Incunabulos. Sabe o que sao?

>> segunda-feira, 29 de dezembro de 2008



18. Incunábulos. Sabe o que são ?
A minha filha, achando, e com razão, que uma bloguista que se estreava com um blog próprio, gostaria de ler das experiências nesse campo de um conhecido critico literário, deu-me pelo Natal o livro de Pierre Assouline, “BRÈVES DE BLOG Le Nouvel Âge de la Conversation”. É uma antologia dos comentários que o autor recebeu desde que iniciou a sua aventura na blogo-esfera: “reunindo 600 comentários, escolhidos entre os melhores e os mais engraçados. Há lado a lado trocas de impressão de alto gabarito, confidências, polémicas, apreciações literárias, e autênticas criticas inéditas.”*
--E o que tem isso a ver com ‘incunábulo’?-perguntarão. Tem a ver com isso, devido a uma frase do autor no seu prefácio. Escreve ele: “Il n’ya a pas eu rupture lorsqu’on est passé de l’incunable à l’imprimerie.......”, ou seja “não houve ruptura quando se passou do incunábulo à impressão”. Subentende-se que Pierra Assouline pensa que o incunábulo é qualquer coisa que antecedeu a impressão, quando o incunábulo é na verdade um produto da impressão. Se entre os leitores do seu livro se encontraram bibliófilos, Assouline deve ter sido inundado por indignados comentários.
“Comentando” eu por minha vez este lapso em conversa com a minha filha e o meu genro, constatei, com grande espanto e alguma indignação, que eles - pessoas cultas e lidas - também não sabiam o que era um incunábulo. É verdade que estão decerto em boa companhia, mas mesmo assim...
“Incunábula é o mistério dos mistérios na bibliofilia”, escreve Bernard J. Farmer em ‘The Gentle Art of Book-Collecting’*, e conta a história do neófito em coleccionar livros que entrou numa livraria e perguntou pelas obras do "Sr. "Incunábulo".
No ano de 1456 publicou-se na Alemanha, na cidade de Mogúncia, uma Bíblia que não fora escrita à mão. Dizia-se que fora "impressa", e o homem que descobrira como produzir um livro sem ser escrito à mão chamava-se Johannes Gutenberg. A Bíblia de Gutenberg seria um dia conhecida como o mais importante e o mais valioso dos incunábulos.
A descoberta de Gutenberg consistia basicamente nisto: compor o texto de um livro por meio de cubos nos quais estava uma letra em relevo. Alinhavam-.se essas letras - formando as requeridas palavras - numa vara do tamanho duma linha e colocava-se depois essa linha de letras dentro duma caixa, ou "forma", e isso, sucessivamente, até formar uma página de texto.
Uma vez o texto composto com aquelas letras "moveis", passava-se tinta nas letras, colocava-se em cima da forma uma folha de papel e, por meio duma prensa, premia-se o papel sobre as letras: Estas ficavam 'impressas' na folha de papel. Dessas folhas podiam se imprimir tantas quanto se quisesse.
Houve vozes que troçaram da nova invenção. Afinal o que era isso? Que vantagem tinha sobre os livros escritos à mão? Gutenberg confessava ter levado cinco anos a compor a sua Bíblia. Era o mesmo que levava um copista a copiá-la. Pois era. Só que o copista copiava um único exemplar, enquanto que, com a "impressora", uma vez a obra composta, se podiam fazer, se podiam "imprimir", inúmeros exemplares da mesma obra.
A arte propagou-se, espalhou-se pela Europa. Imprimiam-se livros de devoção, de ciência, de história, de filosofia, de poesia, de matemática, de astronomia, de navegação.. Acabara a cópia laboriosa de livros à mão, e um exemplar de cada vez. Em fins do século XV já só excepcionalmente se copiavam livros à mão.
De uma publicação da Universidade de Bamberg “Von Buechern und Bibliotheken, libri e biblioteche” copio a seguinte informação:
◦ Incunábulos são livros impressos entre a invenção da impressão com letras móveis em 1445 e o ano de 1500. Dos cerca de 40.000 textos conhecidos, cerca de 10.000 são folhetos e textos de uma só folha, e o número total de exemplares de incunábulos é de mais de meio milhão.
Calcula-se que as edições eram em média de 200 exemplares.
A maioria dos incunábulos conhecidos e identificáveis é de origem alemã, francesa ou italiana. .
A partir de 1457 encontram-se exemplares contendo no final da obra um ‘colophon’ com a indicação de autor, local e ano de impressão, assim como do editor.
Páginas de título aparecem pela primeira vez em 1465 ….
A partir de 1470 aumenta a produção de livros ilustrados com gravuras em madeira, ---- “
.
A arte de imprimir de forma mecânica, a 'arte secreta', a 'irrepressível arte', como alguns lhe chamaram, viera para ficar e revolucionaria o mundo.
Sobre a origem da palavra “incunábulo” para designar esses primeiros livros impressos, lê-se em Wikipedia: “Inkunabel“ é a “designação metafórica significando que se trata de uma obra que ainda está no berço (cuna), ou em fraldas. A expressão encontra-se comprovadamente pela primeira vez entre 1640 e 1657 na bibliografia Antiquarium impressionum a primaeva artis typographicae...de Bernhard van Mallinkrodt...

Observações à margem
Na livraria de D. Manuel I, que não era muito vasta – o rei tinha ao todo 49 livros - distinguiam-se, no inventário feito em 1522 por sua morte, os livros “de pena”, ou seja escritos á mão com pena, e os livros “de letra de forma”, ou seja de letras colocadas em forma, impressos. Por exemplo:
“It. hum livro pequeno encadernado de couro vemelho, o qual livro é de forma, e tem pimturas dos vultos dos emperadores de Roma. e assy escripto de letra de forma. E no princípio começa Leo Papa.....”
It. outro livro de letra de pena emluminado, que se chama Regimento dos Reys darmas....
It. outro livro de pena que se chama marco pólo, cuberto de veludo cramesy com duas brochas de prata anylada”

O que dizem outros
Num engraçado livro intitulado “Le Journal du Monde”* que publica as notícias históricas em forma de notícias de jornal dos nossos dias, lê-se para o ano de 1453
“De notre envoyé spécial a Mayence 1453
Il s’appelle Johann Gutenberg, c’est un artisan de Mayence. Il effectue actuellement des essais d’impression selon un procédé nouveau qui semble promis a um grand avenir. Si ses espoirs ne sont pás décus, toute la technique de la diffusion des écrits pourrait simplement s’en trouver bouleversée... ....... Imagine-t-on l’aspecr sésolant d’une bibliothèque òu tous les livres seraient écrits dans le même caractère?”
* Traduzido de “News of the World” Prentice Hall Inc.

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