“Pensalhar”

>> terça-feira, 22 de junho de 2010

Foi Mia Couto quem criou a palavra. Diz ele que, pare ele, a melhor forma de passar uma viagem de avião, é a pensar. E a esse pensar chama ele ‘pensalhar’. Há pouco publicou um livro com alguns desses pensamentos, dessas pensalheiras. Estou profundamente agradecida a Mia Couto por esta sua criação. Adopto-a com entusiasmo. O meu computador não conhece a palavra, protesta. Não faço caso. Há muito que eu procuro a palavra que exprimisse uma das formas daquilo que eu gosto de fazer: pensar. Distinguindo porém entre diferentes formas de pensar. A uma delas, vaga, solta, saltitante, sem objectivo, era-me até agora difícil de definir. Foi-me perguntado mais do que uma vez, o que estava eu para ali a fazer, quieta, calada, olhando em frente. Não me sentia bem? Tentava explicar que estava bem, que estava só a pensar. Apressava-me a acrescentar, que não era em coisa profunda, era só a pensar. Ainda não tinha a palavra certa. Agora já posso responder: “estou a pensalhar”. Pensalhar pode ser assim: “Que azul tão escuro tem hoje o mar. Até mete medo. Um dia vem por aí a dentro e engole-nos. Se calhar vai ser pelo mar que o mundo um dia será tragado. Não o mundo. A terra. E a lua? Também desaparece? Ou será ela que nos faz desaparecer? Quando será a lua cheia? Há pessoas, que se sentem deprimidas em dias de lua cheia. Disparate. Ou talvez não. Depressão não é brincadeira. Dizem.” E por aí fora, mais ou menos assim.
Eu gosto de pensalhar. Gosto de estar calada, quieta, alinhando em mente impressões, ideias, palavras. Agora sei o que isso é. É uma pensalheira. Obrigada, Mia Couto.

1 comentários:

Plural 7 26 de junho de 2010 às 08:55  

Cara senhora,
Este não é propriamente um comentário, mas uma resposta a um comentário que fez, faz largos meses, ao Prémio Leya, no site da Ler.
Não sei se entretanto teve respostas para as justíssimas perguntas que levantava. Olhe, eu nunca tive... e não digo mais para não ser indelicado em relação a este grupo. Pedia-lhe o favor de consultar o meu blog, http://quintoimperiodomundo.blogspot.com/, que iniciei por carta aberta à Leya.
Quanto ao romance, felizmente está cá, acabadinho de sair, passado este clavário da falta de palavra. Como deve imaginar, não conheço ninguém português que tenha participado neste concurso, a senhora será, penso eu, um dos concorrentes que passou pelas mesmas incertezas que eu passei. Gostaria desde já de contar com a sua prsença e solidariedade no lançamento deste romance, que será em Lisboa no dia 17 de Julho em local ainda a anunciar.
Teria todo gosto em que me contactasse, junto o meu e-mail carlos_maduro@hotmail.com

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