Sequóias

>> segunda-feira, 30 de abril de 2012

Não penso diariamente em sequoias, mas quando elas me vêm á ideia, incomodam-me. Constatei-o de novo, recentemente. Procurava a gravura do século XIX da ponte de Brooklyn em Nova York. Sabia que estava em ‘Six mois aux États Unis’ de Albert Tissandier, mas não encontrava o livro. Lembrei-me finalmente, que a dada altura mudara o livro de lugar. Onde o pusera eu? Se os livros falassem, aquele decerto me teria avisado: “A senhora não me tire deste lugar, o que me está a dar não é para mim, e quando precisar de mim, não me encontra”. Não lhe teria dado ouvidos, porque em matéria de mudanças de livros, sou teimosa e sempre certa de que nenhuma prateleira é mais indicada para aquele particular livro do que aquela particular prateleira que acabava de escolher. E foi assim que o livro da viagem de A. Tissandier pelos Estados Unidos saiu da estante dos livros de viagem onde estava muito bem acompanhado, e foi parar ao cacifo de uma estante onde tenho uma miscelânea de livros ligados à História Natural. Onde também está, constato, muito bem. É que o autor dedica um capítulo, acompanhado de extraordinárias imagens às ‘grandes árvores’, as ‘big trees’. O livro era – também - de História Natural. Até meados do século XIX aquelas árvores eram desconhecidas dos europeus. Quando foram descobertas houve naturalmente que lhes dar nome - o século descobrira a nomenclatura botânica - não podia deixar aquelas gigantes da natureza sem nome próprio. A coisa não foi fácil. Um texto publicado no Google, intitulado ‘Discovery and naming’, conta a história daquela nomeação. Os nativos americanos designavam a espécie por Wawona, Toos-pung-ish e Hea-mi-withic. Nomes difíceis, que não agradaram aos que vieram depois. Uma primeira referência à árvore por um europeu é do explorador J. K. Leonard, e data de 1833. Leonard menciona no seu Diário a descoberta das árvores, mas não lhes dá nome, e a descoberta não chamou a atenção. Sabe-se que houve em 1850 outro europeu a ver as árvores. Foi um tal John M. Wooster, que deixou as suas iniciais em uma das árvores. Em 1852 as árvores foram vistas e descritas por Augustus T. Dowd e começariam a ser verdadeiramente conhecidas. David batizou-as de 'Discovery Tree'. Mas ele não era botânico, a árvore precisava de nome científico. O inglês John Lindley tratou disso em 1853. Chamou à arvore ‘Wellingtonia gigantea ‘ em honra do general Wellington. Não podia ser, o general já dera o nome a outra planta. Seguiram-se outras nomenclaturas. Tissandier fala de Sequoia gigantea, e o nome tendo sido dado pelo austríaco Endlicher. Sequoia era o nome de um indiano Cheroquee, que publicara um dicionário da sua língua. O nome parece ter pegado entre os leigos, mas não entre os cientistas. Só em 1939 haveria a designação científica que a árvore requeria. A proposta aceite foi de J. Bucholz e era Sequoiadendron giganteum. Os ingleses não se conformaram, Continuaram a tratá-las de ’Wellingtunian gigantorum’. Às próprias a coisa pouco deve ter afectado. Nada as deve afectar. E é isso que as faz tão assustadoras. Não falo da sua imensa largura e altura. Essa é conhecida. Falo do que é desconhecido. Elas viram os dinossauros? Desde que estes apareceram? Viram-nos desaparecer? Viram-nos aparecer a nós? Ainda ali estarão quando nós desaparecermos? Serão eternas? As sequoias assustam-me, incomodam-me.

2 comentários:

Maria Amélia 3 de maio de 2012 às 22:43  

Imagine, Theresa, que a rua onde moro , no Rio de Janeiro, tem o sugestivo nome de Sequóia, embora nela não haja nenhuma. Seria bem mais aprorpiado chama-la de rua dos Ipês, flôr símbolo de meu país. Eu mesma plantei quatro delas ao lado de minha casa. É uma árvore alta e que no período da floração fica totalmente desprovida de folhas, que dão lugar às flores. Aqui no Brasil é muito valorizada pela sua resistência e, costuma levar a fama de recuperar terrenos improdutivos. Nos anos 60 foi criada uma lei pelo então Presidente da República, Sr. Jânio Quadros, rebaixando-a de Arvore Símbolo Nacional, para Flor Símbolo Nacional, cedendo seu lugar para o Pau-Brasil, que ganhou até um dia especial, o 3 de maio, Dia do Pau--Brasil. Sua fama popular, entretanto, não foi afetada, principalmente graças às suas propriedades medicinais, sendo a casca e as folhas utilizadas no tratamento das amídalas e das infecções renais. Segundo as regiões brasileiras, o Ipê recebe nomes diferentes: no Norte e Nordeste, é conhecido como Pau d` Arco (os indígenas usavam a sua madeira para fazer arco e flecha) ; no Pantanal de Mato Grosso, como Peúva (dp Tupi, árvore da casca) e na região Sudeste, simplesmente Ipê. Todas essas considerações aconteceram por causa da Sequóia. Assim é a vida........

Theresa Castello Branco 7 de maio de 2012 às 11:25  

Maria Amélia, achei a maior graça à história da Sequóia e do Ipê. Para agradeceder esta informação botânica gostava de lhe enviar um livro meu. Aqui vai o meu email para podermos entrar em contacto, tcbl@meo.pt
Um abraço, Theresa

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