10.000!

>> segunda-feira, 26 de março de 2012

libri.librorum está a chegar ao 10.000 visitantes, pareceu-me que merecia reflexão. Eu sei que não fui lida, ou consultada 10.000 vezes. Houve 10.000 vezes que alguém veio parar ao blogue. Uns tantos visitantes dariam uma espreitadela e seguiam em diante, alguns leriam. Entre estes houve alguns simpáticos comentários. Não tinha meio de saber mais. Até que chegou a Segunda-feira e o dia da Constança. A Constança é minha sobrinha neta, e agora, que perdi parte da visão, minha leitora, colaboradora artística na composição do livro de Correspondência que estou preparando, e, ainda, e sobretudo, é competente viajante no mundo virtual. Como eu lhe dissesse que não me lembrava quantos textos escrevera, e sugerisse uma via pouco virtual para chegar a alguma conclusão, a Constança olhou-me com comiseração, clicou, clicou, e, oh espanto - vi-me, como Alice no País das Maravilhas. Uma mão generosa, sem que lho tivesse pedido, por puro amor virtual, dizia-me tudo que queria saber – e que nunca me lembrara de perguntar - sobre o blogue que eu lançara no seu espaço. Contemplei maravilhada e comovida os gráficos coloridos que me informavam, um mostrava os textos até aí mais procurados, outro mostrava em que meses o blogue era mais ou menos lido. Era uma paisagem de montanhas planas, desgraciosas, cortadas por fundas ravinas. Indicava-se-me que pelo ano fora era lida sem grandes altos e baixos, e que duas vezes por ano era abandonada. Os senhores leitores estavam na praia e, mais tarde, ocupados em compras de Natal. Também fui informada que a hora dos meus visitantes é pelas 10 e meia da manhã. Chegam ao seu gabinete e sentem a necessidade de leitura. Lêem libri. Fazem bem. Se eu me questionasse acerca dos locais geográficos em que era lida, eu diria – sempre contando as distâncias em quilómetros – Lisboa e arredores, talvez Coimbra. Pois não, sou lida no Brasil, nos Estados Unidos e na Rússia! Que surpresa. Surpreendeu-me também o gráfico – uma paisagem de estalactites - mostrando quais os textos mais lidos. Escrevi sobre livros clássicos e ligeiros, sobre livros antigos e modernos, sobre livros ilustrados, sobre formas de escrever, sobre editores e escritores, toquei em problemas literários. E para quê? Para que os meus leitores dessem a sua preferência a um artigo sobre livros policiais e um livro de cozinha.
Não vou obedecer ao gráfico. Não vou, mudar de temas, nem estilo, vou ser talvez um pouco menos prudente. Fiz o propósito de evitar temas polémicos. Cumpri. Fi-lo para me poupar a discussões que seriam inúteis e incómodas, não porque me faltassem temas dessa espécie, e não por ser de natureza avessa à discussão de problemas. Não procurarei temas polémicos, mas se me vierem à ideia, não os afastarei por completo. Talvez publicando algum texto, para não faltar às promessas editoriais do meu ameno blogue, sob o título de ‘Cartas a um Director’.

Náutica. Ironia. Resposta a dois comentários.
Constatei que houve dois comentários aos quais não respondi. É que não os li. O primeiro foi de ‘Maria Amélia’. Será a mesma Maria Amélia que me comentou recentemente? A primeira pergunta-me o que acho sobre o caso da Escola de Navegação que é suposto ter existido em Sagres. Estou convencida que é um caso de wishful imagination da parte dos primeiros historiadores que se ocuparam dos Descobrimentos. Era ainda nova a historiografia, ainda se lançavam teorias agradáveis e às vezes poéticas como factos. O que me parece ter sido o caso em relação à escola náutica de Sagres. Não estudei o problema, mas li a Crónica de Zurara. Quanto ao problema da ciência náutica tenho um pequeno trabalho que talvez a possa interessar. Parece-me que ainda haverá exemplares na Livraria Bizantina, em Lisboa. Chama-se “Regimento do Astrolábio, Proveniência e Data”
Ironia
Também o meu artigo sobre Ironia teve um comentário. Deve ter sido escrito muito depois da publicação, só agora o li. Creio que o meu livro “As Casas da Celeste” é um livro irónico. Nasceu da visita a uma casa trágica. Uma casa onde uma mulher perdida na província, recordava o seu passado de vida fácil em quarto forrado de fotografias de si própria. Decidi escrever um livro sério, talvez grave, saiu outra coisa. Creio que é irónico, talvez ache graça. Theresa

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Camões e Vasco Fernandes Homem

