Ler ou nao ler. Eis a questao

>> segunda-feira, 6 de abril de 2009


32. Ler ou não ler. Eis a questão
Há livros que não consegue ler?
Clifton Fadiman, que foi um conhecido crítico literário americano, confessava no seu Reading I've Liked, que havia livros – estava falando de ficção - universalmente reconhecidos como grandes, que ele durante anos tentara ler sem o conseguir. Nomeava à cabeça ‘Os Irmãos Karamazov’ de Dostoievsky. Tentara-o pelo menos dez vezes, escreve ele, e acabara sempre por desistir. Até que um dia tentou de novo e conseguiu. Leu e gostou.
Ainda estou à espera desse momento, ainda não fui capaz de ler os Irmãos Karamazov. Nem o Dom Quixote. Em um e outro pego de vez em quando, leio um parágrafo aqui, um parágrafo ali. A apresentação do pai Karamazov no primeiro parágrafo do livro é uma maravilha de exposição de carácter. Mas fico por ali. No Dom Quixote, se o abro numa reflexão do Sancho Pança, penso que deve haver em mim uma falha por não conseguir ler aquilo do princípio ao fim. Como é o caso. Há livros assim, reconhecidamente grandes, que fazem as delícias de alguns leitores e são ilegíveis para outros.
Também entram na categoria dos livros que não consigo ler, algumas das grandes obras de ficção da actualidade. Não me tentam os livros obscuros. Obscuros, não confundir com difíceis. Foi um género literário que nasceu em fins do séc. XIX como reacção aos livros realistas, e que, sob uma ou outra forma, periodicamente renasce.
Emile Faguet, dedica no seu ‘Art de Lire”, escrito em 1913, um capítulo aos autores obscuros do seu tempo. Tinham amadores entusiastas, escreve ele, naqueles para quem o livro não se devia revelar de imediato, que gostavam de procurar o pensamento que se escondia detrás das palavras e frases incompreensíveis ao leitor comum. Mas que eles compreendiam.
“Assim se formam em torno de certos autores umas elites que lhe agradecem ele ser impenetrável”. Há nelas, diz Faguet, aqueles que não compreendem, que sabem que não compreendem, e que fingem compreender e admirar. Há os que compreendem realmente qualquer coisa, pouco, mas alguma coisa. E, enfim, há os outros, os verdadeiros devotos do culto, que só sabem admirar o que não compreendem.
--Devemos nós ler esses autores difíceis, dos quais sabemos que de entrada nada compreenderemos?--pergunta o potencial leitor. --Sem dúvida,-- responde Faguet. --O exercício pode ser cansativo, mas é são e útil. É a tradução de uma linguagem cifrada. Há que encontrar a cifra. Não se pode passar a vida a procurar cifra e a decifrar, mas de vez em quando a coisa não é nem sem proveito, nem sem prazer.-- Faguet dixit. Não me convenceu.

Há livros que já não consegue ler?
Há ainda aqueles livros, que um dia lemos com gosto, até com entusiasmo, e que, anos passados, não nos dizem nada, ou antes, dizem que não os queremos ler de novo. No meu caso, de Aldous Huxley, Point Counter Point, nem vê-lo. De Steinbeck, só conseguiria talvez ler Tortilla Flat, e, a esse, sem duvida, o seu encantador livro de viagem pela América com o cão. Creio que os livros que menos resistem ao passar dos anos são aqueles que foram escritos com um fim, ou num clima de intenso debate ideológico, e ainda os muito intelectuais, Point Counter Point é um exemplo disso. O curioso é que não os deitamos fora. Já não gostamos deles, temos a absoluta certeza que não os vamos reler, irrita olhar para eles e pensar no espaço que estão a ocupar, mas eles ali ficam. Desafiam-nos a deitá-los fora. Sabem que não o faremos. Talvez os ponhamos na segunda fila da prateleira. A mais não nos atrevemos, e eles sabem-no.

