Cartas ao director

>> segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Gostava de perceber o que faz com que se escrevam
‘Cartas ao director’.
Ao longo da vida escrevi – em mente e a preto e branco – cartas ao director. Mandei talvez sete ou oito ao seu destinatário, e destas sete ou oito conto quatro publicadas. Considerava a coisa perfeitamente normal. Até que me lembrei de procurar entre os meus conhecimentos outra ou outro autor de uma ou mais ‘Cartas ao Director’. Não conheço nenhum. Entre parentes próximos e afastados, e simples conhecidos nem um escreve ou escreveu cartas a um director de jornal. Nem um sentiu em si o imperativo desejo de escrever a um desses senhores, e, através dele, ao leitor do periódico por ele dirigido para lhes dizer o que ele, autor da carta, pensava sobre determinada situação, acção, opinião. Não houve um, que, tal como eu, sentisse a imperativa necessidade de apontar uma falta de lógica no raciocínio, um erro literário ou histórico.
Ignoro o critério a que obedece a escolha que os jornais fazem das cartas que lhes são dirigidas, e se recebem muitas ou poucas dessas missivas. Em geral publicam duas ou três cartas, e creio que dão a preferência a temas políticos, contanto que pouco contenciosas. Dedicam um pequeno espaço ao género. Os seus congéneres estrangeiros são mais generosos, e alguns, como os ingleses, publicam com entusiasmo cartas sobre os mais variados assuntos, com os quais os seus leitores se indignaram, ou irritarem, ou de outra forma se incomodaram. Porque a razão de escrever esse tipo de cartas é sempre esse: o desejo de emendar os erros alheios. Tenho justamente uma ‘Carta ao Director’ pronta para ser enviada. Questiono nela se será permissível que, a pretexto de segurança de um membro do governo, se prejudiquem os seus vizinhos.
Ainda não sei se a enviarei.

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'Taklamakan'

>> segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Na Ásia Central, nas vertentes sul do Pamir, as areias do deserto de Taklamakan conservam, praticamente incorruptos, corpos de homens, mulheres e crianças que há quatro mil anos ali viveram, ou talvez de passagem ali foram obrigados a ficar. A gente que hoje vive no oásis do Taklamakan é de estatura baixa, cabelo escuro, olhos rasgados.
Aqueles que a areia cobriu, eram gente de grande estatura, cabelos loiros ou ruivos, olhos azuis. Exames provaram que eram tão ‘europeus’ como nós. Um grupo ou uma tribo que não seguiu a migração dos seus congéneres quando estes gradualmente foram migrando para oeste. Provavelmente achavam-se seguros nas verdes pastagens do Takllamakan. Os outros que se fossem, eles ficavam. Até que as areias vieram. Agora ali estão, testemunhos daquilo que é um dos grandes momentos da história da humanidade: a migração de leste para oeste dos povos de pele branca, que originalmente ocupavam as terras da Ásia Central a norte dos Himalaias, e que, um dia, por razões sobre as quais só se pode especular, de lá partiram. Vieram em vagas espaçadas, ocupando gradualmente um minúsculo espaço de terra a que se dá o nome de Europa.
Foi em “In the shadow of the silk road” de Colin Forbin,que ouvi pela primeira vez falar do Taklamakan e dos seus primitivos habitantes. O livro é lento, contemplativo, como que escrito ao passo das caravanas da rota da seda. É um livro triste pelo que os contactos humanos revelam de aspirações frustradas, de um sonho irrealizável: a Europa. O Oeste.

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Sobre este blogue

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