VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº XIX INTRODUÇÃO DA DOÇARIA CONVENTUAL MANJAR BRANCO E DOCE D' OVOS , NOTAS FINAIS E BIBLIOGRAFIA

>> quarta-feira, 29 de junho de 2016

A doçaria conventual - aquilo que ainda hoje faz lembrados os mosteiros femininos portugueses - foi arte que só começou no século XVI. Só então, com a importação da cana d’açúcar da Índia e do Mediterrâneo e implantação da produção de açúcar em Portugal, na Ilha de São Tomé e depois no Brasil, o açúcar se tornou um género acessível. Que os reis até davam em esmola aos mosteiros seus protegidos. Em 1509, D. Manuel dá dez arrobas de açúcar ao Convento de Jesus de Aveiro; em 1517 dão-se 8 arrobas de açúcar de esmola à Santa Clara de Lisboa, e 5 arrobas de açúcar branco a Santa Clara de Beja. Nos anos do reinado de D. Manuel esmolas dessas vão ainda para a Madre de Deus em Lisboa, para os conventos de Santa Clara em Lisboa, Portalegre, Beja e outros. Também as especiarias eram dádiva frequente dos soberanos aos mosteiros: 4.000 reis em especiaria ao convento de Celas, em 1512, especiarias em porção não especificada a Santa Clara de Portalegre e ao mosteiro de Jesus de Aveiro em 1518; 4000 reis de ‘droga’ ao mosteiro de Santa Clara de Coimbra em 1519. E as religiosas de todos os mosteiros de Portugal lançaram-se e na produção de uma arte nova, a arte da doçaria ou pastelaria, alcançando, nesse campo glória imorredoira. E merecida.
A coisa deve ter evoluído gradualmente, as monjas tiveram de pensar como melhor aproveitar o doce açúcar que lhes caía em casa e que até ali praticamente desconheciam. Tinham talvez usado um pouco dele em alguma mesinha para as suas doentes, nunca na cozinha. Descobriram, provavelmente por acaso, a cozedura do açúcar em ponto. Deram nomes aos graus de ponto ‘de cabelo, de pingo.’ Lembraram-se de juntar açúcar aos ovos postos abundância pelas galinhas que pululavam em todos os mosteiros. Cozida ou em caldo, a galinha era remédio para todos os males. Os visitadores faziam os seus reparos: que o galinhaço até entrava pelo coro, que as galinhas sujavam o claustro e originavam brigas entre as suas donas. Sem efeito. As galinhas continuaram a picotar nos claustros e pátios dos mosteiros. Enquanto não se lhes torcia o pescoço, se coziam ou guisavam, as galinhas punham ovos. Ovos e açúcar ligavam bem, monjas e freiras criaram, com arte e imaginação, inúmeros doces diferentes com os mesmos dois ingredientes. Juntaram-lhes por vezes especiarias, amêndoas. Lembraram-se de usar a obreia das hóstias para base de queijinhos d’ovos, de broas d’ovos.
Nos mosteiros havia a matéria-prima, a mão-de-obra, e o tempo para aquele fabrico. E a criatividade. Entre tantas mulheres, haveria sempre uma com talento para inventar e inovar. E para dar nomes adequados àquelas criações: A produção de doçaria por parte das religiosas desenvolveu-se, mas não era apreciada por todos as autoridades religiosas. Nas actas dos visitadores encontram-se - a partir do século XVI - constantes protestos contra os exageros da produção de doçaria, e da venda de doces para fora, ‘porque o fazerem-se as religiosas tratantes, e da casa de Deus mercancia, resulta em desserviço do mesmo senhor’. Depois de uma visita ao mosteiro de Santa Clara da Guarda, os visitadores ordenavam que nenhuma religiosa fizesse ‘trato em mercancia de doces para fora’, e que a madre abadessa acabasse de vez com o abuso. O que não aconteceu. Uma vez começada, a coisa iria tomar proporções de exagero, as monjas esquecendo as rezas na azáfama de bater ovos e vigiar o ponto de açúcar. Em Arouca faziam-se, em meados do século XVII, dezoito espécies diferentes de pastéis e doces. E, por todo o Portugal, as abadessas gratificavam em dias de festa os magistrados que trabalhavam para o seu convento, e os padres que lhes diziam as missas, com ‘prateleiras’ de doçaria variada.
Em Lorvão havia no século XVII uma ‘sala dos doces’, presume-se que aí se preparavam doces, mas ignorava-se até há pouco que doces eram esses. Livros conventuais de receita de doces são raros, se os houve, desapareceram. As receitas transmitiram-se por tradição oral. Um livro, recentemente publicado, da autoria do Dr. Nelson Correa Borges, intitulado ‘Doces conventuais de Lorvão’ , contém receitas de doces, conservadas nas famílias da terra, atribuídos - e decerto com razão - às monjas do mosteiro de Lorvão. As monjas tinham criadas, mulheres da terra que as ajudavam na convecção dos doces, que muito naturalmente levaram as receitas para suas casas, ou as ensinavam a outras mulheres. As receitas iam-se transmitindo, a sua origem conventual muitas vezes esquecida. Em Lorvão faziam-se entre outros os ‘Papos d’anjo, o Bolo de Bispo, o Bolo de Santa Teresa, os Bolos das Infantas, Queijinhos do céu, Capelas de ovos, Fatias do céu’. Tudo doces à base de ovos e açúcar, em Lorvão como nos outros mosteiros e convento de Portugal com nomes adequados à sua proveniência: papos d’anjo, pingos de tocha, queijinhos do céu, tocinho do céu
Pingo de tocha de Arouca
Um doce conventual que não tem a nada a ver com os doces d’ovos é aquela curiosa confecção doce, à base de peito de galinha., conhecida por ‘Manjar Branco’. Aquela papa branca, que, em Lorvão, era apresentada em toscos discos de barro, é coisa muito mais antiga que os doces d’ovos, e não, como estes, especificamente português. Um doce com os mesmos ingredientes era designado em França por ‘blanc manger’, e  era uma confecção usada em toda a Europa medieval. Uma pesquisa Google menciona a existência da receita em um caderno de ensegnements, de ensino culinário, de fins do blanmangerséculo XIII, inícios de XIV. O mesmo caderno ensina ainda como confeccionar o ‘blanc-brouet’, também de peito de galinha, mas com uma diferença, não levava leite.
Manjar branco                   ‘ Blancmange’

