Tapeçarias de Pastrana 2

>> quarta-feira, 4 de agosto de 2010

“Inicia-se agora - fora de Portugal, note-se - o estudo aprofundado das Tapeçarias de Pastrana, consideradas uma obra prima no seu género. Para o efeito vão ser consultados os melhores especialistas em todos os campos. A Fundação Carlos Amberes, que vai custear essa investigação, espera decerto que Portugal contribuirá para essa investigação. Exigindo naturalmente dados devidamente fundados. Muito particularmente sobre as possíveis origens das tapeçarias, já que é dessa informação que se podem tirar outras conclusões. Se o ponto de partida é errado, as deduções certas não são possíveis. O Museu presta um mau serviço à investigação, quando sem provas, sem sequer averiguar se elas existem, dá como certo que D. Afonso V foi o dono e mandatário das Tapeçarias, Na ausência de provas, as dúvidas são permitidas e, sendo assim, eu diria:
1º A única tapeçaria cuja posse tem sido atribuída a D. Afonso V é a da ‘Justiça do Imperador Trajano’
2º D. Afonso V não era homem para se auto-elogiar
3º D. Afonso V não se podia permitir o luxo de uma tão grande despesa
4º Em Portugal só havia um homem que tivesse fortuna para pagar as somas fabulosas que tapeçarias daquela qualidade forçosamente custariam, era D. Fernando, 3º Duque de Bragança
5º Se foi D. Afonso V quem ideou as campanhas do norte de África, quem as pôs em marcha foi o Duque de Bragança. As tapeçarias honram o rei e honram a ele, duque
6º No testamento que o duque redige nas vésperas da batalha de Toro, distingue entre os seus bens moveis em particular as suas tapeçarias, aquelas que levava consigo, as que tinha em Arevalos, e as que estavam em Guimarães. A estas lega a sua mulher.
Em resumo, é a partir da pessoa do 3º duque de Bragança que se deve investigar, não a partir de D. Afonso V.”
Foi esta a carta que enviei a alguns jornais. Não sei se foi publicada, não sei se haverá quem me ache demasiado severa. Afinal todos erramos. Assim é, mas no caso em discussão não se trata de erro, de uma data por ventura trocada, trata-se de o Museu deliberadamente enganar o leitor do seu catálogo. O catálogo de uma grande exposição deve ser uma obra de referência, e este, que o Museu nos vende, e por bom preço, é uma obra de desinformação. A atribuição das tapeçarias a D. Afonso V sem disso ter prova, é uma falta de respeito pelo nosso espírito crítico. Mas há mais. Os senhores do Museu não estudaram a questão, afirmaram sem saber. Mas há pior. Há afirmações francamente falsas, que enganam propositadamente para apoiar uma tese. Não quero entrar nesse campo. Mas não fui demasiado severa. A uma instituição cultural temos o direito de exigir rigor e seriedade intelectual, e o Museu Nacional de Arte Antiga não pode fugir a essas obrigações.

1 comentários:

Anónimo 8 de novembro de 2010 às 16:15  

Tia Theresa

Nos dias que correm, poucas pessoas têm coragem de escrever assim acerca do "conhecimento" dos "iluminados" que pretendem ensinar-nos à maneira que mais lhes convém... seja por falta de estudo e investigação sobre os temas, seja por o "politicamente correcto". Gostei muito seus artigos que li aqui sobre as Tapeçarias, e aprendo sempre qualquer coisa nas poucas vezes que tenho oportunidade de "navegar" no seu blogue.
Obrigada por mais esta lição.
Luiza de Abreu Peixoto

Sobre este blogue

Libri.librorum pretende ser um blogue de leitura e de escrita, de leitores e escritores. Um blogue de temas literários, não de crítica literaria. De uma leitora e escritora

Lorem Ipsum

  © Blogger template Digi-digi by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP