O PORTUGUÊS LE POUCO

>> terça-feira, 24 de maio de 2022

 Recentemente apareceu nos jornais o alerta: os portugueses liam pouco. Havia estatísticas que o provavam. Não tive que ir longe para fazer a minha própria estatística. Fiz a estatística familiar. A minha filha é filha única mas tem 37 primos direitos. Formam um grupo de 38 pessoas. Homens e mulheres instruídos, alguns formados, bem situados. Entre essas 38 pessoas há 6 leitores, ou seja, seis pessoas que compram livros e lêem. São dois os leitores do lado do meu marido e os restantes do meu lado. A única coisa que distingue os leitores dos não-leitores é que uns gostam de ler e os outros não. A leitura é uma questão de gosto. Como gostar de vinho ou não gostar. A minha mãe era grande entendida em gastronomia e não percebia que não se bebesse vinho à comida. O nosso pai não bebia, os meus dois irmãos não bebiam, eu não bebia. Ainda oiço a minha mãe olhar para quatro copos de água e murmurar desolada “não percebo, por mais que queira, não há nada a fazer, não percebo.” Ela não bebia por razão de saúde, nós podíamos acompanhar determinado prato com determinado vinho, e não bebíamos. A nossa mãe não percebia. Tal como nós, leitores, não percebemos os não-leitores. A minha mãe teria gostado de poder dissertar sobre vinhos. Não o fazia. Sabia que não nos interessava. Os jornais não falam de livros. As revistas não falam de livros. Porque não há quem leia sobre livros.

0 comentários:

Sobre este blogue

Libri.librorum pretende ser um blogue de leitura e de escrita, de leitores e escritores. Um blogue de temas literários, não de crítica literaria. De uma leitora e escritora

Lorem Ipsum

  © Blogger template Digi-digi by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP