Lorvão, não se encontra um único contrato de obras anterior ao século XVII.
Faltam igualmente os contractos que forçosamente se faziam com obreiros. No
cartório do mosteiro de Chelas, que não sofreu arrumação que se veja, há
inúmeras escrituras de contratos com mestre d’obras. Em Lorvão, onde o ‘mestre
das obras’ com os seus criados aparece constantemente como testemunha, não se
acha qualquer contracto de execução de obra sua. Quanto a documentos que
tivessem pertencido às próprias religiosas - numerosíssimos no cartório de
Chelas - não existem em Lorvão. As religiosas tinham forçosamente papéis
particulares, elas adquiriam objectos. Devia haver vestígios, e não há. Em 1368
uma dona do mosteiro de Chelas, compra a João Alcatra, judeu de Sevilha, por
160 libras, uma escrava moura branca, de nome Moeriam, ‘sã dos pés, das mãos,
dos olhos’. No cartório de Lorvão talvez não houvesse compras dessa natureza, mas
outras decerto se fizeram, e nenhum documento comprovativo existe. Quando,
depois da sua morte, a propriedade de uma monja passava para posse do mosteiro,
a documentação que dizia respeito à respectiva propriedade dava entrada no
cartório. Outra documentação, que a mesma monja tivesse possuído, não tinha a
mesma sorte. Sucessivas medidas tomadas por sucessivas abadessas e
procuradores, iam num sentido: ter um cartório funcional, de fácil consulta no
que interessasse à administração,. Os Tombos das propriedades que
periodicamente se mandavam fazer, as cópias que se executavam de documentos
importantes e de difícil leitura, iam todos nesse sentido. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Na arrumação usou-se, para os primeiros documentos - aqueles que
datavam da longínqua fundação do mosteiro até ao século XIII - uma ordenação
puramente cronológica. A partir daí, a arrumação é por locais de proveniência,
o que, para efeitos administrativos, era sem dúvida mais conveniente. Os
documentos eram ainda classificados como sendo de primeira ou segunda ordem, e
consoante o seu valor, eram reunidos em ‘gavetas’, e em ‘maços’.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Em 1522 uma revolução na escrita iria afectar o trabalho dos
escribas nos seus escritórios. Até ali escrevia-se com letra gótica, laboriosamente,
letra por letra. Ora um italiano, escriba na Curia Romana, chamado Ludovvico
Arrighi, publicou nesse ano de 1522 um pequeno panfleto com o título de ‘La
Operina’, no qual propunha que as letras não fossem angulares, mas
arredondadas. Dessa forma cada letra ligada à letra seguinte, o que dava outra fluidez
a escrita. Não se requeria um ponto entre cada palavra, bastava separá-las por
um pequeno intervalo. </span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
</div>
</b><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-Ydz6yBN8R7g/VwT0MWBgZpI/AAAAAAAAAWc/zp2yQogrWjIC6p88cxtweAKXCHuDRGl7w/s1600/letras.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-Ydz6yBN8R7g/VwT0MWBgZpI/AAAAAAAAAWc/zp2yQogrWjIC6p88cxtweAKXCHuDRGl7w/s320/letras.png" width="224" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">
</span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 8pt;">La
Operina </span></i><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 8pt;">de Ludovico </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 8pt;"> Arrighi<o:p></o:p></span><span style="font-size: small;">
</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Os escribas, os notários adoptaram rapidamente a nova escrita, dita
‘romana’ ou ‘itálica’. Escrevia-se muito mais depressa, como os novos tempos
exigiam. Foram desaparecendo os escribas que a soubessem ler a letra gótica, e
muitos desaprenderam o latim dos antigos documentos. Em Lorvão era frequente
enviar fora para consultar um especialista. O escritório, esse, manteve-se no
mesmo local, na velha torre dos procuradores.<o:p></o:p></span></div>
</div>
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-32868827721539895062016-03-29T12:02:00.004+01:002016-03-29T12:02:51.696+01:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº XII A GENTE DE FORA
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 22pt;">U</span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">m livro de notas do mosteiro de Arouca do século XIV, que, decerto
por engano, se encontra entre os documentos de Lorvão, dá conta dos homens que aquele
mosteiro empregava, e de como eram pagos. Não há livro igual para Lorvão, mas
os dois mosteiros tinham muito em comum, Arouca era, tal como Lorvão, de monjas
da Ordem de Cister, fora fundado pela infanta D. Mafalda, irmã da padroeira de
Lorvão. Arouca era igualmente rico em terras. Os dois mosteiros empregavam
forçosamente a mesma ordem de homens. Mandado fazer pela abadessa dona Guiomar
Mendes de Vasconcelos, o livro indica em primeiro lugar o que recebiam ‘os
monges e frades 00 confessos e homens de dona abadessa de capas e de saias’, seguem-se
´’azeméis, e mancebos de forno, e arengueiros, e todos os que hão de haver
soldadas, e rações, e mantimento do dito mosteiro de Arouca”.1 <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>À cabeça desses
homens estavam os padres monásticos que rezavam as missas, que ministravam os
sacramentos. Era de entre eles que se escolhia o procurador do mosteiro, eram eles
os escribas que trabalhavam no escritório. Seguiam-se-lhes, em ordem de
importância, os ‘homens de dona Abadessa de capas e saias’, criados ou
empregados fardados, dir-se-ia hoje. Andavam por fora, iam ali onde o mosteiro
tinha terras e outros interesses. Recebiam soldada certa e ajuda de custo.
Sendo esta maior ou menor conforme a distância das terras onde o serviço os
levava. Se iam ao Porto, ou a terras de Além-Douro recebiam mais do que indo a
locais da Beira ou Estremadura: ‘de andarem em Além Doiro dez reis e meio, e na
Estremadura, três.’<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Pagavam-se também
soldadas a um frangueiro, a um mancebo do hostal, ao poqueiriço, ao pateiro, ao
cozinheiro dos frades confessos, ao forneiro, ao moleiro, ao mancebo do
moleiro, ao carpinteiro, ao vaqueiro, ao ‘albergueiro do Monte de Fruste’, ao
meirinho, ao tabelião, ao moço da capela, ao ferreiro, ao sapateiro das donas’,
ao ‘sapateiro de fora’, e a numerosos azeméis.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Os ‘homens de Dona Abadessa’ de Arouca eram muito bem pagos e o
mesmo sucederia sem dúvida em Lorvão. Recebiam oito libras para vestir e
calçar, tinham mantimentos e ‘comedorias’ e, como foi dito, uma ajuda de custo
nas suas deslocações.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Lorvão, tal como Arouca, tinha homens ‘de Dona Abadessa’ indo a
toda a parte onde tinha propriedades. Verificavam obras, testemunhavam actos de
compra, de venda, de arrendamento, e tinham frequentemente procuração da
abadessa para firmar contratos. Em Fevereiro de 1349, Afonso Fernandes, ‘homem
de dona Guiomar abadessa’,3 está longe de Lorvão, tratando de determinado
assunto. Em 1367, cita-se um Martim Domingues ‘homem e procurador de Dona
Abadessa’. Em documentos de Lorvão fala-se por vezes em ‘mandadeiro’. Num
contrato de emprazamento feito em 1292 por dona Constança Soares estipulava-se
que o ‘mandadeiro’ do mosteiro, quando fosse ‘pela renda’, fosse albergado
durante um dia pelo rendeiro. Caso o mandadeiro, por motivos desse pagamento,
se visse obrigado a ficar mais tempo do que previsto, as custas e despesas
caberiam ao respectivo rendeiro. ‘Quando nossos mensageiros, oficiais e
procuradores forem por vossa casa, recebam honra e gasalho com o que tiverdes’,
recomendava em 1500 dona Catarina d’Eça.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Na sua maioria, os homens que tinham trabalho fixo no mosteiro,
eram pagos também em géneros O livro da abadessa de Arouca especifica
detalhadamente esses pagamentos. Aos frades que lá faziam serviço dava-se
anualmente, a cada um, um par de sapatos de vaca e outro de carneiro, e de
ração recebiam três pães de convento, meio alqueire de ‘vinho de convento’<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>- do bom, portanto - e azeite. Todos os Domingos
dava-se-lhes uma peixota e meia. Sardinhas recebiam, lê-se, ‘o mesmo que há uma
monja.’ Quando se fazia azeite, dava-se uma porção dele aos frades e,
separadamente, mais algum para ‘folhões e pão de manteiga’. Quando se matava o
porco, os frades recebiam duas espáduas dele, e pela Páscoa, tinham cabritos.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Os ‘homens de dona abadessa’ eram, como se viu, pagos em dinheiro,
e quando iam fora, recebiam também dinheiro para mantimentos. Quando iam longe
e se iriam demorar recebiam naturalmente mais. Em deslocação para lá do Douro
recebiam 10 e meio reais para mantimento. Quando andavam na Beira e na
Estremadura recebiam 3 reais. Quando estavam em Arouca tinham diariamente três
pães ‘raçoeiros’ e três fiais (sic) de vinho. Aos Domingos recebiam quatro
postas de carne e umas peixotas. Quando da matança, recebiam três espáduas de
porco, que lhes deviam durar de Natal ao Entrudo. Pelo Entrudo davam-se-lhes
cabritos ou leitões. Na Quaresma, recebiam, além da meia peixota que tinham aos
Domingos, todos os quinze dias nove sardinhas. Os ‘mancebos de forno’ recebiam
de soldada 4 libras e meia, uma capa e uma saia de burel e uns sapatos. De
ração davam-se a cada um três pães pequenos e seis broas. Aos Domingos tinham
oito postas de carne, e desde Natal até ao Entrudo recebiam sete espáduas de
porco ‘para todos’. Pelo Entrudo ‘senhas letigas,’ (sic) e pelo ano fora
sardinhas. Os azeméis tinham de soldada 4 maravedis e 5 reais e ‘senhos (suc)
quinteiros de milho’. Recebiam por dia um micho e duas broas e ums ‘fiaes’ de
vinho. Por dia de São Miguel havia para todos uma perna de vaca. Pelo Entrudo
‘senhas letigas (sic) ou senhas galinhas’. Tinham também uma espádua de porco
pela matança e uns centos de sardinhas.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Indicam-se em seguida as soldadas e as rações que cabiam aos
outros trabalhadores: ao mancebo da vinha da Corredoira, ao mancebo da Vorida
(sic), ao frangueiro do Burgo, ao mancebo do hostal, ao porqueiriço, o pateiro,
ao cozinheiro dos frades, ao forneiro, ao moleiro, ao mancebo do moleiro, ao
carpinteiro, ao vaqueiro, ao albergueiro de Monte de Fuste. E ao juiz de
Arouca, e ao meirinho, e ao tabelião, e ao juiz de Antoã. A sacristã, a
ajudante da monja que tinha esse cargo, também recebia soldada. E o moço de
capela, o ferreiro, o sapateiro das donas, e o sapateiro de fora. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A distribuição dos salários em dinheiro cabia à monja bolseira, a
dos outros géneros à celeireira. Não devia ser pequena tarefa. Não havia dois
assalariados recebendo as mesmas porções de pão, ou de outro géneros. O
frangueiro do Burgo recebia três pães dos pequenos e desasseeis broas, o
mancebo do hostal recebia três michos e dez broas etc. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Homens de fora eram também os ‘caminheiros’, que eram contratados
para levar recados a longas distâncias. Em 1359, as religiosas do mosteiro de
Chelas, querendo se queixar ao Papa do bispo de Lisboa ‘por razão de muitos
agravos’ que o Bispo lhes fazia, contrataram -‘caçaram’-, um mensageiro, ‘que
lhes levasse o dito feito à corte de Roma’. O mensageiro escolhido foi um
clérigo chamado Pedro Annes. Confiaram-se-lhe as escritas que devia entregar na
corte papal e vinte florentins de oiro para as suas despesas. Depois de se ler
a escritura do contrato, o dito Pero Anes ‘começara logo a ‘andar seu caminho
com um bordão na mão e um dobral ao colo como homem</span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 22pt;"> </span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">caminhante’. 3 <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Em 1417 certas Donas do mesmo mosteiro de Chelas mandam também recado
a Roma. Queixam-se da sua prioresa. Fizeram contrato com ‘um mancebo chamado
João Fernandes, oriundo de Vila Cova a Coelheira, no bispado de Lamego. O
mensageiro, devidamente apetrechado ‘com um sombreiro e um dardo na mão e um
barril na cinta’, recebeu moedas de vários países, prometeu que faria tudo que
lhe mandavam, e que traria de todo recado ‘guardando-o Deus do mal e de outra
cacom (sic)’. E pôs-se logo a andar ‘como homem caminhante, que segundo parecia
queria seguir caminho’.4<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> <table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-A8VETgJ-IMA/Vvpfd5eQnjI/AAAAAAAAAVk/Q-FjQTHykKAOXJkELjHQp1aA0JagslepQ/s1600/caminheiro.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-A8VETgJ-IMA/Vvpfd5eQnjI/AAAAAAAAAVk/Q-FjQTHykKAOXJkELjHQp1aA0JagslepQ/s1600/caminheiro.png" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Caminheiro</td></tr>
</tbody></table>
</o:p></span></div>
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Estes caminheiros não eram os únicos correios contratáveis. Os
recados para Roma sendo frequentes, havia quem se dedicasse unicamente a levar
esses recados, eram ‘caminheiros da corte de Roma’. Não encontrámos contratos
com caminheiro no arquivo de Lorvão, o que não espanta, o mosteiro tinha homens
de sobejo a seu serviço a quem confiar missões dentro e fora do País.<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Importante também entre a gente de fora, era o mestre das obras. Os
incêndios eram frequentes, as inundações repetiam-se nos mosteiros, que na sua
maioria estavam implantados junto de correntes de água. As tempestades de chuva
e vento faziam estragos nos telhados. Convinha ter mestre de obra à mão, e lá
estavam. Entre os homens que testemunharam em Lorvão o treslado de uma Bula
papal estão ‘Johã de Salamanca, mestre das obras de carpintaria do dito
mosteiro e Gonçalo Affonso, carpinteiro.’. Em 1500 uma procuração dada por dona
Catarina d'Eça é testemunhada por ‘João Vaz, mestre das obras, e António Pires
seu criado’<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-dQZ4QDhNQv0/VvpfvYdUOAI/AAAAAAAAAVo/O2Xr3sAACksuyocdeE4mxwDi51K3RT1kQ/s1600/ouvrier2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="205" src="https://1.bp.blogspot.com/-dQZ4QDhNQv0/VvpfvYdUOAI/AAAAAAAAAVo/O2Xr3sAACksuyocdeE4mxwDi51K3RT1kQ/s400/ouvrier2.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Gente das Obras</td></tr>
</tbody></table>
</o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Indispensáveis para o bom funcionamento da vida doméstica e
administrativa de um mosteiro situado longe de una grande cidade eram os
almocreves, que traziam de fora tudo aquilo que não se criava, ou se cultivava,
no mosteiro. <table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-W3hVgXbxL64/VvpgD_QsLgI/AAAAAAAAAVw/HYMTEjH5zSEc024yo-lMQUlqnfRJs7IJA/s1600/almocreve.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="224" src="https://2.bp.blogspot.com/-W3hVgXbxL64/VvpgD_QsLgI/AAAAAAAAAVw/HYMTEjH5zSEc024yo-lMQUlqnfRJs7IJA/s320/almocreve.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O Almocreve</td></tr>
</tbody></table>
À Esgueira, vila de pescadores, iam os almocreves regularmente
buscar o peixe, que os seus habitantes eram obrigados a fornecer ao mosteiro.
Quando havia urgência, perante uma importante e inesperada visita, por exemplo,
os almocreves iam comprar o peixe a Buarcos, que ficava mais perto do que a
Esgueira<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O livro de dona Guiomar é um livro de salários e rações. Não cabia
nele a menção daqueles muitos homens que, trabalhando ‘fota’ do mosteiro, não
eram obreiros pagos se bem que constituíssem o seu mais importante braço de
trabalho. Arouca tinha decerto, tal como Lorvão, servos e escravos a seu
serviço, gente que lhe pertencia, que era posse sua, transmitida de abadessa
para abadessa, da mesma forma que se transmitiam as terras, e as casas, e os
animais. Na sua carta de protecção ao mosteiro de Lorvão, o rei D. Fernando
inclui nesses bens os seus ‘servos e escravos’. A coisa vinha de longe, do
tempo dos monges negros. Muitos devotos tinham-lhes legado terras e casais, e
outros bens, tais como os seus escravos mouriscos, ‘homes sarracenos meos’. A
iniquidade tardou a desaparecer. Uma criança nascida de servo ou serva era
serva como seus pais, a sua libertação dependendo do critério dos senhores de
seus pais. Em princípios do século XV, um padre de Lorvão teve um filho de uma
serva do mosteiro. A criança teria sido serva como a mãe, se não fosse as
monjas terem unanimemente declarado que a criança seria forra. Os pais do
progenitor, Lourenço Froles e Ana Vicente, festejaram a liberdade do neto,
oferecendo ao mosteiro uma vinha e um cortiçal que tinham em Gondelim, junto de
Penacova. A escritura dessa doação - espontânea ou não - refere que, por lhes
ter sido dito, que “dona Mécia Vasques da Cunha abadessa do mosteiro de Lorvão
e toda as outras donas e convento do dito mosteiro forraram e fizeram forro
Gonçalo, neto do sobredito Lourenço Froles, e filho de Estêvão Lourenço, e porquanto
o dito Estêvão Lourenço o fizera em uma serva do dito mosteiro, e o dito
Gonçalo seu neto ficava por isto servo do dito mosteiro pela dita razão’.5 <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Trabalhavam ainda para o mosteiro sem salário aqueles homens os
quais, pela carta de foral que lhes fora concedidas a eles, ou à terra onde
residiam, eram obrigados a fazer ao mosteiro determinado serviço para o
mosteiro. Assim, pelo foral dado em 1257 pela abadessa Dona Marina Gomes, à
vila de Midões, que pertencia ao mosteiro, os seus habitantes eram obrigados a
fazer anualmente ‘uma carreira a Lorvão ou a outro lugar que possam nesse dia
vir a sua casa’. Ou seja, um serviço de recado ou de transporte, que não lhes
ocupasse mais de um dia. Os homens de Torre de Vilela, que recebera foral da
abadessa dona Urraca Reimundo, davam ‘um dia de lavor ao mosteiro’. Eram muitos
dias de lavor, muitas carreiras e muitos outros serviços que o mosteiro recebia
dos seus foreiros.<o:p></o:p></span></div>
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-37720192678786527992016-03-03T12:11:00.000+00:002016-03-03T12:37:05.341+00:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº XI DIREITOS E PRIVILÉGIOSPelos séculos foram surgindo leis novas, que afectavam o proprietário monástico. O Papa estava longe, o Rei muito perto, era agora junto dos monarcas que as abadessas faziam valer a sua influência, apresentando-lhes as suas queixas, os seus pedidos. Requisitavam privilégios, pediam que não se mexesse nos que lhes tinham sido acordados, que se respeitassem os seus direitos adquiridos, que não se bulisse com os seus rendeiros e caseiros. Apresentavam as suas cartas, faziam valer a sua qualidade, e a da sua família. Eram ouvidas, e, em geral, atendidas.
Em 1335, a abadessa dona Teresa Mendes escreve ao rei sobre o problema de géneros que não lhes eram devidamente fornecidos. Ela, e o seu convento, tinham terras e aldeias em muitas comarcas, e destas terras e aldeias deviam vir ‘capões, galinhas, frangões, cabritos e ovos’, que lhes eram muito necessários para mantimento da sua casa, das suas doentes, dos seus hóspedes, e ainda para fazer ‘bem e prestança’ a pessoas necessitadas. Muitos desses géneros eram tirados aos seus rendeiros antes de estes lhos poderem entregar. A abadessa pedia que Sua Alteza cotasse um lugar pertencente ao mosteiro, para dessa forma lhe garantir alguns dos géneros de que necessitavam. O rei mandou que fosse coutado o lugar de Terra Galega, com os homens que lá viviam. A esses homens não se podia, dessa forma, retirar os ovos das suas galinhas, ou matar seus capões, ou seus frangões, ou seus cabritos.4 Pelo que eles estariam em condições de pagar as rendas ao mosteiro.
A abadessa dona Guiomar Fernandes de Panha queixava-se ao mesmo rei de abusos que os almoxarifes reais cometiam contra os direitos do mosteiro em Foz d'Arouce.
