Biografia ou romance histórico?

>> terça-feira, 4 de maio de 2010

Aos sábados, das 10 da manhã ao meio-dia, há na Antena 1, um programa intitulado ‘Hotel Babilónia’. Nos meus tempos de leitora, não o ouvia, agora, que sou sobretudo auditora, oiço o ’Hotel Babilónia’. Na sua segunda parte, quando os anfitriões, João Goberne e Luís Delgado, conversam com uma convidada. Neste sábado, a conversa foi com Isabel Stilwell, e sobre livros seus. Três livros sobre três rainhas: D.Filipa de Lancastre, D. Catarina de Bragança e D.Amélia de Orléans. Isabel Stilwell narra as suas vidas sob a forma de romance histórico. Uma opção perfeitamente aceitável.
Ora sucede, que em todos os três livros se vê na capa o nome da respectiva rainha e o seu retrato. Vendo isso, o leitor, que pega no livro, pensa naturalmente que se trata da biografia daquela personagem. Foi o meu caso, quando há tempos peguei numa livraria no ‘D.Catarina de Bragança’ da autora. Com curiosidade e simpatia, já que o meu primeiro livro fora a biografia do marquês de Sande, o homem que negociara o casamento daquela infanta portuguesa com Carlos II de Inglaterra, e que depois conduzira a futura rainha, e lhe aturara os maus humores. Abri portanto o livro de Isabel Stilwell, curiosa de ver como ela pegara naquela pouco simpática figura. Abri o livro ao acaso para ter uma ideia. E li, com algum espanto, confesso, como D.Catarina, falando a seu marido, lhe dirige estas palavras: “não me diga, Carlos”. Para já não falar no pouco provável uso de uma expressão que tem muito poucos anos, por alguém do século XVII, era impossível em biografia, onde o discurso directo não existe, a não ser numa citação. Era forçoso concluir que aquele livro, intitulado ‘D.Catarina de Bragança’ e com o retrato da rainha na capa, não era afinal o que parecia ser. Não era uma biografia daquela rainha. Pois não, disseram-me, era um romance histórico.
Agora saiu o ‘D. Amélia de Orléans’, que é, da mesma autora, que, tal como os dois livros precedentes, é um romance histórico. Que tal como estes, aparenta ser - pela capa e título - uma biografia.
Tratando-se de um romance histórioco, ou seja de um romance, no qual aquela senhora é evocada de forma lúdica, então isso devia ser percebido. Por exemplo, dando-lhe um título deste tipo: ‘Uma Orléans?’ Já que aquela rainha de Portugal ainda sofria do estigma de ser uma Orléans, dava-se a entender que o livro trataria de D. Amélia, mas ninguém pensaria estar a comprar uma biografia da rainha.
Uma ninharia, dirão. Não é. O editor está a atrair o público com um engano literário. E o engano é duplo. Está oferecendo uma coisa que não é o que a capa e o título prometem, e leva o leitor menos conhecedor a pensar que uma biografia se escreve em forma de romance histórico. Tudo vale para vender livros? Assim é, pelos vistos.

1 comentários:

Anónimo 21 de maio de 2010 às 20:04  

Tem toda a razão, Teresa! esta gente parece que não tem qualquer pudor desde que se trate de vender e de aparecer nas entrevistas das rádios e televisões. Lembrei-me logo daquelas considerações que o velho August Comte fazia acerca da História. Dela dizia o pai do Positivismo que não era uma ciência verdadeira, que não lhe interessava a verdade mas o entretenimento. Será que já havia Isabeis Sillways naquele tempo?

Adérito (www.tapornumporco.blogspot.com)

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