O mosteiro era casa de
oração, centrada na igreja e nas devoções. E era a casa de habitação de uma
comunidade, um ‘convento’, de mulheres unidas na oração e no trabalho. Que
tinham de ser alimentadas e vestidas, tratadas quando doentes e cuidadas na
velhice. O seu dia estava dividido em períodos de seis ‘Horas’ de oração, de
forma a realizar em perfeita harmonia o ideal monástico de oração e trabalho.
Eram a hora de véspera ao fim da tarde, antes das monjas se deitarem. O que
podia ser às oito no inverno, e às nove no verão. No coro agradecia-se ao Senhor o fim do dia e
do trabalhos. Às 24 horas, era a hora de ‘Prima’ a primeira hora de um novo
dia. No coro cantava-se ‘Saudadte Domibe in caelis’ saudando a aurora de um
novo dia. Às 6 da manhã, ‘Hora Sexta’
era a hora de levantar, de cantar ‘ Laudes,’ hino de louvor ao início de um novo
dia de trabalho. A Hora Média podia ser celebrada às 9h00, chamada de ‘Terça’,
às 12h00 ‘Sexta’ ou às 15h00 ‘Noa’ ou ‘Nona’.
O governo da casa era
de relativa simplicidade quando o mosteiro era pequeno como a Regra
recomendara. Uma comunidade reunida debaixo do mesmo tecto para fazer oração,
alimentando-se de pão, vinho, peixe, fruta e hortaliça, dormindo no mesmo
dormitório, e tomando as suas refeições em torno da mesma mesa, não exigia uma
organização complicada. Tudo se modificava quando o número de religiosas era
grande, por vezes exageradamente grande. Havia que fazer ajustes, arranjos, a
casa já nada tinha a ver com a simplicidade original do monsaterio.
No entanto, grande ou
pequeno, a divisão dos trabalhos domésticos era o mesmo. Dividia-se em ‘oficinas’
geridas por ‘oficinas’ escolhidas para o respectivo cargo No mosteiro pequeno
as oficinas eram poucas, no mosteiro grande eram muitas. Em 1536, havia no
mosteiro de Lorvão dezassete cargos e funções distintas dentro do mosteiro. Mas
havia mais.
A abadessa,
ocupada com a administração, delegava o governo da casa na prioresa. Em grandes
mosteiros podia haver uma sub-prioresa. Era o caso de Lorvão. No sector
espiritual, a primeira oficial era a ‘cantor’, ou cantor-mor. Em Lorvão, ela
tinha duas ou mais auxiliares. A cantor entoava e dirigia o coro, ensinava
música e canto às noviças, e preparava a parte musical das procissões e dos
ofícios solenes. Tinha outra incumbência. Talvez por se partir do princípio,
que uma cantor tinha forçosamente boa dicção, era ela quem fazia a leitura da
acta de recomendações que o Visitador deixara à comunidade após a sua visita e
exame. A cantor-mor era naturalmente responsável pelos livros destinados aos ofícios
divinos: livros de coro e de canto, que eram guardados na própria igreja, junto
do altar, ou no coro. Livros levavam muito tempo a copiar custavam muito
dinheiro em peles e tintas, em pagamento aos escribas e copistas, quando o
livro não era produzido no ‘scriptórium’ do próprio mosteiro. Havia que ter os
maiores cuidados com essas obras. Em Lorvão as monjas tinham herdado obras
valiosas dos seus antecessores, e era a cantor a responsável pela sua
conservação. Limpava-os, cosia ou mandava coser alguma folha solta, vigiava que
não saíssem dos seus locais e que para lá voltassem depois de usados. Se os
preciosos livros manuscritos do mosteiro de Lorvão sobreviveram às vicissitudes
dos anos, se resistiram à humidade que sempre permeou aquelas paredes, isso
deve-se com certeza aos cuidados constantes de gerações de´ cantores’.
A autora do ‘Livro das Preladas’, escreve que o ‘Livro dos
Passarinhos’ - o célebre ‘Livro das Aves’ - estava na ‘Livraria do Canto Chão
entregue às cantores’ .