Relê livros?
Abel Barros Baptista escreve em A Infelicidade da Bibliografia, que o poeta João Cabral de Melo, sempre que viajava, oferecia os seus livros a escolas e bibliotecas, e que Jorge de Lima era da opinião que os livros eram para ser lidos e passados adiante. Concordo com o autor do artigo, quando ele pergunta: "Quem lê pelo prazer de ler, quem relê os clássicos não há-de gostar de conservar os livros que leu e releu?" Eu vou mais longe. Não só os clássicos. Como é possível desfazermo-nos de livros nada clássicos, mas que nos deram prazer, que esperamos um dia tornar a reler e que queremos ali nas nossas estantes à nossa espera? No meu caso, há muitos que nem esperam por muito tempo.
Há livros que releio quase todos os anos. Alguns conforme as estações, é uma questão de atmosfera. Dias de chuva, dias tristes? Maigret. Não passa um inverno sem reler os livros do comissário Maigret. Prelúdios de bom tempo, saudades do calor? A Ilustre Casa de Ramires, o calor de Oliveira, as janelas fechadas da grande casa do Barrolo e as sangrias frescas que um criado trazia.
A outros livros releio porque, porque, não sei explicar porquê. Porque aprecio não só o texto como a prosa. É o caso de “L’histoire des Girondiens” de Lamartine. Já não volto provavelmente a fazê-lo, mas li os seus oito volumes pelo menos três vezes. Pela incomparável prosa, não pela correcção histórica que é duvidosa. Releio quase todos os anos o "Primeiro Círculo" de Solyenitzine. Tantos outros, obras boas demais para serem lidas só uma vez.
E a melhor re-leitura é, para mim, aquela que faço de um livro que acabei de ler, que li demasiado depressa, do qual não apanhei todas as subtilezas, ou do qual, porventura, não compreendi certos pormenores. Relê-lo então, com vagar, é a melhor das re-leituras.
Clifton Fadiman, que já citei, não punha a questão se relia ou não. Questionava-se sobre o género de livros que relia: "Estou há tempos procurando determinar que tipo de livros eu releio com prazer. Todos nós sabemos que, infelizmente, uma personagem atractiva tem muita vez pouco a ver com as qualidades morais e até físicas dessa pessoa. É muito possível gostarmos imenso dum homem que ignora a sua mãe. Até a mãe gosta dele. E da mesma forma, aquilo que eu chamo a qualidade mágica - aquela qualidade que faz com que eu o queira e possa reler - não está necessariamente dependente da importância do livro, do seu peso intelectual."
Exactamente. Se assim fosse, se a ‘qualidade mágica’ dependesse da importância ou do peso intelectual do livro, relia eu, como faço, os livros de Lucy e Mapp?* A minha filha não percebe. Temos gostos diferentes. Eu delicio-me com a luta de Lucy e Mapp pela supremacia social numa vilória inglesa. E se dependese do peso intelectual, relia eu livros que em seu tempo se escreviam para raparigas e até alguns livros para criança? Relia eu os livros de Marlitt e de Ottilie Wildermuth, autoras alemãs do século XIX, nenhuma delas citadas em livros sobre grande literatura alemã? Que me encantam e sossegam o espírito com as suas histórias calmas, vividas em pequenas cidades, nas florestas da Turingia, nos vales da Suábia. E se me perguntassem por um livro de qualidade mágica, não hesitava em citar um dos livros de Ottilie Wildermuth
* E.F. Benson Lucia Victrix

Observações à margem
É assim que se fortalece a memória dos idosos?
Há agora o propósito de ajudar as pessoas de idade a fortalecerrem a memória. Creio que usando cartões com perguntas adequadas, sugerindo palavras cruzadas e outros jogos mentais. Em princípio parece-me um bom projecto. O que não se pode admitir é que uma estação de televisão tivesse ilustrado esse projecto com uma reportagem como aquela que há pouco passou em uma das nossas estações. Via-se a sala de um lar de idosos, nessa sala uma fila de quatro mulheres sentadas lado a lado num sofá, enquanto uma repórter invisível nos informava a nós ouvintes, do que se tratava. Tratava-se de ensinar àquelas mulheres velhas como melhorar a sua memoria. E fazia perguntas para provar que elas estavam precisadas de lições. --Lembra-se disto? --Sabe fazer isto? --E aquilo? Depois viu-se uma futura instrutora que, com ar severo, sem um mínimo de simpatia na voz e no olhar, leu alguns dos exercícios que se propunha fazer para avivar as memorias das suas ouvintes. Que eram focadas em cheio enquanto a senhora perorava. Indignada, ia desligar, mas ainda fui a tempo de ver a única coisa que naquela vergonhosa exposição me deu um rasgo de alegria. É que, sentado ao lado do sofá, estava um homem a ler o jornal. A dada altura a repórter dirigiu-se-lhe a ele, perguntando, naquele tom de voz a que essas reporters nos habituaram, que parece um latido, se ele se lembrava não sei de quê. O homem levantou calmamente a cabeça, olhou a menina repórter com ar malicioso e informou-a em voz clara e pausada, que a sua memória nunca estivera tão boa. –Bravo. Apeteceu-me bater palmas
Aquilo passou-se num lar de idosos. Agora pergunto: quem autorizou a entrada ali da estação de Televisão? Esse lar, onde esses idosos vivem, onde pagam para viver, não é a sua casa? É. E foram eles porventura questionados sobre se queriam ou não a visita de uma estação de televisão em sua casa? E para quê essa visita era? Às mulheres não pediram decerto autorização para as arrumarem para o espectáculo e as bombardearem de perguntas. Quatro mulheres de idade, ali sentadinhas num sofá, com as luzes em plena cara, para se ver bem que velhas eram, e como estavam precisadas de serem leccionadas. Meu Deus, que vergonha. Não para elas, para a estação de televisão. E para quem o permitiu e permite.
E mais uma pergunta. Em quantos dos muitos lares de idosos que há em Portugal, há uma biblioteca? Pequena, que seja. Uma estante com livros. Com livros de boa letra, alguns ilustrados, de geografia, da vida dos animais, de botânica, alguns bons romances, livros que possam entreter, avivar a curiosidade para mais leituras. Quantos? Entre tantas estatísticas que por aí se fazem, com tanto, e tão altamente declarado interesse pela leitura, decerto que já se estabeleceu quantos os lares de idosos que dispoem de uma pequena biblioteca, e quantos de uma estante de livros. Era bom que nos comunicassem os resultados a que chegaram para não fazermos falsos juizos.

16 comentários:

Daniel Abrunheiro 6 de abril de 2009 às 19:22  

Texto admirável, T., sobre livros, leituras e releituras. Também faço as minhas. Maigret também, claro, se chove. Steinbeck: as viagens com o cão Charley, lembradas, não me impediram ainda de prometer a mim mesmo uma releitura, adulta agora, de O Inverno do Nosso Descontentamento.
O Dostoievsky é autor Autor. Não tenho dúvida pessoal. Mas há outras vozes que foram (me vieram, digo) entrando e ficando. Cervantes é uma delas: irmão maior de Proust e de Joyce, esses "obscuros". Beckett, claro, que trabalhou a ilusória simplificação, como Pinter e Greene.
Tanta gente de papel - que nos dá, afinal, um papel principal na solidão ledora. Não é assim, T.?

Theresa Castello Branco 6 de abril de 2009 às 23:38  

É bom conversar com alguém que sabe o que é releitura, o que é gostar e já não gostar de certo livro, o que é gostar de livros por uma qualquer qualidade só a nós compreensível. O “já não gostar” é-me difícil de explicar. O “gostar, apesar de” também não se explica, é uma escolha pessoal, com razões só entendidas pelo próprio. No meu caso, esses livros do meu contentamento, têm uma coisa em comum, têm “qualidade”. Mesmo os mais insignificantes. Lucy Victrix na sua ligeireza tem qualidade, a autora alemã que citei e hoje ninguém lê, tem qualidade, os livros de criança que releio são livros forçosamente simples, mas têm qualidade. Não são obras primas, não são o Maigret e o Eça, mas à sua maneira são bem escritos. Todas estas subtilezas só um leitor percebe. Quando comecei este ‘bloguear’ escrevi sobre esta extranha coisa que é: haver o leitor e o não-leitor. Eu sou uma questionadora por excelência, mas nunca me questionei sobre o porquê de haver uns e outros. É assim. Eu pertenço à família dos leitores, o Daniel também. É assim. E ainda bem. Theresa

Daniel Abrunheiro 7 de abril de 2009 às 08:31  

É mesmo assim. Claro que os livros ficam o que eram: nós mudámos, o tempo levou-nos a outro corpo (o nosso, que somos em mudança): e a outro modo de ler. Não sei quem disse esta coisa preciosa e perturbador: "O melhor livro é o que nos lê a nós." Eu teria os meus dez, onze anos quando li "O Circo Galiano", de Enid Blyton, a mesma de Os Cinco. Ainda hoje sei coisas dessa história - agravadas benignamente pelo facto de as recordar. Ilusoriamente, de as recordar com, outra vez, dez, onze anos. Eu sei que a T. entende.