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-rsbZQFRDDrk/VtgpBEhAPOI/AAAAAAAAAVQ/RzYHJYTxWGA/s1600/peasants-in-field.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-rsbZQFRDDrk/VtgpBEhAPOI/AAAAAAAAAVQ/RzYHJYTxWGA/s320/peasants-in-field.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A Jugada</td></tr>
</tbody></table>
Alegava a abadessa, que essa aldeia fora de D. Afonso de Rouca, que por sua morte a aldeia ficara a sua filha, dona Sancha Afonso, monja de Lorvão, e que dela a aldeia passara para a posse do mosteiro. Além dos foros e direitos que lá tinha, o mosteiro levava em Foz de Arouce a oitava de tudo que os lavradores lavrassem e rompessem por detrás dos marcos com que a terra fora circundada. Pois agora, dizia a abadessa, os almoxarifes constrangiam os ditos lavradores a que, de algumas arroteias que faziam atrás dos ditos marcos, pagassem jugada ao rei. Eram jugadas que o rei não tinha o direito de exigir. D. Afonso mandou investigar o caso pelo inquiridor de Coimbra, a inquirição, feita em presença do inquiridor da abadessa, deu razão a esta, pelo que o rei ordenou aos seus almoxarifes que dali em diante não levassem jugada aos lavradores da Foz d'Arouce.5
Cinco anos mais tarde, sempre no longo reinado de D. Afonso IV, temos o caso dos lavradores que abandonavam as terras do mosteiro para trabalharem em outras. Era o resultado da calamidade que iria dizimar parte da população da Europa. Em Outubro de 1347, doze galeras italians, vindas da Crimea ancoraram no porto de Messina na Sicília, trazendo a bordo tripulações dizimadas por uma doença oriunda do Oriente. De Messina a peste espalhou-se a outros portos do Mediterrâneo, a portos franceses, espanhóis e portos do Magrebe. Em 1348 a peste grassava em Portugal. Ignora-se o número de vítimas, que causou, mas consta que Coimbra foi particularmente afectada, que a colegiada de São Pedro dessa cidade perdera em poucos dias, o prior e todos os seus religiosos. No ‘Livro das Preladas’, lê-se que no ano da peste grande morrera em Lorvão a abadessa dona Guiomar Fernandes de Panha, e não foi decerto a única vítima no mosteiro.
Lorvão iria sentir grandemente as consequências da peste. Com a população dizimada, a mão-de- obra escassava, e os rendeiros descobriram que podiam trabalhar para outrem, e por bom salário, e largavam o trabalho nas terras do mosteiro. Havia agora um dado novo na sociedade: rural: muito e diverso trabalho, abrindo novas perspetivas à gente do campo.
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-LbPi9vgtjb0/VtgothCU2rI/AAAAAAAAAVM/vhZQdioeFuc/s1600/pesta.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-LbPi9vgtjb0/VtgothCU2rI/AAAAAAAAAVM/vhZQdioeFuc/s320/pesta.png" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Peste Negra</td></tr>
</tbody></table>
Peste Negra
A abadessa de Lorvão expôs o caso ao rei. Muitos dos homens a quem o mosteiro tinha arrendado terras, as estavam a deixar, iam trabalhar por conta de outros: ‘deixam as ditas suas herdades, e vão lavrar outras muitas (sic) que acham, e, outrossim vão andar com outrem por seus jornais’. A abadessa pedia que o rei fizesse justiça, que seus juizes obrigassem os lavradores indicados pelos procuradores da abadessa a irem trabalhar nas terras do mosteiro. O rei acede. Ordena que os juízes ouvissem os procuradores de dona abadessa de Lorvão, e que, caso vissem que estes tinham razão, que ‘constrangessem’ os ditos lavradores, a ‘que lhes lavrem e perfeitem as ditas suas herdades, e lhes não desemparem, e lhes paguem suas rendas e foros e direitos’.6
Em 1369, é já a D. Fernando a quem a abadessa de Lorvão se dirige. Tratava-se de obter do rei, que os homens que trabalhavam para o mosteiro, e eram pagos por este, não fossem obrigados a fazer serviços para o conselho de Coimbra. Esses ‘mancebos e azeméis e outros servidores e homens paniguados’ que continuadamente serviam o mosteiro e deste tinham mantimento, não podiam ser dispensados para fazer serviços para outros, dizia a Abadessa. D. Fernando concordou, ordenou que não obrigassem os ditos mancebos.7
Os almoxarifes ignoraram a carta do rei, queixava-se a abadessa de Lorvão, continuavam a exigir as jugadas, querendo obrigar os lavradores, que viviam em terras do mosteiro de Lorvão, e as lavravam e semeavam, a que pagassem ao rei por ‘cada junta de bois, um moio de pão’ de jugada. Era coisa que nunca se fizera em memória de homem, afirmava a abadessa, e o pior era que por essa razão se estavam a despovoando terras e casais do mosteiro. D. Fernando, como o fizera seu avô, atendeu a reclamação. Ordenou que os lavradores e caseiros da abadessa de Lorvão não fossem obrigados a pagar jugada até que se determinasse, se eles não eram por lei obrigados a fazê-lo. E que, entretanto, lhes fossem entregues os bens que porventura tivessem sido penhorados para pagar ao rei as ditas jugadas.7
No mesmo dia, a 18 de Janeiro de 1378, em carta datada de Coimbra, e em atenção a outro pedido da abadessa de Lorvão, o rei permitia que os seus juizes ajudassem os procuradores da abadessa a cobrar as dívidas e direitos nas terras do mosteiro, já que os moradores procuravam fugir às suas obrigações, sendo nisso apoiados por muitos juízes das terras onde o mosteiro tinha propriedades.8
Passam os anos. Morre D. Fernando. O mestre de Aviz é declarado rei pelas cortes de Coimbra a 6 de Abril de 1385. E já a 14 desse mês, a abadessa de Lorvão apresentava ao novo rei o pedido de confirmação dos seus privilégios: ‘privilégios e liberdades e bons usos e costumes de que usavam desde o tempo dos outros reis.’ D. João I atendeu prontamente o pedido, exigindo unicamente que o mosteiro participasse no peditório, na ‘pedida’ que naquela ocasião se estava fazendo nos conselhos. A partir daqui estabelece-se por parte de Lorvão - como, decerto, por parte de outros mosteiros e outros privilegiados - o costume de apresentar ao rei, logo que este era aclamado, o pedido de confirmação dos privilégios de que usufruía. Mal o novo soberano ocupava o trono, lá apareciam os procuradores de Lorvão com as cartas de privilégio do mosteiro para serem vistas e confirmadas. É ainda D. João I quem dá ordem aos juízes de Coimbra, para que não permitissem que ‘gente poderosa’ contratasse, por soldada, outra qualquer forma, os filhos e filhas, ou os servidores dos caseiros do mosteiro de Lorvão. A abadessa queixara-se-lhe, que de outra forma os seus caseiros não teriam braços para trabalhar as suas terras, deixando sem cultivo os casais que arrendavam ao mosteiro: ‘com a qual cousa, ela, dita abadessa, e o dito seu mosteiro recebem grande agravo’.9 Já que os caseiros não amanhando, não tinha com que pagar as rendas ao mosteiro. Os senhorios religiosos eram em toda a Europa notoriamente mais brandos para com os seus rendeiros do que os leigos, mas não ao ponto de permitirem que lhes abandonassem as terras, e fossem trabalhar contra ‘soldo’ para outros senhores.
Em 1430, a abadessa de Lorvão viu-se obrigada a defendeu o mosteiro da tomada do lugar do Paço pelos juízes do rei. Estes diziam ter ordem de tomar para o rei todos os lugares ‘de arcebispos e bispos e clérigos e mosteiros e ordens’ que estivessem em reguengos. O que era o caso do dito lugar do Paço, afirmavam os juízes. Dona Abadessa apresentou imediatamente documento que provava, que o Paço era do mosteiro havia mais de 250 anos. O rei ordenou aos juízes, que largassem mão do dito lugar e de todos os frutos e rendas dele.10
Em 1461, a pedido do conde de Marialva, D. Afonso V dispensa o mosteiro e as monjas de Lorvão do pagamento do antiquíssimo tributo de ‘colheita e jantar’, que se pagava ao rei quando este ia em visita às comarcas. O mesmo rei decide ainda a favor de Lorvão no curioso caso de certa palha que era tirada aos caseiros do mosteiro. A abadessa dona Brites da Cunha expusera que ela e o seu convento tinham casais, quintas e outras terras no termo da cidade de Coimbra e que, todos os anos, os seus caseiros e lavradores, depois de terem debulhado o seu pão, cediam ‘graciosamente segundo costume da terra’, aos fidalgos, cavaleiros e cidadãos escudeiros, palha para fazerem os seus palheiros. E a cada um segundo o que merecia. Da palha que restava, os caseiros faziam depois os seus próprios palheiros para ‘governança’ dos seus bois e outro gado. Ora aqueles mesmos senhores a quem se dava palha, mandavam agora homens seus às casas dos ditos lavradores, e tiravam-lhes mais palha. Prejudicando grandemente a estes, e ao mosteiro. Dona Abadessa tinha razão, achou o rei, e ordenou que, de ali por diante, ninguém tirasse palha aos lavradores e caseiros do mosteiro.11
Três anos depois do incidente da palha, a pedido da mesma dona Brites da Cunha, o rei permite que a abadessa mande coutar o ribeiro do Lorvão, que passava diante das portas do seu mosteiro. E isso, desde a azenha chamada de ‘Gil Alvares’ até ao Mondego. Ninguém poderia, de ali em diante, ‘matar ou mandar matar’ trutas no dito ribeiro, sem a autorização da abadessa. Se o fizesse, pagaria pena de dinheiro.12
Com D. João II pareceu que terminariam benesses em matéria de direitos adquiridos e privilégios. Em 1460, nas cortes de Évora, o rei ordenara ‘que as confirmações que havia de confirmar, não fossem quais como os reis seus antecessores costumavam’, escreve Garcia de Resende a esse respeito, ‘mas que todas as pessoas de quaisquer estado ou condição que fossem, assim eclesiásticos, como seculares e todos os mosteiros e igrejas de seus reinos,’ e cidades e vilas teriam de apresentar as doações, graças e privilégios que tivessem, para serem examinados pelos oficiais designados para o efeito. Aqueles a quem estes não reconhecessem justiça perderiam os ditos privilégios. No mosteiro de Lorvão não se sentiram por muito tempo os rigores da nova medida, e, em 1514, no reinado de D. Manuel I, a abadessa dona Catarina d'Eça obtém de D. Manuel, que frei Diniz, um frade de Alcobaça e notário apostólico que fazia em Lorvão as escrituras dos contratos, também lá pudesse fazer as escrituras públicas. Nas ordenações manuelinas, no título das Jugadas, era dito que os caseiros que pertencessem a privilegiados - o que era o caso dos de Lorvão - tinham de fazer escritura pública para serem dispensados da jugada. Era pois conveniente, que o notário que servia o mosteiro, pudesse tratar de assuntos de natureza pública. D. Manuel compreendeu a razão do mosteiro, e acedeu a que as escrituras feitas pelo dito frei Diniz fossem válidas como se fossem feitas por qualquer tabelião público. D. Manuel sugeriu mesmo que a abadessa lhe apresentasse um leigo da sua escolha, que ele confirmaria como notário público para aforamentos e emprazamentos.
<br />
<br />
NOTA : A publicação VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL será retomada no inicio de AbrilTheresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-25502254893401164802016-02-24T11:46:00.001+00:002020-02-24T11:41:51.287+00:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº X GRANDE PROPRIETÁRIAAs abadessas dos grandes mosteiros tinham, como se disse, casa própria. Casa grande com cozinha própria, quarto de dormir da abadessa e da sua acompanhante, e quarto ou quartos de trabalho visto ser aqui que se centrava a administração do mosteiro. Não existia ali a separação de homens e mulheres que se mantinha no corpo principal do mosteiro. A abadessa tinha de falar com o seu procurador, tinha de receber homens que vinham tratar de assuntos ligados à administração. Em 1298, passando Lorvão por uma crise financeira, a abadessa Dona Maria Joanis empresta uma vasta soma de dinheiro seu ao mosteiro. O documento é assinado na casa da abadessa. ‘in dicto monasterium coram camara abatiss pelo alfaiate João Gomes, pelo carpinteiro do mesmo nome e por dois monges do mosteiro de Tarouca, que ali se encontravam de passagem.
As abadessas tinham visitas próprias, membros da sua família, que ali estivessem de passagem, albergavam-se naturalmente na casa de abadessa, e prolongavam por vezes exageradamente a sua estadia. Monjas que não cabiam nos dormitórios dormiam em casa de dona abadessa. Com isto, queixava-se o visitador de Claraval em 153, ‘a camara da abadessa é dormitório, e não, como devia ser, ‘lugar de negócios.’ Porque era para esse efeito que a abadessa tinha casa própria, para tratar dos negócios da administração do seu mosteiro, para administrar os seus bens.
Uma das primeiras tarefas da abadessa recém-eleita era decerto de se inteirar dos bens materiais de que dispunha para a manutenção do seu mosteiro e das suas monjas. Muitas delas mandaram fazer apanhados de bens existentes, pediam treslados de contratos de arrendamentos, mandavam copiar cartas de doação. O primeiro desses apanhados foi feito logo após a tomada de posse da primeira abadessa. É um rol muito explícito destinado à abadessa, de tudo aquilo que o mosteiro recebia em géneros e serviços na região de Coimbra. Havia cavalariças, havia arrendamentos urbanos a dinheiro. Havia contribuições em espécie de cerca de quinhentos casais. Em fogaças de uns, em galinhas ou ovos de outros; em alqueires de vinho, em oitavas, ou sextas partes de pão ou de vinho; em oitavas ou sextas partes de linho. E tudo diferente de caseiro para caseiro. Havia as vinhas que pertenciam a outros, que não aos caseiros, havia foros, havia as ‘eyradigas’, que alguns dos foreiros tinham de pagar além do seu foro, havia foro de trigo ou de milho debulhado na eira, de vinho saído do lagar. E ainda havia terras por desbravar.
Em rol redigido um pouco mais tarde, lê-se que Lorvão recebia foros e rendas em trigo, cevada, vinho, galináceos, ovos e outros géneros de 523 casais, que havia rendas, em geral pagas em dinheiro, de casas que o mosteiro tinha em Lorvão e em Coimbra. Havia ainda os produtos das quintas e das granjas amanhadas por homens do mosteiro. Havia rendimentos dos moinhos d'água e dos lagares, das marinhas de sal e dos pesqueiros no Mondego. E havia lucros de várias outras fontes: de serviços que rendeiros e foreiros, assim como os habitantes de algumas vilas que pertenciam a Lorvão, eram obrigados a prestar ao mosteiro. Havia emolumentos da justiça, tais como as coimas ou multas que o mosteiro recebia nas vilas onde as abadessas tinham jurisdição própria. E que deviam ser importantes porque, como dizia quem sabia, ‘justicia magna emolumenta est’. Havia proventos ocasionas, como, por exemplo, as ‘lutuosas’, um imposto sucessório de triste memória, que a família do falecido tinha de pagar ao senhor da terra, ou, no caso de Lorvão, de igrejas, pela morte do seu sacerdote. Seria bom poder pensar que as abadessas de Lorvão não se aproveitavam desse benesse, mas a verdade é que ele era tido em conta. Menciona-se a lutuosa como uma das obrigações de determinada pessoa, e, um caso concreto, ficou documentado. Em 1415, tendo morrido Miguel Bartolomeu, prior da igreja de Cassia, o procurador de Lorvão recebeu de seus testamenteiros: uma tassa de um marco de prata, ‘que o dito mosteiro havia de haver de lutuosas da dita igreja de Cassia, donde o finado fora Prior.’ A tassa fora escolhida ‘porquanto esta era a milhor cousa que fora achada’ do dito Prior à hora da sua morte’17
Outros proveitos do mosteiro eram as ofertas, que, por uso e costume, eram devidas ao mosteiro em determinadas ocasiões. Assim os juízes das vilas nas quais Lorvão tinha jurisdição tinham, ‘por costume’, levar, após a sua eleição, um presente à abadessa. Em 1314, quando se discutia entre D.Afonso IV e a abadessa de Lorvão a quem pertencia a jurisdição da vila da Esgueira, a abadessa alegou que ela e o seu convento estavam em posse da jurisdição da dita vila, e que proviam ali o juiz da seguinte maneira: ‘que os homens bons da dita vila moradores se ajuntavam em cada hum ano por hum dia certo, e que elegiam entre eles o juiz’. Os juízes eleitos apresentavam-se em seguida em Lorvão, e a abadessa passava-lhes ‘carta de confirmação’. Era uso e costume, que o juiz, quando ia buscar a sua carta d confirmação, levasse à abadessa ‘uma boa marrã e mais dois capões de receber”.18
Lorvão tinha ainda receitas em portagens, em moinhos, em serviços que lhe eram devidos, e gozavam de privilégio que a rainha D. Teresa lhe havia obtido do Papa Honório III, e que lhe poupavam encargos incalculáveis, prejudicando diretamente o bispo de Coimbra, que perdia direitos valiosíssimos. Esse senhor não poderia obrigar as pessoas que dependiam do mosteiro a responder ‘sobre suas rendas e bens nos sínodos e ajuntamentos públicos ou juízes seculares’. Os achincalhados prelados também não poderiam ir ao mosteiro celebrar ordens, ou tratar de dívidas, ou fazer lá, por qualquer outra razão, ajuntamento público. Já isso cortava, e de que maneira, nos rendimentos das sedes episcopais. E havia mais. Não era permitindo aos bispos receberem remuneração por serviços que prestassem ao mosteiro de Lorvão: ‘nem por consagração de igreja, nem por bênção de altar ou de vaso sagrado, nem pela celebração de qualquer sacramento’, antes ‘todas essas coisas faça graciosamente o bispo diocesano’. Convenha-se que era duro. Por fim, para arredondar as coisas, o Papa ainda confirmava ao mosteiro todas as liberdades e isenções que ele próprio, ou algum dos seus antecessores alguma vez tivessem concedido à Ordem de Cister à qual o mosteiro pertencia.
Tudo indica que as abadessas de Lorvão com uma ou outra excepção aproveitaram dos privilégios concedidos e administraram bem as suas propriedades, más administradores alternando com as boas.
Os monges seus antecessores tinham cultivado eles próprios as suas terras, as monjas não podiam fazer o mesmo, iriam gradualmente aforando as terras incultas herdadas dos monges, ou que algumas delas traziam em dote. Fizeram-se aforamentos de casais isolados e de grupos de casais. Registavam-se obrigações e deveres em contratos. Um dos primeiros forais documentados é de 1260.
Os foros eram contratos pelos quais, a troco de uma certa contribuição anual, os bens aforados passavam para sempre a pertencer ao contraente. Era para o foreiro um primeiro passo para a propriedade. Quando lhe era aforado casais, esses ‘caseiros’ e ‘cabaneiros’ passavam a pagar muito menos do que tinham pago até ali pelo cultivo do seu torrão. Quando antes tinham de dar ao mosteiro um quarto do seu produto em trigo ou em linho, davam agora um oitavo pelo mesmo terreno. O mosteiro não perdia, porque camponeses proprietários da terra, com liberdade de plantar e semear, produziam mais do que o faziam como dependentes. Arroteavam mais terras, cultivavam-nas melhor e com produtos mais variedades. O foro que pagavam ao mosteiro aumentaria em proporção do seu esforço.
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-7mx6xOC8vyU/Vs2WD6AU6pI/AAAAAAAAAUo/iW9WR5VeNT4/s1600/E_Middle_Ages_-_Serfs.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-7mx6xOC8vyU/Vs2WD6AU6pI/AAAAAAAAAUo/iW9WR5VeNT4/s320/E_Middle_Ages_-_Serfs.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">a décima</td></tr>
</tbody></table>
Como os foros eram pagos consoante o produto, o foreiro não ficava na miséria se fogo ou tempestade lhe arruinassem as colheitas. Perigo a que se sujeitavam os arrendatários, os quais mesmo com estragos causados por ‘guerra, água e pestilença’ tinham de pagar sua renda.1 Os foreiros podiam vender ou arrendar a sua terra, na condição de o fazerem a alguém que pagasse o mesmo foro, e que não fosse pessoa poderosa. Que não fosse ‘clérigo, nem cavaleiro, nem outro poderoso, nem lhes devedes criar filhos, nem vós chamardes a ouros senhorio senão a nós e seres a nós vassalos bons e obediantes lavradores’ estipula a abadessa dona Urraca Raimundo quando em 1332 a afora os casais de Vilela.
A sua sucessora é dona Teresa Mendes, filha de D.João Rodriges de Briteiros e de D.Maria Annes. Foi ela quem introduziria em Lorvão selo do convento, e, a avaliar pelo número dos seus contratos de aforamento e emprazamento, e no cuidado da redação destes. Mandou construir casas grandes, ‘palácios’, nas vilas de Esgueira e do Botão. Esgueira fornecia o peixe, Botão o trigo e outros produtos agrícolas. Convinha ter locais onde os procuradores do mosteiro pudessem pousar. No Botão havia locais reservados ao armazenamento dos cereais. Botão era um sítio ameno, a casa ali construída viria a ser casa de campo das suas abadessas. Por razões que ignoramos, a abadessa dona Mécia Vasques da Cunha, instala-se aí por largo tempo. A 12 de Janeiro de 1416 assina-se uma escritura em Botão ‘a par dos paços da muito reverenda e religiosa dona Mecia Vasques da Cunha’. Onze anos mais tarde, em 1427, há vários contratos firmados em Botão ‘ante os paços de dona Abadessa. Que ‘não seja clérigo, nem cavaleiro, escudeiro, nem dona’, estipula ela ao aforar em 1431 umas terras no termo de Treixedo, e ainda é mais explícita quando, nesse mesmo ano, afora a herdade da Cimalha no couto de Treixedo. Aí estipula, que só se poderia vender ou arrendar a quem não fosse ‘nem clérigo, nem cavaleiro, nem escudeiro, nem dona, nem homem nem mulher de religião, nem mouro, nem judeu, nem outra pessoa poderosa’. Os respectivos documentos especificavam tanto os deveres e os pagamentos que o arrendatário tinha de dar ao mosteiro, como aquilo a que o mosteiro, por seu turno, se obrigava. No caso de uma almoinha que dona Constança Soares - gabada como boa e cuidadosa administradora - arrendou em 1300 por oito anos, ela comprometia-se pelo mosteiro a abrir uma vez por ano a regueira que ali corria e a limpar o poço que ali havia.
