Livros de ferias e livros esquecidos

>> segunda-feira, 27 de julho de 2009




O mês de Julho é o mês em que em geral surgem nos jornais conselhos aos leitores em vésperas de férias sobre leitura para esse período. E, não sei porque, as sugestões parecem destinadas a cultivar literariamente os veraneantes. Nunca vi que aconselhassem um romance bem romântico às mulheres, um policial, um livro de aventura, ou de ficção cientifica aos homens. Esperam de pessoas que nunca leram um livro sério na sua vida, que nas suas poucas semanas de férias se debrucem sobre os grandes clássicos. Não sei até que ponto os conselhos são ouvidos. Aqueles que são leitores levarão sempre livros na bagagem, os não-leitores não vão decerto fornecer-se de literatura quando partem para para as suas praias de eleição.
Deixem que o não–leitor não leia, e quem sabe, talvez que ele, farto de não fazer nada, acabe por pegar num livro. Entretanto, o leitor, aquele que não sabe viver sem livros, que levou consigo um saco de livros, descobre talvez que aquelas semanas, afastado do seu habitat, não são condutivos à leitura. Alguns, contemplativos, pensadores, podem estar horas a olhar para o mar, para o campo, ou fechar os olhos, pensar, e não sentir a necessidade de ler. Cada um vive as férias à sua maneira. “Deixai que cada um alcance o céu à sua maneira”, parafraseando Frederico, o Grande.
Eu já não tenho férias, porque as tenho todo o ano, mas no verão ofereço-me umas semanas em que quebro a rotina normal. Este ano, o meu blogue será a primeira vítima dessa portentosa decisão. Não o calando por completo, mas procurando que sejam outros a falar por mim. Durante as próximas quatro semanas, os meus posts não vão transmitir as minhas brilhantes ideias e opiniões, vão antes ser ocupados por textos com ideias e opiniões de outros. Lembrei-me de escolher para isso textos tirados de livros que, por uma ou outra razão, me parecem estar esquecidos.
Há livros esquecidos e livros mal lembrados. Há livros dos quais constantemente se fala, outros que são ocasionalmente mencionados, outros, que, são totalmente esquecidos e nunca mencionados ou citados. Há livros que datam, que já não se conseguem ler. Há livros que não datam, que se lêem hoje tão bem como há anos, mas que pura simplesmente desapareceram da memoria mesmo dos grandes leitores. Há livros que são politicamente incorrectos e não se publicam. Há livros que, sem qualquer uma dessas razões, estão aparentemente esquecidos, mas dos quais nós, por uma razão, ou sem qualquer razão, nos lembramos. Penso que todo o leitor tem na memória livros desses, livros de que ele se recorda e de que, inexplicavelmente para ele, os outros não se lembram.
Nas próximas semanas irei pois relembrar alguns livros, que, inexplicavelmente para mim, me parecem estar esquecidos. Não com um ensaio sobre o livro em questão e as minhas razões para o recordar, antes com pequenos extractos que dêem deles uma ideia.
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À margem, fora de propósito, mas também de um livro inexplicavelmente, esquecido:
“Assim como a mulher é dotada de espírito de observação, por razões análogas, e, podemos dizer, em consequência delas, ela é dotada de uma grande faculdade de associação de ideias. A associação de ideias é mais frequente na mulher que no homem e, o que é ainda mais importante, em ela essa associação é espontânea. O homem tem associação de ideias quando as chama por um acto de vontade. a mulher tem-nas sempre. Enquanto a mulher fala consigo, perde cem vezes o fio do seu discurso , abandona o assunto principal do qual vos estava falando para passar a observações e a factos exteriores. Essas observações, essas digressões são em geral provocadas por qualquer coisa que a mulher viu ou ouviu nesse momento e que a sua rápida associação de ideias associou imediatamente e tão vivamente a outros factos a outras ideias, que ela sente uma necessidade irresistível de lhas comunicar, como se, automaticamente, esses casos tivessem acordado em si ideias análogas.” Gina Lombroso, em ‘A Alma da mulher’-

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