Theresa Castello Branco 7 de abril de 2009 às 22:50  

Os Cinco foram do tempo da minha filha, eu tive outras autoras e outros autores, e muitos dos seus livros estão ainda entre as minhas re-leituras. Tenho pena das crianças que não conheceram a felicidade de ler ccom uma lâmpada de algibeira, até altas horas da noite e adormecer em cima do livro. Uns já então eram não-leitores, os outros já então leitores. E nesse caminho ficam. Os leitores surpreendendo-se com as escolhas que vão fazendo, com os novos gostos que a idade lhes traz, livros que em ‘jovem’ não saberiam apreciar, e talvez nem entender. A leitura é uma dos grandes mistérios, e estou a achar contentamento nesta maneira que encontrei de repensar o que a leitura tem sido para mim. Quando outros me acompanham, sinto uma enorme satisfação. Boa noite, Daniel

Teresa 8 de abril de 2009 às 11:13  
Este comentário foi removido pelo autor.
Teresa 8 de abril de 2009 às 11:15  

Olá, Teresa
Bem a propósito de releituras, está editado no meu sítio o texto sobre o «Na Rota da Pimenta».
Beijo grande.
Teresa Sá Couto

Theresa Castello Branco 8 de abril de 2009 às 23:04  

Obrigada Teresa. Escrevo em comentário ao seu post o que a reedição da sua crítica significa para mim. Um abraço. Theresa

J 9 de abril de 2009 às 19:26  

Ler, claro! Magnífico texto. Obrigado por este pequeno prazer. Também tenho a mesma dificuldade com o D. Quixote. Tenho vários em casa, até comprei a versão do Aquilino para ver se era desta, às vezes chego-me a ele, às vezes faço-lhe cócegas, mas ainda não me resolvi a encarar a criatura do princípio ao fim...
Não tenho é tempo para releituras. Que é algo que muito lamento e que guardo, ao lado do Quixote, para dias com mais tempo. Talvez não se enquadre no seu universo de leituras ou referências, ou mesmo no âmbito deste seu post, mas por vezes releio banda desenhada, formato que me ensinou a ler coisas mais sérias e a que volto com prazer de vez em quando. Do Asterix ao Corto Maltese. Mas as releituras mais substantivas, essas, ficam para outras disponibilidades. Gostava de reler o Kafka, por exemplo, sobretudo o Processo. Mas quando penso na quantidade de coisas novas, sobretudo das antigas, que me falta ler... enfim, é um dilema!

Ruy 9 de abril de 2009 às 19:54  

OS LIVROS SÃO JANELAS



" VI UM LIVRO NO LIXO E ARREPIEI-ME PENSANDO QUE HÁ LIVROS QUE NASCEM MORTOS.

PODE-SE VIVER SEM LER ? QUEM NÃO LÊ NÃO ENTRA NO RIO DA HISTÓRIA E QUEM LÊ É COMO O MAR ONDE DESAGUAM MUITOS RIOS.

COMPRAR UM LIVRO É SEMPRE COMO A PRIMEIRA VEZ, COMO QUEM MARCA UM ENCONTRO PARA RECEBER UMA CONFIDENCIA.

UMA CASA SEM LIVROS ESTÁ DESABITADA, É UMA PENSÃO........OS LIVROS SÃO JANELAS. HOJE VOU ABRIR UMA DELAS "


Como lhe tinha dito, considero-me um " não leitor ". Apenas costumo ler, raras vezes, livros sobre filosofia, teologia e reflexões.

Hoje quando estava na net procurando um livro do Vasco Pinto de Magalhães, vi esta reflexão escrita por ele. Achei piada e por isso decidi enviar-lhe

porque lembrei-me da conversa que tivémos recentemente, sobre os que lêem e os que não lêem.


Um beijo do sobrinho

Ruy

Theresa Castello Branco 9 de abril de 2009 às 23:27  

Boa noite J. Cá estamos de novo a conversar. Parece-me que a releitura também é uma questão de gosto, que uns o têm e outros não. O meu genro, italiano, grande leitor, é incapaz de reler um livro. Mas parece-me que na maioria dos casos, quando dizemos “livro” estamos a pensar em ficção. Porque os livros de pensamento relêem-se, nem que seja aos poucos. Só que não se fala nisso. A banda desenhada não faltou cá em casa, entusiasmou e ainda entusiasma a minha filha, mas não me atraiu a mim. Declarei um dia que não me falassem no valor das bandas desenhadas e desde aí nunca procurei “experimentar”. É um pecado de que me confesso, e não tem sucedido só com a banda desenhada. Às vezes basta que me recomendem um livro para eu não o ler. Incrível, nem o sei explicar. Quero chegar ao livro por mim, sem intervenção. Assim como em história consulto a bibliografia necessária, mas não leio livros de opinião sobre o que penso escrever. Veja lá como esta atmosfera de conversa entre leitores nos leva a confissões. Mas é uma atmosfera muito agradável, e, com espanto meu, muito enriquecedora. Theresa

Theresa Castello Branco 9 de abril de 2009 às 23:43  

Ruy, que surpresa. Ou talvez não. Tia e sobrinho há tantos anos, ultrapassámos só agora a conversa familiar.
Como eu digo a J., quando se fala em ler ou não ler, está-se em geral a pensar em romances. Mas ler não é só ler o ultimo best seller, e como agora se dá o caso de nos vermos mais vezes ainda vamos poder falar da sua leitura. Já se vê que é leitor. Obrigada pela reflexão de Vasco Pinto de Magalhães. Vai ter que me dizer mais desse meu desconhecido. Um beijo. Tia Theresa

J 10 de abril de 2009 às 03:27  

Eheh... A Theresa, neófita, ainda não chegou bem à fase dos "perigos" de que lhe falava pessoa sua conhecida a propósito dos blogues. Se é certo que a blogosfera, e a internet em geral, tende a agregar gente comos mesmos interesses e sensibilidades, propicia dinâmicas de comunidade, também é certo que anda para ai muito troll, versão contemporânea do bárbaro das estepes, especialista em arrasar. Dei conta de pelo menos um comentario apagado, presumo que já tenha sido apresentada a esta raça nómada da web. Temos pelo menos agora a vantagem de os poder apagar com uns gestos do dedo indicador, o que é óptimo.Seja como for e sobretudo se o seu blog não abordar matéria altamente polémica (nem tem que o fazer) ou não adoptar um estilo demasiado incisivo ou engajado (idem), não terá muito com que se preocupar. Os trolls chegam aqui, vêm muitas letras, assustam-se e vão arrasar outra aldeia qualquer. Pode é acontecer, claro, haver quem conteste mais vivamente as suas ideias, mas isso para um autor deve ser também estimulante, creio eu. Mas como vê, a blogosfera reserva riquezas insuspeitas.E estou em crer que ainda vai ficar agradavelmente espantada muitas vezes, se penetrar mais fundo no universo da internet, no melhor que ela tem, que é muito...

A banda desenhada tem-me propiciado fantásticos momentos de leitura. Mas estamos a falar de algo diferente da literatura, de uma outra linguagem artística, ou até ensaistica. São objectos artísticos distintos e é nessa medida que os vejo como incomparáveis, na mesma medida em que o serão um quadro e um poema.Desde logo são livros gráficos, um híbrido de artes plásticas e literatura e neste sentido há, realmente, livros de BD extraordinários. Talvez conheça o trabalho de Winsor McCay, um dos percursores da BD moderna, mas se não conhece, aconselhava a dar uma espreitadela ao autor da próxima vez que for a uma boa livraria. Pode começar por aí. Ou pelo próprio Asterix, porque não, cujos álbuns são ainda uma delícia para qualquer amante de história que se queira divertir um pouco em torno de um livro com bonecos! Isto tudo para dizer que talvez se fizer outra abordagem mental á banda desenhada, i.e. se romper com essa drástica declaração de princípio que assumiu consigo própria in ilo tempore, talvez venha a ter mais espantos agradáveis... E esqueça por favor que foi uma recomendação!

Bom fim de semana pascal!

Theresa Castello Branco 10 de abril de 2009 às 11:06  

Já esqueci que é uma recomendação. Gostei muito da sua definição da banda desenhada, fez-me ver que esse novo género não substituem a literatura. Assim visto, como outra coisa, talvez me tente a subir ao sótão onde estão os livros da minha filha e escolher lá um dos seus Asterix. Antes de avançar para nível superior na matéria.
Quanto aos perigos da Net, quando decidi aventurar-me nela, não era tão ingénua, que não soubesse alguma coisa dos ditos perigos, mas pensei que em blog estritamente literário estaria livre deles. Por enquanto não tenho que me queixar, quem escreveu, apagou, arrependeu-se. Portanto, pessoalmente, ainda posso falar em ambiente agradável já que me tem trazido conversas inteligentes com pessoas interessadas em temas literários (quando leio alguns dos comentários a posts em outros blogs fico um pouco espantada, e mais não digo ), e que me tem levado a pensar em novos temas. Como sou uma criatura metódica, e não queria ficar a seco em pouco tempo sem saber sobre o que escrever. fiz previamente uma lista de possíveis assuntos, antes de me lançar na aventura. Aqui tenho a lista, muito arrumadinha, com sessenta possíveis títulos. Na maior parte deles ainda não toquei, porque me vão surgindo constantemente novas ideias. Um enriquecimento, portanto.
Controvérsias não vou buscar, e alguma observação que me fizerem, se houver, “quem conteste mais vivamente” as minhas ideias, “isso para um autor deve ser também estimulante, creio eu”, escreve J. Ah, “That´s the question”. E que questão! Eu tenho sido pouco analisada, os romances, que são ligeiros, mas não tão ligeiros como isso, foram totalmente ignorados, os livros históricos quase tanto, mas o meu primeiro livro sobre os Painéis teve uma reacção que se pode chamar de virulenta. Estava demasiado perto da verdade, que ninguém quer ver. Eu ia recortando os respectivos artigos, mas lia-os de coração apertado. .Sabendo como sei, que tenho razão, e que alguns dos que escreviam os artigos não faziam a menor ideia do que estavam a falar, sentia-me muito pequenina perante eles. Importa-me muito menos que o livro não possa ser vendido na loja do MNAA (ainda há censura, sim senhor) do que a opinião escrita. E é por isso que não vou abalizar livro de autor português, porque sei o que uma crítica pode fazer sofrer o autor. Bom fim de semana também para si, J. Theresa

J 10 de abril de 2009 às 17:30  

Pois, compreendo. Também tenho um livrinho publicado a que quase ninguém ligou, mas acompanho essa relação escritor-crítico. Mas atenção que aqui, no blog, não é de "críticos" que falamos. Estes escrevem nos jornais e nas revistas e estão lá no seu trono altaneiro, inatingíveis a não ser por eventuais cartas ao director, a que raramente os autores criticados recorrem. Nos blogs o que se estabelece, como já percebeu, é outra ordem de relação e de comunicação: é sobretudo diálogo, intercâmbio de ideias. É um espaço de contraditório, não de prédica - há quem prefira desligar os comentários e seguir a via predicatória, mas isso para mim retira metade do prazer de blogar. Um "crítico" que aqui apareça terá resposta sua na hora e ao lado. E os críticos que por aqui aparecem não são os profissionais altaneiros, são gente como eu, comuns leitores com gostos e sensibilidades muito diversas. Alguns com vontade de conversar e dar palpites, outros mais silenciosos, mas é sobretudo gente descomprometida e sem trono.

Theresa Castello Branco 10 de abril de 2009 às 23:54  

Mesmo assim fico-me prudentemente com os meus temas inóquos. No próximo post pergunto ao eventual leitor se prefere aspas ou ponto de exclamação, o que me parece perfeitamente pacífico. Theresa

J 11 de abril de 2009 às 18:32  

Sem dúvida. Mesmo assim, tem potencial de polémica. Fico a aguardar, com o mesmo interesse de sempre.

Sobre este blogue

Libri.librorum pretende ser um blogue de leitura e de escrita, de leitores e escritores. Um blogue de temas literários, não de crítica literaria. De uma leitora e escritora

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