Bilhete Postal Ibérico

>> segunda-feira, 16 de julho de 2012

Não sou filatelista, mas não seria compreensível, se, depois de ter lido, copiado, e organizado uma enorme coleção de cartas do século XIX, eu não tivesse notado alguma particularidade na evolução do envio nesse século de cartas e bilhetes pelo correio. Os primeiros selos portugueses são de 1853, mas notei que mesmo depois da sua existência, nem todas as cartas levavam selo, que muitas continuavam a ser franqueadas com um selo estampado, uma ‘estampilha’. A carta ainda não se colocava em envelope; era dobrada de forma a se poder fechar sobre si, e, num rectângulo da página exterior, escrevia-se nome e morada do destinatário. O correio estampilhava a carta nesse ‘sobrescrito’. Faltava pagar. Não sei bem como a coisa funcionava, mas sei que o porte podia ser pago pelo destinatário. Tenho a certeza que as cartas de 9 e 10 páginas, que as irmãs de D. Maria Joaquina Saldanha da Gama lhe escreviam para a Madeira não eram pagas pelas autoras das cartas, mas pela sua destinatária. Talvez essas cartas fossem marcadas de distinta maneira. Não sei, e de presente não me vou dar ao trabalho de aprofundar a questão. Do que quero falar é de dois postais, que me apareceram, e que me espantam. O ‘Bilhete Postal’ nasceu em meados do século XIX. Um professor vienense sugeriu em artigo de jornal a criação de um meio de enviar pequenas mensagens, dispensando a carta, talvez um cartão, com espaço para endereço e mensagem. Alemães e ingleses gostaram da ideia, e executaram-na, discutindo ainda hoje quem fora o primeiro. É coisa corrente entre aqueles primos. O facto é, que a ideia pegou. Para comunicarem um ao outro uma pequena notícia, o correspondente do século XIX não precisava de carta, passava a ter um ‘bilhete postal’. Portugal gosta de ponderar bem os prós e contras das grandes questões, e faz muito bem. Levou-se portanto algum tempo a introduzir aquela novidade. Assim, quando em Junho de 1878, a condessa de Rio Maior se prepara para uma viagem que a levaria a Paris, ela compra postais para mandar frequentes notícias às amigas. Não sabia ainda como a coisa funcionava e que não se podia deitar o postal português em qualquer estação espanhola. Que este tinha de levar estampilha espanhola. “A Maria ia munida de postais para escrever nas estações”, lemos numa carta, “dispunha-se a mandá-los de Espanha. Acho que não se capacitou com o que a tia lhe disse, que os nossos bilhetes não podem lá servir por causa da estampilha”. Sem estampilha a coisa não ia. Mesmo quando o postal – e aqui é que nasce o meu espanto – mesmo quando num postal de 1905 se podem ler, em elegante banda verde, as palavras: ”Portugal e Espanha”. E um selo de D. Carlos. Provavelmente toda gente instruída sabe que assim era, e tem a respectiva explicação à mão de semear. Eu não sabia, continuo a não saber, não tenho explicação e acho curioso.

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