Quando se arrumaram?

>> segunda-feira, 23 de novembro de 2009





Quando desapareceram?
Entre as questões que se têm colocado a respeito dos Painéis uma é se eles sempre estiveram em São Vicente de Fora, se era ao mosteiro que desde o princípio pertenciam ou se lá tinham sido arrumados mas vindos de outra casa religiosa.
Foi questão que não me pus, se estavam nas arrecadações do mosteiro era porque a ele pertenciam e sempre tinham pertencido.
Quando descobri que no mosteiro de São Vicente se veneravam SS Crispim e Crispiniano, e que conclui que os santos que se viam nos Painéis eram eles, qualquer duvida que ainda tivesse, acabou. De momento que todos os anos se realizava uma procissão em honra desses santos e que a procissão ia da Sé a São Vicente, era lógico concluir que haveria aí uma imagem dos Santos que se iam festejar. Os painéis eram pois inquestionavelmente do mosteiro.
A questão que se põem em seguida é quando e porque razão os retiraram do seu local e os arrumaram longe das vistas. Sem prova documental é pergunta para a qual nunca haverá resposta, mas podemos conjecturar. Os gostos mudam, era possível que o políptico chocasse por questões de ordem estética. Mas custa a acreditar que os cónegos de Santo Agostinho fossem tão sensíveis em matéria de arte. Pessoalmente, estou convencida que aquele desaparecimento se deveu a uma questão política, e quando há pouco, fiquei a saber que em 1481, no ano da sua ascensão ao trono, D. João II nomeara prior de São Vicente de Fora a um homem chamado Diogo Ortiz de Vilhegas, mais convencida fiquei.
Diego Ortiz de Vilhegas é uma das mais curiosas, se bem que uma das menos faladas e menos estudadass personagens dos reinados de D. João II e D. Manuel !.
Natural de Calzadilha em Castela, Diego Ortiz veio para Portugal no séquito de D. Joana de Castela, a jovem princesa que D.Afonso V escolhera para sua segunda mulher. Casamento de que não se sabe se foi ou não consumado, e que daria vastos problemas ao reino. D. Joana, era filha de Henrique de Castela e Leon e de D. Joana de Portugal, e seria a herdeira da coroa de Castela se não fosse a fama de não ser filha de D. Henrique, mas de um fidalgo castelhano de nome Beltran de la Cueva. Daí o seu injurioso sobrenome de ‘La Beltraneja. Em Portugal seria conhecida por ‘Excelente Senhora’.
D. Afonso V, tendo reconhecido em Diego Ortiz, acompanhante da sua noiva, um homem de grande saber, nomeou-o professor de latim e confessor de seu filho. Com os anos ele viria a ser muito mais do que isso, tornou-se o principal conselheiro do rei.
Além de latinista e teólogo, veio a ser bispo de Ceuta e bispo de Viseu, e foi autor do primeiro catecismo, Diego Ortiz era cosmógrafo. Nessa capacidade a sua influência foi enorme tanto no reinado de D. João II como no de D. Manuel. Foi em razão dos seus conselhos que D. João II rejeitou as propostas apresentadas por Cristóvão Colombo..
Homem de grande prudência, Diego Ortiz soube ser discreto. Manteve-se sempre na sombra dos dois monarcas a quem serviu, os quais, segundo reza a história, não eram senhores que gostassem de partilhar os louros.
Foi pois a esse homem que D. João II em 1481 nomeia prior de São Vicente de Fora. Cargo que exerceu só durante dois anos. A que se deveu aquela nomeação? As Ordens não gostavam que os reis lhes impusessem as suas escolhas. Estaria o mosteiro em mau estado e necessitado de reforma, e fora essa a razão daquela nomeação? É possível.
Não pretendo afirmar que a nomeação tivesse a ver com a existência dos Painéis. Mas qualquer um que os contemple percebe, que eles deviam incomodar o rei, que este não apreciaria ver-se retratado e à vista de todos, em companhia de Braganças, rodeado deles por todos os lados e isto na ocasião em que estava bem decidido a dar cabo deles. Não seria para fazer sumir os Painéis, que o rei nomeou Diego Ortiz para prior de São Vicente, mas o facto é que o seu nome me fez lembrar o que naqueles anos se estava passando. Pareceu-me impossível que uma coisa não tivesse influenciado a outra.
Recorde-se que aquilo que para nós é um quadro com sessenta caras desconhecidas, era para os contemporâneos um grande retrato onde figuravam pessoas a quem eles podiam por o nome.
Imaginemos que os Painéis continuavam à vista depois da morte do duque de Bragança, que poucos anos depois, um pai leva o seu filho em visita a São Crispim e seu irmão. Saberia explicar ao filho que aquele jovem senhor que ali estava era el-rei . João em novo, que o senhor de joelho em terra que se via na outra tábua, era o senhor duque de Bragança que el-rei mandara degolar. Impossível deixar aquilo à vista.
Não se pode afirmar que assim foi, mas tem toda a lógica que aquilo que conhecemos por “Os Painéis” tenha sido retirado à vista dos fiéis na ocasião - um pouco antes ou um pouco depois – da condenação do duque de Bragança.
Diego Ortiz de Vilhegas ainda não estava em Portugal quando o políptico foi pintado, é possível que o visse pela primeira cez quando entrou para São Vicente, mas se deve ter bastado um olhar para ele ele perceber que aquilo não se podia conservar ali à vista de todos, como naturalmente estava, e que tinha de ser afastado. Quer ele fosse indistriado e nomeado para agir nesse sentido, quer não o fosse e a sua nomeação não tivese nada ver com aquela obra, não é crível que alguém como Diego Ortiz não usasse da sua influência. como prior, e mesmo quando já não o era, para que os cónegos arrumassem o poliptico longe dos olhares do público. O elementer bom senso permite conclui-lo.
Foi o facto, aparentememente tão insignificante, que a tão poucos interessará, que foi a nomeação de Diego Ortiz de Vilhegas para prior de São Vicete de Fora em 1481, que me fez voltar ao caso dos Painéis. Termino finalmente este nova digressão.Aliás perfeitamente desnecessária., dado que o caso foi cuidadosemenre sstudado e que se chegou à concjusão inabalável que o senhor de chappéu é o infante D. Henrique, que os santos são S. Vicente e que o resto são figuras simbólicas.

