VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAPº VII HORAS OFICINAS E OFICIAIS

>> quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016


O mosteiro era casa de oração, centrada na igreja e nas devoções. E era a casa de habitação de uma comunidade, um ‘convento’, de mulheres unidas na oração e no trabalho. Que tinham de ser alimentadas e vestidas, tratadas quando doentes e cuidadas na velhice. O seu dia estava dividido em períodos de seis ‘Horas’ de oração, de forma a realizar em perfeita harmonia o ideal monástico de oração e trabalho. Eram a hora de véspera ao fim da tarde, antes das monjas se deitarem. O que podia ser às oito no inverno, e às nove no verão. No coro agradecia-se ao Senhor o fim do dia e do trabalhos. Às 24 horas, era a hora de ‘Prima’ a primeira hora de um novo dia. No coro cantava-se ‘Saudadte Domibe in caelis’ saudando a aurora de um novo dia. Às 6 da manhã, ‘Hora  Sexta’ era a hora de levantar, de cantar ‘ Laudes,’ hino de louvor ao início de um novo dia de trabalho. A Hora Média podia ser celebrada às 9h00, chamada de ‘Terça’, às 12h00 ‘Sexta’ ou às 15h00 ‘Noa’ ou ‘Nona’.

O governo da casa era de relativa simplicidade quando o mosteiro era pequeno como a Regra recomendara. Uma comunidade reunida debaixo do mesmo tecto para fazer oração, alimentando-se de pão, vinho, peixe, fruta e hortaliça, dormindo no mesmo dormitório, e tomando as suas refeições em torno da mesma mesa, não exigia uma organização complicada. Tudo se modificava quando o número de religiosas era grande, por vezes exageradamente grande. Havia que fazer ajustes, arranjos, a casa já nada tinha a ver com a simplicidade original do monsaterio.

No entanto, grande ou pequeno, a divisão dos trabalhos domésticos era o mesmo. Dividia-se em ‘oficinas’ geridas por ‘oficinas’ escolhidas para o respectivo cargo No mosteiro pequeno as oficinas eram poucas, no mosteiro grande eram muitas. Em 1536, havia no mosteiro de Lorvão dezassete cargos e funções distintas dentro do mosteiro. Mas havia mais.

              A abadessa, ocupada com a administração, delegava o governo da casa na prioresa. Em grandes mosteiros podia haver uma sub-prioresa. Era o caso de Lorvão. No sector espiritual, a primeira oficial era a ‘cantor’, ou cantor-mor. Em Lorvão, ela tinha duas ou mais auxiliares. A cantor entoava e dirigia o coro, ensinava música e canto às noviças, e preparava a parte musical das procissões e dos ofícios solenes. Tinha outra incumbência. Talvez por se partir do princípio, que uma cantor tinha forçosamente boa dicção, era ela quem fazia a leitura da acta de recomendações que o Visitador deixara à comunidade após a sua visita e exame. A cantor-mor era naturalmente responsável pelos livros destinados aos ofícios divinos: livros de coro e de canto, que eram guardados na própria igreja, junto do altar, ou no coro. Livros levavam muito tempo a copiar custavam muito dinheiro em peles e tintas, em pagamento aos escribas e copistas, quando o livro não era produzido no ‘scriptórium’ do próprio mosteiro. Havia que ter os maiores cuidados com essas obras. Em Lorvão as monjas tinham herdado obras valiosas dos seus antecessores, e era a cantor a responsável pela sua conservação. Limpava-os, cosia ou mandava coser alguma folha solta, vigiava que não saíssem dos seus locais e que para lá voltassem depois de usados. Se os preciosos livros manuscritos do mosteiro de Lorvão sobreviveram às vicissitudes dos anos, se resistiram à humidade que sempre permeou aquelas paredes, isso deve-se com certeza aos cuidados constantes de gerações de´ cantores’.

A autora do ‘Livro das Preladas’, escreve que o ‘Livro dos Passarinhos’ - o célebre ‘Livro das Aves’ - estava na ‘Livraria do Canto Chão entregue às cantores’ .