>> segunda-feira, 12 de março de 2012


Resta a questão de quando e como o retrato de Camões teria entrado na posse do Dr. Gregório Mascarenhas Homem. No verso do retrato lê-se que este fora “do próprio”. Sendo assim, é lógico concluir ter sido o próprio quem dispôs do seu retrato. Também me parece lógico pensar que o tenha dado, ou vendido, a alguém da família do Dr. Gregório. Resta procurar prova, ou indício, de ter havido ligação entre Camões e alguém da referida família. Creio que houve a dada altura ligação, talvez só informal, mas não menos real.
Vasco Fernandes Homem, avô do Dr. Gregório, e Luís de Camões eram contemporâneos. Os dois estiveram em Goa quando do governo de Francisco Barreto, e
aí podem ter-se encontrado, mas onde se encontraram forçosamente foi em Moçambique no ano de 1569.
Segundo se lê na ‘Pedatura Lusitana’, Vasco Fernandes Homem foi com Francisco Barreto à conquista, ou exploração de Monopotapa, o lendário reino ao Sul do Zambeze, de cuja riqueza aurífera se contavam maravilhas. A coisa fora decidida em princípios de 1569 ou fins de 68, sendo Francisco Barreto nomeado para comandar a expedição. Abaixo dele ia Vasco Fernandes Homem, e as instruções eram, como subsequentemente se soube, que ele sucedesse a Francisco Barreto em caso de morte deste.
Em Abril de 1569 saem de Lisboa três naus com rumo a Moçambique e a Monopotapa. Ventos contrários deitam duas das naus, entre elas aquela em que ia Francisco Barreto, para o outro lado do Atlântico, indo parar ao Brasil. A nau de Vasco Fernandes manteve a rota, e, em Junho aportou a Moçambique. Nesse mesmo ano, em Fevereiro, tinha saído de Goa, de volta a Portugal, a armada do vice rei D. Antão de Noronha. A armada não conseguira dobrar o Cabo, e tivera de procurar abrigo em Moçambique. Quando lá chegou já não trazia o vice-rei, que morrera pouco antes de se avistarem as ilhas de Angoxe. Quem o relata é Diogo de Couto, que vinha nessa armada, e estava nela em Moçambique quando Vasco Fernandes Homem lá chega no mês de Julho.
Couto escreve que Vasco Fernandes ficara era Moçambique à espera de Francisco Barreto, sem o qual não queria iniciar a exploração de Monopotapa.
A ilha e fortaleza de Moçambique eram então comandadas por Pedro Barreto. Este resolvera largar o governo e regressar a Portugal ao saber que seu parente Francisco Barreto fora escolhido por cima dele para ir a Monopotapa. Com esta decisão Vasco Fernandes Homem ficava sendo a primeira, ou pelo menos, caso Pedro Barreto só largasse o governo no momento da partida, a segunda autoridade em Moçambique.
Sempre segundo Couto, quando ele chegara naquele ano de 1569 a Moçambique encontrar a lá “aquele príncipe dos poetas do seu tempo, meu matalote e amigo Luís de Camões, tão pobre, que comia de amigos, e, para se embarcar para o reino lhe ajuntámos os amigos toda a roupa, e houve mister, e não lhe faltou quem lhe desse de comer”. Temos pois Luís de Camões e Vasco Fernandes ao mesmo tempo, no mesmo local; e não em cidade grande, onde podiam não se ter encontrado. Na pequena fortaleza de Moçambique, os contactos eram forçosos. Até porque Camões necessitaria de contactar as autoridades para regressar ao Reino. E estas eram então Pero Barreto e Vasco Fernandes, ou este só.
Há quem afirme que Camões esteve preso em Moçambique por ordem do mesmo Pedro Barreto, e se assim foi, ser-lhe-ia duplamente necessária a influência de Vasco Fernandes para conseguir a vinda para Portugal na armada desse ano. Talvez lhe tenha dado o retrato em sinal de gratidão, ou em pagamento de serviço prestado. São conjeturas. Sem uma prova documental não se pode afirmar que foi por Vasco Fernandes, que o retrato veio parar às mãos de seu neto. Não fiz mais pesquisas, porque tinha na altura outra coisa em mão, e ninguém parecia interessado naquele Camões desbragado .
Sei no entanto o que há a fazer em matéria de pesquisa documental para apurar se Gregório Homem obteve o retrato por herança. A secção “ Testamentária”, na Torre do Tombo é como o nome indica uma coleção de testamentos e de inventários de bens feitos em caso dos herdeiros serem menores. O que era frequente em época de vidas curtas e arriscadas. Os documentos estão classificados pelo primeiro nome do testador. É possível que se encontrem os testamentos de Estevão Homem ou de Vasco Fernandes, e, se tivessem tido, um ou outro, filhos menores, pode haver inventário dos seus bens e menção – ou não – do retrato de Camões. Maçador? Com certeza. De duvidoso resultado? Sem dúvida. Melhor esquecer aquele Camões, e recordar o outro, elegante, sorridente, que nos saúda de livros e monumentos?
É uma opção.

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Sobre este blogue

Libri.librorum pretende ser um blogue de leitura e de escrita, de leitores e escritores. Um blogue de temas literários, não de crítica literaria. De uma leitora e escritora

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