Sabe-se que a receita do manjar branco veio do mosteiro de Celas para o de Lorvão, ignorando-se contudo como e quando chegou a Portugal. Talvez tivesse sido trazida por um dos visitadores de Cister, que periodicamente vinham a Portugal, ou por um qualquer outro viajante de passagem. As monjas de Lorvão tiveram a ideia de servir o seu branco manjar numas rodelas de barro. O que faz do seu ‘manjar banco’ uma especialidade laurbanense.
Havia outras confecções doces nos diferentes mosteiros. No livro de Mordomia de Lorvão de 1659 lê-se que no dia de Santo António havia ‘milhares’ para a merenda desse dia. Compraram-se - em Junho desse ano 145 pães e 150 queijos, assim como leite para ‘milhares’. ‘Eram papas de milho que, em Lorvão, quando feitas para a comunidade, levavam 3 arráteis de açúcar e mais de 200 quartilhos de leite. Em 1660, lemos que se tinham comprado para a enfermaria e para a merenda que se dava no dia de Sº António, além das habituais cerejas, 150 queijos, 165 pães, 145 pastéis. E ainda leite para ‘arroz doce’, que se dava ao convento no dia de Sº António, e o dos ‘milhares’ da merenda do mesmo dia. Acrescentara-se portanto pastéis e arroz doce à ementa do ano anterior.
O ‘arroz doce’ que também deve ter entrado nos mosteiros com os Descobrimentos, designava-se de entrada por ‘arroz de leite’. Numa receita quinhentista de Lorvão lê-se que se gastavam ali para o ‘arroz de leite para o Santíssimo Sacramento’- ou seja, para a refeição desse dia – ‘27 arráteis de arroz, 26 de açúcar, 213 quartilhos de leite’. Em receita mais recente o ‘arroz doce’ já é enfeitado com canela. Fazia-se com ‘28 arráteis de arroz, 12 de açúcar, o almude de leite, 1/2 quartilho de água de flor, e 1 onça de canela”