Outra oficial ligada ao serviço divino era a sacristã. Ocupava-se da igreja, dos vasos sagrados, das vestes litúrgicas, das toalhas do altar e de tudo o resto que, de longe ou de perto, se ligava à igreja do mosteiro. Era ela a sineira

Era ela quem tocava o sino, ela a responsável pela limpeza da igreja. Era também ela quem se encarregava da iluminação, não só da igreja, como de toda a casa monástica. Comprava a cera para as velas, fabricava-as, ou mandava fabricá-las, e distribuía-as às outras oficinas. A oficina que se veio a designar por ‘sacristia’ foi criada nos primeiros anos do sec.XIV. Até lá os vasos e vestes sagrados tinham sido guardados em arcas e armários nas capelas onde eram usados.1 A sacristã era em geral coadjuvada por uma ou mais monjas, e teve muito cedo ajudantas pagas para fazer a limpeza da igreja. No mosteiro de Arouca encontramo-las entre os servidores do mosteiro já em meados do século XV.

À sacristã de Lorvão cabia uma curiosa tarefa: o fabrico d’água dos danados’. Era uma água - decerto com fama de curativa - confeccionada fervendo nela a caveira de um abade de santa memória.

No sector temporal a primeira oficial era a ‘bolseira’. Seguiam-na, em ordem de importância, a ‘celeireira’, a ‘tulheira’, a ‘despenseira’, a ‘refeitoreira’, a ‘enfermeira’, a ‘boticária’ e a ‘porteira’. Em Lorvão, onde tudo era em grande, havia duas bolseiras, auxiliadas por uma escrivã; havia duas celeireiras, a principal e a sub-celeireira, ambas por sua vez auxiliadas por uma escrivã. Havia mais que uma enfermeira, mais que uma porteira e, como já se disse, mais que uma sacristã e cantor.


Todos os anos as oficiais juravam sobre os Evangelhos, que cumpririam o seu cargo ‘com toda fidelidade e diligência e caridade’. Por essa ocasião, aquelas oficiais que estavam à cabeça de oficinas onde se lidasse com dinheiro, davam conta das respectivas receitas e despesas. As contas eram apresentadas à abadessa e às anciãs, as monjas mais velhas do convento. Que não hesitavam em destituir uma oficial, e nomear outra em seu lugar, caso julgassem a oficina mal regida.

Quando da visitação de 1536, os visitantes não encontraram em Lorvão nada a dizer no que tocava ao lado espiritual do mosteiro ‘nas coisas sptriais (sic) e ofícios divinos se cumprem mui bem’, mas no campo administrativo da casa encontraram fortes razões de crítica. O que nos valeu uma acta com reparos explícitos sobre as obrigações e da maioria das oficinas e suas oficiais.

A bolseira, como o nome indica, era a mulher dos dinheiros, aquela que tinha a bolsa deles. Recebia o dinheiro que entrava no mosteiro, e era ela quem o distribuía pelas outras oficinas para compras e pagamentos. À bolseira recomendava-se que exigisse sempre recibos, e desse por sua vez quitações. Devia anotar todos os dinheiros recebidos e distribuídos. Os visitadores recomendavam que todo o dinheiro recebido na bolsaria fosse depositado na ‘Arca do Depósito’ e que também se guardasse aí o Livro da Bolsaria, em que se deviam anotar as despesas e receitas. Para a dita arca devia haver duas chaves, ordenavam os visitadores. Pela mesma ocasião recomendavam que todos os pagamentos fossem devidamente anotados, que a escrivã das bolseiras desse sempre quitações, e que estas fossem assinadas por ambas as bolseiras, pela abadessa, pela oficial responsável pela entrega, e pela própria escrivã. E todos esses recibos deviam ser devidamente tresladados no Livro da Bolsaria. Era provavelmente uma ordem periodicamente repetida e constantemente desatendida ou mal executada, e os visitadores não deviam ter grandes esperanças de serem obedecidos na matéria.

              A bolseira arrecadava também o dinheiro que as monjas tivessem recebido por algum trabalho de suas mãos, em particular fio fiado por elas. Também cabia à bolseira o pagamento dos salários aos trabalhadores que eram pagos em dinheiro.

