Tapeçarias de Pastrana 3

>> terça-feira, 17 de agosto de 2010

Durante anos devo ter sido a única pessoa em Portugal a ter no seu computador uma pasta dedicada às tapeçarias que hoje se admiram no MNAA. Agora os interessados são muitos e alguns de renome, mas o meu interesse não diminuiu. Creio já ter escrito, que, em matéria de textos, o catálogo da Exposição pouco satisfaz a quem da investigação histórica exige um pouco mais do que afirmações sem provas, e textos floreados que não querem dizer nada. O catálogo, excelente na sua parte gráfica, é, na parte escrita, de uma superficialidade verdadeiramente indigna de um grande Museu. Se já o disse e o repito, é porque deve ser dito e redito. Não se trata aliás só de ‘superficialidade’, que essa não pretende enganar. É únicamente resultado de mandrieira.
Tive ocasião de falar em pessoa com o director dos estudos da fundação Calos de Amberes, que há dias esteve em Portugal. Foi uma conversa esclarecedora. De uma coisa fiquei certa, é que por maior que seja o estudo que a Fundação vai dedicar, e já está dedicando, ao estudo de todos os aspectos das Tapeçarias, que muito ainda pode ser procurado e examinado da parte de Portugal. Não lhe escondi, e ele aceitou, rindo, que iria fazer pesquisas concorrentes com as do Instituto. Ele já sabia a minha opinião sobre quem tenha sido o mais provável mandatário daquela grande obra, e creio que não vai deixar de a examinar. Lembrei-lhe a esse propósito, que :
No caso de se concluir – ou de se partir, tentativamente do princípio - que o mandatário das Tapeçarias foi o então duque de Guimarães e futuro 3º duque de Bragança, então as Tapeçarias devem ser “lidas’ segundo o relato dos acontecimentos de autor favorável ao duque. Sucede que o autor transcrito no catálogo não menciona a pessoa de um homem que teve parte tão activa nos acontecimentos como foi o caso de D. Fernando. Espantou-me essa omissão, até que verifiquei que os extractos citados eram da autoria de Damião de Góis, o qual, segundo D. António Caetano de Sousa, era pouco favorável ao duque.
Repito, se o Duque foi o mandatário das Tapeçarias, ele daria as suas instruções ao autor dos cartões sobre os quais se iria edificar a obra, e nessas instruções estaria naturalmente o seu ponto de vista dos acontecimentos que as tapeçarias deviam fixar.
Formei um grupo de trabalho para o estudo português das Tapeçarias. Por enquanto tem na minha modesta pessoa, coadjuvado por uma auxiliar, o seu único membro. É pouco. Talvez que das brumas da blogolândia surjam outros interessados em heráldica, nas armas, nas missões que queiram fazer parte deste grupo de trabalho.

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Tapeçarias de Pastrana 2

>> quarta-feira, 4 de agosto de 2010

“Inicia-se agora - fora de Portugal, note-se - o estudo aprofundado das Tapeçarias de Pastrana, consideradas uma obra prima no seu género. Para o efeito vão ser consultados os melhores especialistas em todos os campos. A Fundação Carlos Amberes, que vai custear essa investigação, espera decerto que Portugal contribuirá para essa investigação. Exigindo naturalmente dados devidamente fundados. Muito particularmente sobre as possíveis origens das tapeçarias, já que é dessa informação que se podem tirar outras conclusões. Se o ponto de partida é errado, as deduções certas não são possíveis. O Museu presta um mau serviço à investigação, quando sem provas, sem sequer averiguar se elas existem, dá como certo que D. Afonso V foi o dono e mandatário das Tapeçarias, Na ausência de provas, as dúvidas são permitidas e, sendo assim, eu diria:
1º A única tapeçaria cuja posse tem sido atribuída a D. Afonso V é a da ‘Justiça do Imperador Trajano’
2º D. Afonso V não era homem para se auto-elogiar
3º D. Afonso V não se podia permitir o luxo de uma tão grande despesa
4º Em Portugal só havia um homem que tivesse fortuna para pagar as somas fabulosas que tapeçarias daquela qualidade forçosamente custariam, era D. Fernando, 3º Duque de Bragança
5º Se foi D. Afonso V quem ideou as campanhas do norte de África, quem as pôs em marcha foi o Duque de Bragança. As tapeçarias honram o rei e honram a ele, duque
6º No testamento que o duque redige nas vésperas da batalha de Toro, distingue entre os seus bens moveis em particular as suas tapeçarias, aquelas que levava consigo, as que tinha em Arevalos, e as que estavam em Guimarães. A estas lega a sua mulher.
Em resumo, é a partir da pessoa do 3º duque de Bragança que se deve investigar, não a partir de D. Afonso V.”
Foi esta a carta que enviei a alguns jornais. Não sei se foi publicada, não sei se haverá quem me ache demasiado severa. Afinal todos erramos. Assim é, mas no caso em discussão não se trata de erro, de uma data por ventura trocada, trata-se de o Museu deliberadamente enganar o leitor do seu catálogo. O catálogo de uma grande exposição deve ser uma obra de referência, e este, que o Museu nos vende, e por bom preço, é uma obra de desinformação. A atribuição das tapeçarias a D. Afonso V sem disso ter prova, é uma falta de respeito pelo nosso espírito crítico. Mas há mais. Os senhores do Museu não estudaram a questão, afirmaram sem saber. Mas há pior. Há afirmações francamente falsas, que enganam propositadamente para apoiar uma tese. Não quero entrar nesse campo. Mas não fui demasiado severa. A uma instituição cultural temos o direito de exigir rigor e seriedade intelectual, e o Museu Nacional de Arte Antiga não pode fugir a essas obrigações.

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