E se eles nao gostarem de ler?

>> segunda-feira, 17 de novembro de 2008


11. E se eles não gostarem de ler?
No livro publicado em 1956 para comemorar o centenário do Punch*, a famosa revista humorística inglesa, vem um desenho no qual se vêem duas famílias amigas diante da televisão. Um pouco recuado, aconchegado num cadeirão, um rapazinho lê a “Ilha do Tesouro”. “Estamos muito preocupados com o William”, diz a mãe do pequeno leitor virada para a amiga. Com a aflição pintada na cara.


“We are rather worried about William”
Punch, 1954


Haverá sempre Williams a lerem a “Ilha do Tesouro” frente à televisão, e mães que não percebem que os filhos possam preferir a leitura à televisão. E haverá sempre outras mães que procurarão que os filhos leiam, quando eles preferem ver televisão. Aprenderão mais tarde ou mais cedo, aquelas mães, que de um não-leitor não se faz um leitor, e que um leitor nunca será um não-leitor.
O primeiro facto experimentaram-no séculos atrás uma avó e uma mãe, ambas grandes leitoras, quando constataram, consternadas, que o neto e filho não lia. “Não contes com as suas leituras, minha filha”, escreve a marquesa de Sévigné** a sua filha no dia 24 de Janeiro de 1689 “Confessou-nos ontem muito simplesmente que presentemente isso lhe é impossível. É a juventude que faz muito barulho, não consegue ouvir mais nada. O que nos aflige é que ele não tenha, pelo menos, vontade de ler. Se fosse o tempo que lhe faltasse, mas é a vontade .... Temos de ter um pouco de paciência e não nos afligir. Seria perfeito demais se gostasse de ler.”
Não desistiram, a mãe e a avó. Meses depois, o jovem marquês, já coronel – é verdade que os cargos militares se compravam – estava aquartelado numa sensaborona terreola fronteiriça.
A avó sugeria-lhe a leitura. Deu conta dos seus esforços à mãe do rapaz: “Digo-lhe que, de momento que ele gosta da guerra, que é monstruoso que não tenha vontade de ler os livros que falam dela e conhecer os homens que foram excelentes nessa arte. Ralho com ele, atormento-o, espero que consigamos mudá-lo.” Não o conseguiriam, avó e mãe.. De um não-leitor não se faz um leitor.
Outra avó, esta dos nossos dias, tem o mesmo problema. Nicole de Buron***, divertida autora francesa, confessa o seu desgosto por o neto não ler. “Matias não gosta de ler”. Experimentou tudo, abrir uma conta no livreiro perto da casa dele, levá-lo à FNAC comprar luxuosos albumes de desporto que ele adora, assinar-lhe revistas “Mickey, Picsou, Chouchou, etc.” Nada feito. O rapaz não lê.
*A Century of Punch. William Heinemann Ltd, 1956
**Madame de Sévigné, Lettres. Bibliothèque de la Plêiade
*ª*Nicole de Buron, Chéri tu m´écoutes? Plon

Observações à margem
Há o contrario. É o caso de Anna Pelizzari, pequena leitora de oito anos, a quem não há livros que cheguem. Agora aproveita os livros que a minha filha lia em pequena, e a mãe escreve-me a esse respeito: ”Tem de me dizer quando é que ela pode ir devolver os livros dos 5 e, se possível, trocar por mais alguns da série. De facto, para mim continua a ser um problema arranjar-lhe leituras em numero suficiente, pois lê livros à razão de um livro em dois ou três dias. Além do mais há coleçoes de que não gosta e critica vivamente, como seja o caso dos livros "Uma aventura", que por alguma razão a aborrecem imenso”.
Anna parece-se com William.

3 comentários:

Unknown 17 de novembro de 2008 às 21:23  

Há outras formas de incentivar a leitura: um casal meu amigo tinha um filho de 9 anos que não lia. Os pais pensaram e pensaram o que fazer. Então, deram-se conta de uma coisa importante, que eles próprios há muito não tinham tempo para ler. Os dois a trabalhar, com três filhos pequenos e com a família longe, o tempo que sobrava não era nenhum. Assim, foram à livraria e compraram um livro bem grosso para eles próprios e nos dias seguintes leram-no sempre como quem não quer a coisa à frente do filho. Depois compraram um mais fino e deram-no ao filho, que o leu! :-)

Anónimo 17 de novembro de 2008 às 21:33  

Como menina leitora, quero dizer o que penso sobre os livros: há muitas colecções mas eu tenho uma em especial preferida: " Os cinco". Como já não vendem essa colecção cá em Portugal, a minha amiga escritora Teresa Schedel empresta-me esses livros que eu leio e devolvo, para trocá-los novamente. Há uma colecção que eu não gosto. " Uma aventura". Acho-a muito banal, sem quase ideias, sempre com palavras que nunca percebi muito bem (já fui ao dicionário, mas continuo sem perceber). Nuca é uma delas. Sei que é sinónimo de cabeça, mas quase nunca a oiço e parece ter um som fraquinho, que eu não aprecio.

Anónimo 18 de novembro de 2008 às 19:10  

Finalmente consegui aceder ao seu blog! Adorei e admiro a juventude inerente à sua adesão às novas tecnologias! Vou comentando e darei a conhecer o blog ao Clube de Leitura

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Libri.librorum pretende ser um blogue de leitura e de escrita, de leitores e escritores. Um blogue de temas literários, não de crítica literaria. De uma leitora e escritora

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