Outra oficial ligada ao
serviço divino era a sacristã. Ocupava-se da igreja, dos vasos sagrados, das
vestes litúrgicas, das toalhas do altar e de tudo o resto que, de longe ou de
perto, se ligava à igreja do mosteiro. Era ela a sineira
Era ela quem tocava o sino, ela a responsável pela limpeza da
igreja. Era também ela quem se encarregava da iluminação, não só da igreja,
como de toda a casa monástica. Comprava a cera para as velas, fabricava-as, ou
mandava fabricá-las, e distribuía-as às outras oficinas. A oficina que se veio
a designar por ‘sacristia’ foi criada nos primeiros anos do sec.XIV. Até lá os
vasos e vestes sagrados tinham sido guardados em arcas e armários nas capelas
onde eram usados. A
sacristã era em geral coadjuvada por uma ou mais monjas, e teve muito cedo
ajudantas pagas para fazer a limpeza da igreja. No mosteiro de Arouca encontramo-las
entre os servidores do mosteiro já em meados do século XV.
À sacristã de Lorvão
cabia uma curiosa tarefa: o fabrico d’água dos danados’. Era uma água - decerto
com fama de curativa - confeccionada fervendo nela a caveira de um abade de
santa memória.
No sector temporal a
primeira oficial era a ‘bolseira’. Seguiam-na, em ordem de importância, a ‘celeireira’,
a ‘tulheira’, a ‘despenseira’, a ‘refeitoreira’, a ‘enfermeira’, a ‘boticária’
e a ‘porteira’. Em Lorvão, onde tudo era em grande, havia duas bolseiras,
auxiliadas por uma escrivã; havia duas celeireiras, a principal e a
sub-celeireira, ambas por sua vez auxiliadas por uma escrivã. Havia mais que
uma enfermeira, mais que uma porteira e, como já se disse, mais que uma
sacristã e cantor.
Todos os anos as
oficiais juravam sobre os Evangelhos, que cumpririam o seu cargo ‘com toda
fidelidade e diligência e caridade’. Por essa ocasião, aquelas oficiais que
estavam à cabeça de oficinas onde se lidasse com dinheiro, davam conta das
respectivas receitas e despesas. As contas eram apresentadas à abadessa e às
anciãs, as monjas mais velhas do convento. Que não hesitavam em destituir uma
oficial, e nomear outra em seu lugar, caso julgassem a oficina mal regida.
Quando da visitação de
1536, os visitantes não encontraram em Lorvão nada a dizer no que tocava ao
lado espiritual do mosteiro ‘nas coisas sptriais (sic) e ofícios divinos se
cumprem mui bem’, mas no campo administrativo da casa encontraram fortes razões
de crítica. O que nos valeu uma acta com reparos explícitos sobre as obrigações
e da maioria das oficinas e suas oficiais.
A bolseira, como o nome
indica, era a mulher dos dinheiros, aquela que tinha a bolsa deles. Recebia o
dinheiro que entrava no mosteiro, e era ela quem o distribuía pelas outras
oficinas para compras e pagamentos. À bolseira recomendava-se que exigisse
sempre recibos, e desse por sua vez quitações. Devia anotar todos os dinheiros
recebidos e distribuídos. Os visitadores recomendavam que todo o dinheiro
recebido na bolsaria fosse depositado na ‘Arca do Depósito’ e que também se
guardasse aí o Livro da Bolsaria, em que se deviam anotar as despesas e
receitas. Para a dita arca devia haver duas chaves, ordenavam os visitadores.
Pela mesma ocasião recomendavam que todos os pagamentos fossem devidamente
anotados, que a escrivã das bolseiras desse sempre quitações, e que estas
fossem assinadas por ambas as bolseiras, pela abadessa, pela oficial
responsável pela entrega, e pela própria escrivã. E todos esses recibos deviam
ser devidamente tresladados no Livro da Bolsaria. Era provavelmente uma ordem
periodicamente repetida e constantemente desatendida ou mal executada, e os
visitadores não deviam ter grandes esperanças de serem obedecidos na matéria.
A bolseira
arrecadava também o dinheiro que as monjas tivessem recebido por algum trabalho
de suas mãos, em particular fio fiado por elas. Também cabia à bolseira o
pagamento dos salários aos trabalhadores que eram pagos em dinheiro.