Todos os contratos eram feitos em nome da abadessa, mas é evidente que não eram exclusivamente ideia sua. Se ela era competente e conscienciosa e tinha algumas noções de agricultura, discutiria os pros e contras de qualquer contrato com o seu procurador. Era este que tinha os conhecimentos para estipular as condições de um contrato depois de ter discutido os prós e contras com a abadessa, era erl quem substituis a abadessa quando se tratava de negócio longe do mosteiro. O procurador era o homem de negócios do mosteiro, era o ‘homem’ da abadessa.
Em 1340, ‘Estevão Pires, homem da religiosa e honesta dona Tareja, abadessa do mosteiro de Lorvão’, empraza um olival a Pêro Domingues e sua mulher nas seguintes condições: ‘devedes descavar (sic) e cavar e estancar assim como são escavados e cavados e estancados os bons olivais de Coimbra, e ao tempo em que deve ser.’ Nos primeiros sete anos marido e mulher dariam anualmente dar um alqueire de bom azeite ‘recebedoiro’ ao mosteiro. Passados estes sete anos, dariam por ano a metade de todo o fruto, tal como se fazia nos outros olivais que o mosteiro tinha emparasado no termo de Coimbra.
É notável o cuidado que estas abadessas- inspiradas ou não pelos seus procuradores - davam à qualidade dos plantios. A mesma abadessa Dona Tareja manda fazer uma vinha. Pêro Domingues da Rebordosa faria essa vinha no paço que o mosteiro tinha na Rebordosa, nos limites que tinham sido demarcados por Lourenço Pires, procurador do mosteiro. A vinha devia ser protegida em todo redor, e devia ser feito um caminho para se poder ir de lá a Vila Cova. Na vinha devia ser feito tudo ‘que se devia a bom vinho’. Dentro de quatro anos, quando aquela vinha desse vinho, o contraente devia arrancar a vinha velha, que ali estava, e ‘metê-la em pão’. E a ‘chanta (sic) da dita vinha deve ser galega, e castelar’ Pêro Domingues daria ao mosteiro anualmente a terça do vinho. E esta posta junto do moteiro,‘à nossa porta’.
Quando os contratos desta ordem eram em duas vidas, de marido e mulher, ou de pai e filho, estipulava-se em geral que o primeiro contraente, aquele que plantava o olival ou a vinha, pagaria menos que o segundo, já que este, se as coisas corressem bem, já usufruiria de um bom retorno do investimento do seu marido ou do seu pai.
As coisas nem sempre corriam bem. A agricultura é coisa incerta, havia que contar com os acidentes do tempo. Os rendeiros não pagavam ou não pagavam a tempo, o ano fora de fome, por demasiada chuva ou falta dela, o ano fora de doença. O mosteiro tinha grandes encargos, se as colheitas eram más e os géneros faltavam, estes tinham de ser comprados. A abadessa tentava remediar e aventurava-se em negociações ruinosas, ou empréstimos que saíam caro. No abadessado de dona Maria Afonso, que durou de 1237 a 1258, houve dois anos em que o mosteiro teve de comprar praticamente todo o seu alimento. Em um apanhado feito de sua mão, uma abadessa anotou que em um desses anos gastara em farinha para pão, em vinho e em cevada a soma de 1500 morabitinos. Podemos avaliar o que representavam os 1500 morabitinos, sabendo que as duas casas construídas, uma em Botão, outra na vila da Esgueira, custaram respectivamente 37 e 25 morabitinos.
Pelos séculos fora os anos bons alternavam com os anos maus. Houve abadessas boas administradoras, houve-as perdulárias ou incompetentes. Houve que enfrentar novas atitudes da parte de caseiros e de foreiros. Os tempos da propriedade absoluta não podiam durar para sempre. Na segunda e terceira geração, o foreiro esquecera a quem devera a terra que amanhava, e revoltava-se contra as exigências do primitivo senhor dela.
As povoações cresciam, pretendiam direitos para si, e que esses direitos fossem devidamente anotados e estabelecidos por meio de contrato. As abadessas cediam. Foram dando forais às suas povoações. Entre 1514 e 1515, a abadessa dona Catarina d’Eça iria mandar copiar e iluminar os forais que Lorvão concedera. São os forais de Abiul, do Botão, da Esgueira, de Rio de Asnos, de Serpins, de Sabugosa, e do Couto de Teixeira. <br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-tCw6tgx75Fo/Vs2XgjiN4pI/AAAAAAAAAU8/VX0yR48x3YU/s1600/foralso.bmp" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-tCw6tgx75Fo/Vs2XgjiN4pI/AAAAAAAAAU8/VX0yR48x3YU/s320/foralso.bmp" width="212" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foral sec. XII</td></tr>
</tbody></table>
<br />
Estão uniformemente encadernados em tábuas cobertas de coiro, e todos seguem o mesmo modelo na exposição do texto: A fl. 1, têm uma tarja ornada de flores, a letra inicial da carta de foral iluminada a oiro e cores, com o escudo real ao centro.
Os Forais foram concedidos entre o século XII e o século XVI. Era determinante para assegurar as condições de fixação e prosperidade da comunidade, assim como no aumento da sua área cultivada, pela concessão de maiores liberdades e privilégios aos seus habitantes.
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-34615548868709772152016-02-18T13:02:00.000+00:002016-02-18T13:02:26.821+00:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº IX COLHER OS FRUTOSBispos e visitadores fulminavam constantemente contra as excessivas saídas das religiosas, por muito úteis que fossem, e, em 1299, o papa Bonifácio VIII, farto de tantos passeios, emitiu uma bula rigorosíssima, a bula ‘Periculoso’, na qual Sua Santidade apontava, como o título indica, os perigos que as monjas incorriam com as suas frequentes quebras de clausura. Proibia-lhes dali por diante praticamente todas as saídas fora dos mosteiros. A coisa não agradou. No seu livro ‘Medieval English Nunneries’, sobre os mosteiros medievais ingleses, Eileen Power relata o caso das monjas de um mosteiro da diocese de Lincoln, que se recusaram a aceitar a referida Bula. Pretendendo o Bispo depositá-la no mosteiro, as monjas perseguiram-no até à porta, gritando que nunca cumpririam semelhante Bula, e acabando por lançar o documento à cabeça do infeliz prelado. E por toda a parte as monjas continuaram saindo fora do seu mosteiro, encontrando para isso as mais variadas ‘ocasiões de manifesta necessidade’.
Em Lorvão algumas das oficiais do mosteiro, como a prioresa e a celeireira, tinham frequentemente justificadas razões para sair do mosteiro. Apesar do mosteiro ter procurador para lhe tratar de negócios no mundo, havia sempre casos que não dispensavam, achavam aquelas senhoras, a presença de uma oficial do mosteiro.
Em 1427, a então prioresa, dona Catarina Aires Coelho, vai à Vacariça em substituição de dona Abadessa, protestar contra a construção de uma ermida em terreno que era do mosteiro. O procurador delas já protestara, mas sem resultado. Pelo que a dita prioresa, dona Catarina foi em pessoa tratar do caso. A ermida estava a ser construída por ordem do bispo de Coimbra, disseram os homens que ali estavam trabalhando. O Bispo requeria para si as esmolas e ofertas que ali levavam os romeiros. A prioresa declarou que só permitiria aquela construção, se as benfeitorias revertessem a favor do mosteiro. E logo mandou retirar de lá alguns ‘vendeiros’, que já se tinham instalado no terreno.
A celeireira, tendo a seu cargo o armazenamento e a distribuição de tudo quanto era preciso para a padaria e para a cozinha da comunidade, não podia ficar em casa quando a entrega dos géneros demorava. Ia em pessoa a Botão, à quinta que o mosteiro ali tinha, para ver o que se passava com o trigo, lá armazenado que não chegava a tempo a Lorvão. E os legumes e frutas que não vinham a tempo ou em quantidade.
A Ordem de Cister, que recomendava aos seus monges os trabalhos no campo, não previra mosteiros femininos, e que as suas monjas viessem a fazer o mesmo que os monges. Não sucederia em todos os mosteiros, mas em Lorvão - com ou sem aprovação da Ordem - as monjas ocupavam-se em trabalhos agrícolas. Não lavravam, semeavam ou plantavam, mas colhiam frutos, e recebiam rendas em frutos do campo.
Os mais completos testemunhos encontram-se nas actas notariais tocando a casos de litígio. As partes litigiosas levavam consigo o seu tabelião, que registava no próprio local o que via e ouvia., não omitindo o mais pequeno pormenor. Notavam a assistência deste e daquele, e o que cada um dissera, e a quem acusara. Se uma monja estava presente, isso era devidamente anotado.
Um desses documentos, datado de 1321, trata da disputa entre o mosteiro de Lorvão e Lourenço Pais de Molnes sobre a posse de uma almuinha no local da Varzea, junto de Coimbra. Pelo mosteiro testemunharam uns homens que possuíam terra junto dessa almuinha Estes homens declararam ao tabelião, que havia já um ano que eles viam a dita almuinha ser lavrada com os bois da senhora abadessa de Lorvão, que gente dela tinha lá semeado linho canave (sic), e que depois tinham visto ali ‘Tareija Vasques de Azevedo e outras donas, monjas do dito monasterio, e frey Martim Leal’ lavando linho: ‘Qoe lhes viram ende lavar linho para o dito monasterio’.8
Outro documento notarial, esse de 1348, dá conta da presença de duas monjas num local chamado Ouriães. Lorvão achava-se com direito a certo trigo proveniente de um casal que o mosteiro ali tinha. O facto era contestado pelo então Prior do Hospital, e Lorvão resolvera agir. Consequentemente, no dia 19 de Julho de 1348, duas monjas suas apresentaram-se em Ouriães acompanhadas de tabelião.
Nesse dia, anota este, jazia trigo debulhado na eira com a palha tirada. Dona Maria Fernandes e Branca Martins, monjas professas do mosteiro de Lorvão, estavam na eira, e declaravam estar na dita eira para fazerem limpar o trigo, que era ração do casal que era do mosteiro. E que o caseiro, Gonçalo Domingos, lavrava e ‘trazia da mão da abadessa e convento do dito mosteiro’. Elas ali estavam, diziam as monjas, para levar o dito trigo do dito casal ‘como seu’. As Donas declaravam ainda, que havia dias que estavam na dita eira, ‘que já tinham partido o trigo em freixes com o dito caseiro, e que, em nome do convento e da sua abadessa, tinham tomado trigo do casal, comido dele, e o vendido. Prova de posse, portanto.
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-v_CQ6NteYu0/VsXAuvADSfI/AAAAAAAAAUY/bZ08YxHXUhc/s1600/ceifa.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-v_CQ6NteYu0/VsXAuvADSfI/AAAAAAAAAUY/bZ08YxHXUhc/s320/ceifa.png" /></a></div>
Ora, relata diligentemente o tabelião, ‘estando elas assim na dita eira e casal’, chegou Pero Lourenço, que se dizia escrivão, tabelião e procurador do Prior do Hospital. Vinha acompanhado de nove homens com armas, ‘convém a saber: lanças e arcos e espadas e cutelos’ Um deles trazia uma besta e a sua espada’. O dito Lourenço declarou que estava ali como procurador do Prior do Hospital, para tomar o casal e a eira que era do Prior, que vinha ‘filhar o dito pão do dito casal e ração dele para o dito prior, que dizia que era seu’. E ‘logo o dito Pero Lourenço, e os outros que com ele andavam, filharam forcas e uma pá e começaram a limpar o dito trigo que jazia na dita eira’. Ora, escreve o tabelião de Lorvão, as duas donas ‘estavam ‘na dita eira em cima no dito trigo’ Uma delas, Branca Martins, tinha uma forca na mão, ‘assomando no dito trigo com ela’, dizendo ao dito Pero Lourenço e aos seus homens, ‘que não fizessem força nem mal’, acusando-os de virem armados ‘fasendo assuada sobre elas’.
Pero Lourenço ripostou que eles não vinham para lhes fazer mal, nem desonra, que estavam ali porque aquilo era herdade do Prior, e que tinham ordem para ‘partir pão e levar a ração dele para o dito Prior, e que os ditos homens eram do dito Prior e comiam seu pão e sua carne’.
Dito isto, Pero Lourenço avançara resoluto sobre a monja que segurava a forca. ‘E logo o dito Pero Lourenço travou da forca que a dita Branca Martins tinha na mão, de guisa que, entre ele, e os outros que com ele andavam, ‘lha tiraram da mão’. Puxando cada um para seu lado, Branca Martins caiu em terra: ‘tirando eles por ela para uma parte, e a dita dona para outra, de guisa que a dita dona agoelhou em terra’.Pero Lourenço e os outros homens do Prior começaram logo a varrer o trigo, e a pô-lo em montes. AS monjas não se davam por vencidas, trepando de novo para cima do trigo. Pero Lourenço também voltou à luta: ‘travava da mão da dita Branca Martins, tirando-a de cima do dito trigo’, declarando que não permitiria que as Donas levassem dali trigo ou qualquer outra coisa. E foi carregando o trigo que conseguia varrer.
Depois do dito Pero Lourenço ter posto o trigo que conseguira varrer em cima das suas bestas e de o ter levado, as sobreditas dona Maria Fernandes e Branca Martins ficaram na dita eira, sentadas em cima do trigo, declarando ‘como ficavam em posse do dito casal, e do dito trigo, que era ração dele’. Depois fizeram-no limpar e medir, e mandaram-no a um tal Lourenço Soares a quem o tinham vendido.
Branca Martins foi em seguida a um lugar ali perto, onde havia nogueiras e figueiras e um castanheiro, que as monjas diziam serem também pertença do casal que era do mosteiro. Gonçalo Domingues, caseiro, confirmou que assim era. E então escreve o tabelião, Branca Martins, pegou em nozes, figos e folhas de parreira, ‘filhou das nozes das ditas nogueiras, e figos lampos em uma figueira corval (sic), e ramos de castanheiro, e argaço de uma parreira que estava em uma figueira’, e declarou que filhava aquelas coisas porque eram do dito casal, e por isso do mosteiro, que as usava e possuía pacificamente. Por fim as ditas dona Maria Fernandes e Branca Martins ainda foram à casa onde morava o caseiro, disseram-lhe que ele bem sabia que ele há muito tempo - ‘grã tempo havia’ - tinha casa e casal da mão da abadessa e convento do mosteiro de Lorvão, a quem pagava foro e ração. Agora sobreviera homem da parte do Prior do Hospital para lhes tirar o casal, mas elas sabiam que estavam no seu direito e ali mesmo ‘revestiam na dita posse do dito casal o dito Gonçalo Domingues’. Este confessou ser verdade, que o casal era de Lorvão; que há muito tinha sido encartado a ele e a seu pai pela abadessa e convento de Lorvão, e que eles ‘de sua mão ficavam e queriam ficar revestidos’.
O tabelião anotou-o, e o documento foi testemunhado por homens de Penacova, da Reboleira e de outros sítios, que ali se encontravam. Dona Maria Fernandes, a quem o tabelião tem o cuidado de nomear sempre em primeiro lugar, e que, mesmo sentada em cima do trigo não largara o Dom, e a aguerrida Branca Martins puderam regressar ao seu mosteiro, conscientes de missão cumprida.
Estes e outros documentos dão a entender a forte ligação das monjas de Lorvão à faina agrícola. Longe da cidade e dos mexericos citadinos, que penetravam mesmo através das fortes portas dos mosteiros, o interesse das monjas de Lorvão centrava forçosamente no cultivo da terra. Ao tomarem conta do mosteiro as primeiras monjas tinham encontrado um modo de vida de proprietário rural, que muito naturalmente adoptariam. Muitas delas eram filhas de proprietários de terras, conheciam os altos e baixos do ano agrícola. A alternância das sementeiras e das colheitas, a influência dos elementos sobre a produção do trigo, do vinho, do azeite, coisas vitais para o mosteiro, para as suas próprias pessoas contribuíram talvez para dar às monjas de Lorvão uma arma contra a ‘accidie’, que a monotonia da vida monástica podia provocar, e comprovadamente frequentemente provocou.
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-72972162972233576512016-02-10T11:45:00.003+00:002016-02-18T12:46:08.931+00:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPºVIII PÃO PEIXE VINHO<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 42.65pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span n="" span="" style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;">N</span></b><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="font-size: small;">o capítulo em que São Bento na sua Regra tratava ‘da quantidade das iguarias e qualidade do comer’, o
autor especificava o que, em seu entender, devia ser o comer de cada dia. Podia
haver a cada refeição - ‘a todas as mesas’ - duas iguarias, ‘pelas infirmidades
e fraquezas de muitos, para que o que não poder comer de uma, coma da outra’.
Destas duas iguarias, o religioso ou a religiosa escolheria uma, à qual poderia
juntar fruta ou um legume, havendo-os. Quanto a carne, não era permitida. Frangos,
patos, pombos não eram tidos como carne, e eram tidas como salutares em caso de
doença e fraqueza, e eram permitidos e até aconselhados nesses casos.
Normalmente, porém, as bases da refeição eram peixe e pão, água e vinho.
Dava-se em geral por refeição uma ’peixota’, uma pescada, na opinião da maioria
dos autores. Uma pescada média, decerto, ou, talvez outro peixe de médio
tamanho quando não havia a obrigatória pescada.
Alimento principal era o pão. O pão de trigo,
que se foi generalizando com um maior plantio de trigo, com bom fermento designava-se
por ‘pão de convento’. Havia o ‘pão raçoeiro’, de trigo e centeio. Havia pães
pequenos e grandes de todas as qualidades. Havia os ‘michos’, havia pães
redondos, pequenos ou grandes., feitos de trigo e milho, e por fim as broas, só
de milho.
A distribuição dos pães cabia à tulheira e não era tarefa fácil. As ‘soldadas’ eram em parte pagas em
pão, os pães não eram os mesmos para as monjas e os apaniguados, nem os mesmos
para todos os apaniguados.
A partir da Páscoa e até à festa do Espírito Santo, na Primavera
portanto, a ‘comida’ - a principal refeição - era à sexta hora, ao meio dia de
hoje, portanto. E assim se continuaria pelo verão fora, tendo em consideração o
calor dessa estação. Nos dias de jejum, a ‘comida’ era à Noa, ou seja às três
da tarde. Era também a essa hora que, a partir dos primeiros dias de Setembro e
até ao princípio da Quaresma, se tomava a principal refeição. Na Quaresma, até
à Páscoa, a ‘comida’ era a vésperas, ou seja à tarde, recomendando São Bento
que se comesse ainda com luz do dia para poupar a iluminação artificial, para
que os ‘que comerem não tenham necessidade de candeia’<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 42.65pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span n="" span="" style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;"></span></b><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="font-size: small;">
">As religiosas tinham pois por dia uma única refeição forte. Podiam
comer fora de horas algum bocado do pão que lhes era distribuído, mas só se
sentavam à mesa uma vez por dia, para a refeição forte, ‘a comida’.