A verdadeira dona de casa era a celeireira. Era ela quem encomendava e comprava os géneros, que os mandava vir e recebia das propriedades do mosteiro, e ela que fazia a sua distribuição. Contratava, pagava, e, se necessário, despedia o pessoal que trabalhava para o mosteiro dentro de casa. Este era pago, segundo tabela estabelecida, em e dinheiro e em géneros: comida e fato. Quando um mosteiro tinha quinta própria, o que era o caso de Lorvão com a sua quinta do Botão, era a celeireira que superintendia o seu bom governo, que nomeava o feitor. Era responsável por que os produtos da quinta: ‘trigo e farinha e azeite e vinho e vinagre e legumes e todas as cousas que em Botão se recolhiam’ viessem a tempo. Devia também tomar nota de tudo o que se gastava na quinta ‘em pão, vinho, azeite, aves, linho, dinheiro e qualquer outra cousa’.

              As abadessas de Lorvão e algumas das religiosas passavam por vezes largos tempos em Botão. Visitantes de passagem também lá eram recebidos. Era a celeireira que provia que fossem bem tratados. Competia também às celeireiras zelar por que não faltasse farinha no mosteiro, tratando a tempo com os moleiros. Se a farinha faltava na tulha não era de quem tinha os moinhos da casa, que se murmurava, mas das celeireiras. Em 1536 os visitadores notaram que as religiosas tinham muitas vezes que esperar pela cozedura do pão: ‘por não ter farinha feita’. Não podia ser, escreve o visitador, as celeireiras que fizessem o possível para que isso não sucedesse. O mosteiro tinha boas arcas para guardar a farinha produzida pelos seus moinhos, e se estes não produzissem o necessário, as celeireiras que dessem ordem ao feitor de Botão para que este mandasse também trabalhar as azenhas que o mosteiro lá tinha

Cabia igualmente à celeireira cuidar dos géneros para velhas e doentes. O visitador de 1536 fora informado que muitas vezes faltava o necessário às religiosas velhas. Que eram elas que tinham de comprar as suas mezinhas e remédios, pagando-os com o seu dinheiro. Muitas, além de velhas, eram doentes, não podiam trabalhar, e não tinham parentes que lhes dessem dinheiro. Não era de admitir que passassem necessidade. Os visitadores deram estritas ordens às celeireiras para se ocuparem disso, para que houvesse ‘provisão e mantimentos de suas enfermidades, fraquezas e velhices’.

Por ocasião daquela visita havia muitas doentes no mosteiro, o que o visitador atribuía à situação pouco salubre do mosteiro, ‘má disposição da casa e terra e aposentos’, mas também ao facto de não se acudir a tempo às doentes ‘com medicinas e sangrias’. Era preciso, frisava o visitador, que a enfermeira tivesse mais cuidado, e que abadessa e celeireira fornecessem a tempo, e com abundância, tudo que as doentes necessitassem ‘em mezinhas, purgas ou sangrias ou mantimentos, ou serviços para as ditas enfermas’. Era de novo à celeireira que se recomendava o cuidado de aprovisionar regularmente a enfermaria, de ‘aves, carneiro, vinho, frângões, cabrito e todas as outras cousas necessárias para dita enfermaria. Para que tudo isto se fizesse convenientemente e a tempo, ordenava-se-lhe que se contratasse um homem, ‘um bom moço’, para chamar médico ou sangrador e levar e trazer ‘aves, cabritos, frangões e ovos’. Com todo este trabalho à sua conta, não é de espantar que a celeireira de Lorvão tivesse uma sub-celeireira e duas escrivãs para a ajudar.

Adiante se dirá de outra incumbência da celeireira e suas ajudantes e talvez a mais árdua: a distribuição das rações aos homens que trabalhavam para o mosteiro no exterior.

              Para serviços e recados fora do mosteiro, a celeireira tinha vários homens sob as suas ordens. Que todos, inclusive o padre que cuidava dos moinhos, juravam, quando eram contratados, ‘na mão da celeireira’, que cumpririam bem e fielmente as suas obrigações. Provando-se que algum desses homens não era ‘fiel do que tratava’, a celeireira devia despedi-lo. Devia ser ‘quitado dos ditos seus ofícios e cargos e corrigido de seus delitos e faltas’

As aristocráticas monjas de Lorvão deram - cremos que muito cedo - a palaciana designação de ‘Mordomia’ à oficina dirigida pela celeireira. Em Lorvão era portanto nos ‘Livros de Mordomia’ que se anotavam as aquisições e os pagamentos feitos pelas celeireiras. Em meados de Setecentos designam-se os mesmos livros como ‘Livro da Feitoria’.

