Também isto é Europa

>> segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Estávamos sentadas à mesa da cozinha a cortar peras para compota.
Ela é russa, e vem de vez em quando substituir uma amiga ucraniana, que trabalha para mim -
Foi casada com um búlgaro, e agora namora um português. Eu sou filha de uma portuguesa e um alemão, o meu marido era português e a minha filha é casada com um italiano.
Falámos de instrução. - A minha mãe foi ensinada pela minha avó – disse ela.
-Porquê? - perguntei,
-Sabe o que é Gulag ?
-Sei, tive lá um primo - respondi.
- Nos da Sibéria?
- Sim - respondi.
-Um português, perguntou ela, espantada.
-Não. Um alemão
-Ah, E voltou?
-Depois de dez anos apareceu.
-O meu avô não voltou - disse ela - Era professor. A minha avó esperou, esperou, mas ele não voltou. Como ela tinha o marido no Gulag, a filha não podia ir à escola e foi a minha avó que a ensinou. Foi uma grande mulher, a minha avó.
Tive um irmão na frente leste. Tive primos do lado alemão que lá ficaram. Mas aquele que esteve no Gulag, não era meu parente pelo lado paterno. Descendia de uma prima da minha avó que casara com um alemão-nunca esqueceu a sua longínqua ascendência portuguesa.
Entre milhões de outros houve também um prisioneiro de sangue português em um dos campos do Gulag.
Também isto é Europa

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