Gradualmente passou a ser usual e permitido haver uma segunda refeição sentada
no fim do dia, distinguindo-se a partir daí entre ‘comida’ e ‘ceia’. <o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="font-size: small;">De mosteiro para mosteiro, e de Ordem para Ordem, as expressões
usadas para as refeições e horas delas podiam variar. Na tradução para
português da Regrade São Bento feita por Frei Tomás do Socorro, lê-se: ‘a hora
da ceia ou da comida’, dando a ambas as designações o mesmo significado. Nas
constituições das freiras de São Domingos, traduzidas no século XV, lê-se, que
a sacristã tocaria a campainha ‘antes do jantar ou da ceia à hora convinhal’, e
que logo se davam ‘as coisas necessárias para refeição das irmãs’. À pequena
porção de comida que se dava em tempo do jejum, designava-se por ‘colação’: ‘No
tempo do jejum, à hora conveniente, faça a sacristã sinal para a colação’.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="font-size: small;">Em certos dias havia uma melhoria no volume das refeições com
‘pitanças’ legadas por devotos do mosteiro. Eram legados com condições
devidamente refustadas. Designavam-se por ‘pitança’. Em 1241 a abadessa de
Lorvão e seu convento comprometem-se a comprar uma propriedade no valor de 200
aureos, ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">áureos vetens</i></span><span style="font-size: small;">’, que lhes
deixara a rainha D. Branca para que, com os rendimentos dessa propriedade,
tanto elas como as suas sucessoras, pudessem ter ‘pitança’ de pão e vinho e
peixe fresco no dia de seu aniversário,</span> <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: small;">‘bono
pane et vino et piscibus recentibus’.</span></i><span style="font-size: small;">Houve muitas dessas pitanças, e sempre
mais do mesmo: mais pão e mais peixe.</span><span style="font-size: small;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i><span style="background: red; mso-highlight: red;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="font-size: small;">A Regra partia do princípio que q comida dos monges - e portanto
as monjas, que haviam adoptado a mesma Regra - deviam comer à mesma mesa a sua
refeição. Nos mosteiros femininos o costume não tardou a mudar. A Regra autorizava,
como se leu, duas iguarias em todas as mesas, para que aqueles que não podiam
comer certa iguaria, pudessem escolher outra. Com esta consideração ia ser dada
uma das primeiras machadadas na tão apregoada vida em comum. Em alguns
mosteiros seria criada uma divisão separada – uma ‘misericórdia’- na qual
comiam as monjas, que por razões de saúde tinham comida mais substancial ou
mais delicada. A partir daqui nasceu a ideia da divisão das religiosas em
pequenos grupos, comendo separadas mesmo sem razões de saúde, e que cozinhavam
para si as suas próprias refeições.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-FvoYbEXeqvE/VrshtZdpt1I/AAAAAAAAAUI/QZVkQZV-sSE/s1600/slide_41.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="138" src="https://3.bp.blogspot.com/-FvoYbEXeqvE/VrshtZdpt1I/AAAAAAAAAUI/QZVkQZV-sSE/s400/slide_41.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><o:p><span style="font-size: small;"> </span></o:p></span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="font-size: small;">A opção da comida separada, em vez da refeição em comum, não se
explicava só pelo muito humano desejo de mais privacidade, porque a ser essa a
razão, as monjas teriam conseguido o relaxamento da vida em comum também no
dormitório. Onde isso mais tarde também se viria a dar, mas nunca como na
comida. As aristocráticas filhas de família que professavam em Lorvão estavam
mais que habituadas a dormir com uma ou mais mulher no mesmo quarto. Em suas
casas não se fazia outra coisa, privacidade era coisa que não havia nas casas,
grandes ou pequenos. Dormir em comum não era sacrifício. Duro era ter de comer
comida cozinhada para muitas bocas, fatalmente menos cuidada do que os
cozinhados feitos para duas, três, ou mesmo quatro pessoas. E, mais difícil que
tudo, era o ter de aturar os hábitos de comer menos cuidados de uma ou outra
companheira. E assim, pouco a pouco, foi-se instalando entre as monjas o hábito
de cozinhar e comer separadamente. Foi hábito que por toda a Europa os
visitadores e reformadores se esforçaram por erradicar, mas com pouco êxito. E
por vezes causando revolta declarada, como a das monjas do mosteiro de
Wenningen perto de Hannover na Alemanha, onde, em 1455, as monjas se revoltaram
por as quererem a obrigar a comer em comum. Algumas entregaram, relutantemente
os pratos, copos e facas e os utensílios de cozinha próprios, mas outras
‘deixaram cair os pratos para os partir’.</span></span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">5</span></span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="font-size: small;"> <o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="font-size: small;">Em Lorvão a coisa foi menos belicosa. Em 1534, respondendo aos
reparos do visitador, que não se habituava àquela flagrante quebra da Regra, as
monjas alegariam que não podiam comer em comum, porque o mosteiro não tinha
pessoal suficiente para o efeito. O visitador, cansado de bater sem efeito na
mesma tecla, desistiu de impor o impossível, e descarregou’ a consciência, e a
de ‘dona abba e monjas e religiosas’ permitindo o novo hábito. Causando um
trabalho insano à celeireira e às suas oficiais. É que as monjas recebiam não
só quantidades definidas em pão, peixe e condimentos para os seus cozinhados,
como essas quantidades diferiam conforme as datas em que eram dadas. <o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="font-size: small;">Acerca das mesas às quais se sentavam os pequenos grupos de
monjas, há uma curiosa recomendação por parte de um visitador. Exigia ele que
as mesas fossem redondas. Com o que se eliminavam as cabeceiras, o que evitava
as questões de precedência, a discussão de quem tinha mais direito à cabeceira
e à presidência da mesa, e quem ficava à sua direita e esquerda. Na linguagem
monástica nasceu também uma nova e mais elegante expressão para designar o
local das refeições. O refeitório passou a ser designado por ‘sala de jantar’
Em 1536 as monjas de Lorvão assinam um documento em a ‘sala de jantarem’.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"><span style="font-size: small;"> </span></span><span style="font-size: small;">Os cozinhados individuais
permitiam a inspiração, criavam-se variantes com os mesmos elementos, e
tentavam-se novas combinações. Deve ser o resultado de uma dessas experiências
o caldo qual se conservou a receita, que as monjas de Lorvão tomavam na
Sexta-Feira-Santa. Fazia-se com 4 alqueires de tremoços, alqueire e meio de
grão e alqueire e meio de ameixas. Ou seja, aproximadamente, 2 kg de tremoços
750 g de grão e 750g de ameixas.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="font-size: small;">Houve que esperar pelas Descobertas para conseguir combinações
mais atrativas, mas antes disso já se tinha conseguido variar a monotonia de
pão, peixe e conduto, fugindo à Regra dentro da Regra. Havia dias de consoada
em que a comida era especial, <div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 42.65pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span n="" span="" style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;"></span></b><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="font-size: small;">
Já só existem livros de
contas do século XVII, os mais antigos sendo gradualmente destruídos, mas os
usos pouco mudavam nos mosteiros, e o que se usava a em matéria de consoada no
século XVII não diferia decero do que se dava nas mesmas ocasiões nos anos anteriores.
Os dias de Jejum - que não eram poucos do ano religioso - eram compensados com
uma consoada, uma ligeira refeição à noite. No austero mosteiro da Madre Deus
em Lisboa, as religiosas gabavam-se de consoar com ‘dois bocados de pão e umas
folhas de hortelã’</span></span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">6</span></span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="font-size: small;"> .
Em Lorvão era-se menos frugal. Nos meses de Junho e Julho compravam-se grandes
quantidades de cerejas para as consoados dos dias de Santo António e São João.
O “Livro da Mordomia” de Lorvão do ano de 1659 diz que para as consoadas das
vésperas de Stº António, S. Joâo Baptista, e da Visitação, e merenda de Stª
António’, se tinham comprado nesse ano 735 arráteis de cerejas. <o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span></span>Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-92109497003008692532016-02-03T11:44:00.002+00:002016-02-03T11:44:14.745+00:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº VII HORAS OFICINAS E OFICIAIS<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 42.65pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;">O </span></b><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">mosteiro era</span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> casa de
oração, centrada na igreja e nas devoções. E era a casa de habitação de uma
comunidade, um ‘convento’, de mulheres unidas na oração e no trabalho. Que
tinham de ser alimentadas e vestidas, tratadas quando doentes e cuidadas na
velhice. O seu dia estava dividido em períodos de seis ‘Horas’ de oração, de
forma a realizar em perfeita harmonia o ideal monástico de oração e trabalho.
Eram a hora de véspera ao fim da tarde, antes das monjas se deitarem. O que
podia ser às oito no inverno, e às nove no verão. No coro </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">agradecia-se ao Senhor o fim do dia e
do trabalhos. Às 24 horas, era a hora de ‘Prima’ a primeira hora de um novo
dia. No coro cantava-se ‘Saudadte Domibe in caelis’ saudando a aurora de um
novo dia. Às 6 da manhã, ‘Hora<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sexta’
era a hora de levantar, de cantar ‘ Laudes,’</span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">hino de louvor ao início de um novo
dia de trabalho. A Hora Média podia ser celebrada às 9h00, chamada de ‘Terça’,
às 12h00 ‘Sexta’ ou às 15h00 ‘Noa’ ou ‘Nona’. </span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 42.65pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">O governo da casa era
de relativa simplicidade quando o mosteiro era pequeno como a Regra
recomendara. Uma comunidade reunida debaixo do mesmo tecto para fazer oração,
alimentando-se de pão, vinho, peixe, fruta e hortaliça, dormindo no mesmo
dormitório, e tomando as suas refeições em torno da mesma mesa, não exigia uma
organização complicada. Tudo se modificava quando o número de religiosas era
grande, por vezes exageradamente grande. Havia que fazer ajustes, arranjos, a
casa já nada tinha a ver com a simplicidade original do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">monsaterio.</i><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 42.65pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">No entanto, grande ou
pequeno, a divisão dos trabalhos domésticos era o mesmo. Dividia-se em ‘oficinas’
geridas por ‘oficinas’ escolhidas para o respectivo cargo No mosteiro pequeno
as oficinas eram poucas, no mosteiro grande eram muitas. Em 1536, havia no
mosteiro de Lorvão dezassete cargos e funções distintas dentro do mosteiro. Mas
havia mais.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>A abadessa,
ocupada com a administração, delegava o governo da casa na prioresa. Em grandes
mosteiros podia haver uma sub-prioresa. Era o caso de Lorvão. No sector
espiritual, a primeira oficial era a ‘cantor’, ou cantor-mor. Em Lorvão, ela
tinha duas ou mais auxiliares. A cantor entoava e dirigia o coro, ensinava
música e canto às noviças, e preparava a parte musical das procissões e dos
ofícios solenes. Tinha outra incumbência. Talvez por se partir do princípio,
que uma cantor tinha forçosamente boa dicção, era ela quem fazia a leitura da
acta de recomendações que o Visitador deixara à comunidade após a sua visita e
exame. A cantor-mor era naturalmente responsável pelos livros destinados aos ofícios
divinos: livros de coro e de canto, que eram guardados na própria igreja, junto
do altar, ou no coro. Livros levavam muito tempo a copiar custavam muito
dinheiro em peles e tintas, em pagamento aos escribas e copistas, quando o
livro não era produzido no ‘scriptórium’ do próprio mosteiro. Havia que ter os
maiores cuidados com essas obras. Em Lorvão as monjas tinham herdado obras
valiosas dos seus antecessores, e era a cantor a responsável pela sua
conservação. Limpava-os, cosia ou mandava coser alguma folha solta, vigiava que
não saíssem dos seus locais e que para lá voltassem depois de usados. Se os
preciosos livros manuscritos do mosteiro de Lorvão sobreviveram às vicissitudes
dos anos, se resistiram à humidade que sempre permeou aquelas paredes, isso
deve-se com certeza aos cuidados constantes de gerações de´ cantores’. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A autora do ‘Livro das Preladas’, escreve que o ‘Livro dos
Passarinhos’ - o célebre ‘Livro das Aves’ - estava na ‘Livraria do Canto Chão
entregue às cantores’ . <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Outra oficial ligada ao
serviço divino era a sacristã. Ocupava-se da igreja, dos vasos sagrados, das
vestes litúrgicas, das toalhas do altar e de tudo o resto que, de longe ou de
perto, se ligava à igreja do mosteiro. Era ela a sineira </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Era ela quem tocava o sino, ela a responsável pela limpeza da
igreja. Era também ela quem se encarregava da iluminação, não só da igreja,
como de toda a casa monástica. Comprava a cera para as velas, fabricava-as, ou
mandava fabricá-las, e distribuía-as às outras oficinas. A oficina que se veio
a designar por ‘sacristia’ foi criada nos primeiros anos do sec.XIV. Até lá os
vasos e vestes sagrados tinham sido guardados em arcas e armários nas capelas
onde eram usados.</span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">1</span></span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> A
sacristã era em geral coadjuvada por uma ou mais monjas, e teve muito cedo
ajudantas pagas para fazer a limpeza da igreja. No mosteiro de Arouca encontramo-las
entre os servidores do mosteiro já em meados do século XV.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">À sacristã de Lorvão
cabia uma curiosa tarefa: o fabrico d’água dos danados’. Era uma água - decerto
com fama de curativa - confeccionada fervendo nela a caveira de um abade de
santa memória. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-EgZonP62PEU/VrHmkqzzCQI/AAAAAAAAATw/SXy0-Bt2PdI/s1600/abad.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://1.bp.blogspot.com/-EgZonP62PEU/VrHmkqzzCQI/AAAAAAAAATw/SXy0-Bt2PdI/s200/abad.jpeg" width="175" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">No sector temporal a
primeira oficial era a ‘bolseira’. Seguiam-na, em ordem de importância, a ‘celeireira’,
a ‘tulheira’, a ‘despenseira’, a ‘refeitoreira’, a ‘enfermeira’, a ‘boticária’
e a ‘porteira’. Em Lorvão, onde tudo era em grande, havia duas bolseiras,
auxiliadas por uma escrivã; havia duas celeireiras, a principal e a
sub-celeireira, ambas por sua vez auxiliadas por uma escrivã. Havia mais que
uma enfermeira, mais que uma porteira e, como já se disse, mais que uma
sacristã e cantor. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Todos os anos as
oficiais juravam sobre os Evangelhos, que cumpririam o seu cargo ‘com toda
fidelidade e diligência e caridade’. Por essa ocasião, aquelas oficiais que
estavam à cabeça de oficinas onde se lidasse com dinheiro, davam conta das
respectivas receitas e despesas. As contas eram apresentadas à abadessa e às
anciãs, as monjas mais velhas do convento. Que não hesitavam em destituir uma
oficial, e nomear outra em seu lugar, caso julgassem a oficina mal regida.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 28.25pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Quando da visitação de
1536, os visitantes não encontraram em Lorvão nada a dizer no que tocava ao
lado espiritual do mosteiro ‘nas coisas sptriais (sic) e ofícios divinos se
cumprem mui bem’, mas no campo administrativo da casa encontraram fortes razões
de crítica. O que nos valeu uma acta com reparos explícitos sobre as obrigações
e da maioria das oficinas e suas oficiais. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A bolseira, como o nome
indica, era a mulher dos dinheiros, aquela que tinha a bolsa deles. Recebia o
dinheiro que entrava no mosteiro, e era ela quem o distribuía pelas outras
oficinas para compras e pagamentos. À bolseira recomendava-se que exigisse
sempre recibos, e desse por sua vez quitações. Devia anotar todos os dinheiros
recebidos e distribuídos. Os visitadores recomendavam que todo o dinheiro
recebido na bolsaria fosse depositado na ‘Arca do Depósito’ e que também se
guardasse aí o Livro da Bolsaria, em que se deviam anotar as despesas e
receitas. Para a dita arca devia haver duas chaves, ordenavam os visitadores.
Pela mesma ocasião recomendavam que todos os pagamentos fossem devidamente
anotados, que a escrivã das bolseiras desse sempre quitações, e que estas
fossem assinadas por ambas as bolseiras, pela abadessa, pela oficial
responsável pela entrega, e pela própria escrivã. E todos esses recibos deviam
ser devidamente tresladados no Livro da Bolsaria. Era provavelmente uma ordem
periodicamente repetida e constantemente desatendida ou mal executada, e os
visitadores não deviam ter grandes esperanças de serem obedecidos na matéria. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>A bolseira
arrecadava também o dinheiro que as monjas tivessem recebido por algum trabalho
de suas mãos, em particular fio fiado por elas. Também cabia à bolseira o
pagamento dos salários aos trabalhadores que eram pagos em dinheiro.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 42.6pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A verdadeira dona de
casa era a celeireira. Era ela quem encomendava e comprava os géneros, que os
mandava vir e recebia das propriedades do mosteiro, e ela que fazia a sua
distribuição. Contratava, pagava, e, se necessário, despedia o pessoal que
trabalhava para o mosteiro dentro de casa. Este era pago, segundo tabela
estabelecida, em e dinheiro e em géneros: comida e fato. Quando um mosteiro
tinha quinta própria, o que era o caso de Lorvão com a sua quinta do Botão, era
a celeireira que superintendia o seu bom governo, que nomeava o feitor. Era
responsável por que os produtos da quinta: ‘trigo e farinha e azeite e vinho e
vinagre e legumes e todas as cousas que em Botão se recolhiam’ viessem a tempo.
Devia também tomar nota de tudo o que se gastava na quinta ‘em pão, vinho,
azeite, aves, linho, dinheiro e qualquer outra cousa’.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>As abadessas de
Lorvão e algumas das religiosas passavam por vezes largos tempos em Botão.
Visitantes de passagem também lá eram recebidos. Era a celeireira que provia
que fossem bem tratados. Competia também às celeireiras zelar por que não
faltasse farinha no mosteiro, tratando a tempo com os moleiros. Se a farinha
faltava na tulha não era de quem tinha os moinhos da casa, que se murmurava,
mas das celeireiras. Em 1536 os visitadores notaram que as religiosas tinham
muitas vezes que esperar pela cozedura do pão: ‘por não ter farinha feita’. Não
podia ser, escreve o visitador, as celeireiras que fizessem o possível para que
isso não sucedesse. O mosteiro tinha boas arcas para guardar a farinha
produzida pelos seus moinhos, e se estes não produzissem o necessário, as
celeireiras que dessem ordem ao feitor de Botão para que este mandasse também
trabalhar as azenhas que o mosteiro lá tinha<span style="background: red; mso-highlight: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Cabia igualmente à
celeireira cuidar dos géneros para velhas e doentes. O visitador de 1536 fora
informado que muitas vezes faltava o necessário às religiosas velhas. Que eram
elas que tinham de comprar as suas mezinhas e remédios, pagando-os com o seu dinheiro.
Muitas, além de velhas, eram doentes, não podiam trabalhar, e não tinham
parentes que lhes dessem dinheiro. Não era de admitir que passassem
necessidade. Os visitadores deram estritas ordens às celeireiras para se
ocuparem disso, para que houvesse ‘provisão e mantimentos de suas enfermidades,
fraquezas e velhices’. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-7yJ863e2hXs/VrHnNoBLFOI/AAAAAAAAAT0/mY717JaEqUM/s1600/haywain-nuns.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-7yJ863e2hXs/VrHnNoBLFOI/AAAAAAAAAT0/mY717JaEqUM/s1600/haywain-nuns.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Por ocasião daquela visita havia muitas doentes no mosteiro, o que
o visitador atribuía à situação pouco salubre do mosteiro, ‘má disposição da
casa e terra e aposentos’, mas também ao facto de não se acudir a tempo às
doentes ‘com medicinas e sangrias’. Era preciso, frisava o visitador, que a
enfermeira tivesse mais cuidado, e que abadessa e celeireira fornecessem a
tempo, e com abundância, tudo que as doentes necessitassem ‘em mezinhas, purgas
ou sangrias ou mantimentos, ou serviços para as ditas enfermas’. Era de novo à
celeireira que se recomendava o cuidado de aprovisionar regularmente a
enfermaria, de ‘aves, carneiro, vinho, frângões, cabrito e todas as outras
cousas necessárias para dita enfermaria. Para que tudo isto se fizesse
convenientemente e a tempo, ordenava-se-lhe que se contratasse um homem, ‘um
bom moço’, para chamar médico ou sangrador e levar e trazer ‘aves, cabritos,
frangões e ovos’. Com todo este trabalho à sua conta, não é de espantar que a
celeireira de Lorvão tivesse uma sub-celeireira e duas escrivãs para a ajudar. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Adiante se dirá de
outra incumbência da celeireira e suas ajudantes e talvez a mais árdua: a
distribuição das rações aos homens que trabalhavam para o mosteiro no exterior.
<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>Para serviços e
recados fora do mosteiro, a celeireira tinha vários homens sob as suas ordens.
Que todos, inclusive o padre que cuidava dos moinhos, juravam, quando eram
contratados, ‘na mão da celeireira’, que cumpririam bem e fielmente as suas
obrigações. Provando-se que algum desses homens não era ‘fiel do que tratava’,
a celeireira devia despedi-lo. Devia ser ‘quitado dos ditos seus ofícios e
cargos e corrigido de seus delitos e faltas’<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 7.2pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">As aristocráticas
monjas de Lorvão deram - cremos que muito cedo - a palaciana designação de
‘Mordomia’ à oficina dirigida pela celeireira. Em Lorvão era portanto nos ‘Livros
de Mordomia’ que se anotavam as aquisições e os pagamentos feitos pelas
celeireiras. Em meados de Setecentos designam-se os mesmos livros como ‘Livro
da Feitoria’. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 28.25pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Os mosteiros tinham
usos e costumes próprios, que sucessivas gerações de celeireiras foram anotando:
Não eram usos no sentido de ritos diferentes. Tratava-se do que era uso a casa
fabricar, aquilo que, em determinado dia ou por determinada ocasião se
distribuía, ou se oferecia - em espécie e em quantidade - a determinada pessoa
ou entidade. As designações desses livros de apontamento diferem de mosteiro
para mosteiro. Em Lorvão consultava-se o ‘Regulamento da Celeireira’.e o ‘Regulamento
da Sala’, vezes designado por ‘Alcorão da Sala’ para saber como e a quem fazer
determinada oferta ou fabricar determinado alimento. Em Arouca, mosteiro
cisterciense como o de Lorvão, havia também, o ‘Alcorão da Tulha’ <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>Para anotar os
pagamentos aos servidores da casa, a celeireira tinha o ‘Livro das Soldadas’. Não
existem muitos. Sucedeu-lhes decerto o que sucedia aos livros de contas de
outras donas de casa, eram destruídos no fim de um ou dois anos. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 7.2pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Quando o preceito da
vida em comum, era tomado no verdadeiro sentido da palavra, as monjas comiam em
comum, às mesmas horas à mesma mesa. Quando por volta de quatrocentos o
preceito foi praticamente abandonado, e se introduziu o costume das monjas cozinharem
ou mandarem cozinhar a sua própria comida, havia que lhes dar diariamente os
necessários géneros. A tarefa cabia também à celeirieia. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Abaixo da celeireira,
se bem que não dependentes dela, estavam a tulheira, a despenseira e a
refeitoreira. A tulheira recebia as farinhas que a celeireira comprara, ou que
viera dos foreiros e rendeiros. Arrecadava-a na ‘tulha’. A tolheria superintendia
o fabrico do pão, e fazia a distribuição deste às monjas e àqueles que eram
pagos em pão, os ‘apaniguados’ <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>Havia duas
outras oficiais ligadas à alimentação: a despenseira e a refeitoreira. A
primeira era responsável pela arrecadação dos outros géneros que não o pão, e
pela sua distribuição às cozinhas. A refeitoreira ocupava-se do refeitório.
