1867 - Conselhos; impostos; agitação

>> segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

91* Do 8ºconde da Ponte para sua filha Theresa em Paris Lisboa, 21 de Março 1867 Minha querida filha ……………… Em pouco Paris deveria estar cheia de portugueses (para a Exposição Industrial), mas talvez assim não aconteça. Os espíritos estão tão agitados, que duvido muito que a Família Real saia em Abril. As propostas dos impostos têm alterado os ânimos, mas o que mais agita é a lei do tutor (Martens Ferrão, tutor de sobrinhos seus) para a nova distribuição dos Governos Civis e Concelhos. Eu sempre vaticinei que as propostas do Ministro do Reino (o dito tutor) seriam as mais difíceis de fazer vingar. Ele encerrou-se no seu gabinete, escreveu, escreveu, escreveu, ideou, ideou, ideou, e os povos, que estão habituados a formarem um Conselho, não querem ligar-se com outros, com os quais muitas vezes têm inimizades. Inimizades ridículas por certo nos olhos de um filósofo e de qualquer com senso comum, mas que fazem as paixões dos rudes camponeses. Seja como for, no Porto há meetings permanentes, em Lisboa se projecta um para Domingo, sendo os influentes o marquês de Niza e o conde de Peniche. Se dos meetings se passar à revolta, teremos de sofrer muito, provavelmente a bancarrota, e em seguida a perda da independência. O Iberismo sopra nestes cavacos para atear o fogo. Como falei no marquês de Niza, digo que se verificou o que eu havia prognosticado à Constança (sua irmã, mulher do marquês de Niza) quando ela anuíu na venda do Paul. Efectivamente, o marquês recebeu parte do dinheiro, os credores, uns verdadeiros, outros falsos, receberam a outra parte, e o remanescente, que devia ser empregado na compra de inscrições averbadas às pequenas, sumiu-se, e tanto, que ainda reclamam credores 38 contos. …………Teu pai muito amigo João 93* De D. Teresa de Saldanha da Gama para seu pai Lion sur Mer, 29 de Março 1867 Meu querido papá do coração. Deu-me a carta que recebi esta manhã notícias aterradoras do nosso país. Permita Deus que os seus vaticínios se não realizem. Não fiquei percebendo se os meetings são em consequência dos novos impostos, ou do projecto de lei para a nova distribuição dos Conselhos. Revoltas, bancarrota são grandes calamidades, mas o pior me parece é estarmos expostos a perder a independência. Não posso crer que as ideias loucas de união ibérica vão adiante, custa-me a persuadir que haja portugueses que a desejem. Diz-se que é um dos pensamentos de Napoleão (III), mas não me parece que ele possa tanto como os seus adoradores, que não são muitos, o apregoam. Decerto tem seguido os debates que houve no Corpo Legislativo (em França). Houve magníficos discursos, sendo, para mim, os melhores os do Thiers. Um dos meus grandes desejos é ouvir este orador e o Jules Favre. Há grande dificuldade para alcançar admissão no Corpo Legislativo, sobretudo quando a sessão promete ser interessante, mas por Mr. de Flahaut alcançarei decerto. Diz-se que na véspera do dia em que devia falar o Thiers se começou a reunir gente à porta da Camara para alcançar entrada……Filha e maior amiga Thereza (Extrato das Cartas 91 e 93 do 1º volume de “Uma Época, uma Sociedade, uma Família. O séc.XIX na correspondência de D.Teresa Sousa Botelho, condessa da Ponte e suas filhas 1834-1911”)

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