3 comentários:

Anónimo 24 de novembro de 2009 às 16:49  

Bom dia Thereza, e obrigado por estes seus textos, que continuo a ler interessadíssimo. Tinha posto um comentário no texto anterior, mas como não aparece, repito-o aqui.Li quase todos os livros sobre os paineis, e a sua "chave" é, de longe, a mais lógica e a unica que resolve (ou dá abertura par resolver), de forma clara, todas as principais questões que se foram levantando sobre os paineis. A minha única dúvida prende-se com a identificação da figura que designa neste texto por "o senhor de joelho em terra que se via na outra tábua". Essa identificação é sem dúvida engenhosa, mas menos evidente que as demais e é por isso que me levanta dúvidas. A seguir o raciocínio da identificação das outras figuras, a identificação desta não deveria ser tão complexa.Por outro lado, é dada a essa figura tão ou mais relevo que á do rei, o que é estranho. Em terceiro lugar, é. além do rei, a única que tem apenas um joelho em terra. Não terá este facto alguma relevância? G. da Cunha

Theresa Castello Branco 25 de novembro de 2009 às 11:05  

Que bom que haja quem jevante esse problema. En invetigalçção de ordenm histórica, e os painéis são um problema d eordem histórica, parte-se, quano o há, de um dado histórico, e, a partir daí, prossegue a dedução lógica. E chega-se, ou não, a conclusões racionais, as únicas que satisfazem. Inevitavelmente chega-se im dia a um ponto, onde se estaca. Não porque as deduções feitas estejam erradas, mas porque na vida nem tudo é lógico. Hà os inponderáveis, os gostos, os caprichos humanos. E então entra em acção a imaginação do investigador. No meu caso, eu vejp aquela obra como uma coisa “simples”, ideada por um homem de mentalidade simples, quasw pueril que era a de D. Afonso V. Pareec-me que “condiz” com a sua simplicidade de grande senhor, fazer figurar o ´mordomo´da procissão junto com ele. Mas isto como digo é a minha imaginação histórica em acção. Outros chegarão com a sua imaginação a outras comclusões, mas sempre partindo de dados racionais. Espero que um dia alguém, mais novo, pegue no assunto. Eu já dei a minha contribuição. Agora vou partir para pequenos posts, porque a vista assim o exige. Theresa

Theresa Castello Branco 25 de novembro de 2009 às 11:05  

Que bom que haja quem jevante esse problema. En invetigalçção de ordenm histórica, e os painéis são um problema d eordem histórica, parte-se, quano o há, de um dado histórico, e, a partir daí, prossegue a dedução lógica. E chega-se, ou não, a conclusões racionais, as únicas que satisfazem. Inevitavelmente chega-se im dia a um ponto, onde se estaca. Não porque as deduções feitas estejam erradas, mas porque na vida nem tudo é lógico. Hà os inponderáveis, os gostos, os caprichos humanos. E então entra em acção a imaginação do investigador. No meu caso, eu vejp aquela obra como uma coisa “simples”, ideada por um homem de mentalidade simples, quasw pueril que era a de D. Afonso V. Pareec-me que “condiz” com a sua simplicidade de grande senhor, fazer figurar o ´mordomo´da procissão junto com ele. Mas isto como digo é a minha imaginação histórica em acção. Outros chegarão com a sua imaginação a outras comclusões, mas sempre partindo de dados racionais. Espero que um dia alguém, mais novo, pegue no assunto. Eu já dei a minha contribuição. Agora vou partir para pequenos posts, porque a vista assim o exige. Theresa

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