Comprava, ou mandava tecer, as toalhas de mesa, punha as mesas, e estava
incumbida de recolher os restos das refeições para serem aproveitados em outras
comidas, ou dados aos servidores da casa e aos pobres. Cabia–lhe manter limpo o
lavatório -<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que nos grandes mosteiros se
situava junto do refeitório - onde as monjas lavavam as mãos antes e depois das
refeições.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>Uma oficial pouco
recordada é a ‘Vestiária’. A Regra dispunha que houvesse um monge, que mandasse
tecer e coser as roupas e fabricar os sapatos dos religiosos. O mesmo se devia
aplicar a mosteiros de religiosas, mas nestes instalou-se muito cedo um costume
mais individualista, cada religiosa recebendo anualmente uma soma para se
vestir. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 28.25pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Em Lorvão encontra-se muito cedo menção de servidoras vindas do
exterior. forneiras, de criadas de tulha, e de auxiliares da sacristã. São já
mencionadas em contrato da rainha D. Teresa, em que estipula que as
‘servidoras’ , entre as quais uma sua protegida, que iria viver na cerca de
Lorvão, comessem o mesmo que as servidoras do convento. De início esse pessoal
seria reduzido, mas com o decorrer dos tempos as monjas foram encontrando
pretextos para a introdução de mais auxiliares. Em um rol das ‘soldadas e
mimos’ que, no século XVI, se davam em Lorvão às ‘criadas da Ordem’ enumeram-se
nada menos de cinquenta dessas serviçais. As sacristãs também requereram ajuda.
Passou a haver uma moça para fazer hóstias, outra para lavar as ‘sanguinhas’ -
os pequenos panos com que o sacerdote enxuga o cálice Para o refeitório havia
uma criada, para a botica três criadas de ‘fora’. Havia uma criada que acendia
as lâmpadas do mosteiro e três encarregadas de abrir as portas das cercas. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 28.25pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Na cozinha e forno trabalhavam forneiras, e havia criadas de
tulha. Posteriormente, haveria uma conserveira encarregada de fazer os doces. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A cozinha da abadessa
era separada. Havia nela duas criadas, e na hospedaria, uma. E não se contam
aqui as criadas que serviam algumas monjas, que sentiram a necessidade de serem
servidas pessoalmente. Às observações dos visitadores apresentavam argumentos
desta ordem: que ‘sem ajuda de criadas não podiam cumprir as suas obrigações
religiosas, como seja cantar e rezar em louvor do Senhor’. Implantara-se também
gradualmente o hábito das criadas das monjas dormirem no próprio dormitório
destas. O que os visitadores constantemente - se bem que sem resultado aparente
- proibiam. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Assim como proibiam,
com o mesmo resultado, os criados e os escudeiros, que dona abadessa passou a
ter a seu serviço. A designação original de ‘homens’ da abadessa vai
desaparecendo, generalizando-se, a partir do século XV, para aqueles que
ocupavam a mesma posição, a designação de ‘criado de Dona Abadessa’. Em 1416,
dona Mécia Vasques da Cunha afora um olival, estando presentes ao acto ‘Pero
Nunes e Domingos Gonçalves e Gonçalo Nunes, criados da dita senhora’. Ao
emprazamento, que se realizou em 1432 em Botão ‘diante das pousadas de dona
abadessa’, assistiram como testemunhas ‘Vicente Annes de Aveiro, Gonçalo
Martins e Gonçalo Domingues creligo (sic) e Gonçalo Coutinho, criados da dita
senhora.’ Em 1500, uma procuração da abadessa dona Catarina d'Eça, é
testemunhada por ‘Luís de Mendonça, criado da senhora abadessa e outros’<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No século XVI surge a designação de
‘escudeiro’ da abadessa. Primitivamente, o escudeiro era o homem que servia um
cavaleiro levando o seu escudo e tratando das suas armas, e viria a ser um
criado nobre. Que acompanhava o senhor em serviço de guerra ou outro. O rol dos
pagamentos de Arouca menciona pagamentos aos escudeiros que acompanhavam o abade
visitador quando este vinha em visita ao mosteiro. Em resumo, os escudeiro
estavam ao serviço de homens. Ora as abadessas de Lorvão não se achavam menos
que estes senhores, passaram também elas a ter a seu serviço criados a quem
designavam por escudeiros. Quando da composição feita em 1503 entre Dona
Catarina d'Eça e os moradores da vila da Esgueira, uma das testemunhas é ‘Pero
Vaz escudeiro da dita senhora’. E, em 1515, no acto de emprazamento de um
olival, realizado no próprio mosteiro e na ‘câmara da muito magnífica e
virtuosa senhora, a senhora dona Catarina D’eça’ uma das testemunhas foi
‘Alvaro de Morais escudeiro, criado da senhora abadessa e em casa da dita
senhora morador’. Uma oficial sempre escolhida com especial cuidado era a
porteira, a monja que estava na portaria, que aí recebia quem vinha em visita
às religiosas. Alguns visitantes podiam entratra no interior do mosteiro. Eram
excepções devidamente especificadas. Em outros casos ficava ao critério da
porteira se o, ou a, visitante seria conduzido ao parlatório, onde poderiam
conversar com a monja a quem vinham visitar. Estando esta sempre acompanhada de
uma companheira, e a conversa realizando-se através de uma grade que dividia o
quarto. A grade era particular aos mosteiros de homens, as primeiras monjas não
a encontraram quando se instalaram em Lorvão. As cistercienses não tinham
clausura, contactavam com gente de fora do mosteiro quando trabalhavam no
campo, pelo que é difícil de perceber a necessidade de haver uma grade que as
separava dos vistantes. ´E difícil apurar exactamente quando esta doi
introduzida em Lorvão. Mas existiu. Sendo provavelmente utilizada com mais
rigor a partir das severas medidas de reforma do século XVI. Em l533.</span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">2</span></span></a><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> um contrato notarial foi assinado ‘Na casa do palratório da grade
de baixo, lugar acostumado onde semelhantes autos se soem fazer’. Outro
contrato é assinado em l538.</span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">3</span></span></a><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> ‘em a varanda que está à portaria do dito mosteiro, ahi na grade
do palrlatorio que ahi está, que é lugar acostumado para se fazerem tais
autos.’ Quando em meados do século XVI se dá a revolta das monjas contra a
imposição de uma abadessa alheia ao mosteiro, houve um incidente presenciado
pelo Juiz chamado pela abadessa, o notário descreve, que estavam na casa da
grade e separados por duas grades, uma de ferro, outra de pau.’<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm -7.2pt 0pt 63.7pt; text-align: justify; text-indent: 42.65pt;">
<!--[if !supportFootnotes]-->
<br />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]--><br />
<div style="mso-element: footnote-list;">
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">2</span></span></a><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"> </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9pt;">T.T. Lorvão
Gavetas-3-6<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">3</span></span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9pt;"> T.T.
Lorvão . Lº 40-229v<o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
</div>
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-77308872807060263422016-01-27T12:38:00.000+00:002016-01-27T12:38:28.608+00:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº VI AS ABADESSAS<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 18pt; line-height: 115%;">A</span></b><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">s abadessas dos grandes mosteiros eram personagens importantes na
sociedade medieval, ‘mulheres de considerável posição social, habituadas ao
poder e gostando de o exercer’, assim define W.M. Labarge as superioras dos
mosteiros no seu livro sobre as mulheres na Idade Média. ‘Pessoa importante não
só no seu próprio convento, como no mundo exterior. Era vizinha, senhoria, e
filantropa nas vizinhanças da sua casa’, escreve a mesma autora. A autoridade
da abadessa exercia-se com efeito, não só sobre as suas religiosas, como sobre
a gente que vivia em torno e nos arredores do mosteiro. Mais longe até, em toda
a parte onde a casa monástica possuía terras e bens. Quanto maior e mais rico
fosse o mosteiro, maiores eram a posição e a influência da sua superiora. No
caso das abadessas de Lorvão, que eram senhoras donatárias de várias vilas, e
com jurisdição própria em algumas delas, que apresentavam os párocos em
numerosas igrejas, que eram donas de inúmeras terras das quais podiam dispor,
arrendando-as ou aforando-as, e de quem dependia uma infinidade de gente ligada
à administração dos bens monásticos, pois dessas senhoras facilmente se entende
que, na região conimbricense, só o bispo de Coimbra e, talvez, o Prior de Santa
Cruz, tivessem maior posição e influência que dona abadessa de Lorvão. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Naturalmente, também se esperava de uma abadessa, que ela, como
cabeça do seu mosteiro ou, em determinados casos, pela influência da sua
família, obtivesse benesses para o seu mosteiro, que protegesse à sua gente, e
que estendesse, se necessário, a sua protecção a outros, impondo-se aos bispos
e outros grandes senhores e, se necessário, ao próprio soberano. As abadessas
de Lorvão fizeram-no frequentemente. Em 1288, ao arrendar uma propriedade do
seu mosteiro aos frades de Santa Cruz, a abadessa dona Maria Joanis promete, no
contrato que firma com os frades crúzios, que, no caso de o rei vir de qualquer
forma a incomodar os frades, ela, abadessa, e seu convento, os protegeriam com
as suas cartas e privilégios e à sua custa, ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">per nostras literas, cartas, privilegius et expensas debemus vobis
defendere..</i>.’.</span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">1</span></span></a><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Dois séculos mais tarde, a influência da abadessa de Lorvão ainda
era tão reconhecida que, em 1416, um tal Afonso Peres não hesitava em dar à
abadessa dona Mécia Vasques da Cunha, para ela e seu convento, uma ‘marinha de
fazer sal’, com a condição de ela e as suas sucessoras tirarem, ou fazerem
tirar, o dito Afonso Peres da vintena do mar ‘em que se é posto por galiote, e
não o podendo tirar da dita vintena, e havendo aqui armadas algumas assim de
el-rei como doutras quaisquer, a que o dito Afonso Peres seja chamado, que a
dita Senhora e as suas sucessoras sejam teúdas a o tirar e livrar das ditas
armadas.’ </span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">2</span></span></a><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A influência da abadessa seria naturalmente tanto maior quanto
ela, para além do seu cargo, fosse influente devido às suas ligações familiares,
que fosse pessoalmente conhecida das pessoas altamente colocadas. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">E assim, ao tentar estabelecer a lista das primeiras abadessas de
Lorvão, parti do princípio, que havia que as procurar entre a primeira nobreza
do seu tempo. E mais, tinha a convicção, que elas seriam de preferência membros
daquelas famílias que gozassem então de maior prestígio e tivessem mais
influência na sociedade coeva. Conjugando e comparando os dados dos Livros de
Linhagem e as informações dos documentos, foi possível estabelecer, com
razoável certeza, a filiação das primeiras abadessas, e provar que todas elas
tinham de facto pertencido à primeira nobreza do reino. E que, sem excepção,
eram filhas de homens de grande nascimento, com influência pessoal na Corte, e
que, na sua maioria, eram homens de posses.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Dona Sancha, a que reputo por segunda abadessa de Lorvão, tendo
sucedido à abadessa Vierna, era uma Sousa, filha de D. Gonçalo Mendes de Sousa,
que, na primeira metade do século XIII, era chefe da linhagem dos Sousas, e foi
em Portugal um dos homens mais poderosos do seu tempo. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Dona Maria Afonso, a terceira abadessa, que, tal como a primeira,
viria do mosteiro de Gradefes em Leon, era de extracção real, neta de D. Sancho
I, pela sua mãe D. Teresa Sanches. A sua sucessora, dona Marina Gomes, era uma
Briteiros. Eleita já depois da morte da rainha D. Teresa, seria a primeira
abadessa a sê-lo sem a intervenção da padroeira do mosteiro. Era filha de Gomes
Mendes de Briteiros, e pertencia a uma família que se encontrava em franca
ascensão social, apoiada nos Sousas, a quem estava ligada por laços de amizade
e de parentesco. Dona Marina Gomes foi sucedida por uma prima sua, dona Urraca
Rodrigues, filha de Ruy Gomes de Briteiros. Às duas Briteiros, sucede de novo
uma Sousa, a muito rica dona Maria Anes, filha de D. João Garcia de Sousa,
senhor de Alegrete por sua mulher. Em fins do século XIII, depois de sessenta
anos de governo de Sousas e Briteiros, as religiosas de Lorvão elegem
finalmente uma abadessa que não pertencia a nenhuma dessas famílias. Trata-se
de dona Constança Soares, filha de D. Sueiro Anes de Paiva. Eleita em 1290, o
seu abadessado duraria até 1317. Segue-se-lhe no governo de Lorvão uma filha
dos Porto- Carrero. Governou até cerca de 1332, sucedendo-lhe de novo uma
Briteiros, Dona Teresa Mendes, filha de D. João Rodrigues de Briteiros e de D. Maria
Annes. Esta abadessa introduziria em Lorvão o ‘selo do convento’, que
representava a totalidade das religiosas. Dali em diante os documentos notariais
seriam- como veremos - legitimados com o selo da abadessa e com o selo do
convento. A abadessa seguinte dona Guiomar Fernandes de Panha, foi a primeira
das abadessas de Lorvão a usar apelido e patronímico. Rica, administrando ela
própria os seus bens, é talvez a esse facto que ela deveu a sua eleição. Não
pela ascendência familiar, que era relativamente modesta para a bitola de
Lorvão. Dona Guiomar morreu, lê-se ‘no ano da ‘peste grande’, em 1348 ou pouco
depois, aparentemente vítima dessa epidemia. Menciona-se que o mosteiro foi
então temporariamente regido por uma regedora, e, em seguida, por uma dona
Grácia, que provavelmente também foi regedora, seguindo uma abadessa, que deve
ter sido igualmente vítima da peste. Fora de novo uma Sousa. Em l395 entramos
no período dos abadessados de Cunhas e Eças. A partir desse ano e até 1468,
sucedem-se primeiro, quatro abadessas da família Cunha, todas próximas parentes
umas das outras. A primeira é dona Mécia Vasques da Cunha, filha de Vasco
Martins da Cunha. O reinado das Eças, que seguiu ao das Cunhas, contou
unicamente com duas abadessas, mas entre a primeira, dona Catarina d’Eça, e a
sua sucessora, dona Margarida d’Eça, Lorvão esteve em mãos de Eças de 1468 a
1537.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A eleição da abadessa era um ponto alto na vida do mosteiro.
Assunto do maior interesse para todo o convento, as monjas não seriam humanas
se não começassem a pensar na sucessão da sua prelada ao primeiro sintoma de
enfraquecimento ou de doença. A abadessa não teria ainda exalado o último
suspiro, e já havia decerto uma ou mais candidatas ao grande cargo, e a
campanha eleitoral estaria em pleno curo. As religiosas que tinham condições de
ser eleitas, tinham suas adeptas - seus partidos -, e não lhes faltava o
interesse de parentes e familiares. Ter uma sua parente à testa do poderoso
mosteiro de Lorvão não era pouca coisa. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A organização e preparação do acto eleitoral após a morte de uma Abadessa,
competia à Prioresa, a religiosa que ocupava o segundo lugar na hierarquia do convento.
Ela substituía de imediato a defunta prelada, e o primeiro acto da sua
administração era a notificação da morte de Dona Abadessa ao bispo da diocese e
ao abade do mosteiro do qual o seu dependia. No caso de Lorvão eram notificados
o bispo de Coimbra e o abade de Claraval. A partir do século XV, passou a ser
notificado também o abade de Alcobaça. Ao Bispo avisava-se unicamente por
cortesia. Era do abade de Claraval e, posteriormente, do de Alcobaça, que viria
a autorização para se proceder à eleição da nova abadessa. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A eleição realizava-se na Sala do Capítulo, estando presentes
todas as monjas. Iam escolher aquela entre elas que, de ali em diante, e até à
sua morte, as ia governar. Todas elas, da mais nova à mais velha, tinham
direito a voto. Depois de um cântico implorando a inspiração do Espírito Sant
procedia-se à votação. Era voto secreto, um voto por pessoa. Admitia-se a
eleição ‘por inspiração’ ou ‘por aclamação’, quando alguém propunha um nome, e
este era aceite por unanimidade e aclamado por todas. Uma cartorária do
mosteiro que, no seculo XVIII, escreveu o ‘Livro das Preladas’, não recorda
caso desses em Lorvão.
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-dCMeIrwCEN0/Vqi3hlPPknI/AAAAAAAAATQ/vsku9tnKtrE/s1600/1Penacova_.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-dCMeIrwCEN0/Vqi3hlPPknI/AAAAAAAAATQ/vsku9tnKtrE/s320/1Penacova_.JPG" /></a></span></div>
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> Uma vez a eleição concluída, e a abadessa eleita, eram de novo avisadas as mesmas autoridades eclesiásticas. Sem a sua aprovação, a eleição não era canonicamente válida. Tudo isto levava tempo, e sucedia, se bem que não fosse muito vulgar, que o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">bene-placit</i> não fosse concedido, tendo de se proceder a nova eleição. Sucedia também, e isso, sim, era frequente, haver discórdias entre as monjas quanto à eleição, com violentas disputas
e com as diferentes facções querendo impor a sua candidata. Não há testemunho
de disputas nas eleições em Lorvão nos primeiros anos. Ou porque na realidade
não as tivesse havido, ou, o que é mais provável, por ninguém se ter dado ao
trabalho de as anotar. Uma disputa sucedida no século XVII ficou registada. A
autora do ‘Livro das Preladas’ escreve a esse respeito, que, querendo fazer
eleição, houvera tais bulhas, que o mosteiro estivera nove meses sem abadessa,
e que no fim deste tempo ‘para aquietar as oretialidades (sic) viera em Maio
dona Francisca de Vilhena, freira de Celas’. <o:p></o:p></span><br /></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">As cistercienses fixavam prudentemente, a idade das candidatas a
abadessa, em trinta anos, e cinco de profissão. A duração da sua prelazia era
para a vida, eram abadessas ‘perpétua<i style="mso-bidi-font-style: normal;">s</i>’.
Uns sistemas que seria alterado com as reformas do século XVI, as abadessas
passarão a ser trienais, ou seja, eleitas por três anos.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Idealmente a escolha deveria obedecer aos sábios preceitos da
Regra de São Bento, e as eleitoras, inspiradas pelo Espírito Santo,
considerariam sobretudo a competência e as virtudes da candidata. Tudo indica
que a realidade era outra, que a eleição obedecia mais do que seria de desejar
a considerações de ordem material e a influências externas. ‘Grandes senhores
usavam da sua influência e do seu dinheiro para conseguirem o ambicionado posto
para alguém da sua família,<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>e a
própria candidata não era avessa a untar as mãos das influente<i style="mso-bidi-font-style: normal;">s</i>, ou a pedir apoio no exterior’,
escreve Eileen Power no seu livro sobre os mosteiros de mulheres em Inglaterra.
Os autores coevos insurgiam-se particularmente contra as influências
exteriores, contra as abadessas de ‘sangue’, impingidas pelos seus familiares,
e contra as abadessas ‘simoniacas’, que tinham conseguido a eleição com
dinheiro ou à custa de benesses prometidos. Excepcionalmente houve casos de
abadessas de gestão, designadas para gerir o mosteiro em época de guerra ou
devido a problemas de administração, ou por imposição exterior. Em Portugal
verificar-se-ia isso sobretudo no século XVI, quando da luta travada entre
D.João III e as ordens monásticas, pretendendo o. Rei ser ele a nomear as
abadessas dos grandes mosteiros. Adiante se dirá da luta épica que nasceu dessa
pretensão com particular acutilância justamente com Lorvão. Nos séculos
anteriores não há memória de intervenção real tão violenta, se bem que tanto os
reis como os bispos tentassem periodicamente impor as suas vontades às monjas,
e influir directamente nas eleições das suas preladas. O que em geral não
conseguiam, porque as religiosas protegiam com afinco o direito de elegerem
elas a sua abadessa, e não hesitavam em se queixar ao Papa, quando esse, ou qualquer
outro dos seus privilégios, estivesse ameaçado.<o:p></o:p></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-Qg5E-Z_u1UQ/Vqi4Ian56CI/AAAAAAAAATY/ZwGUWzqc6Oc/s1600/Selo%2Babadesa.bmp" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-Qg5E-Z_u1UQ/Vqi4Ian56CI/AAAAAAAAATY/ZwGUWzqc6Oc/s320/Selo%2Babadesa.bmp" width="194" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">
</span><div align="center" class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">O Selo abacial<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Logo que canonicamente
confirmada, a nova abadessa tomava conta do seu cargo. Recebia o báculo, o
castão do pastor, que marcava a sua autoridade, e era-lhe entregue o selo
abacial. <o:p></o:p></span></div>
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">No seu hábito, a abadessa não se distinguia das outras religiosas.
Aliás o hábito pouco se distinguia do traje mulher da classe média vivendo no
mundo. Um notário que, em fins do século XIII, descrevia o selo da abadessa de
Lorvão, diz, que se via no selo ‘uma figura de mulher com uma baga na mão
destra’ </span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">3</span></span></a><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Em outro documento lê-se que no selo se via uma ‘mulher ou uma
abadessa’. O hábito da religiosa era nas suas peças quase igual ao da mulher
que vivia no mundo: Vestia camisa e cogula, e cobria-se com um véu. Para os
frios usava manto. A simplicidade no hábito manteve-se na maioria dos
mosteiros, mas em alguns as religiosas conseguiram furar o tabu. Exemplo é
Arouca, onde as monjas, decidiram no século XVIII, dar uma nota de elegância
mundana ao seu hábito. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A abadessa era senhora absoluta no seu mosteiro, mas isso não
impedia que, em todas as decisões graves, ela tivesse de se submeter à prévia
consulta e ao voto e da sua comunidade, do seu ‘convento’. Em questões menores
podia aconselhar-se unicamente com as mais velhas, as anciãs, e as oficiais. Em
caso de vulto a abadessa tinha – como se disse - de ouvir ao convento na
totalidade, e os contratos tinham de ser feitos com o consentimento de toda a
comunidade. O documento frisava sempre que assim sucedia, que o convento dava o
seu consentimento. Não punha o seu selo, acrescentava-se, porque na Ordem de
Cister o convento não tinha selo, “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">conventus
ad Lorbani sigillum non apponitur quod non est de ordinem Cisterciensem quo
sigillum habet</i>”.</span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">5</span></span></a><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> A criação de um selo conventual em Lorvão no tempo da abadessa
dona Teresa Mendes iria permitir dali em diante um controle mais apertado das
medidas arbitrárias da abadessa, nenhum contrato sendo válido sem os dois
selos, o abacial e o conventual.</span><br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-666hNKVeHvk/Vqi4mdePWDI/AAAAAAAAATk/6CKbchUEf_I/s1600/selos.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="227" src="http://1.bp.blogspot.com/-666hNKVeHvk/Vqi4mdePWDI/AAAAAAAAATk/6CKbchUEf_I/s320/selos.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">Os selos <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>abacial e o conventual<o:p></o:p></span></td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">O novo selo era uma ajuda contra as arbitrariedades da abadessa -
de todas as tentações do seu cargo, a de governar autocraticamente seria talvez
a maior - mas não as evitaria por completo. O nepotismo reinava em todos os
mosteiros femininos. Abadessa que se conservasse por alguns anos à cabeça do
mosteiro preparava automaticamente a sua sucessão entre as monjas da sua
família. Praticado em Lorvão pela maioria das abadessas e desde os primeiros
tempos, a coisa tomaria proporções escandalosas nos abadessados das Eças,
quando praticamente todos os principais cargos de Lorvão estiveram em mãos de
parentes chegadas da abadessa. Em 1512, no abadessado de dona. Catarina d’Eça,
assinam uma escritura a prioresa dona Joana d’Eça, a celeireira dona Guiomar
d’Eça, a sacristã dona Joana da Guerra - as Guerras eram primas das Eças - e
ainda dona Isabel d’Eça, enfermeira: No abadessado seguinte, o de dona
Margarida d’Eça, constata-se que, em 1521, a sua prioresa era dona Joana d’Eça,
a sub-prioresa dona Guiomar d’Eça e a sacristã continuava a ser dona Joana da
Guerra <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">E não era unicamente no interior do mosteiro, que se observa o
favoritismo em relação à família. A abadessa dona Marina Gomes combina em 1264
com seu sobrinho D. João Rodrigues de Briteiros, que este receba de Lorvão uns
casais que eram de sua irmã dona Teresa Rodrigues, monja em Lorvão, dando ele
ao mosteiro uns casais na Estremadura, que eram de outra sua irmã, monja em
Arouca. Esse quinhão, declara o contraente, fora-lhe concedido pela abadessa
desse mosteiro.</span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">6</span></span></a><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A mesma abadessa fez outras transacções do
mesmo tipo com outros membros da sua família.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Caso parecido deu-se em 1400, numa troca de terras efectuada por
dona Mécia Vasques da Cunha. Nesse ano, a 21 de Dezembro, reuniram-se no
mosteiro de Lorvão, às portas da sala do cabido ‘a honrada e religiosa dona
Mecia Vasques da Cunha’ e o convento do seu mosteiro. As religiosas tinham sido
convocadas - como era costume - pelo toque da campainha ‘por campa tangida’, e,
‘todas juntas chamadas especialmente para isto’, que era, o de ouvir a proposta
da abadessa no sentido de se cederem certos bens do mosteiro a seu pai, Vasco
Martins da Cunha e ao Prior de Grijó, recebendo o mosteiro outros bens em
troca. O que seria, garantia a abadessa, a favor, ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">por prol’</i>, do dito seu mosteiro. As monjas disseram que sim, que
‘lhes prazia de tomarem os ditos casais, que lhes assim dona abadessa dava
pelos outros que lhes tomou’, e todas juntamente ‘louvaram e outorgaram o dito
escambo’.</span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">7</span></span></a><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> Parece pouco provável que Vasco Martins da Cunha e o Prior de
Grijó se dessem ao trabalho de fazer esta troca por puro altruísmo. O facto é
que a abadessa ter disposto de bens que eram do mosteiro a favor de homens da
sua família. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Se as abadessas não se distinguiam das suas monjas no trajar,
distinguiam-se, e muito, em tudo o resto. Pela autoridade que exerciam, e pelas
suas regalias. A abadessa tinha casa própria dentro do complexo monástico,
fugindo assim à vida em comum, que com o tempo se tornava odiosa à maioria das
religiosas. As abadessas tinham maior liberdade em receber visitas, maior
liberdade nas saídas.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">As cistercienses não tinham estrita clausura, mas esperava-se das
monjas que só se ausentassem do mosteiro em casos de grande necessidade ou de
óbvia utilidade, de serviço a que o seu cargo as obrigasse. A abadessa, essa,
tinha pelo seu cargo, ou por aquilo que ela considerava de seu cargo, frequentes
ocasiões de absoluta necessidade que a obrigavam a se ausentar do mosteiro.
Dona Vierna, a primeira abadessa de Lorvão, esteve presente em Montemor no ano
de 1221, quando aí se reuniu a corte. A abadessa firmou nessa ocasião com a
infanta D. Sancha um contrato, que garantia ao mosteiro de Lorvão a futura
posse da vila da Esgueira. Foi uma saída que se justificava plenamente Havia
uma visita obrigatória anual a Coimbra, à igreja de São Bartolomeu. Era uma
obrigação herdada dos monges seus antecessores, e que Lorvão tinha de manter se
não queria perder prestígio e a regalia de uma pele e uma ‘colheita de pão,
vinho e peixe’, que o cabido de S. Bartolomeu era obrigado a fornecer por
ocasião daquela visita. As primeiras abadessas tinham deixado cair este
direito, até que a abadessa dona Constança Soares o repôs, juntamente com
outros direitos resultantes do desleixo de algumas das suas antecessoras. Outra
saída bem documentada e de óbvia utilidade para o mosteirot é a da abadessa
dona Teresa Mendes, quando, a 4 de Setembro de l341, acompanhada de tabelião,
vai ao local da Pedra do Vento, junto de Coimbra, tratar de um cidral que o
mosteiro aí tinha, do qual o rendeiro há quatro anos não só não pagava a renda,
como instalara nele um sublocatário. A abadessa tratou directa e pessoalmente
do assunto. ‘A honrada religiosa e honesta dona Tareja, pela mercê de Deus
abadessa do mosteiro de Lorvão,’ postou-se diante da porta da casa do cidral e
‘fez pergunta a Joam Peres, dito Cidreiro,’ a quem pertenciam o cidral, a casa,
a vinha, e o olival que ali estavam. ‘E logo o dito Joam Peres respondeu, que
era da dita abadessa e do seu convento do dito mosteiro de Lorvão. E logo
outrossim fez pergunta a dita abadessa ao dito Joam Peres, quem no metera no
dito logo e de cuja mão o tinha, e o dito Joam Peres respondeu logo, e disse,
que o metera ali André Domingues de Requeixo por renda certa que lhe ele havia
de dar.’ A isso retorquiu a abadessa, que ela não estava ali para fazer ‘força
nem esbulho’ a ninguém, mas que o dito André Domingues não podia arrendar o que
não era seu, que aquele lugar era dela e do seu mosteiro, que elas não
renunciavam aos seus direitos pelo que, declarou, ‘filhamos esta casa com este
cidral e vinha e olival e suas pertenças, e entramos em posse dele em nome do
nosso mosteiro’ . Lido isto pelo tabelião que estava presente, a abadessa
dirigiu-se ao dito Joam Peres e disse-lhe que visto aquele lugar ser seu e do
seu mosteiro, que ‘ele se fosse dele a boa ventura e que saísse ende’. João
Peres obedeceu, saiu da casa, e deu ordem aos vindimeiros que lá estavam que
também saíssem, o que eles fizeram. E ‘logo, relata o instrumento, os homens da
dita abadessa, que ali estavam, filharam terra, e ramos de vides e de cidral, e
do olival, e telha da dita casa e meteram na mão da abadessa, e ela disse que
por todas aquelas coisas ela filhava posse daquele lugar como de seu, como quer
que posse sua posse...’</span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn7" name="_ftnref7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">8</span></span></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> </span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">No período em que Lorvão teve jurisdição criminal em algumas das
suas terras, as abadessas faziam-se em geral representar por um ouvidor seu.
Caso excepcional foi abadessa regedora dona Mècia. Essa senhora não perdia
ocasião de estar presente em casos de pleito. Em 1351 - Lorvão ainda tinha
jurisdição em Abiul, direito que posteriormente lhe seria retirado - houve
nessa terra o julgamento de um tal João Monteiro por uso criminoso dum cutelo
comprido. Apesar do julgamento ser presidido pelo ouvidor do mosteiro, lá estava
também dona Mécia, hospedada ‘na casa sobrada que foi de Joham de Runinaço’, <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Outra vez temos a abadessa dona Beatriz da Cunha indo a Coimbra
para se assegurar de certos bens que um tal Gonçalo Nunes Torrado tinha em
contrato com o mosteiro, e que lhe queria deixar por sua morte. A abadessa não
podia deixar fugir tal maná, e deslocou-se a Coimbra, acompanhada da prioresa,
da sub-prioresa, da celeireira e da sacristã e ainda de outras religiosas do
mosteiro. E não faltou evidentemente o notário para ali mesmo tomar devida nota
das palavras do moribundo, autentificando a doação daquilo que depois de sua
morte ficaria ao mosteiro. Toda aquela gente entrou na casa onde se encontrava
o infeliz Gonçalo Nunes: “jazendo ali o dito Gonçalo Nunes doente em uma cama
de dô de enfermidade”.</span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn8" name="_ftnref8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">10</span></span></a><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A abadessa dona Catarina d’Eça saiu frequentemente do seu
mosteiro, sobretudo nos primeiros tempos de seu abadessado. Agindo como
qualquer proprietário rural, ela vai em 1471 à Esgueira, vila que era do
mosteiro, e aí, em casa de João de Ruão</span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn9" name="_ftnref9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">, faz um emprazamento a João Pires Delgado. No ano seguinte, ela
está no ribeiro da Barroqueira, termos de Penacova, e faz aí o emprazamento de
uma vinha que o mosteiro tinha em Sabugosa. Nos últimos anos da sua vida, as
saídas são mais raras, e os contratos em geral firmados em Lorvão em seu
quarto, em sua ‘câmara’. Mas em 1503 há assunto de grande importância a tratar,
e temos notícia de dona Catarina ter saído do mosteiro. Vai à vila de Esgueira
para conseguir a composição entre o seu mosteiro e os habitantes dessa vila.
Nos últimos anos vivera-se uma verdadeira revolta dos foreiros de Lorvão, a gente
de Esgueira revoltando-se contra exigências dos administradores do mosteiro, e
não era a primeira vez. Como donatárias de Esgueira as monjas de Lorvão tinham
ali direitos que revoltavam os habitantes. Em 1428 houvera uma magna questão
por os pescadores da Esgueira retirarem o peixe das redes antes de terem
chamado o procurador do mosteiro, o que, segundo a abadessa de Lorvão, não
podiam fazer. Ela tinha o direito de escolher o peixe que lhe cabia antes de
ser retirado dos barcos. A coisa não ficou por ali, foi-se arrastando com
periódicos focos de revolta contra essa obrigação. Em 1503, ambas as partes
procuravam o apaziguamento da situação. O povo foia chamado ‘por pregão para
esta causa de boa concórdia e amigável composição’, muita gente compareceu, e,
por parte de Lorvão, estava lá a sua abadessa. ‘No ano do nascimento de N.S.
Jesus Cristo de 1503, aos 23 do mês de Novembro em a vila da Esgueira, terra e
jurisdição cível do mosteiro de Lorvão, no outeiro junto da ermida de S. Sebastião,
estando ahi a muito vertuosa senhora, a senhora dona Catherina d’Eça de viva
memória abadessa do mosteiro de Lorvão.’ </span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn10" name="_ftnref10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">1</span></span></a><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">2</span></span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> O assunto
foi debatido, ambas as partes fizeram concessões, e chegou-se a um acordo
provisório. Que talvez não se tivesse conseguido sem a presença da abadessa do
mosteiro. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Em tempos de guerra ou de revoltas no país, também vemos as
abadessas saindo dos seus mosteiros. Isolados, em geral afastados de povoações,
os mosteiros eram particularmente vulneráveis aos saques da soldadesca, e
nessas ocasiões era costume as religiosas refugiarem-se na cidade mais próxima.
Há um emprazamento feito em 1385 em Coimbra, estando regedora e monjas alojadas
nas casas de Dom Ruy Lourenço, ‘Daiam (sic) da dita cidade, em que pousamos de
presente, ‘por necessidade da guerra.’ <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Saidas desnecessárias, idas à corte, peregrinações a santuários,
passeios, de que abadessas de mosteiros ingleses e alemães eram acusadas, não
houve em Lorvão, ou não foram tão escandalosas que dessem brado.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A mais frequente critica que na Europa medieval se fazia `às
abadessas era a de serem más administradoras dos seus mosteiros. Despesas
excessivas, contas que se deviam prestar à comunidade e não se prestavam,
arrendamentos imprudentes, vendas de direitos centenários do mosteiro contra
moeda sonante, de tudo isso houve em Lorvão. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Contra uma abadessa despesista e má administradora pouco havia a
fazer, a não ser dar-lhe depois de morta uma sucessora competente. Como sucedeu
em 1288, quando, com o mosteiro em estado de pobreza, ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">paupertate</i>’, as monjas puseram fim fim ao longo governo de
compadrio Sousas e Brieiros, e elegeram na abadessa dona Constança Soares, uma
grande administradora.</span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;"> </span></b><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Sucedem-se com ela os
emprazamentos de parcelas de terras destinadas a olivais, com rigorosas
indicações do plantio, com boas e saudáveis plantas e, ‘escavados e cavados e
estercados como os bons olivais de Coimbra e ao tempo em que o deve de ser’.
Dona Constança procurou também reaver terras perdidas e outros bens alienados,
conseguindo até que o bispo de Coimbra, que em geral não era pródigo em
cedências, concordasse em que as igrejas de Abiul e do Botão se unissem de novo
a Lorvão, coisa até ali muito disputada entre os prévios bispos e as abadessas.
No instrumento feito por essa ocasião, o Bispo declarava que, atendendo à
pobreza e à carência de que sofria o mosteiro, ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">paupertate et megnam inopitam Conventus Santimonialem Monasterii de
Lorbano</i>’, e também em consideração da sua abadessa ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">ab honorem Religiosae Donae Constantiae Sueri</i>’, ele, Bispo Américo,
consentia de novo na união das duas igrejas ao mosteiro de Lorvão. A recuperação
de direitos abandonados ou perdidos era um dos grandes problemas que as
abadessas, que sucediam a uma má administradora, tinham de enfrentar. Nada
parecia mais fácil a uma abadessa que precisava urgentemente de dinheiro do que
vender uma terra ou um direito. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Dona abadessa - era assim que a partir do século XIV mais
comummente se nomeava a superiora do Lorvão – assinava sempre com a sua
comunidade ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Nós Maria Joanis Abbatissa et
convento monasterio de Lorbano</i>.’ lê-se em documento de 3 de Maio de 1288.
Em 1300, a abadessa Dona Constança Soares dirigia-se ao povo usando o título de
Don, e prescindio de quando escrevia ao bispo de Coimbra “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Constancia Suery eidem gratia Abatisse de Lorvão et conventus eiusdem</i>”
Também a abadessa Urraca Reimundo rescinde do Dom quando se dirige a um bispo. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">‘Nós Orraca Reymundo e o convento do
mosteiro de Lorvão vos enviamos comendar em vossa graça...</i>’ lê-se em
documento datado de Julho de 1328 dirigido ao bispo de Viseu. As abadessas
Cunha e Eça, senhoras que não transigiam sobre os seus pergaminhos, usam sempre
o Dom, quer se dirijam a bispos quer a leigos. Uma delas, Dona Maria de Cunha,
faz mesmo questão de mencionar o seu nascimento, assinando em 1 de Agosto de
1435 um contrato como dona Maria da Cunha, ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">de</i>
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">nobil genere’</i>. ‘Com as Eças não havia
que vincar nascimento. Os Eças eram de sangue real, passaram a ser ‘magníficas’:
‘Na câmara da muito magnífica e virtuosa senhora’, lê-se em documento de dona
Catharina d’Eça. A sua sucessora foi a ‘muito magnifica senhora, a senhora Dona
Margarida d’Essa’ <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText2" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; font-weight: normal; line-height: 115%;">Das abadessas esperava-se qualidades de
administradora, e autoridade sobre o seu convento, em privilegiar umas, ou uma,
das suas religiosas, e evidentemente um irrepreensível comportamento. Os
escritores do século XIX deliciavam-se quando encontravam escândalo amorosos
nos mosteiros, e assim nasceu a acusação que a grande dona Catarina d’Eça
tivera oito filhos. Coisa absolutamente impossível quando se sabe da periódica,
rigorosa visitação de que os mosteiros da Ordem de Custer eram alvo. Porém, como
este tipo de boatos notícias têm por vezes uma base de verdade, sugiro que essa
mãe de oito filhos, se na verdade existiu, fosse irmã gémea da abadessa dona
Catarina. O facto de se dar o mesmo nome a gémeos tem conduzido a mais do que
um erro genealógico. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="mso-element: footnote-list;">
<!--[if !supportFootnotes]--><br />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 8pt;">1</span></span></a> <span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9pt;">T.T.
Lorvão . Lº 40-206v</span></div>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">2</span></span></a> <span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 9pt;">T.T.
Lorvão. Lº 40-69v<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt;">Vintena do mar, ou da marinha, designava, segundo Viterbo,
designava o arrolamento de jovens para servirem a bordo dos navios das armadas.
Dos homens de uma vila ou aldeia postos em ala, era tomado de cada vinte, um.
Eram os ‘vintaneiros’ do mar, da marinha ou das galés. Ver-se livre da vintena
valia bem uma marinha de fazer sal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p> </o:p><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 8pt;">3</span></span></a><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"> </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 14pt;">T.T. Lorvão</span><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 8pt;">. Gavetas 06-Mº1<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 8pt;">5</span></span></a> TT. Lorvão Col. Esp,.
Mº9-Nr.17,18</div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt;">Jacinto Vieira, um artista bracarense, esculpiu estátuas em
tamanho natural das monjas de Arouca com esse elegante hábito</span></div>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 8pt;">6</span></span></a> TT. Lorvão. Col. Esp..
Mº10-Nr.14</div>
</div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt;">7</span></span></a><span style="font-size: 8pt;"> </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt;">T.T. Lorvão
Gavetas</span><span style="font-size: 8pt;">06-Mº</span> 7</div>
</div>
<div id="ftn7" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref7" name="_ftn7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 8pt;">8</span></span></a> <span style="font-family: "times new roman" , "serif";">T.T. Lorvão</span>. Livro 40-233,233v</div>
</div>
<div id="ftn8" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref8" name="_ftn8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 8pt;">10</span></span></a> <span style="font-family: "times new roman" , "serif";">T.T. Lorvão</span>. Gavetas2-Mº 2-Nr.22</div>
</div>
<div id="ftn9" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref9" name="_ftn9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""></a><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 8pt;">11</span></span><span style="font-family: "times new roman" , "serif";">. João de Ruão ou Jean
de Rouen (<span style="color: windowtext; text-decoration: none; text-underline: none;">Ruão</span>,
1500 – Portugal, 1580
foi um escultor e arquiteto de origem <span style="color: windowtext; text-decoration: none; text-underline: none;">francesa</span> ativo
em Portugal entre aproximadamente 1528 e 1580</span></div>
</div>
<div id="ftn10" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref10" name="_ftn10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 8pt;">1</span></span></a><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">2</span></span><span style="font-size: 8pt;"> </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif";">T.T. Lorvão </span>Livro 313</div>
</div>
</div>
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-18511753871101605092016-01-19T11:45:00.001+00:002016-01-19T11:45:20.743+00:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº V UMA INSTITUIÇÃO ARISTOCRÁTICA<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">O ideal do monacato,
ideado por homens para homens, inspirou mulheres de fé a seguir o exemplo.
