Recordar poemas

>> terça-feira, 11 de maio de 2010

Nos meus tempos de escolaridade, aprendiam-se versos. Aprendi versos em alemão e português, em francês, em inglês. E tínhamos de os recitar. Em festa escolar, era sabido, fazia parte do programa que um aluno recitasse uma poesia. Não nos fez mal.
Sei as primeiras linhas de inúmeras poesias, e muitas sei por inteiro. Gosto de as relembrar e recitar para mim, e agora mais do que nunca, que não as posso ler.
E o gosto não é só de agora. Em viagens de automóvel, ao volant5, sempre recitei para mim. Em voz alta. Poesias fáceis, que não me distraíssem. Confesso que tenho pena das crianças a quem não ensinam versos. Não sabem o que perdem. Porque os versos que se aprendem em criança nunca mais se esquecem por completo. Alguma coisa deles fica, nem que seja só uma estrofe, ou só duas ou três linhas. Um dia vêm-nos à memória, e é uma alegria.
Quando há não muito tempo uma leitura me fez recordar a peça ‘Wallenstein’ de Schiller, veio-me de imediato, sem pensar, a lembrança dos versos que toda a nossa classe, rapazes e raparigas, recitava com entusiasmo, sem sermos obrigados. Para nós, porque gostávamos do ritmo empolgante daqueles versos: “Vamos, camaradas, a cavalo, a cavalo” “Wohlauf, Kameraden. Aufs Pferd, aufs Pferd, ins Feld, in die Freiheit geritten”. E por aí fora.
Há poesias para todas as emoções, todas as impressões, todas as ocasiões. Há poesias alegres e poesias tristes, românticas e realistas, profundas e ligeiras, é só escolher. E lembrar.
A propósito da muito falada crise, lembrei-me da fábula de La Fontaine sobre a cigarra e a formiga. Aprendi-a nas aulas de francês. Em Portugal já não se aprende francês, La Fontaine deve ser pouco conhecido. Não importa. Tenho vontade de recordar ‘La Cigale et la Fourmi’, Acho que vem a propósito a história da cigarra que cantou durante todo o verão sem pensar em juntar qualquer coisa para o inverno. E a laboriosa formiga, que se nega a lhe emprestar, aconselhando-a a dançar, já que passou o verão a cantar. Aqui vai, portanto:
“La clgale, ayant chanté tout l’été,
Se trouva fort dépourvue
Quand la bise fut venue.
Elle alla crier famine
Chez la fourmi, sa voisine,
La priant, de lui prêter
Quelques grains pour subsister
Jusqu’á la saison nouvelle.
La fourmi n’est point préteuse,
C’est lá son moindre défaut.
Que faisiez vous au temps chaud?
Demanda-t-elle à la quéteuse.
Au temps chaud?
Je chantait, ne vous déplaise.
Vous chantiez? J’en suis fort aise.
Et bien, dansez maintenant.

0 comentários:

Sobre este blogue

Libri.librorum pretende ser um blogue de leitura e de escrita, de leitores e escritores. Um blogue de temas literários, não de crítica literaria. De uma leitora e escritora

Lorem Ipsum

  © Blogger template Digi-digi by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP