E a escrita?

>> segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tenho escrito sobre livros e leituras, vou escrever sobre escrita, e, porque não, vou começar peia minha própria escrita.
No livro “ A Fé do Escritor” de Joice Carol Oates, que li recentemente, a autora escreve sobre os problemas que o escritor enfrenta na produção da sua obra, e cheguei à conclusão que os problemas do “grande escritor” e os do “outro” não diferem grandement. Há contudo uma diferença que, essa sim, é significativa, que é a atitude critica do “grande autor”face à sua obra. As duvidas que o atormentam, podem levar o grande autor a querer destruir a sua obra por não a achar digna da sua escrita. Atrevo-me a dizer que desse sofrimento nos livramos nós “os outros”. Nós, os habitantes daquela grande, daquela gigantesca, camada de escritores, que escrevem razoavelmente bem, ou mal, mas com grande sucesso, ou simplesmente mal, nós, que não aspiramos a grandeza, não temos esse sofrimento. Mas em todos os outros problemas da escrita, não nos distinguimos muito dos grandes. Podemos portanto falar dos nossos problemas tão bem como eles. Que é o que me proponho fazer.
A ideia nasceu da pergunta que me fizeram há tempos, a saber o que a minha filha achara do tema do livro que eu acabara de publicar.
--Mas ela ainda não o leu, respondi.
--E não a consultou antes?
Tem graça, pensei, nunca tinha pensado nisso, que talvez fosse natural debater um livro antes de o começar ou emquanto o estamos escrevendo. A escrita é uma acção solitária, e, no meu caso, é uma acção secreta. Não falo sobre o que escrevo. Imagino o que vou escrever, penso no que estou escrevendo e no que acabei de escrever, mas faço-o para mim. Não me passa pela cabeça comentá-lo seja com quem for. Isto quando se trata de ficção, com livros de história a coisa é um pouco diferente.
Ao meu primeiro livro, uma biografia histórica de grande fôlego, talvez por se tratar de uma estreia, fui comentando a escrita com o meu marido e a minha mãe. Comentando. Só isso. Não para lhes pedir conselho ou opinião. Pedi conselhos sobre questões praticas de publicação etc, mas sobre escrita, sobre a melhor forma de pegar no caso, e tratava-se, repito, de uma estreia, e não de um trabalho simples, não me aconselhei. Só agora realizo que é curioso, e não o sei explicar. Talvez houvesse ali uma ponta de auto confiança, quem sabe se desconfiança quanto ao saber dos outros, talvez orgulho, querer tudo para mim, talvez falta de humildade. Não sei. Foi assim.
Quando me meti a preparar um livro sobre a vida monástica feminina em Portugal durante a Idade Média, comentava com o meu marido a documentação que ia estudando. Nem podia deixar de ser tão fascinantes eram as descobertas que ia fazendo, mas isso não queria dizer que pedisse conselho sobre a forma a dar ao livro.
No caso do meu primeiro livro sobre os Painéis de São Vicente de Fora, discuti os seus diferentes problemas com um amigo que partilhava as minhas ideias básicas sobre o assunto. Mas também nesse caso não se tratou de pedir conselhos. Tratou-se unicamente de esclarecer as ideias com alguém, que as podia seguir.
Com livros de ficção é que não concebo a possibilidade desse arejar de idieias.
Ficção é qualquer coisa, que ideamos para nós, unicamente para nós. Que vamos seguindo, que vamos construindo na nossa cabeça. É uma narrativa que para nós já existe, mas de que ainda ignoramos como se vai desenvolver e como vai terminar. Pode até não terminar, ficar pelo meio, esperar uns meses, uns anos. Como o poderíamos comentar, se ainda não o conhecemos? Não sei se isso se passa com todos os autores de ficção, sejam eles grandes ou pequenos. No meu caso é isso que se dá. Quando mandei à minha filha um exemplar do livro em questão, ela sabia que era um romance histótico e tinha uma vaga ideia da época em que se passava, o mais que conhecia dele, era o nome da autora.

2 comentários:

Anónimo 9 de dezembro de 2009 às 13:36  

Tia Teresa, olá, teve imensa graça esta sua crónica pois eu estava absolutamente certa que a 1a a ler os eu livro antes mesmo de o editar era a Isabel, para mim isto era claro, mas agora percebo as suas explicações e concordo absolutamente.
Aproveito para dizer que estou a gostar imenso do seu novo livro.
Um beijinho, Sofia

Theresa Castello Branco 9 de dezembro de 2009 às 23:06  

Olá Sofia, como escrevi eu não mostro os meus liros antes de os publicar, mas só agora realizei que é coisa estranha, conforme coi analizando os meus processos de escrita como estou a fazer, descubro verdadeiras curiosidades. E divere-me encontra-las. Ainda bem que está a gostar do livro e obrigasa pelo comentário. tia Theresa

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