Nasceram pequenos cenóbios de mulheres vocacionadas para a severa vida ‘em religião’,
rezando e trabalhando. Por aí devia e podia ter ficado, se a sociedade civil não tivesse descoberto e usado o
mosteiro para seu uso particular. Os mosteiros abriram as portas a postulantes,que para lá entravam - ou para lá eram enviadas - sem vocação, e por razões
puramente materiais. </span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Os reis descobriram a
utilidade dos mosteiros para arrumar uma princesa a quem seus pais não conseguissem casar à altura da sua condição.</span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-jDfLs1kmsdQ/Vp4aFQv1JYI/AAAAAAAAAS4/mUoiLPPn7nc/s1600/8576c7d463914bb8acb7f28842d531bb.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="http://1.bp.blogspot.com/-jDfLs1kmsdQ/Vp4aFQv1JYI/AAAAAAAAAS4/mUoiLPPn7nc/s200/8576c7d463914bb8acb7f28842d531bb.jpg" width="161" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">
</span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> Maria de Aragão e Castela, Rainha de
Portugal </span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">
</span></td></tr>
</tbody></table>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt 35.3pt; text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: blue; text-decoration: none;"><v:shapetype coordsize="21600,21600" filled="f" id="_x0000_t75" o:preferrelative="t" o:spt="75" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" stroked="f">
<v:stroke joinstyle="miter">
<v:formulas>
<v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0">
<v:f eqn="sum @0 1 0">
<v:f eqn="sum 0 0 @1">
<v:f eqn="prod @2 1 2">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @0 0 1">
<v:f eqn="prod @6 1 2">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="sum @8 21600 0">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @10 21600 0">
</v:f>
<v:path gradientshapeok="t" o:connecttype="rect" o:extrusionok="f">
<o:lock aspectratio="t" v:ext="edit">
</o:lock><v:shape alt="https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/236x/85/76/c7/8576c7d463914bb8acb7f28842d531bb.jpg" v:imagedata=""></v:shape></v:path></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:formulas></v:stroke></v:shapetype></span></div>
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span>
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">No seu testamento, a rainha D. Maria, segunda mulher de D.Manuel</span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;">,</span></b><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> pede ao marido em
espanhol aportuguesado, que ele procure bons casamentos para as filhas, e que,
caso não o consiga, que as meta freiras, mesmo contra sua vontade: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Suplico al Rey meu senhor, que a nossas
filhas em ninguna manera não las case sinon con Reis e filhos de reis
legitimos, e quando esto non possa ser, que as meta freiras, ainda que elas non
quieran, porque melhor serviran a Dios, que não casalas en el reyno, e bien lo
sabe Sua Alteza quantas fortunas tiene pasadas sua hermana por casar en el
Reyno y a elas ruego e peço, que non casen senon como aqui digo, ainda que Sua
Alteza se lo mande sob pena de minha bênção". </i></span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Mosteiro
nesses moldes eram uma aberração. Aberração que proliferou e se manteve durante
séculos.
<br />
</span></i></span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">
</span></span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Antes de ser aceite, a jovem candidata a professa no mosteiro era
examinada quanto a qualidades morais, intelectuais e físicas. E atendia-se
discretamente ao dote que dela se podia eventualmente esperar
A Regra de São Bento partia do princípio, que um convento
possuiria bens suficientes para sustentar a sua comunidade. Pelo que,
idealmente, não seria requerido dote. São Bento não pudera prever a avalanche
de mulheres que os próximos séculos iriam levar para os mosteiros. O dote era
agora uma necessidade. Não se podia exigir à futura religiosa contribuição em
dinheiro, mas nenhuma abadessa em seu pleno juízo recusava uma terra, um pomar,
uma casa na cidade, que os pais quisessem oferecer à filha que entrava em
religião. A monja era dona dos bens que trouxera em dote, subentendendo-se que
estes seriam por ela legados ao mosteiro, ou doados em vida a outra monja, que
por sua vez disporia a favor do mosteiro. Foram muitas as terras que Lorvão
herdou das suas monjas
Em 1260, a abadessa de Lorvão afora um casal em Vila Quebrada,
vila que depois, como lemos, se chamaria da Cerveira, com a menção de que este
casal fora de Estevania Rodrigues, sua monja. Em 1264, a abadessa dona Marina
Gomes, uma Briteiros, troca com João Rodrigues de Briteiros uma terra que fora
trazida para Lorvão por outra Briteiros. Em 1272, os visitadores de Claraval,
que estavam então em Portugal, tiveram de conciliar as abadessas de Lorvão e de
Arouca, que disputavam para os seus respectivos mosteiros os bens de uma monja
que de Lorvão, fora para Arouca. Em 1291, Estevaninha Vasques, monja de Lorvão,
faz partilhas com seu irmão Fernão Vasques de Figueiredo, e por ela irão ficar
a Lorvão dois casais que então herdara. Em 1311, Pedro Afonso Ribeiro doa a
Aldonça Pires ‘dona confessa do mosteiro de Lorvão’, uma almuinha no termo de Coimbra,
ao pé do mosteiro de São Francisco. Almoinha que, depois de sua morte, ficará
‘sem contenda nenhuma’ para o mosteiro. Por almoinha entendendia-se,
segundo Viterbo, uma ‘horta fechada sobre si, terra de pomar, parreiras e
hortaliça, frutos, ervas e árvores que servem de matar a fome’. Outra almoinha
perto de Coimbra vem parar ao mosteiro pela monja Urraca Pais, filha de Pedro
de Molnes. Outra almoinha ainda, denominada de São Lourenço, que em 1317 era já
de Lorvão, viera para o mosteiro por morte de Dona Maria Afonso. Em 1326,
Gonçalo Pires doa a Guiomar Gomes a sua quinta do Carapinhal no termo de
Mortágua, e por morte da dita Guiomar Gomes, a quinta fica para Lorvão
O mosteiro tinha propriedades na Pampilhosa, em Cernadelo, em
S.João de Loure, em Urgães perto de Tomar, em Carnide junto de Lisboa, tudo
herdado de monjas suas. No termo de Tábua as monjas de Lorvão tinham a quinta
da Portela, que fora dos Cunha, e na Rebordinha em Coimbra tinham mais ainda.<o:p></o:p></span></span></span></span></div>
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A coisa não podia durar, os reis não viam com bons olhos o
enriquecimento dos mosteiros em detrimento dos particulares. Foram, promulgadas
leis, proibido a aquisição de bens de raiz por parte de religiosos e mosteiros,
assim como doações e disposições testamentárias a favor de institutos
religiosos. Lei que os reis</span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;"> </span></b><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">frequentemente ajudavam
a violar. Em Lorvão dar-se-ia disso um flagrante exemplo. Uma certa Maria da
Panha, ‘dona filha dalgo e de bom logo’ tinha ‘muitas herdades e bens’, que
desejava dar em vida a sua filha, dona Guiomar, monja em Lorvão. Eis se não
quando D.Diniz resolve promulgar a lei proibindo as monjas de herdarem bens de
raiz. Dona Maria da Panha não vacila. Entra também ela como monja para o
mosteiro de Levando trazendo consigo todos os seus grandes bens. Pede ao rei -
conclui-se que o fez em pessoa – que fosse permitido a sua filha herdar esses
bens. D.Diniz, atendeu o pedido, ‘fez-lhes graça e mercê, e permitiu que os
seus bens ficassem a sua filha, e, consequentemente, dela passassem a Lorvão.
Os bens de dona Maria da Panha estendiam-se por montes e vales, com terras e
casas em Paredes de Gestaçô, em Sobrado de Paiva, em Linhares, e de lá até à
Guarda, em Torres Vedras e em muitos outros sítios.</span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Os mosteiros de mulheres não foram entusiasticamente aceites pelas
Ordens. Mas era escusado protestarem. À cabeça dos mosteiros de mulheres
estavam abadessas de grandes famílias, mulheres influentes que eram ouvidas na
Corte por elas, ou, se necessário, por alguma das monjas que tivesse laços de
família com a personagem de quem podia depender uma decisão importante. E os
soberanos, que periodicamente se insurgiam contra os ditos mosteiros, fundavam outros.
Odivelas foi fundação de D. Diniz. Seu filho bastardo, D.Afonso Sanches, fundou
o mosteiro de Santa Clara em Vila do Conde, deixando uma verba destinada a lá
manter duas religiosas, que tinham por missão rezar por ele e por sua mulher. O
exemplo dos reis foi seguido por famílias nobres, fundando pequenos mosteiros
nas suas terras, ou perto delas, colocando neles as suas filhas para que rezassem
pelos pais e lhes alcançarem o perdão das suas culpas. Em geral reservavam para
si o direito de lá se hospedarem. O que faziam com tal frequência e tanta
demora que acabavam por ser a ruina da sua própria fundação<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Grandes ou pequenos, os mosteiros medievais de mulheres foram
necessariamente instituições aristocráticas. Para a rapariga nobre, era
‘desonesto’ não era aceitável, exercer uma profissão. Casava, ou à falta disso,
entrava em religião. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Nas famílias de mercadores e obreiras na cidade e no campo, o
problema não se punha. Se as filhas não encontravam marido, não lhes faltavam
ocupações e profissões que podiam exercer e exerciam. Na cidade, as filhas dos
pequenos comerciantes e artesãos trabalhavam, vendendo e fabricando. No campo,
as filhas ajudavam os pais nos trabalhos da lavoura. Se não casava, era mais um
braço para trabalhar. E havia, então como sempre, os trabalhos domésticos, em
casa, ou para fora. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyTextIndent2" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; line-height: 115%;">Houve alguns
conventos abertos às famílias da alta burguesia. O mosteiro de Chelas, da ordem
de São Domingos, junto a Lisboa, foi por excelência, e, pelo menos, até à
primeira metade do século XV, convento das filhas da alta burguesia lisboeta.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">A classe dos mercadores ricos e os altos magistrados rivalizava
com a fidalguia, possuidora de bens patrimoniais nem sempre muito produtivos.
Essa gente de dinheiro e de letras não tinha grande hipótese de colocar as
filhas em mosteiro fundado, ou há muito dominado, pela alta nobreza. Teve em
Chelas o seu convento. Encontram-se entre as suas religiosas filhas de
magistrados, como as Alvernazes, filhas e sobrinhas de grandes mercadores, uma
das prioresas era sobrinha direita do riquíssimo João Palhavã. Há em Chelas
filhas de famílias estrangeiras estabelecidas em Lisboa, como as Reineis e as
Donteis. Chelas abria as portas a mulheres viúvas, e a mulheres separadas de
seus maridos. Chelas é um curioso caso, talvez um dos mais interessantes
mosteiros português, e, para a história de Lisboa, uma mina de informações. Mas
quando se fala de vida monástica feminina no Portugal medieval, está-se falando
dos grandes mosteiros, fundados pelo rei ou por membro da família real. Está-se
falando de Arouca, de Celas, de Santa Clara de Vila do Conde, e, evidentemente,
de Lorvão, o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">nec plus ultra</i> em
mosteiro de mulheres. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Os superiores das Ordens tiveram cedo consciência dos problemas
inerentes à vida em comum de muitas mulheres. A mulher é mais suscetível que o
homem, irrita-se mais que este com modos e maneiras do seu semelhante. A
irritação podia tomar proporções explosivas. Em consequência, na admissão de
uma religiosa olhava-se muito à condição física da candidata. O defeito físico
podia incomodar, meter nojo e causar grandes problemas. No mosteiro da Madre de
Deus de Lisboa foi muito discutida a entrada de uma noviça, natural da Guarda,
por as religiosas não lhe poderem avaliar a condição física com os próprios
olhos: ‘nos pareceu em os primeiros combates cousa ridícula tomar uma mulher de
setenta ou oitenta léguas daqui, de quem não podíamos saber se era torta ou
aleijada, ou alguma selvagem, que é ainda pior aleijão".</span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">2</span></span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> Em Lorvão não encontramos menção de mulheres aleijões, ou surdas,
ou com outro defeito físico incomodativo, mas encontram-se numerosos casos de
irmãs gémeas, o que no tempo era considerado uma anormalidade, mas não um
defeito incomodativo. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Requeria-se também que as monjas tivessem boas maneiras e uma
razoável cultura para que não se incomodassem umas às outras. O ensino de boas
maneiras era tomado muito a sério, seguindo com variações pontuais a regra que
Santo Agostinho redigira para a ordem fundada por sua irmã. Para poder haver um
relacionamento pacífico e agradável das religiosas entre si, Santo Agostinho
recomendava que a mestra de noviças instruísse a jovem professa nesse sentido.
Além de ensinar a ler às que não o sabiam - o que era a maioria delas - a
mestra devia informar as noviças dos costumes do seu mosteiro e incutir-lhes
modéstia e boas maneiras. Devia admoesta-las a que não se gabassem de
parentesco com pessoas graves, ‘nem se jactem de fidalguia ou nobreza da sua
geração’. E que não se ‘ensoberbeçam com as honras do século, ou riqueza dos
pais, ou parentes.’ ‘E que as ricas ponham em comum o que tenham; as pobres não
queiram ter no mosteiro o que não tinham fora dele. E que as pobres não se
enalteçam por ter trato com aquelas às quais lá fora se não atreveriam a
chegar´. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><o:p><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
</div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-QjTfcCAXTvI/Vp4aDXMJLyI/AAAAAAAAAS0/YSCNwLk7__c/s1600/santo-agostinho-4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-QjTfcCAXTvI/Vp4aDXMJLyI/AAAAAAAAAS0/YSCNwLk7__c/s1600/santo-agostinho-4.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;">Santo Agostinho </span></td></tr>
</tbody></table>
</o:p></span>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 11pt; line-height: 115%;">Os séculos não apagaram o valor dos preceitos de Santo Agostinho sobre
a melhor </span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">forma de viver em comum, ‘em
sociedade’, e a sociedade civil adoptaria gradualmente para si alguns dos
preceitos de ‘boas maneiras’ estabelecidos para religiossas. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 11pt; line-height: 115%;">A par de disciplina religiosa, a noviça aprendia regras de
comportamento. Às monjas de um mosteiro inglês era ensinado que, à mesa, as
religiosas não se deviam encostar com os cotovelos, não deviam comer de boca
aberta, não deviam escolher para si os melhores bocados Nos mosteiros alemães
havia igual preocupação com boas maneiras. Na Alemanha o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">‘Novizenspiegel</i>’<span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%; mso-ansi-font-size: 11.0pt;">4</span></span>, ou “Espelho
de noviças”, recomendava à noviça: que não coma com a rapidez da gula, como se
receasses que não chegasse para ela. Que não se inclinasse sobre a comida, que
não olhasse em redor para ver se não haveria outra que tivesse mais e melhor
que ela. Ao sentarem-se, as monjas deviam fazê-lo bem direitas, segurando as
extremidades dos seus mantos ou cogula, dizia-se às monjas inglesas. Nos locais
de silêncio deviam manter as mãos nas mangas da cogula. Não</span><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"> deviam estender demasiado as pernas nem cruzar os joelhos, um
sobre o outro. Deviam cobrir os pés honestamente sob as suas vestes e não
brincar com eles. Quando sentada entre duas companheiras, a monja devia fazê-lo
de modo a não ter a cara virada só para uma, ou só para a outra das suas
vizinhas, e não estar de costas viradas para uma ou para outra, nem virando a
cabeça alternadamente de um lado para outro. E nada de sonoras gargalhadas. A
mestra das noviças devia ensinar as suas pupilas a ‘não serem fáceis em rir, e
menos com risos acompanhados de vozes altas.’, A religiosa ‘não devia rir em
demasiado nem a despropósito”, ensinava-se também às inglesas. Contudo, caso o
soberano, ou alguma das irmãs mais idosas, rissem, a brincar, de alguma outra
irmã, ou irmãs, então, ‘cortesmente, por amor à qualidade, deverão sorrir ou
rir modestamente também’.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O estar de pé também tinha
os seus preceitos. Não se devia estar só sobre um pé, com o outro encostado,
nem com um cruzado sobre o outro, diziam as mestras inglesas a suas pupilas. A monja
manter-se-ia em pé, direita, ligeiramente encostada na cadeira do coro, com as
mãos diante de si, dentro dos mantos ou das mangas da cogula.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">O andar não devia ser de cabeça no ar, recomendava-se às monjas
portuguesas, mas sim ‘com os olhos postos em terra e as mãos recolhidas debaixo
do escapulário ou dentro das mangas do hábito junto à cintura’.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;">Quando professava - com a pompa devida, com ofício religioso
próprio - a noviça fora ensinada a ler, escrever e cantar, e estava formada em
boas maneiras. E -idealmente - não irritaria as suas companheiras. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></b></div>
</span></span></span><br /></div>
</div>
<br />Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-43139620816180841322016-01-06T12:18:00.001+00:002016-01-06T12:18:36.672+00:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº IV O MOSTEIRO<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">‘Vão para o deserto’, dissera Jesus, dando voz à arreigada
ansiedade de alguns homens. E os desertos povoaram-se de ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">monacos</i>’, de homens vivendo só. Por ‘deserto’ entende-se o ermo
longe das povoações, não obrigatoriamente um ermo árido de areia ou pedra. Um
local isolado, sim, mas fértil, onde haja água. Frequentemente um local
aprazível, ou mesmo de grande beleza natural, porque o homem que procura Deus
anseia por encontrar provas visuais da existência divina na paisagem que o
rodeia.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Há um homem que
descobre o seu lugar no deserto, é o primeiro cenobita. Que não fica só por
muito tempo. Mais tarde ou mais cedo, por meios de comunicação que mal se
explicam, a notícia da sua existência chega aos ouvidos de outros que, como
ele, procuram Deus na solidão. Atraído pela fama do local ou do seu eremita
chega ali outro aspirante á tranquila vida contemplativa. À cela inicial
junta-se outra e outra, e em pouco tempo existe um núcleo de células. É um
cenóbio. Constatam também ser mais cómodo e mais seguro juntar sob o mesmo
telhado as células individuais. Constroem casa que os albergue a todos. É o
mosteiro. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Em breve torna-se necessário a estes homens solitários, que vivem
juntos, aquilo que preside a todas as sociedades: uma regra de conduta. No
século VI esse instrumento nasceu. Obra de Bento de Nurcia, fundador da Ordem
beneditina, o seu livro de conduta, a sua Regra.. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">‘Se for possível, escreve São Bento, ‘edifique-se o mosteiro de
maneira, e em parte que tenha de portas a dentro tudo o que for necessário.
Convém a saber: água, moinho, horta, forno e que todos os ofícios se exercitem
dentro do mosteiro’.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Foi obedecendo a estas diretrizes
que nasceu, e foi evoluindo, o plano de construção a que obedeceriam com poucas
variantes, praticamente todos os mosteiros de raiz beneditina, particularmente os
da Ordem de Cister, seus abades resistindo sempre às modificações que lhes eram
propostas. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Em 1533, estando em pleno entusiasmo de reforma monástica, D. João
III questionou frei João Claro, abade de Alcobaça, sobre alguns melhoramentos
que propunha mandar executar no seu mosteiro. Frei João não apreciou as ideias
de Sua Alteza - abades e abadessas eram na sua maioria da opinião que el-rei
não se devia meter onde não era chamada - e rejeitou quase todas as reais sugestões.
De uma proposta declarou que dessa forma não convinha, na biblioteca era melhor
não mexer, por tal e tal razão, o chão sempre fora ladrilhado, não convinha que
fosse lajeado como el-rei sugeria. Em suma: nos mosteiros cistercienses não se
podia mexer porque eram todos feitos segundo o mesmo plano. ‘Senhor, as nossas
casas são todas fundadas em uniformidade’ escrevia frei João Claro.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">E assim era quando se tratava de mosteiros fundados de raiz pela
ordem de Cister. O que não era o caso em Lorvão, que nascera antes da Ordem de
Cister ter visto a luz do dia. Não há pois que imaginar o mosteiro que as
monjas de Cister vieram a herdar em Lorvão como típica casa monástica
cisterciense. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Em um </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">pequeno
livro manuscrito proveniente do mosteiro de Alcobaça, um tal Frei Hilário das
Chagas, reuniu, entre textos de natureza diversa, alguns apontamentos
referentes a mosteiros de religiosas da sua Ordem. Há notas – ‘títulos’- sobre
os mosteiros de Odivelas, de Celas, de Arouca, de Lorvão e de Coz. O capítulo
que trata de Coz é da autoria do próprio Frei Hilário, e data de 1572; os
apontamentos sobre os outros mosteiros, entre os quais o de Lorvão, são de
autores desconhecidos e datam de l491 e de 1496. Um desses autores escrevera
então sobre Lorvão: ‘Este muy insigne mosteiro de Lorvão está fundado em uma
terra de muito pouca consolação, entre umas serras mui ásperas e cobertas de
muita carqueja. E de redor deste mosteiro não há lugar para fazer uma horta,
que tudo não seja pejado dos ditos servos (sic), e o sítio do mosteiro é lugar
mui frio e húmido e sem condição alguma para mulheres ou para homens, somente
tem muita água e boa.’</span><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">1</span></span></a><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Cabe perguntar o
que teria acontecido a vinhas e hortas que havia junto do mosteiro quando lá se
instalaram as monjas. Os documentos comprovam que as monjas aforaram hortas e
vinhas junto do mosteiro pouco tempo depois de lá se instalarem. No entanto, no
século XVI, como se leu, hortas e vinhas tinham desaparecido dando lugar à
carqueja. Outra apreciação do local, feita uns anos depois, pouco difere desta.