~~FIM~~
                       

NOTAS finais e BIBLIOGRAFIA
Cheguei ao fim desta minha primeira experiência de publicação on-line - creio que é assim que se diz. O livro teve à volta de cinquenta leitores para cada capítulo. O que parece pouco, mas em Portugal não é mau para um livro deste tipo e sobre este tema. Gostaria de pensar que tenha ajudado algum estudante proporcionando-lhe informações úteis que não encontraria facilmente de outra forma. O texto vai agora ser publicado em Pdf. Farei ainda uma revisão, e agradeço desde já aos leitores que indiquem erros ou falhas que tenham notado, e que eu possa corrigir.
Umas palavras sobre a Bibliografia que em seguida indico. Cito unicamente os livros que de alguma forma são pertinentes ao assunto do livro. Consultei obviamente outros, o tema faz parte da história medieval, e não se estuda lendo unicamente textos sobre um determinado aspecto dessa época.
Para alguns do livros indicados há uma explicação, que pode não ocorrer ao leitor. A ‘Crónica Nurembergensis’ de Hartman Schedel é citada porque foi lá que procurei, e encontrei, uma imagem contemporânea do Porto medieval. A ‘Crónica’ é considerada útil pelas imagens das cidades alemãs que reproduz. Quando procurei uma vista da cidade do Porto para o capítulo XVI consultei a ‘Crónica’, e dei com uma gravura que me pareceu ter a marca de alguém que esteve na cidade, ou a quem esta foi descrita.
O livro ‘Religioese Frauenbewegungen im Mittelalter’, ou seja sobre os movimentos religiosos femininos na Idade Média, que me foi indicado na Livraria Histórica Ultramarina pelo Dr. Berkmeier foi essencial para a compreensão do que se passava no século XIII em matéria de religião quando os monges foram expulsos de Lorvão e substituídos nesse grande mosteiro por monjas de Cister.
Os livros ‘As freiras de Lorvão e ‘o mosteiro de Lorvão’ de T. Lino d’Assunção deram o impulso a este livro. Quando iniciei este trabalho esses livros eram considerados fonte da história do mosteiro de Lorvão, e praticamente os únicos livros que tratavam dos mosteiros femininos. Pensei que as muitas mulheres que, por vocação ou obrigação, viveram as suas vidas nos mosteiros de Portugal, e muitas vezes aí se realizaram como administradoras, mestras de letras e canto, e em muitos outros ofícios, mereciam ser recordadas de outra forma do que com a superficial ligeireza que Lino d’Assunção considerou adequada ao tema.

BIBLIOGRAFIA
FONTES MANUSCRITAS
BIBLIOTECA NACIONAL DE LISBOA (BNL) Col. Pombalina
Visitações de D. Jorge de Ataíde. Bº de Viseu,
CHAGAS, Frei Hilário
Memória e Fundação dos Mosteiros das Religiosas da Ordem de São Bernardo neste Reyno de Portugal Códice Alcobaça 92
TORRE DO TOMBO (TT)
GAVETAS da Torre do Tombo
CARTAS MISSIVAS
EITURA NOVA. Lº 3, 6, 9, 11, 12 da Extremadura Lº 2 de Além Douro Lº 7 de Odianna
ARQUIVOS MONÁSTICOS
Mosteiro de Santa Maria de Arouca
Vols. 2, 4, 5, 7, 107, 135, 150, 161
Mosteiro de Santa Maria de Coz
Mosteiro de Jesus de Aveiro
Mosteiro de Jesus de Setúbal
Mosteiro de Santa Maria de Almoster,
Mosteiro de Santa Maria de Celas, Maços IV a Maço IX
Mosteiro de Santa Maria de Lorvão,
COLECÇÃO ESPECIAL, Lº 40, Maços 2 a 9. 
Lº 313 Privilégio e Prazos
Lº 359
Livro das Preladas
Colecção de maços de Doc. Avulsos
Mosteiro da Madre de Deus dm Lisboa
Fundação do mosteiro da Madre de Deus Livro Mss
Mosteiro de Odivelas
Mosteiro de Chelas
Convento de Santa Clara da Guarda
Vol. 3 Livro de Visitações
Convento de Santa Clara do Porto

FONTES IMPRESSAS,
INVENTÁRIO dos códices iluminados até 1500. Secretaria do Estado da Cultura,1994
LIVROS IMPRESSOS
ANDRADE, José Maria d’
Memórias do mosteiro de Cellas
Coimbra, Imprensa Académica, 1892
ASSUNÇÃO, T.Lino d’ , As Monjas de Lorvão
Os mosteiros de Lorvão e Santa Clara e o templo da Sé Velha
Coimbra, Tipografia do Seminário, 1893
BACKHOUSE, Janet
The Illuminated Manuscript
Phaydon, Oxford. 1979
BORGES DE FIGUEIREDO, A. C. O Mosteiro de Odivelas, Livraria Ferreira 1889
BRANCO, Manuel Bernardes
História das Ordens Monásticas em Portugal 3 vols. Lisboa, Livraria Editora de Cardoso & Irmão MDCCCXXXVIII
BRONSEVAL, Frère Claude
Peregrinatio Hispanica 1531-1533, 2 vol.
Paris, Presses Universitaires de France 1970
BUEHLER, Johannes 
Klosterleben im deutschen Mittelater
Insel Verkag, Leipzig, 1923
CASADO, Concha. CEA, António
El Monasterio de Santa Maria de Gradefes
Leon, editones Lancia
COCHERIL, P. Maur
Les Abbesses de Lorvão au xv. siècle
Louvain, 1960
COCHERIL, P. Maur
Recherches sur l’ordre de Citeaux au Portugal. Livraria Bertrand, 1960
- Études sur le monachisme en Espagne et au Portugal. Livraria Bertrand, Lisbonne. 1966
--Notes sur l’architecture et le décor dams les Abbayes cisterciennes du Portugal
Paris, Fundação Calouste Gulbenkian 1972
CONSTITUIÇÕES das Religiosas da Ordem dos Eremitas de São Agostinho….
Coimbra, no Real Collegio das Artes da Companhia de Jesus, anno 1734
CORREIA BORGES, Nelson
Mosteiro de Lorvão
EPARTUR Edições Portuguesas de Arte e Turismo  Ltd. Coimbra 1982
-- Doçaria conventual de Lorvão
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COULTON, G.G. Medieval Village, manor and monastery
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Harper’s &Row publisher
--Five Centuries of Religiom. Vol.V. The last days of Medieval Monasticism
Cambridge University Press 1950
-COUSIN, Patrice
Précis d’Histoire Monastique
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 Scribes and Iluminators
Edward Arnold. London
LABARGE, Margaret Wade
Women in Medieval Life
Hamish Hamilton, London
MATTOSOS, José Portugal Medieval. Notas Interpretações
Imprensa Nacional Casa da Moedas
-----O Ideal de Pobreza e as Ordens Monásticas em Portugal durante os séculos XI-XIII
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---Documentos beneditinos da Tore do Tombo
Lisboa /1970
NOBILIÁRIO de D Pedro conde de Barcelos, hijo del rey D. Dinis de Portugal
……En Roma. Por Estevan Paolino MDCXL
POWER, Eileen
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Cambridge University Press
Cambridge. New York. Port-Chester.Melborne.Sidney
--Medieval English Nunneries
REGRA DOGLORIOSO PATRIACHA S. BENTO, tirada de latim em linguagem Portuguesa por indústria do reuerendilsimo P. Fr. Thomas do Socorro Geral nesta congregação de Portugal, segunda ves impressa com todas as licenças necessárias. Impressa em Coimbra em casa de Nicolao carvalho impressor da Universidade no Anno de 1632. A custa da Congregação de S. Bento
SCHEDEL, Hartman Cronica Nuerembergensiss
Fac-simile
SITWELL, Sacheverell
Monks Nuns and Monasteries
Weidenfeld and Nicolso
20, New Bond Street,London. WI

Áudio livros
WHITEFIELD, Peter History of European Art, Naxos AudioBooks, 2012



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-CAPELLI, Ulrico Aoepli
Abreviaturi Latini ed italiane
Milano
LOPEZ E DE TORO, José
Abreviaturas Hispanicas
Madrid, 1957
OlIVEIRA MARQUES, A.H.
Guia do Estudante da História Medieval Portuguesa
Eduções Cosmos, Lisboa
VITERBO, frei Joaquim de Santa Rosa de
Elucidário das palavras, termos, e frases anticuadas da língia portugues
Em casa do Editor A.J.Fernabdes Lopes rua Áurea 132-34 Lisboa
MLCCCLXV




2 comentários:

Miguel 11 de julho de 2016 às 12:55  

El domingo pasado visité el monasterio de Lorvao. Hace tiempo que quería conocerlo. No sólo por los magníficos códices que allí se produjeron, sino por algunos de los avatares del Monasterio, especialmente la refundación por la reina Teresa de León, cuando regresó a Portugal tras la anulación de su matrimonio con el rey Alfonso y el acirrado conflicto entre Filipa de Eça y el rey de Portugal. La lectura de este trabajo, que me ha parecido muy interesante, me ha permitido disfrutar de la visita de otra manera. al fin y al cabo, turismo cultural con otra dimensión. Gracias por el esfuerzo y por la generosidad de compartirlo

Theresa Castello Branco 13 de julho de 2016 às 11:00  

Obrigada pela sua apreciação, Miguel.
Gosto de saber que o meu livro o ajudou na visita a Lorvão.
Quando decidi publicar o livro desta forma foi justamente na esperança que desse a conhecer um pouco melhor aquela curiosa instituição que é o mosteiro medieval feminino. Lorvão viu muitas mulheres notáveis, a começar pela rainha D. Teresa, e, mais tarde, a lutadora D. Filipa d’Eça. Uma e outra foram, no seu tempo, mulheres ‘modernas’.
Recados amigos.
Theresa M.


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