Livro de autor

>> segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A expressão tem algo de desprestigiante. Subentende-se que o autor não encontrou editor para o seu livro. O que em geral era o caso. O editor enganava-se por vezes e deixava escapar uma obra prima. Mas não se contam muitos casos desses. A edição de um livro era trabalhosa e cara. O autor entregava um manuscrito que tinha de ser emendado e recopiado mais de uma vez, o editor não era altruísta, escolhia o que lhe parecia ter qualidade. Ter qualidade e ser vendável.
As coisas mudaram. Agora o que vende não é a qualidade. É o nome do autor. E a edição do seu livro, bom ou mau, é pouco dispendiosa. O texto vem num disco, é só preciso escolher capa adequada e a coisa está feita. Se o livro vender bem, fazem-se mais cópias, se não vender, não se fazem. A grande maioria dos livros que todos os anos se editam em Portugal são livros que em outros tempos não seriam aceites por um editor. São” livros de autor” com a chancela de uma editora. Assim sendo, por que não editar o nosso livro sem passar por um editor? Preparo-me para o fazer. Vou publicar dessa forma a correspondência da minha bisavó e das suas quatro filhas, desde 1834 a 1910. Entrego o texto a uma firma que se encarrega desse tipo de edição, aviso os membros da família, que o livro ali está e como o podem adquirir. Pronto. Há anos a publicação de livro de autor seria de tal maneira dispendioso, que se tornaria impossível. Agora é possível e vou aproveitar.
Livros de cartas familiares são olhados com desconfiança pelos editores. Quando eu mostrei uma amostra do livro ao meu editor , disseram que tinha poucos nomes conhecidos. Ora o índice onomástico tem mais de 400 nomes: de políticos de todas as cores, de réus, rainhas e príncipes em abundância, de senhoras bem comportadas e mal comportadas, de homens de nomes históricos e menos históricos, não faltam com certeza nomes “conhecidos”. Foi uma desculpa para explicar a rejeição. Que do seu ponto de vista é compreensível. Em França, por exemplo, um livro como este teria muita aceitação, entre o público leitor português não tem, e uma editora edita para o seu público. Vou por isso publicar um “livro de autora”.

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