A verdadeira dona de
casa era a celeireira. Era ela quem encomendava e comprava os géneros, que os
mandava vir e recebia das propriedades do mosteiro, e ela que fazia a sua
distribuição. Contratava, pagava, e, se necessário, despedia o pessoal que
trabalhava para o mosteiro dentro de casa. Este era pago, segundo tabela
estabelecida, em e dinheiro e em géneros: comida e fato. Quando um mosteiro
tinha quinta própria, o que era o caso de Lorvão com a sua quinta do Botão, era
a celeireira que superintendia o seu bom governo, que nomeava o feitor. Era
responsável por que os produtos da quinta: ‘trigo e farinha e azeite e vinho e
vinagre e legumes e todas as cousas que em Botão se recolhiam’ viessem a tempo.
Devia também tomar nota de tudo o que se gastava na quinta ‘em pão, vinho,
azeite, aves, linho, dinheiro e qualquer outra cousa’.
As abadessas de
Lorvão e algumas das religiosas passavam por vezes largos tempos em Botão.
Visitantes de passagem também lá eram recebidos. Era a celeireira que provia
que fossem bem tratados. Competia também às celeireiras zelar por que não
faltasse farinha no mosteiro, tratando a tempo com os moleiros. Se a farinha
faltava na tulha não era de quem tinha os moinhos da casa, que se murmurava,
mas das celeireiras. Em 1536 os visitadores notaram que as religiosas tinham
muitas vezes que esperar pela cozedura do pão: ‘por não ter farinha feita’. Não
podia ser, escreve o visitador, as celeireiras que fizessem o possível para que
isso não sucedesse. O mosteiro tinha boas arcas para guardar a farinha
produzida pelos seus moinhos, e se estes não produzissem o necessário, as
celeireiras que dessem ordem ao feitor de Botão para que este mandasse também
trabalhar as azenhas que o mosteiro lá tinha
Cabia igualmente à
celeireira cuidar dos géneros para velhas e doentes. O visitador de 1536 fora
informado que muitas vezes faltava o necessário às religiosas velhas. Que eram
elas que tinham de comprar as suas mezinhas e remédios, pagando-os com o seu dinheiro.
Muitas, além de velhas, eram doentes, não podiam trabalhar, e não tinham
parentes que lhes dessem dinheiro. Não era de admitir que passassem
necessidade. Os visitadores deram estritas ordens às celeireiras para se
ocuparem disso, para que houvesse ‘provisão e mantimentos de suas enfermidades,
fraquezas e velhices’.
Por ocasião daquela visita havia muitas doentes no mosteiro, o que
o visitador atribuía à situação pouco salubre do mosteiro, ‘má disposição da
casa e terra e aposentos’, mas também ao facto de não se acudir a tempo às
doentes ‘com medicinas e sangrias’. Era preciso, frisava o visitador, que a
enfermeira tivesse mais cuidado, e que abadessa e celeireira fornecessem a
tempo, e com abundância, tudo que as doentes necessitassem ‘em mezinhas, purgas
ou sangrias ou mantimentos, ou serviços para as ditas enfermas’. Era de novo à
celeireira que se recomendava o cuidado de aprovisionar regularmente a
enfermaria, de ‘aves, carneiro, vinho, frângões, cabrito e todas as outras
cousas necessárias para dita enfermaria. Para que tudo isto se fizesse
convenientemente e a tempo, ordenava-se-lhe que se contratasse um homem, ‘um
bom moço’, para chamar médico ou sangrador e levar e trazer ‘aves, cabritos,
frangões e ovos’. Com todo este trabalho à sua conta, não é de espantar que a
celeireira de Lorvão tivesse uma sub-celeireira e duas escrivãs para a ajudar.
Adiante se dirá de
outra incumbência da celeireira e suas ajudantes e talvez a mais árdua: a
distribuição das rações aos homens que trabalhavam para o mosteiro no exterior.
Para serviços e
recados fora do mosteiro, a celeireira tinha vários homens sob as suas ordens.
Que todos, inclusive o padre que cuidava dos moinhos, juravam, quando eram
contratados, ‘na mão da celeireira’, que cumpririam bem e fielmente as suas
obrigações. Provando-se que algum desses homens não era ‘fiel do que tratava’,
a celeireira devia despedi-lo. Devia ser ‘quitado dos ditos seus ofícios e
cargos e corrigido de seus delitos e faltas’
As aristocráticas
monjas de Lorvão deram - cremos que muito cedo - a palaciana designação de
‘Mordomia’ à oficina dirigida pela celeireira. Em Lorvão era portanto nos ‘Livros
de Mordomia’ que se anotavam as aquisições e os pagamentos feitos pelas
celeireiras. Em meados de Setecentos designam-se os mesmos livros como ‘Livro
da Feitoria’.