Os mosteiros tinham usos e costumes próprios, que sucessivas gerações de celeireiras foram anotando: Não eram usos no sentido de ritos diferentes. Tratava-se do que era uso a casa fabricar, aquilo que, em determinado dia ou por determinada ocasião se distribuía, ou se oferecia - em espécie e em quantidade - a determinada pessoa ou entidade. As designações desses livros de apontamento diferem de mosteiro para mosteiro. Em Lorvão consultava-se o ‘Regulamento da Celeireira’.e o ‘Regulamento da Sala’, vezes designado por ‘Alcorão da Sala’ para saber como e a quem fazer determinada oferta ou fabricar determinado alimento. Em Arouca, mosteiro cisterciense como o de Lorvão, havia também, o ‘Alcorão da Tulha’

              Para anotar os pagamentos aos servidores da casa, a celeireira tinha o ‘Livro das Soldadas’. Não existem muitos. Sucedeu-lhes decerto o que sucedia aos livros de contas de outras donas de casa, eram destruídos no fim de um ou dois anos.

Quando o preceito da vida em comum, era tomado no verdadeiro sentido da palavra, as monjas comiam em comum, às mesmas horas à mesma mesa. Quando por volta de quatrocentos o preceito foi praticamente abandonado, e se introduziu o costume das monjas cozinharem ou mandarem cozinhar a sua própria comida, havia que lhes dar diariamente os necessários géneros. A tarefa cabia também à celeirieia.

Abaixo da celeireira, se bem que não dependentes dela, estavam a tulheira, a despenseira e a refeitoreira. A tulheira recebia as farinhas que a celeireira comprara, ou que viera dos foreiros e rendeiros. Arrecadava-a na ‘tulha’. A tolheria superintendia o fabrico do pão, e fazia a distribuição deste às monjas e àqueles que eram pagos em pão, os ‘apaniguados’

              Havia duas outras oficiais ligadas à alimentação: a despenseira e a refeitoreira. A primeira era responsável pela arrecadação dos outros géneros que não o pão, e pela sua distribuição às cozinhas. A refeitoreira ocupava-se do refeitório. Comprava, ou mandava tecer, as toalhas de mesa, punha as mesas, e estava incumbida de recolher os restos das refeições para serem aproveitados em outras comidas, ou dados aos servidores da casa e aos pobres. Cabia–lhe manter limpo o lavatório -  que nos grandes mosteiros se situava junto do refeitório - onde as monjas lavavam as mãos antes e depois das refeições.

                        Uma oficial pouco recordada é a ‘Vestiária’. A Regra dispunha que houvesse um monge, que mandasse tecer e coser as roupas e fabricar os sapatos dos religiosos. O mesmo se devia aplicar a mosteiros de religiosas, mas nestes instalou-se muito cedo um costume mais individualista, cada religiosa recebendo anualmente uma soma para se vestir.

Em Lorvão encontra-se muito cedo menção de servidoras vindas do exterior. forneiras, de criadas de tulha, e de auxiliares da sacristã. São já mencionadas em contrato da rainha D. Teresa, em que estipula que as ‘servidoras’ , entre as quais uma sua protegida, que iria viver na cerca de Lorvão, comessem o mesmo que as servidoras do convento. De início esse pessoal seria reduzido, mas com o decorrer dos tempos as monjas foram encontrando pretextos para a introdução de mais auxiliares. Em um rol das ‘soldadas e mimos’ que, no século XVI, se davam em Lorvão às ‘criadas da Ordem’ enumeram-se nada menos de cinquenta dessas serviçais. As sacristãs também requereram ajuda. Passou a haver uma moça para fazer hóstias, outra para lavar as ‘sanguinhas’ - os pequenos panos com que o sacerdote enxuga o cálice Para o refeitório havia uma criada, para a botica três criadas de ‘fora’. Havia uma criada que acendia as lâmpadas do mosteiro e três encarregadas de abrir as portas das cercas.

Na cozinha e forno trabalhavam forneiras, e havia criadas de tulha. Posteriormente, haveria uma conserveira encarregada de fazer os doces.

