Biblioteca versus Audioteca
>> segunda-feira, 20 de junho de 2011
- Bonito, disse a minha empregada ucraniana, olhando para as minhas estantes de livros. É, respondi, mas já não os
posso ler.
-Mas já os leu todos, não leu?
- li
-Então já não precisa de ler outra vez. E é sempre bonito.
Concordei. Uma estante de livros tem beleza.
Estou formando uma colecção de audi livros, o princípio de uma auditeca. Aprecio-a devidamente, mas não cometo o erro de a achar comparável a uma biblioteca, ou de comparar uma caixinha com 4 ou 5 CDs a um livro de 400 ou 500 páginas na sua encadernação. Já não posso ler os seus textos, mas ainda sinto prazer em olhar, em abrir os meus livros, em admirar a arte do tipógrafo no arranjo das linhas e páginas. Ainda posso apreciar a arte com que o encadernador ‘encadernou’ a colecção de folhas, ou cadernos de um texto. Houve livros encadernados em madeira, em pergaminho, em pele de mais ou menos qualidade, em veludo, em seda. Em dada altura, creio que nos primeiros anos do século XVIII saíram das casas editoras os primeiros livros que não precisavam de encadernador para os proteger e alindar. Saiam da editora com a sua capa dura própria. Eram capas em cartão com título e nome de autor impressos a oiro ou outra cor contrastante. Tudo ornado de arabescos e por vezes com gravura. São as encadernações românticas. Um amador de livros tem em geral as suas preferências em matéria de encadernação. Tenho alguns livros com boas e bonitas encadernações. Nada de precioso, mas bom. No entanto, é nos livros com encadernação romântica que pego com mais gosto. Não são muito apreciados pelos grandes bibliófilos, mas eu fui sempre uma modesta bibliófila, e hoje já nem isso. Mas ainda posso ser amadora de bonitas encadernações.
Os meus audi-livros chegam-me em caixinhas de cartão ou plástico. São bem apresentadas as caixas, com ilustrações adequadas, mas ninguém dirá “É bonito” ao contemplar filas de caixas de uma ‘audioteca’.