Os mosteiros tinham
usos e costumes próprios, que sucessivas gerações de celeireiras foram anotando:
Não eram usos no sentido de ritos diferentes. Tratava-se do que era uso a casa
fabricar, aquilo que, em determinado dia ou por determinada ocasião se
distribuía, ou se oferecia - em espécie e em quantidade - a determinada pessoa
ou entidade. As designações desses livros de apontamento diferem de mosteiro
para mosteiro. Em Lorvão consultava-se o ‘Regulamento da Celeireira’.e o ‘Regulamento
da Sala’, vezes designado por ‘Alcorão da Sala’ para saber como e a quem fazer
determinada oferta ou fabricar determinado alimento. Em Arouca, mosteiro
cisterciense como o de Lorvão, havia também, o ‘Alcorão da Tulha’
Para anotar os
pagamentos aos servidores da casa, a celeireira tinha o ‘Livro das Soldadas’. Não
existem muitos. Sucedeu-lhes decerto o que sucedia aos livros de contas de
outras donas de casa, eram destruídos no fim de um ou dois anos.
Quando o preceito da
vida em comum, era tomado no verdadeiro sentido da palavra, as monjas comiam em
comum, às mesmas horas à mesma mesa. Quando por volta de quatrocentos o
preceito foi praticamente abandonado, e se introduziu o costume das monjas cozinharem
ou mandarem cozinhar a sua própria comida, havia que lhes dar diariamente os
necessários géneros. A tarefa cabia também à celeirieia.
Abaixo da celeireira,
se bem que não dependentes dela, estavam a tulheira, a despenseira e a
refeitoreira. A tulheira recebia as farinhas que a celeireira comprara, ou que
viera dos foreiros e rendeiros. Arrecadava-a na ‘tulha’. A tolheria superintendia
o fabrico do pão, e fazia a distribuição deste às monjas e àqueles que eram
pagos em pão, os ‘apaniguados’
Havia duas
outras oficiais ligadas à alimentação: a despenseira e a refeitoreira. A
primeira era responsável pela arrecadação dos outros géneros que não o pão, e
pela sua distribuição às cozinhas. A refeitoreira ocupava-se do refeitório.
Comprava, ou mandava tecer, as toalhas de mesa, punha as mesas, e estava
incumbida de recolher os restos das refeições para serem aproveitados em outras
comidas, ou dados aos servidores da casa e aos pobres. Cabia–lhe manter limpo o
lavatório - que nos grandes mosteiros se
situava junto do refeitório - onde as monjas lavavam as mãos antes e depois das
refeições.
Uma oficial pouco
recordada é a ‘Vestiária’. A Regra dispunha que houvesse um monge, que mandasse
tecer e coser as roupas e fabricar os sapatos dos religiosos. O mesmo se devia
aplicar a mosteiros de religiosas, mas nestes instalou-se muito cedo um costume
mais individualista, cada religiosa recebendo anualmente uma soma para se
vestir.
Em Lorvão encontra-se muito cedo menção de servidoras vindas do
exterior. forneiras, de criadas de tulha, e de auxiliares da sacristã. São já
mencionadas em contrato da rainha D. Teresa, em que estipula que as
‘servidoras’ , entre as quais uma sua protegida, que iria viver na cerca de
Lorvão, comessem o mesmo que as servidoras do convento. De início esse pessoal
seria reduzido, mas com o decorrer dos tempos as monjas foram encontrando
pretextos para a introdução de mais auxiliares. Em um rol das ‘soldadas e
mimos’ que, no século XVI, se davam em Lorvão às ‘criadas da Ordem’ enumeram-se
nada menos de cinquenta dessas serviçais. As sacristãs também requereram ajuda.
Passou a haver uma moça para fazer hóstias, outra para lavar as ‘sanguinhas’ -
os pequenos panos com que o sacerdote enxuga o cálice Para o refeitório havia
uma criada, para a botica três criadas de ‘fora’. Havia uma criada que acendia
as lâmpadas do mosteiro e três encarregadas de abrir as portas das cercas.
Na cozinha e forno trabalhavam forneiras, e havia criadas de
tulha. Posteriormente, haveria uma conserveira encarregada de fazer os doces.