A cozinha da abadessa era separada. Havia nela duas criadas, e na hospedaria, uma. E não se contam aqui as criadas que serviam algumas monjas, que sentiram a necessidade de serem servidas pessoalmente. Às observações dos visitadores apresentavam argumentos desta ordem: que ‘sem ajuda de criadas não podiam cumprir as suas obrigações religiosas, como seja cantar e rezar em louvor do Senhor’. Implantara-se também gradualmente o hábito das criadas das monjas dormirem no próprio dormitório destas. O que os visitadores constantemente - se bem que sem resultado aparente - proibiam.

Assim como proibiam, com o mesmo resultado, os criados e os escudeiros, que dona abadessa passou a ter a seu serviço. A designação original de ‘homens’ da abadessa vai desaparecendo, generalizando-se, a partir do século XV, para aqueles que ocupavam a mesma posição, a designação de ‘criado de Dona Abadessa’. Em 1416, dona Mécia Vasques da Cunha afora um olival, estando presentes ao acto ‘Pero Nunes e Domingos Gonçalves e Gonçalo Nunes, criados da dita senhora’. Ao emprazamento, que se realizou em 1432 em Botão ‘diante das pousadas de dona abadessa’, assistiram como testemunhas ‘Vicente Annes de Aveiro, Gonçalo Martins e Gonçalo Domingues creligo (sic) e Gonçalo Coutinho, criados da dita senhora.’ Em 1500, uma procuração da abadessa dona Catarina d'Eça, é testemunhada por ‘Luís de Mendonça, criado da senhora abadessa e outros’  No século XVI surge a designação de ‘escudeiro’ da abadessa. Primitivamente, o escudeiro era o homem que servia um cavaleiro levando o seu escudo e tratando das suas armas, e viria a ser um criado nobre. Que acompanhava o senhor em serviço de guerra ou outro. O rol dos pagamentos de Arouca menciona pagamentos aos escudeiros que acompanhavam o abade visitador quando este vinha em visita ao mosteiro. Em resumo, os escudeiro estavam ao serviço de homens. Ora as abadessas de Lorvão não se achavam menos que estes senhores, passaram também elas a ter a seu serviço criados a quem designavam por escudeiros. Quando da composição feita em 1503 entre Dona Catarina d'Eça e os moradores da vila da Esgueira, uma das testemunhas é ‘Pero Vaz escudeiro da dita senhora’. E, em 1515, no acto de emprazamento de um olival, realizado no próprio mosteiro e na ‘câmara da muito magnífica e virtuosa senhora, a senhora dona Catarina D’eça’ uma das testemunhas foi ‘Alvaro de Morais escudeiro, criado da senhora abadessa e em casa da dita senhora morador’. Uma oficial sempre escolhida com especial cuidado era a porteira, a monja que estava na portaria, que aí recebia quem vinha em visita às religiosas. Alguns visitantes podiam entratra no interior do mosteiro. Eram excepções devidamente especificadas. Em outros casos ficava ao critério da porteira se o, ou a, visitante seria conduzido ao parlatório, onde poderiam conversar com a monja a quem vinham visitar. Estando esta sempre acompanhada de uma companheira, e a conversa realizando-se através de uma grade que dividia o quarto. A grade era particular aos mosteiros de homens, as primeiras monjas não a encontraram quando se instalaram em Lorvão. As cistercienses não tinham clausura, contactavam com gente de fora do mosteiro quando trabalhavam no campo, pelo que é difícil de perceber a necessidade de haver uma grade que as separava dos vistantes. ´E difícil apurar exactamente quando esta doi introduzida em Lorvão. Mas existiu. Sendo provavelmente utilizada com mais rigor a partir das severas medidas de reforma do século XVI. Em l533.2 um contrato notarial foi assinado ‘Na casa do palratório da grade de baixo, lugar acostumado onde semelhantes autos se soem fazer’. Outro contrato é assinado em l538.3 ‘em a varanda que está à portaria do dito mosteiro, ahi na grade do palrlatorio que ahi está, que é lugar acostumado para se fazerem tais autos.’ Quando em meados do século XVI se dá a revolta das monjas contra a imposição de uma abadessa alheia ao mosteiro, houve um incidente presenciado pelo Juiz chamado pela abadessa, o notário descreve, que estavam na casa da grade e separados por duas grades, uma de ferro, outra de pau.’




2 T.T. Lorvão Gavetas-3-6
3 T.T. Lorvão . Lº 40-229v

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