>> segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Sonhos
Não acredito que os sonhos tenham significado especial, que sejam indicadores de futuro acontecimento. Não creio que sejam sintomáticos da nossa personalidade, mas penso que o mesmo conjunto de imagens vistas por duas pessoas não produz em estes sonhos idênticos. Sonhos são mais um dos insondáveis mistérios do cérebro humano. Não guarda a memória de um sonho por mais de minutos. Há dias, porém, para meu espanto, tive um sonho que pretendo guardar.

Em sonho estava com uma prima em uma rua ladeada de casas sem janelas; queríamos um táxi, a prima sentou-se na beira do passeio enquanto eu fui procurar o táxi. Percorri ruas, tal como a primeira ladeadas de casas sem janelas, sem gente, sem carros, parecendo não levarem a lado nenhum. Vejo em uma rua, à minha esquerda, o pórtico de uma igreja. Entro. Os bancos estavam vazios. Dirigi-me para o altar. Notei que, junto das paredes laterais, como que a elas encostadas, havia esculturas escuras. Tem graça, pensei, são em barro. Cheguei perto do altar e parei. Frente ao altar, onde um padre rezava missa, estava uma fila de homens, uns oito ou dez, pensei. Vestiam de burel e, às costas, traziam escudos triangulares com armas pintadas. Um dos homens voltou por momentos a cabeça para ver quem ali estava. Notei que tinha cabelo loiro. Saí, voltei para junto da minha prima que continuava sentada no passeio. Acordei.

Com ruas desertas sonho muitas vezes. São as ruas que a vista alcança da minha casa, onde sucede não se ver vivalma. A igreja não espanta. Sempre gostei de entrar em igreja deserta. Às figuras de barro encontro explicação. Ouvira há dias falar da argila que se encontra na praia da Parede. Aos monges de escudo às costas não encontrava explicação. Estudei a vida monástica feminina, não me ocupei de ordens de monges e menos de ordens militares como indicavam os escudos. Penso ter agora encontrado a explicação, e acho graça. O Mundial. Notei nessa ocasião que os jogadores tinham o seu nome e um número na camisola, decidira até questionar um sobrinho sobre essa particularidade. E aí está. O meu cérebro, por razões e de formas inexplicáveis, ligou em sonho imagens que recentemente lhe tinham sido transmitidas, e delas: de ruas, argila, igrejas, e jogadores de futebol, formara quadros.


Se fosse um mecenas da Renascença encomendava ao meu pintor que me pintasse dois quadros, um de ruas de paredes altas sem janelas, outro de figuras de monges em igreja deserta.

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>> segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Bancos e Futebol

Bancos De Cem em Cem anos

A 13 de Junho de 1910, em uma das cartas que ela semanalmente escrevia para África a seu a seu filho Francisco, D. Thereza Saldanha da Gama aborda o caso do Banco Predial. Meu querido filho…… Muito me divertiu a Valbom a contar-me que, não há muito tempo, o pateta do Ávila - que ela imita na perfeição, tanto em modos como em pronúncia - participara-lhe que podia "dar muito boas notícias dos seus haveres no Crédito Predial. Lá estão na prateleira, viu?" Não viu, nem fez coisa nenhuma…….As reuniões de obrigacionistas e accionistas não podem dar resultado, é preciso nomear uma comissão de peritos que, juntamente com os corpos gerentes, que devem dar informações, escolher o melhor modo de se não afundar de todo a companhia. Dia 14...........Ouvi também, que a Maria Emília Seabra (mulher de José Luciano de Castro) está muito comprometida no Banco com negociatas, e que alguns progressistas têm tido com ela grandes questões. . Será verdade? …..Abraço-te como mãe e maior amiga Thereza

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Futebol. Jogadores inteligentes

 Sou absoluta leiga em matéria de futebol. Mas não posso ignorar totalmente um factor dominante da sociedade moderna. Nunca vi um jogo de Clubes., mas quando há jogos de selecções gosto de ouvir as críticas, os comentários dos entendidos. Numa entrevista ao seleccionador da equipe alemã para o Mundial deste ano, perguntado o entrevistador a Joachim Loeb, que tipo de jogadores queria para a Mannschaft, o treinador respondeu que queria jogadores com estas e aquelas qualidades físicas e desportivas, e, frisou, que queria jogadores inteligentes. A uma leiga a coisa pareceu óbvia. O entrevistador estranhou contudo, aprofundou, percebeu, concordou. Joachim Loeb manteve a sua ideia, e, como se constatou, os seus jogadores jogavam com os pés e a cabeça.

