Personagens ficricias

>> segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Todos que somos leitores temos os nossos “conhecidos”literários. Personagens de livros que lemos e que ficaram para sempre na nossa memória. Há personagens literárias que são universais, há outras, também da ficção, mas menos conhecidos, das quais talvez só nós nos lembramos e finalmente há aquelas figuras fictícias que são particularmente nossas, porque são fruto da nossa imaginação, porque fomos nós que as criámos.
Que a criação seja de grande ou pequeno autor, o que espanta e espantará sempre é a faculdade da imaginação humana de criar figuras imaginárias credíveis.
Cada escritor terá a sua forma de fazer nascer as figuras que vão povoar a sua narrativa. Não sei qual é a maneira dos grandes escritores, só sei falar da minha própria experiência. Direi que as figuras não nascem todas da mesma forma. Na maioria dos casos, ao contraário do que muita gente pensa, as figuras que criamos, não são cópias de pessoas nossas conhecidas, ou inspiradas nelas. Involuntariamente é que sucede que uma figura fictícia se vá transformando numa figura real. Sucedeu-me com a Antónia de “A Morte de uma Senhora”, que foi gradualmente tomando atitudes e maneiras que eram de facto as de uma pessoa muito minha conhecida. Ao ponto de ter sido acusada de a ter copiado.
Em outro caso eu própria realizei que determinadas figuras fictícias se pareciam com pessoas reais. Nunca no seu aspecto físico, mas nas suas características morais ou intelectuais. Assim a monja dona Bernarda de Lima de “O Mosteiro e a Coroa” podia ter sido copiada da pessoa de uma prima da minha mãe. Não houve cópia, mas quem sabe se não foi o conhecimento que eu tinha dessa religiosa dos nossos dias que serviu de modelo á monja medieval. Uma como outra aliando a inteligência e a religiosidade a um orgulho de origens muito pouco religioso.
É verdade que me sucedeu “copiar” uma pessoa conhecida, mas raras vezes, e sempre com o cuidado de a tornar irreconhecível. Foram brincadeiras pessoais, e, confesso, um pouco maldosas. Que me divertiram e não fizeram mal a ninguém. Este ou aquele pensava que ninguém sabia que ele fizera isto ou aquilo, que ele era assim ou assado, pois eu sabia, tinha a omnipotência de “conhecer” o que estava por detrás da fachada e de o transpor para aquela figura. Não usei muitas vezes esse feio, mas divertido processo e foi sempre em figuras secundárias. De resto parece-me que as figuras imaginárias mais verdadeiras são aquelas que nos saiem espontaneamente, que de repente, porque a história precia delas, aparecem em cena vestidas e calçadas, com nome adequado e tudo. É gente com vida e, em geral, simpática.
Creio que todos os autores litererários, sejam grnades ou pequenos, têm entre as personagens que criaram as suas preferidas, das quais recordam os nomes e as maneiras. E creio também que todos nós que escrevemos ficção temos a consciência que isto de criar pessoas imaginadas que parecem verdadeiras, é um privilégio.
Olga, Ena, Beto, Lúcia Breça de Mirando, tio Flávio, dona Bernarda de Lima, dona Eufémia. Fui eu quem vos criei e gosto de todos.
Observações à marhgem

Há agora anexas ao Pão de Açúcar umas pequenas lojas nas quais se vendem produtos alimentares escolhidos, de qualidade. Chamam-se “gourmet”. Há dias fui a uma dessas lojas comprar paté de foie gras oara presente, A vendedora lembrou que ficava muito bem uma colhersinha de confit d’oignon com o foie gras. Depois lembrou-me que no ano passado eu comprara consomé em lata. Era verdade, agradeci a lembrança. Saí dali a pensar que, de momento que as livrarias se tinham transformado em supermercados, ou mercearias de livros – deixa ver a minha lista: 2 bestseller, um gordo e um meio gordo, 1 biografia de rei, rainha ou futebolista, magra, 1 embalagem pequena de poesia – que seria bom que ao lado dessas mercearias livrescas houvesse umas livrarias ‘gourmet’ com produtos literários escolhidos e de qualidade, e com vendedoras conhecedoras da matéria, e lembradas dos gostos dos seus clientes. Foi coisa que já existiu, acredite-se ou não.

2 comentários:

Anónimo 24 de dezembro de 2009 às 12:30  

Bom dia, Thereza.Ainda existe, pelo menos, uma - A excelente "Ferin". Um bom Natal, e obrigado pelos seus textos.
G. da Cunha

theresa Castello Branco 27 de dezembro de 2009 às 11:16  

Bom dia, Gonçalo. Tem razão. Eu devia ter acrescentado à frase “e houve disso, acreditem” essa grande verdade, que ainda há pelo menos uma livraria nesses moldes: a Ferin.
A melhor coisa que podem dizer a quem escreve é “obrigado pelos seus textos”. Foi um óptimo presente de Natal que me deu com essas palavras. Bom Ano. Theresa

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