Nao se esqueça da metafora

>> sexta-feira, 21 de novembro de 2008

12. Não se esqueça da metáfora
É curioso que numa época em que se começa a pressentir que há livros – e sobretudo, romances - a mais, haja simultaneamente cada vez mais manuais, e mais escolas, e mais grupos de estudo, ensinando como escrever livros, e. sobretudo, como escrever ficção. Em um desses manuais, um dos bons, aliás, (Writing Step by Step de Jean Saunders) recomenda-se ao futuro escritor que não se esqueça da metáfora, que os editores apreciam muito a metáfora. Acredito. Mas vejo mal o futuro autor, já a braços com os problemas de composição, diálogo, caracterização etc, que todo o autor de ficção enfrenta, ainda ter de se concentrar na construção de uma, ou de preferência, mais que uma metáfora. Percebo o gosto dos editores, também gosto da metáfora, mas sempre pensei que a coisa era espontânea, que não se construía. Ou acham que Talleyrand pensou, reflectiu, quando a alguém, que lhe perguntou o que achava do senhor Tal, respondeu que, se os homens fossem dominós, o senhor Tal seria o duplo-branco?
Apesar de tudo, eu gosto de livros que ensinam a escrever livros, o que me pergunto é se há muitos autores que devem a sua escrita ao que lhes foi ensinado em livro sobre como escrever livros, ou mesmo em aulas, sobre como escrever livros. Quanto a metáforas, consta que já Aristóteles as apreciava, mas decerto só quando eram boas. È que más, entristecem. “Uma metáfora cometendo suicídio é espectáculo deprimente”, escreveu Oscar Wilde. E de metáforas, sabia ele como ninguém.

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