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Cartas do Século XIX

>> segunda-feira, 3 de março de 2014

São cartas do século XIX de uma mãe e suas filhas que se escrevem na ausência. Ser do século XIX pode não ser importante, mas é, porque foi no século XIN que se tornou corrente a troca de cartas entre particulares. Não é que as pessoas não se escrevessem, mas o transporte era moroso e havia uma agravante: era o destinatário quem pagava o porte. Só assim havia garantia que a carta fosse entregue. Isto mudou no século XIX com a máquina a vapor, construíram-se linhas de caminho-de-ferro, os comboios ligaram a cidades da Europa, houve mais espaço para mercadoria, portanto também para correio. Os governos descobriram uma fonte de receita, tomou conta do transporte de correio, era a ele que o autor da carta pagava. Em 1843 há o primeiro selo postal português. Cada um podia escrever sem pensar que estava a sobrecarregar um outro, podia escrever coisas importantes e baboseiras. Era ele quem pagava. Nascera a comunicação social. A coisa teve durante bastante tempo ar de novidade, e ainda nos anos cinquenta do século XIX o conde da Ponte recomendava às filhas que guardassem as cartas, que um dia haveriam de gostar de as reler. Elas obedeceram, e é assim que se explica que, à sua morte com 86 anos, Theresa Saldanha da Gama, a filha mais velha dos condes da Ponte, deixasse um baú com centena de cartas. O facto de serem antigas, não faz as cartas automaticamente interessantes ou divertidas. Quando, anos de pois da morte de Teresa Saldanha da Gama, me prontifiquei a catalogar aquela correspondência verifiquei isso mesmo, havia cartas com algum valor histórica, outras, interessantes, mas sem valor individual, e a maioria valendo unicamente naquele contexto. Notei, no entanto, e penso que qualquer outro que mexesse naquilo, o notaria, que havia umas cartas que sobressaíam naquele conjunto, pelo conteúdo e pela forma, eram aquelas que Theresa recebera de sua mãe, a condessa da Ponte, e de suas irmãs. A essas cartas decidi copiar, sabendo que, uma vez entradas no arquivo, ao qual estavam destinadas, elas desaparecem dos olhos do mundo. Tinha uma vaga ideia de publicação, partilhada por um dos meus tios. Foi sempre uma coisa vaga, e nada que passasse do meio estritamente familiar. Entretanto fui copiando outras cartas da mesma proveniência, e o volume delas é hoje grande. Este volume contém parte daquelas cartas que foram escritas entre 1834 e 1886.