Frei <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Claude de Bronseval</i>, secretário
do abade Claraval dom Edmé <i style="mso-bidi-font-style: normal;">de Saulieu,</i>
que, em 1531, veio a Portugal inspecionar os mosteiros cistercienses, descreve
a primeira impressão que teve do mosteiro. Atravessando os montes do Bussaco, o
abade e a sua comitiva atingiram um píncaro do qual avistaram Lorvão, situado
dentre dois montes assustadores ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">horridos
montes</i>’, em local horrível e numa solidão absoluta, ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">in loco horroris et vasta solitudines</i>’.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-VoL9YPFjx0I/Vo0AElHN9OI/AAAAAAAAASA/xkH2EtpQ2VE/s1600/15989190_m.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="204" src="http://4.bp.blogspot.com/-VoL9YPFjx0I/Vo0AElHN9OI/AAAAAAAAASA/xkH2EtpQ2VE/s320/15989190_m.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;"></span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%; mso-fareast-language: PT; mso-no-proof: yes;"><v:shapetype coordsize="21600,21600" filled="f" id="_x0000_t75" o:preferrelative="t" o:spt="75" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" stroked="f"><v:stroke joinstyle="miter"><v:formulas><v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0"><v:f eqn="sum @0 1 0"><v:f eqn="sum 0 0 @1"><v:f eqn="prod @2 1 2"><v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth"><v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight"><v:f eqn="sum @0 0 1"><v:f eqn="prod @6 1 2"><v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth"><v:f eqn="sum @8 21600 0"><v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight"><v:path gradientshapeok="t" o:connecttype="rect" o:extrusionok="f"><v:shape alt="15989190_m" id="_x0000_i1029" style="height: 240pt; mso-wrap-style: square; visibility: visible; width: 375pt;" type="#_x0000_t75"></v:shape></v:path></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:formulas></v:stroke></v:shapetype></span></b> </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A sul situava-se a casa monástica propriamente dita. Tinha por
centro o claustro, e, em torno deste, o refeitório, o dormitório, e as outras
dependências funcionais como cozinha, celeiro, tulha. Ficava também aí a casa
de abade ou abadessa, a casa para doentes e velhos e a enfermaria. Era espaço
reservado exclusivamente às habitantes do mosteiro. Por vezes o conjunto dos
edifícios era cercado por um muro, formando uma cerca. Simples, funcional,
magistralmente concebido para o fim a que era destinado: albergar condignamente
homens ou mulheres vivendo segundo uma regra, assim era o mosteiro. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Quando em 12111 os monges foram expulsos de Lorvão e instalado lá
um pequeno grupo de monjas não haveria de proceder a grandes alterações.
Igreja, casa para abadessa, casa de capítulo, refeitório, dormitório, oficinas,
tudo isso existia e pouca adaptação terá sido necessária. A igreja que hoje
existe ocupa o mesmo local daquela que os primeiros monges ali construíram.
Crê-se que ela foi em dada altura aumentada no sentido do comprimento, mas
mesmo assim não se obteve uma igreja grande. A igreja primitiva seria portanto
de proporções modestas, de uma só nave, segundo o protótipo das igrejas da
região conimbricense. A situação era, tal como hoje é, de nascente poente, com
o altar- mor virado para o sol nascente.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No altar repousavam as relíquias de
S.Mamede e S.Pelágio, os santos da devoção dos primeiros ocupantes do mosteiro.
As suas sucessoras, não partilhavam da mesma devoção, os dois primeiros santos
protectores iriam gradualmente cair no esquecimento, e quando a infanta
D.Sancha enviou para Lorvão os ossos dos frades franciscanos martirizados em
Marrocos, seriam essas as relíquias dali em diante veneradas.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">No tempo dos monges, a igreja teria provavelmente, além do
altar-mor, alguns altares laterais, onde aqueles monges que eram clérigos,
pudessem rezar, além das missas diárias obrigatórias, as inúmeras outras que
lhes eram encomendadas. É pouco provável que as monjas tenham feito
desaparecer. Era sabida a queda que elas tinham por pequenos altares dedicados
a algum santo de sua devoção, e que, quando os não podiam ter na sua igreja, os
espalhavam pelo claustro. Uma alteração importante que fatalmente se deu na igreja
foi a mudança do local do coro. Que era o espaço onde se sentava o conjunto dos
monges durante os ofícios divinos. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Nos mosteiros de homens o coro com
os seus cadeirais era junto do altar-mor, em situação de receber a luz do sol
nascente, alumiando os ofícios das primeiras horas da manhã. E quando se pensa
na modesta iluminação artificial que se conseguia pelos meios que então
existiam, e se recorda que os monges - se bem que devessem saber de cor parte
da liturgia - tinham de ler as leituras do dia, compreende-se o imperativo de
haver boa luz natural no coro.
Também as monjas tinham necessidade de boa
luz para as suas rezas. Mas a rigorosa segregação que a Regra impunha, requeria
que o seu coro fosse em lugar afastado dos oficiantes, e, consequentemente, do
altar-mor. Cremos pois que, em 1211, uma das modificações efetuadas na igreja
do mosteiro, seria o recuo do coro para a parte traseira da igreja. O que tinha
como consequência que se tapava ou, pelo menos, inutilizava, a primitiva porta
de entrada. Haveria portanto que abrir outra porta para admitir os fiéis. E
assim sucedeu. Ainda hoje, em Lorvão, se entra na igreja por uma porta lateral
praticada na sua parede norte. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Quanto ao
cadeiral - os renques de cadeiras colocadas no coro - este teria forçosamente
as características de todos os cadeirais dos mosteiros, e teria pelo menos
quarenta lugares, já que fora esse o número de religiosas, previsto pela nova
padroeira.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Os cadeirais eram uma obra de marcenaria estudada para dar algum
conforto a homens e mulheres obrigados a passar longas horas na igreja, rezando
ou cantando. Numa luta constante contra a humidade sempre prevalecente em
edifícios que, na sua grande maioria, se situavam nos fundos dos vales, os
cadeirais assentavam em geral numa ligeira elevação de pedra ou de alvenaria.
Os assentos eram distribuídos por duas alas que se faziam face, cada uma com
duas ou mais fileiras em degraus. Os assentos das últimas fileiras tinham
possivelmente costas altas e talvez um dossel de madeira como protecção
adicional contra o frio e as correntes de ar. Na divisória que separava os
assentos, as monjas podiam poisar os seus livros ou, cuidadosamente, alguma
vela. Estavam verdadeiramente ‘encaixadas’ nas suas cadeiras.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-DeOa4uck_cY/Vo0AjfJ5UeI/AAAAAAAAASI/RfkYxN1k2pc/s1600/lorvc3a3o-2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-DeOa4uck_cY/Vo0AjfJ5UeI/AAAAAAAAASI/RfkYxN1k2pc/s320/lorvc3a3o-2.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">Cadeiral construído no séc XVIII em substituição do cadeiral primitivo<o:p></o:p></span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span> </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Munidos de
gonzos, os assentos das cadeiras podiam levantar-se para trás e já no século
XIII se introduzira neles uma pequena prateleira afixada por baixo do assento,
uma comodidade que viria a ser conhecida por ‘misericórdia’. Levantando os
assentos, as monjas podiam apoiar-se nesta prateleira quando rezavam de pé.
Eram uma ‘misericórdia’. Entre as duas alas dos assentos colocava-se a estante
que suportava os livros de canto. Estante grande e forte, porque os livros também
o eram, enormes até. A fraca iluminação artificial que se obtinha exigia letras
grandes e havia que ter em consideração aquelas que viam mal. Óculos só começam
a aparecer no século XV.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A necessidade de mudar o local do coro e o consequente encerramento do portal primitivo deve ter
colocado os instaladores das monjas perante outro problema. Sabe-se com efeito
que a igreja do mosteiro servia desde tempos imemoriais de igreja paroquial aos
fregueses do burgo. Tinha portanto de existir na igreja uma fonte baptismal e
um altar próprio para uso dos paroquianos. Nos mosteiros de homens, quando nas
suas igrejas havia serviço paroquial, o altar dos paroquianos situava-se em
geral junto à porta de entrada, encostava à traseira do coro. Assim sucederia
decerto em Lorvão em tempo dos monges. Quando, com a nova situação, os
fregueses passaram a entrar pela pequena porta lateral na parede norte da
igreja, seria decerto também desse lado, perto da nova entrada, que se
colocaria o altar paroquial.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Era grande incómodo, na opinião das monjas, que a sua igreja
servisse de igreja paroquial à gente de Lorvão. Incómodo que só terminaria no
século XVIII, quando a abadessa dona Serafina da Câmara mandou fazer à sua
custa igreja própria para os paroquianos de Lorvão Foi também nesse tempo que
se fez um claustro novo, por ameaçar ruína o claustro velho que ainda datava do
tempo dos monges. A expressão ‘fez-se claustro novo’ usado pela cartorária é
enganadora. Não se tratou de fazer claustro em outro local do que aquele que
desde início ocupara. Desse primitivo claustro, aquele que as monjas medievais
conheceram, conservam-se fragmentos das colunas e dos capitéis românicos no
Museu Machado de Castro de Coimbra
O claustro era o ponto de comunicação que ligava entre elas as várias dependências da casa monástica. Inspirado no
traçado do átrio das vilas romanas, o claustro consiste de um quadrado central
ajardinado, ladeado de corredores tapados, abertos para o centro por meio de
arcaria assente nos muretes dos corredores. Dos corredores do claustro abriam
portas dando acesso às dependências contíguas. No corredor sul havia portas
abrindo para a igreja, uma mais pequena, que dava entrada para o coro, outra,
maior, que abria junto do altar-mor. A nascente, uma porta mais ornamentada dava
acesso à casa do capítulo. Em todos os grandes mosteiros a porta para a sala
capitular era ornamentada com particular grandeza e assim sucedia também em
Lorvão. Como ainda hoje se pode constatar. A Casa do Capítulo tinha acesso à
Igreja, e o nome nascera do uso que os monges faziam dessa sala para ouvir um
capítulo da regra de São Bento depois do ofício de Prima. A casa foi sendo
conhecida por sala de capítulo, e estabelecida como o local onde se realizavam
reuniões importantes. Era lá que se procedia à eleições dos prelados ou
preladas. Era também ali que o ‘visitador’, tendo terminado a sua visita de inspeção,
fazia as suas observações às monjas, e onde lhes era lida a acta da visitação.
Era também na sala de capítulo que se concluíam em geral os contratos de venda
e emprazamento de maior importância, ou pelas elevadas somas da compra ou
venda, ou pela categoria dos compradores ou vendedores. </span><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-EBi16CUZMXY/Vo0B1prk5kI/AAAAAAAAASc/WkFHykG2K78/s1600/7b110a_thumb3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="116" src="http://2.bp.blogspot.com/-EBi16CUZMXY/Vo0B1prk5kI/AAAAAAAAASc/WkFHykG2K78/s320/7b110a_thumb3.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">
</span><div align="center" class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">Os mártires de Marrocos do mosteiro de Lorvão<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div align="center" class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 8pt; line-height: 115%;">Museu Machado de Castro<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Nos mosteiros de mulheres decerto não houve de inicio essa sala. O
que sucedeu foi ter-se estabelecido a expressão ‘fazer capítulo’ quando se
tratava de reunião para a qual todo o convento era chamado a assistir. O que
nem sempre se dava em sala destinada a esse fim. As monjas gostavam de variar o
local das suas reuniões. Os documentos falam de reuniões realizadas em este ou
aquele local, as monjas sendo chamadas para ele por toque de campainha. Assim,
no dia 20 de Dezembro de 1400, realiza-se uma troca de propriedades do mosteiro
por outras, e o contrato dessa troca - feita aliás entre o convento e a própria
abadessa - realizou-se ‘no dito mosteiro ante as portas do coro sendo hy a
honrada e religiosa dona Mecia Vasques da Cunha e o convento do dito mosteiro
em cabido por campa tangida, como é de seu costume, todas juntas e chamadas
especialmente para isto’
Em 1432 o emprazamento de um olival
é feito no mosteiro ‘dentro no balcão que está junto com a casa que chamam do
Pereiro Velho sendo ali a honrada senhora dona Mecia Vasques da Cunha, abadessa,
e convento, juntas em Cabido e Cabido fazendo’.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 28.25pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Era nesta casa monástica, neste ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">monasterio</i>’, que devia viver ‘em religião’, um grupo, um
‘convento’, de pelo menos doze ‘monacas’. Idealmente, a abadessa amava as suas
monjas, e a todas da mesma maneira, e estas veneravam e amavam a sua abadessa.
As anciãs seriam carinhosamente tratadas, as orações seriam rezadas a horas e
sempre com a maior devoção, o claustro seria um oásis de silêncio, e todas as
monjas executariam entusiasticamente os mais humildes trabalhos. É assim que um
autor anónimo francês descreve no século XIII, numa pequena obra que intitulou
‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">La Sainte Abbaye</i>’ o convento ideal.
Uma miniatura do manuscrito mostra as habitantes desse santo mosteiro na igreja
e no claustro. Contra um fundo doirado, um grupo de monjas assiste à missa e
participa numa procissão. A abadessa segura o seu báculo, a sacristã toca o
sino, a celeireira tem as suas chaves à cintura. Outras monjas seguram livros
de canto ou de oração nas finas e compridas mãos. Todas as monjas são belas e
aristocráticas senhoras levando o seu hábito com suprema elegância. Era o
ideal. A realidade era um pouco diferente <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 28.25pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">As doze monacas do mosteiro ideal foram-se multiplicando, as
mulheres de eleição que optavam de livre vontade por uma vida em oração
desapareciam no aglomerado de mulheres que entravam para o mosteiro ideal por
razões que nada tinham a ver com religião e oração, adaptou-se às novas
realidades. A evolução não foi igual em todos os mosteiros. A história dos
mosteiros de mulheres na Idade Média é a história de mulheres que humanizaram à
sua maneiro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">habitat </i>que não tinham
escolhido, que lhes era estranho. O mosteiro não desapareceu, o nome ficou, na
sua essência não tinha nada a ver com o mosteiro ideal de doze monácas. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;"><o:p><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-w7JjWnb9fyM/Vo0Cf6GdP5I/AAAAAAAAASg/ri08Mq-HkH4/s1600/CIstercian_Nuns_Singing_detail.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-w7JjWnb9fyM/Vo0Cf6GdP5I/AAAAAAAAASg/ri08Mq-HkH4/s320/CIstercian_Nuns_Singing_detail.jpg" width="224" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 9pt; line-height: 115%;">O mosteiro ideal<o:p></o:p></span></td></tr>
</tbody></table>
</o:p></span></b> <br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 22pt; line-height: 115%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT; mso-no-proof: yes;"><v:shape alt="steabbayenuns-avg" id="Imagem_x0020_2" o:spid="_x0000_i1025" style="height: 315pt; mso-wrap-style: square; visibility: visible; width: 234.5pt;" type="#_x0000_t75"> <v:imagedata o:title="steabbayenuns-avg" src="file:///C:\Users\UTILIZ~1\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image005.jpg"> </v:imagedata></v:shape></span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 9pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span> </div>
<br />
<div style="mso-element: footnote-list;">
<!--[if !supportFootnotes]--><br />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]--> <br />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">1</span></span></a><span style="font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"> B. N.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Col. ALCOBAÇA<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6376781507009521293.post-84252230032520547392015-12-30T10:26:00.000+00:002015-12-30T10:38:43.534+00:00VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº III A RAINHA, O PAPA E O BISPOA rainha D. Teresa, recém-nomeada padroeira do mosteiro de Lorvão, como boa e prudente administradora que era, deu um Seguro ao do seu mosteiro. Dirigiu-se ao Papa, pedindo a Sua Santidade que confirmasse ao mosteiro os seus bens. Honório III acedeu ao pedido.
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-Lxwfc6WXGJ8/VoOxPj6HTXI/AAAAAAAAARw/s8Gw-GqOtAw/s1600/200px-B_Honorius_III3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-Lxwfc6WXGJ8/VoOxPj6HTXI/AAAAAAAAARw/s8Gw-GqOtAw/s400/200px-B_Honorius_III3.jpg" /></a></div> Na respetiva bula papal eram citadas todas as propriedades que haviam sido indicadas pela Rainha, e, para o caso de alguma ter sido esquecida, a bula garantia às monjas de Lorvão todos os outros seus bens e suas heranças, a saber: ‘prados e vinhas, terras, bosques e prados em monte e vale, e águas e caminhos e passagens’ e ainda, especificamente, ‘todas as outras liberdades e isenções devidas às mesmas propriedades’. D. Teresa iria pedir e, e obter mais ainda. A filiação do mosteiro de Santa Maria de Lorvão a Cister garantia ao mosteiro os privilégios de que a Ordem gozava em Portugal, e, em I223, D. Teresa obtinha do Papa uma Bula dispensando Lorvão de pagar a dízima à Igreja. Ou seja, não tinha de pagar à Igreja a décima parte dos produtos das suas propriedades, tanto daquelas que já cultivava, como daquelas que futuramente viesse a cultivar. Livres também de dízimas as suas hortas, os seus pomares, os seus pesqueiros, o gado que criasse. Se algum bispo, presente ou futuro, exigisse a dízima e ameaçasse as monjas ou seus criados e servidores com excomunhão ou com interdito por não a pagarem, tal sentença ou interdição seria nula. E mais. Se algum servidor ou amigo do mosteiro quisesse trabalhar para Lorvão em dia que fosse santificado na sua diocese, não seria por isso castigado. De momento que o dia não fosse santificado para a Ordem de Cister, bem entendido.
A dízima, a décima parte dos frutos, ou ‘décima de Deus’, era recebida pelos bispos da respectiva diocese. A terça parte da dízima pertencia ao bispo, outra parte ao clero, enquanto a outra parte se destinava- à manutenção do culto, das igrejas, dos livros, das vestes, dos vasos litúrgicos da diocese. Com essa dispensa aproveitavam ainda os rendeiros do mosteiro, também eles não pagando dízima. Quando os mordomos do mosteiro iam avaliar a colheita dos caseiros para dela tirarem a oitava, ou a sexta ou a quinta parte que cabia ao mosteiro, a avaliação que faziam era a partir duma colheita mais avultada, já que não se lhe retirara a ‘décima de Deus’.
Dado que a diocese onde as monjas tinham mais propriedades era a de Coimbra, o prelado mais afetado pelos privilégios que o Papa tão generosamente concedia a Lorvão era o bispo de Coimbra. O mesmo bispo que expulsara de Lorvão os monges negros a favor da rainha D. Teresa. Aquele D. Pedro Soeiro, que se convencera que a Rainha agiria sempre sob a sua autoridade e seguiria os seus conselhos, perdia toda e qualquer autoridade sobre Lorvão, e via-se obrigado a tratar as monjas com cuidados e atenções que nunca precisara de usar para com os monges.
As restrições impostas ao bispo de Coimbra e aos outros bispos das dioceses onde Lorvão tinha propriedades, não se ficavam aliás pelas referidas medidas. De ali em diante, esses senhores não poderiam obrigar as pessoas que dependiam do mosteiro a responder ‘sobre suas rendas e bens nos sínodos e ajuntamentos públicos ou juizes seculares’. Os achincalhados prelados também não poderiam ir ao mosteiro celebrar ordens, ou tratar de dívidas, ou fazer lá, por qualquer outra razão, ajuntamento público. Já isso cortava, e de que maneira, nos rendimentos das sedes episcopais. E mais ainda se lhes cortava, não permitindo que os bispos recebessem remuneração por serviços que prestassem ao mosteiro de Lorvão: nem por consagração de igreja, nem por benção de altar ou de vaso sagrado, nem pela celebração de qualquer sacramento, antes ‘todas essas coisas faça graciosamente o bispo diocesano’. Convenha-se que era duro. Por fim, para arredondar as coisas, o Papa ainda confirmava ao mosteiro todas as liberdades e isenções, que ele próprio, ou algum dos seus antecessores alguma vez tivessem concedido à Ordem de Cister à qual o mosteiro pertencia.
Os Bispos recalcitravam, exigiam que lhes fosse enviada prova de que Lorvão tinha este ou aquele privilégio, Dona Abadessa tinha dez dias para lhe enviar a carta de privilégios em que se baseava para levar as dízimas. De contrário seria severamente castigada.
O que Lorvão poupava com a magnânima Bula refletia-se materialmente nos mais variados campos, com teremos ocasião de verificar.
Theresa Castello Brancohttp://www.blogger.com/profile/03145545263901557386noreply@blogger.com0