A cozinha da abadessa
era separada. Havia nela duas criadas, e na hospedaria, uma. E não se contam
aqui as criadas que serviam algumas monjas, que sentiram a necessidade de serem
servidas pessoalmente. Às observações dos visitadores apresentavam argumentos
desta ordem: que ‘sem ajuda de criadas não podiam cumprir as suas obrigações
religiosas, como seja cantar e rezar em louvor do Senhor’. Implantara-se também
gradualmente o hábito das criadas das monjas dormirem no próprio dormitório
destas. O que os visitadores constantemente - se bem que sem resultado aparente
- proibiam.
Assim como proibiam,
com o mesmo resultado, os criados e os escudeiros, que dona abadessa passou a
ter a seu serviço. A designação original de ‘homens’ da abadessa vai
desaparecendo, generalizando-se, a partir do século XV, para aqueles que
ocupavam a mesma posição, a designação de ‘criado de Dona Abadessa’. Em 1416,
dona Mécia Vasques da Cunha afora um olival, estando presentes ao acto ‘Pero
Nunes e Domingos Gonçalves e Gonçalo Nunes, criados da dita senhora’. Ao
emprazamento, que se realizou em 1432 em Botão ‘diante das pousadas de dona
abadessa’, assistiram como testemunhas ‘Vicente Annes de Aveiro, Gonçalo
Martins e Gonçalo Domingues creligo (sic) e Gonçalo Coutinho, criados da dita
senhora.’ Em 1500, uma procuração da abadessa dona Catarina d'Eça, é
testemunhada por ‘Luís de Mendonça, criado da senhora abadessa e outros’ No século XVI surge a designação de
‘escudeiro’ da abadessa. Primitivamente, o escudeiro era o homem que servia um
cavaleiro levando o seu escudo e tratando das suas armas, e viria a ser um
criado nobre. Que acompanhava o senhor em serviço de guerra ou outro. O rol dos
pagamentos de Arouca menciona pagamentos aos escudeiros que acompanhavam o abade
visitador quando este vinha em visita ao mosteiro. Em resumo, os escudeiro
estavam ao serviço de homens. Ora as abadessas de Lorvão não se achavam menos
que estes senhores, passaram também elas a ter a seu serviço criados a quem
designavam por escudeiros. Quando da composição feita em 1503 entre Dona
Catarina d'Eça e os moradores da vila da Esgueira, uma das testemunhas é ‘Pero
Vaz escudeiro da dita senhora’. E, em 1515, no acto de emprazamento de um
olival, realizado no próprio mosteiro e na ‘câmara da muito magnífica e
virtuosa senhora, a senhora dona Catarina D’eça’ uma das testemunhas foi
‘Alvaro de Morais escudeiro, criado da senhora abadessa e em casa da dita
senhora morador’. Uma oficial sempre escolhida com especial cuidado era a
porteira, a monja que estava na portaria, que aí recebia quem vinha em visita
às religiosas. Alguns visitantes podiam entratra no interior do mosteiro. Eram
excepções devidamente especificadas. Em outros casos ficava ao critério da
porteira se o, ou a, visitante seria conduzido ao parlatório, onde poderiam
conversar com a monja a quem vinham visitar. Estando esta sempre acompanhada de
uma companheira, e a conversa realizando-se através de uma grade que dividia o
quarto. A grade era particular aos mosteiros de homens, as primeiras monjas não
a encontraram quando se instalaram em Lorvão. As cistercienses não tinham
clausura, contactavam com gente de fora do mosteiro quando trabalhavam no
campo, pelo que é difícil de perceber a necessidade de haver uma grade que as
separava dos vistantes. ´E difícil apurar exactamente quando esta doi
introduzida em Lorvão. Mas existiu. Sendo provavelmente utilizada com mais
rigor a partir das severas medidas de reforma do século XVI. Em l533. um contrato notarial foi assinado ‘Na casa do palratório da grade
de baixo, lugar acostumado onde semelhantes autos se soem fazer’. Outro
contrato é assinado em l538. ‘em a varanda que está à portaria do dito mosteiro, ahi na grade
do palrlatorio que ahi está, que é lugar acostumado para se fazerem tais
autos.’ Quando em meados do século XVI se dá a revolta das monjas contra a
imposição de uma abadessa alheia ao mosteiro, houve um incidente presenciado
pelo Juiz chamado pela abadessa, o notário descreve, que estavam na casa da
grade e separados por duas grades, uma de ferro, outra de pau.’
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