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Corresponder no séc. XIX

>> segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

As cartas reveladas neste livro, de uma mãe e suas filhas, datam do século XIX, quando se tornou corrente a troca de cartas entre particulares. Não que as pessoas anteriormente não se escrevessem, mas o transporte do correio era caro e moroso, e tinha uma agravante: era o destinatário quem pagava parte ou a totalidade do porte. Só assim havia garantia que a carta seria entregue. É evidente que isso obstava a que se escrevessem muitas cartas à mesma pessoa. É igualmente evidente que não se obrigava alguém a pagar porte por ninharias. Uma carta era coisa séria, só se escrevia sobre matéria de interesse. Isto mudou no século XIX com a máquina a vapor, construíram-se linhas de caminho-de-ferro, os comboios ligaram as cidades da Europa, houve mais espaço para mercadoria, portanto também para correio. Os governos descobriram uma fonte de receita, tomaram conta do transporte de correio, era a eles que o autor da carta pagava, e, a partir de 1842 havia em Portugal o primeiro selo certificando esse pagamento. Cada um podia escrever sem pensar que estava a sobrecarregar um outro, podia escrever coisas importantes e baboseiras. Dado que as cartas chegavam rapidamente ao seu destino, havia resposta pronta, descobriu-se o prazer de conversar por carta. Nascera a comunicação social. A coisa teve durante bastante tempo ar de novidade, e ainda nos anos cinquenta do século XIX o conde da Ponte recomendava às filhas que guardassem as cartas, que um dia haveriam de gostar de as reler. Elas obedeceram, e é assim que se explica, que, à sua morte com 86 anos, a minha avó Theresa Saldanha da Gama, a filha mais velha dos condes da Ponte, deixasse um baú contendo centena de cartas. O facto de serem antigas, não faz as cartas automaticamente interessantes ou divertidas. Podem ser, e muitas vezes são, maçadoras e sem o mínimo interesse. Quando decidi catalogar aquela correspondência verifiquei isso mesmo, havia cartas com algum valor histórico, outras, interessantes, mas sem valor individual, e a maioria valendo unicamente naquele contexto. Notei, no entanto, que havia umas cartas que sobressaíam naquele conjunto, pelo conteúdo e pela forma, eram aquelas que Theresa recebera de sua mãe, a condessa da Ponte, e de suas irmãs. A essas cartas decidi copiar, sabendo que, uma vez entradas no arquivo, ao qual estavam destinadas, elas iriam desaparecer dos olhos do mundo. Tinha uma vaga ideia de publicação, partilhada por um dos meus tios. Foi sempre coisa vaga, e nada que passasse do meio estritamente familiar. Curiosamente, foram as comemorações da implantação da Republica que me fizeram considerar de novo uma publicação, e já não num âmbito restrito, familiar, mas em edição pública. É que notei naquela ocasião, que se falava dos reis passados, de alguns dos seus ministros e colaboradores mais chegados dos reis, mas que nada se dizia – e penso que se escrevia, mas eu já não estava em condições de o verificar – que nada se dizia daquela estreita fatia da sociedade, a qual, mesmo em monarquias constitucionais, é sempre parte delas. Não digo já a nobreza no seu todo, mas aquela mais chegada à corte, a que, em França se chamava ‘noblesse de cour’, ‘nobreza da corte’, aquela que está mais perto dela, ocupando lugares por vezes hereditários. Falta de interesse, pensei, mas não é fácil ter interesse pelo que se desconhece em absoluto. Fora dessa tira da sociedade que tinham saído figuras públicas e já históricas, como os duques da Terceira, de Saldanha, como duque de Palmela. Eram conhecidos na sua vida pública, mas nada se sabia da sua vida privada. Havia, é verdade, as Memórias do marquês de Fronteira, as do conde Mafra, e uma ou outra colecção de cartas oficiais, poucas de cartas particulares. E sem estas não se conhece uma sociedade como aquela. Note-se que havia então uma outra ‘boa’ sociedade. Em uma das cartas de Maria Teresa Sousa Botelho ela conta à amiga que se estava a ensaiar um Requiem de Bomtempo, que nela participavam este e aquele, e, acrescenta “algumas senhoras da outra sociedade, mas não sei os nomes”. É desta ‘outra’ sociedade, da alta burguesia, de magistrados, da pequena nobreza que sairá muita da gente que se vai conhecer nos reinados dos reis D. Carlos e D. Manuel. Até aí, aquilo a que se chamava ‘sociedade’, era a que está neste livro. As autoras destas cartas pertenciam intimamente a essa sociedade, era a ocasião de as dar a conhecer e às suas cartas. ~~*~~

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Uma Época. Uma Sociedade. Uma Família.

>> segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Este livro nasceu quando há muitos anos encontrei no sótão da casa de meus pais, um baú cheio de cartas. O baú pertencera a D. Theresa Saldanha da Gama, minha avó materna, as cartas eram as que ela recebera ao longo da sua vida. Da primeira à última. Ofereci-me para as classificar e ordenar. Todas tinham interesse familiar, e algumas mais do que isso. As cartas da mãe e das irmãs da minha avó diferenciavam-se das outras pelo conteúdo e pelo estilo. Essas copiei, com a ideia de as divulgar entre parentes e amigos. Sucede que a este primeiro núcleo se vieram a juntar outras de grande interesse. Estas dirigidas pelas mesmas correspondentes a D. Maria Joaquina Saldanha da Gama, irmã da minha avó, e ainda as muitas cartas que esta escrevera, pouco antes da queda da monarquia, a seu filho Francisco, que então trabalhava em África. Convenci-me que, em conjunto, as cartas mereciam mais que uma leitura exclusivamente familiar, que elas mereciam ser facultadas a um público mais vasto, e que se pudesse fazer delas uma leitura histórica. Não que elas viessem alterar factos históricos conhecidos. O seu valor está naquilo que nelas se revela da vida social portuguesa no século XIX, e, em particular, da forma de viver e de pensar daquele grupo social que mais viria a sofrer com a implantação da República em 1910, e que, com ela, praticamente desapareceu: a nobreza histórica, a classe na qual os reis, não digo que se apoiassem, não há apoio em bengala fraca, mas com a qual mantinham maior intimidade. Um primeiro volume contendo as cartas que vão de 1834 a 1880 foi publicado pela 'Aletheia e recentemente apresentado. Terei o gosto de dar a conhecer nos próximos artigos do meu blogue.

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Sobre este blogue

Libri.librorum pretende ser um blogue de leitura e de escrita, de leitores e escritores. Um blogue de temas literários, não de crítica literaria. De uma leitora e escritora

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